O histórico maculado da República brasileira quanto aos mais diversos aspectos — de seu nível profundamente deficitário de estabilidade e continuidade institucional até sua performance econômica — quase sempre encontrou na diplomacia um oásis de excelência. No concerto das nações, ainda que distante dos principais holofotes no campo geopolítico, o Brasil de talentos como Rio Branco e Oswaldo Aranha (não obstante as aderências varguistas deste último) granjeou respeitabilidade.
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Costuma-se torpedear o governo de Jair Bolsonaro como um colapso nessa tradição de excelência. Não tenho a pretensão de enaltecer acriticamente os posicionamentos do período bolsonarista. Por exemplo, considero, sim, que o Brasil estava correto em suas críticas aos governos europeus, respondendo às afrontas de lideranças como o francês Emmanuel Macron que nos acusavam exageradamente de sermos os maiores agressores globais do meio ambiente, nitidamente com o propósito de favorecer os interesses protecionistas dos seus compatriotas.
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Ainda assim, a forma pela qual o então presidente da República endereçava essas críticas, fazendo alusões à beleza (ou falta dela) da mulher do presidente francês, não colaborava com a causa. Da mesma maneira, os esforços por ser líder de torcida de Donald Trump não cooperavam para solidificar as relações de Estado, e não de governo, entre Brasil e Estados Unidos. Bolsonaro também fez declarações abjetas relativamente à crise entre Rússia e Ucrânia, ainda que as votações do Brasil na Organização das Nações Unidas fossem ajuizadas.
“Em nenhum momento do governo Bolsonaro se manifestou, por efeito de delírios de grandeza, qualquer problema remotamente parecido com o que presenciamos nos últimos dias”
Lucas Berlanza
No entanto, é forçoso que se reconheça que, no governo Bolsonaro, o Brasil sempre adotou posição dura em relação às ditaduras vizinhas, como a venezuelana, sobre as quais efetivamente tem alguma influência — e diríamos até responsabilidade, dada a relação de cumplicidade e suporte entre o lulopetismo e tais regimes espúrios. Em nenhum momento do governo Bolsonaro se manifestou, por efeito de delírios de grandeza, qualquer problema remotamente parecido com o que presenciamos nos últimos dias. A reação a isso, como se poderia antecipar, não é sequer comparável às demonstrações diárias de asco que ressoavam a cada espirro do presidente anterior.
Lula, persona non grata em Israel
Lula, depois de comparar Israel a Hitler, ser declarado oficialmente persona non grata naquele país, com direito à condução do embaixador brasileiro pela diplomacia israelense para receber um sermão constrangedor em pleno Museu do Holocausto, é uma das maiores humilhações da história de nossa pátria. Não posso deixar de me solidarizar com esse embaixador, submetido a tal situação degradante por culpa de seu chefe.
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Discordo de todos que afirmam que a atitude israelense foi excessiva. Israel teve foi bastante paciência com as constantes posturas abusivas do governo brasileiro, comparando alhos com bugalhos enquanto reiterava falsas promessas de ser um promotor protagonista da paz na Terra.
“O Hamas agradeceu o gesto de Lula, literalmente emitindo uma nota oficial para glorificar a generosa compreensão do presidente brasileiro”
Lucas Berlanza
Israel, para o lulopetismo, é pária entre as nações, mas as ditaduras bolivarianas, árabes, asiáticas — enfim, basicamente qualquer ditadura —, essas são a encarnação da dignidade! O Hamas agradeceu o gesto de Lula, literalmente emitindo uma nota oficial para glorificar a generosa compreensão do presidente brasileiro. Excelentes companhias, não é mesmo? Nada que já não fosse muito bem conhecido de todos, mas a seita “fazuelística” preferiu ignorar.
Relação do presidente brasileiro com democracias
O presidente da República Federativa do Brasil simplesmente não é bem-vindo em uma das mais sólidas democracias do mundo, persistente em meio a um oceano de tiranetes árabes. Democracia essa que, em 2019, logo depois da tragédia do rompimento da barragem em Brumadinho, em Minas Gerais, ofereceu todo o seu concurso para colaborar no resgate dos corpos.
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A persona non grata é, simultaneamente, ingrata. Como Lula gosta de afirmar, seus governos sempre realizam prodígios que “nunca antes na história deste país” foram concretizados. Acrescentou, com o recebimento desse título nada honroso, mais uma proeza a essa lista.
“Para boa parte dos brasileiros, Lula já é uma persona non grata há muito tempo”
Lucas Berlanza
A resposta do nosso governo veio por meio de uma chamada do coitado do embaixador brasileiro em Israel de volta ao Brasil “para consultas” e uma convocação ao embaixador israelense para que nosso país também expresse sua “insatisfação”. Que Israel saiba que essa não é uma resposta de todos os nossos compatriotas. Afinal, para boa parte dos brasileiros, Lula já é uma persona non grata há muito tempo.
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A tradução no país seria honoris ….