Adriano Gianturco* e Lucas Azambuja
O PSDB não é de direita. É um partido social-democrata, de centro-esquerda, de esquerda moderada. Não é nem um partido liberal, nem conservador. E isso não é opinião, é fato.
A questão pode ser analisada, por meio do ponto de vista histórico e estatutário do partido; dos posicionamentos partidários, propostas, políticas públicas efetivamente implementadas e declarações dos líderes do partido; da comparação com outros partidos ao redor do mudo; e do enquadramento na literatura científica.
No manifesto de fundação do partido, em 1988, está claro: “Implementar políticas de melhoria dos serviços públicos básicos e de distribuição de renda, que conduzam à erradicação da miséria no Brasil”; “apoiar as justas reivindicações dos trabalhadores, assegurada a livre negociação com sindicatos autônomos e os meios próprios de luta dos assalariados, inclusive a greve, sem interferência do Estado”; “defender uma política permanente de proteção ao menor, compatível com o compromisso de redistribuição de renda”; “lutar pela efetiva igualdade dos direitos e deveres do homem e da mulher nos campos econômico, político e social e contra todas as formas de discriminação”.
Em 1990, Fernando Henrique Cardoso (FHC) divulgou um documento intitulado “A Social-Democracia: o que é, o que propõe para o Brasil”. Aqui, encontramos a defesa do papel do Estado na economia, inclusive para favorecer os trabalhadores nas “lutas entre capital e trabalho”; garantir políticas de proteção social, distribuição da renda e igualdade de oportunidades; e o sistema tributário como “um instrumento de justiça social”. E, na mais recente versão do estatuto do PSDB, publicado em 2013, está escrito: “A construção de uma ordem social justa e garantida pela igualdade de oportunidades; a prevalência do trabalho sobre o capital, buscando a distribuição equilibrada da riqueza nacional entre todas as regiões e classes sociais”. O think tank do partido, o Instituto Teotônio Vilela, define como seu objetivo divulgar e aperfeiçoar propostas políticas “sociais-democratas” para o Brasil.
Em 1999, o então presidente FHC envia ao Congresso um projeto de lei para a proibição da venda de armas de fogo e munições e, em 2021, o PSDB acionou o Supremo Tribunal Federal para barrar os decretos de Bolsonaro que facilitavam a compra de armas; diversos líderes do PSDB já se declararam a favor do casamento gay e banheiros livres para transgêneros. João Doria, então candidato à Presidência em 2017, falou: “Nenhuma objeção ao casamento gay ou à adoção de banheiros livres para transgêneros”. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e atual presidente da sigla, tem promovido políticas voltadas ao público LGBTQIA+ na sua gestão, por meio do Departamento de Diversidade Sexual da Secretaria Estadual Justiça, Cidadania e Direitos Humanos; e a defesa pública de FHC à legalização da maconha desde o lançamento do documentário, com sua participação, “Quebrando Tabu”. Esses posicionamentos em favor das políticas identitárias (feminismo, LGBTQIA+ e a questão racial) encontram respaldo no partido com os chamados “segmentos”: Tucanafro, PSDB Mulher e Diversidade Tucana.
“Ah! mas o PSDB fez políticas neoliberais e privatizações! Ele é de direita”
Quem fez as privatizações na década de 1990 na Alemanha, França, Itália, EUA, Austrália, Inglaterra, Nova Zelândia foram sempre os partidos social-democratas de centro-esquerda. Os sociais-democratas não são contra as privatizações. São a favor do capitalismo, da gestão privada dos negócios e da intervenção quando a economia estiver em crise. São intervencionistas, nem dirigistas, nem liberais.
No governo FHC, os gastos sociais cresceram de 11,24% do Produto Interno Bruto (PIB) para 12,95%, entre 1995 e 2003. A carga tributária subiu, no mesmo período, de 27% do PIB para 31,9% do PIB. Houve a criação de um sistema estatal de saúde, o SUS, assim como a quebra das patentes dos remédios para o tratamento da Aids. No campo da reforma agrária, se, por um lado, FHC assentou 540 mil famílias e Lula 615 mil famílias, por outro, FHC assinou 3,5 mil decretos desapropriatórios (contra 1,9 mil de Lula).
Vamos, agora, ouvir os diretos interessados. FHC é taxativo ao declarar “Me considero de esquerda” e ainda “Centro-direita não tem a ver com o PSDB”. Quando faleceu Fidel Castro, Fernando Henrique elogiou o ditador comunista e não teve nenhuma palavra de condenação.
José Serra já declarou: “Eu me considero de esquerda”. Em 2014, Aécio Neves declarou: “Para a direita não adianta me empurrar que eu não vou”. E, finalmente, João Doria em 2020 afirmou: “O PSDB é progressista, tanto na economia quanto no plano social. Sem preconceitos”. Por fim, ao escolher mudar de partido, o ex-tucano Geraldo Alckmin não escolheu um partido de centro ou centro-direita, mas filou-se ao Partido Socialista Brasileiro e, em 2022, o PSDB não apoiou a direita, e FHC votou Lula.
Em termos internacionais, o PSDB é similar ao Partido Trabalhista inglês, ao partido Democrata americano, ao Partido Socialista Frances, à SPD (Partido Social-Democrata) Alemão, ao partido Democrático Italiano e outros partidos, todos social-democratas, da Terceira Via, socialistas moderados.
Do ponto de vista das influências intelectuais, o PSDB está na linha de autores como John Rawls, Amartya Sen, John Maynard Keynes e Anthony Giddens. É a social-democracia, a terceira via, um caminho intermediário entre liberalismo e socialismo marxista, o socialismo que aceitou o caminho da democracia.
Por fim, falar que o PSDB é de direita é funcional para os partidos de extrema esquerda se mostrarem simplesmente como “de esquerda”, supostamente os únicos de esquerda. Mas muitos nunca foram enganados e sempre repetiam “o PSDB é um partido de esquerda com um eleitorado de direita”. Hoje, graças à ascensão da direita e de Bolsonaro, muitos até entenderam: o PSDB não é e nunca foi de direita.
*Adriano Gianturco é coordenador de relações internacionais e professor de ciência política, além de autor do livro A Ciência da Política.
*Lucas Azambuja é professor de sociologia do IBMEC.
Fui tucano desde a fundação do partido até 2019, ano que constatei os maus caráter celebridades do PSDB. Portanto conclui que o partido nunca foi de direita, nem de esquerda, tampouco centro, mas sim de maus caráter dominados pelo “diplomata” FHC, que esqueceu o que escreveu em seus “diários da presidência”, que me fizeram crer que jamais voltaria ao cenário político. Mas foi ressuscitado e fez o “L”.
“jornalistas” chamavam de ULTRALIBERAIS, e não poucos nas universidades chamavam de “extrema-direita”. Na verdade houve ataques chamando o PSDB de fascistas e lembro bem de um professora da USP dizendo que seria “o fim da democracia” se Aécio ganhasse. kkkkkkkkkk
Fernando Henrique é um Lula melhorado.
De acordo. Eu sempre julguei o PSDB como partido de esquerda, até Bolsonaro nunca houve “direita” na política brasileira recente. Basta citar FHC, criador e apoiador do Lula desde sempre, para constatar a vocação esquerdista desse partido que muitas vezes se posicionou “em cima do muro”.
Tem coisas boas no Brasil. Há anos eu, ouvia falas medíocres de Jundira Fhegalli, Maria do Rosário e Glace Hoffman da esquerda caviar. No Jornalismo assistia Maju Coutinho. Hoje ouço com esperança BIA KICIS, CARLA TONI E PAULA BELMONTE e assisto a leveza da SALCY LIMA na Record.