(Por J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 25 de outubro de 2021)
Apareceu mais um candidato a se tornar o candidato da “terceira via”, essa estrada que passa entre Lula, de um lado, e Bolsonaro, no lado oposto, e pela qual, nas esperanças de seus articuladores, o Brasil chegará ao seu próximo presidente da República no ano que vem. É o que mais tem, hoje em dia: candidato a candidato de terceira via. O mais recente da série é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, outra das nulidades eleitorais que apareceram até agora para representar o “centro” — com a esperança de crescer durante a campanha e chegar lá em outubro de 2022.
A lista vai longe. Já teve o apresentador de televisão Luciano Huck, pode vir a ter o jornalista José Luiz Datena e tem, na data de hoje, os governadores João Doria e Eduardo Leite, o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro, o candidato permanente Ciro Gomes, o ex-ministro da Saúde Luis Henrique Mandetta e ainda outros mais. Aparece, agora, mais um nome — e, como os outros, vai ficar no noticiário, dar entrevista e fazer discurso.
A pergunta de ordem prática que se coloca diante disso tudo é a seguinte: quanto vale, na vida das realidades eleitorais, cada um desses nomes? É pretensioso dizer, com um ano de distância, quem vai ganhar uma eleição, embora seja exatamente isso que fazem os institutos de pesquisa de “intenção de voto”. O que dá para fazer, e só isso, é olhar com realismo para a situação que existe hoje.
Hoje, pelo que mostram os fatos disponíveis, há dois candidatos, Lula e Bolsonaro — e nenhum dos dois é claramente majoritário. O presidente carrega nas costas o custo de ser governo, em geral o bode expiatório para as frustrações de muitos dos que estão insatisfeitos. Lula tem o seu passado e o problema de ser artigo de segunda mão, já usado e desaprovado.
A maioria do eleitorado não está, aparentemente e neste momento, nem com Bolsonaro nem com Lula, mas no meio dos dois. É uma maioria que não tem forma definida, está em movimento e caminha mais de acordo com desejos do que com ideias. Naturalmente, um candidato de “centro” pode crescer nesse tipo de bioma. Antes disso, porém, é preciso levar em conta que Bolsonaro e Lula podem fazer a mesma coisa — mudar de tom, cada um do seu lado, reprimir seus traços naturais e colocar o carro no meio da estrada.
Para o presidente, isso significa cair fora de todos os confrontos, mostrar-se moderado e contar com uma situação econômica melhor que a de hoje. Para Lula, significa abandonar tudo o que vem fazendo, e todas as companhias que mantém, e prometer um segundo governo parecido com o seu primeiro — com muito Palocci e Meirelles, e pouco MST e médico cubano. Vai ser a sua dificuldade de dar esses passos que determinará, no fim das contas, a sorte da “terceira via”.