Lasier Martins também comentou a tentativa do presidente do Senado de se reeleger
Em fevereiro de 2019, o quase desconhecido senador do Amapá Davi Alcolumbre se tornou presidente da Casa. A proeza só foi possível com o apoio de uma ampla frente, que se articulou para impedir que Renan Calheiros (MDB-AL) vencesse as eleições.
Quase dois anos depois, o senador Lasier Martins (Podemos-RS), em entrevista a Oeste, faz críticas a Alcolumbre e condena as tentativas do senador para reeleger-se. “Ele me decepcionou muito. Pode ter alguém que tenha trabalhado muito para a eleição dele, mas mais do que eu não teve”, diz Lasier Martins sobre Alcolumbre.
Confira o trecho que tratou do tema
Como o senhor avalia a gestão de Davi Alcolumbre como presidente do Senado?
Tudo que o Alcolumbre havia prometido, não cumpriu nada. Ele me disse uma frase que nunca mais saiu da minha memória: “Serei o último a ver uma eleição no Senado com voto fechado”. No entanto, até hoje, ele não pôs em votação um pedido meu para estabelecer o voto aberto. Ele não atendeu também a reforma no regimento, que é um projeto da senadora Eliziane Gama [Cidadania-MA] em que eu sou o relator. O regimento interno do Senado está ultrapassado e precisa ser atualizado, porque concede um poder absolutista ao presidente da Casa.
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Quais são os principais temas que o senador Davi Alcolumbre não pôs na pauta do Senado?
O presidente é o dono da pauta, e ele só põe em votação aquilo que quer, submetendo a sua vontade todos os demais 80 senadores, o que não é justo porque o Senado é um colegiado. Os representantes dos Estados têm os mesmos direitos e deveres e, no entanto, isso na prática não prevalece. O Davi Alcolumbre não pode se tornar um presidente do Senado que atropela as grandes questões nacionais. Tirando a reforma da Previdência, que é uma obrigação pôr em pauta, até agora não entraram em discussão a reforma tributária, a reforma administrativa e o pacto federativo.
Ele não pôs em votação até hoje o projeto de redução de gastos. O Senado é muito gastador. O orçamento é de mais de R$ 4 bilhões para este ano. Fiz um levantamento com a minha equipe e dá para economizar R$ 500 milhões por ano e não vai fazer falta. Tem a prisão após condenação em segunda instância, que é um anseio nacional. Hoje, os ladrões da Lava Jato estão na rua, mesmo condenados.
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Como foi feita a articulação que possibilitou a vitória de Davi Alcolumbre para a presidência do Senado?
Ele me decepcionou muito. Pode ter alguém que tenha trabalhado muito para a eleição dele, mas mais do que eu não teve. Como cabe segundo turno nessa eleição, o Renan Calheiros (MDB-AL) poderia ganhar já na primeira, porque haveria uma divisão de votos muito grande. Na antevéspera da eleição, tivemos uma reunião no gabinete do senador Tasso Jereissati e convencemos a retirar suas candidaturas os senadores Alvaro Dias [Podemos-PR], Esperidião Amin [PP-SC], Simone Tebet [MDB-MS], Angelo Coronel [PSD-BA]. Todos foram convencidos e deixamos exclusivamente o Alcolumbre para o enfrentamento ao Renan, porque ele tinha o apoio do Onyx Lorenzoni e do governo federal.
Como o senhor vê a tentativa do presidente Davi Alcolumbre para se reeleger?
Vejo com muita preocupação. O Alcolumbre está em uma atividade muito intensa nos bastidores. Ele tem muito bom relacionamento com o ministro Toffoli, tem visível relacionamento com Alexandre de Moraes e, provavelmente, com outros ministros. Ele também está muito bem com o Bolsonaro. É mais uma relação de compromissos recíprocos: ‘Eu te protejo, mas tu me protege’. Ele é um candidato muito forte, mas nós não perdemos as esperanças.
O Batoré é uma decepção só.
O Alcolumbre faz o que faz devido os senadores serem uma turma de bundoês. Se fossem corajosos e não tivessem rabo preso já tinham enquadrado o Alcolumbre, já tinham votado prisão 2a instância, já tinham votado pedido de impeachment de Ministros do STF. Só não fizeram nada por muitos serem corruptos e terem processos no STF e não irão votar contra eles mesmos.