Graças ao Ministério da Justiça do governo Lula, a facção criminosa Comando Vermelho (CV) virou um dos assuntos mais comentados no Brasil, desde a segunda-feira 13.
A presença da “Dama do Tráfico”, mulher de líder do CV, em reuniões com a equipe de Flávio Dino, virou pauta nos principais veículos de imprensa, e também nos bastidores do poder. Mas de onde vem tamanha influência da facção criminosa mais antiga e a segunda mais poderosa do Brasil?
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O Comando Vermelho surgiu na década de 1970, no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande (RJ). Foi formado por remanescentes da antiga facção Falange Vermelha, que lutava pelo fim do regime militar.
Levantando inicialmente a bandeira “paz, justiça e liberdade”, seus fundadores encontraram no tráfico da cocaína uma forma de ampliação do seu poder. A partir daí, o Brasil entrou definitivamente na rota do tráfico, tornando-se ponto de distribuição para o mercado europeu.
Nos anos 1990, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, virou um ícone de ascensão para a facção. Ele e seus comparsas compravam drogas diretamente no Paraguai e na Colômbia e fortaleciam os negócios do grupo, com base no Rio de Janeiro.
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Preso desde 2001, Fernandinho Beira-Mar acumula penas que somam 320 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e homicídios. Atualmente, ele se encontra na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).
Expansão do tráfico
A prisão do chefe não foi empecilho para que o CV expandisse seu poder. Segundo um mapeamento traçado pelo Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), a facção domina hoje 24,2% dos bairros cariocas. Ela fica só um pouco atrás das milícias, que comandam 25,5% do território.
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A facção cresceu a ponto de sua atuação se tornar endêmica no país. De acordo com o Fórum Brasileiro da Segurança Pública, não existe um só lugar no Brasil em que o Comando Vermelho não esteja presente.
Apesar de ter se originado no Rio de Janeiro, o grupo mantém 53 grupos criminosos sob seu comando, em 13 Estados e no Distrito Federal.
Sua força concentra-se especialmente no Centro-Oeste, onde estão as disputadas rotas de tráfico nas fronteiras entre o Brasil e a Colômbia, Bolívia e Peru.
CV no Estado do Amazonas
Mas na região Norte, o grupo também impera. No Estado do Amazonas, controla o tráfico e os presídios desde janeiro de 2020.
Numa demonstração de violência, o CV promoveu em Manaus diversos ataques no mês de junho. Em represália ao assassinato de um líder do tráfico pela Polícia Militar (PM), os criminosos depredaram delegacias, viaturas policiais, agências bancárias e ainda atearam fogo em ônibus e ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Manaus é a terceira capital mais violenta do Brasil, com 53,4 homicídios por 100 mil habitantes. E é justamente este o reduto do traficante Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas.
Ele ganhou holofotes no começo da semana depois que a imprensa noticiou que a sua mulher, Luciane Barbosa Farias, de 37 anos, foi recebida em dois momentos por assessores do ministro da Justiça, Flávio Dino. As reuniões ocorreram este ano, na sede do Ministério, em Brasília.
Casados há 11 anos, Tio Patinhas e Luciane foram condenados, em segunda instância, por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa.
Pego pela polícia portando identidade falsa, quase R$ 10 mil em espécie e 200 tabletes de maconha, o traficante está preso desde dezembro do ano passado e cumpre pena no presídio de Tefé (AM).
Sua esposa não só recorre em liberdade, como encontra as portas do Ministério da Justiça abertas quando precisa atuar com sua ONG, a Associação Instituto Liberdade Amazonas, em favor dos presidiários.
Boulos e Janones
Assessores do Ministério da Justiça e Segurança Pública não foram as únicas autoridades a receber a “Dama do Tráfico” em Brasília.
Em maio, Luciane Barbosa Farias teve reuniões com o deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) e com representantes da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos, de Silvio Almeida. Além disso, posou para foto ao lado do deputado federal André Janones (Avante-MG).
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Luciane costuma circular por Brasília acompanhada da advogada Camila Guimarães de Lima e da ex-deputada estadual pelo PSOL Janira Rocha (RJ).
Condenada em 2021 por fazer “rachadinha” com os salários de seus assessores na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Janira voltou a aparecer na mídia ao assumir a defesa da ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza, condenada pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo.