Enquanto que rotineiramente pede para o presidente Jair Bolsonaro liderar o país, João Doria apresenta dificuldades para conduzir o PSDB em seu próprio Estado. Ao longo da última semana, o governador de São Paulo tornou-se um tucano abandonado. Foi alvo de críticas de ao menos três prefeitos espalhados pelo interior paulista. Virou alvo, ainda, de ações lideradas pelo movimento que representa o Grande ABC, região que conta com quatro mandatários tucanos.
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Todas as críticas recentes vindas de prefeitos do PSDB a Doria têm a ver com o confinamento imposto em todo o Estado desde 24 de março. Até o último fim de semana, cidades do interior tinham de seguir as mesmas restrições impostas à capital paulista — independentemente de registrarem poucos casos de covid-19. Ouvidos pelo UOL, os administradores de Ribeirão Preto, Bauru e Araçatuba não mediram palavras para comentar as medidas adotadas pelo governador frente à pandemia do novo coronavírus.
“O Estado tratou por mais de 60 dias de maneira igual os desiguais”
Primeiras críticas
“O Estado tratou por mais de 60 dias de maneira igual os desiguais. Agora, vem a etapa inteligente [da quarentena], eu acho que é a etapa consciente”, comentou Duarte Nogueira. A fala do prefeito de Ribeirão Preto foi feita na semana passada, dois dias após Doria vir a público para descartar lockdown e anunciar o que ele próprio definiu como “quarentena inteligente”. Ação que, aparentemente, não passa da “inteligência” de pintar o mapa do Estado em três cores: amarelo, laranja e vermelho, conforme registrou Oeste.
Clamor por retomada do trabalho
Sem terem a real noção de como funcionaria a tal propagada “quarentena inteligente”, os tucanos Clodoaldo Gazzetta (Bauru) e Dilador Borges (Araçatuba) também fizeram questão de registrar seus descontentamentos com Doria. “Temos apreensão pela falta de trabalho, algumas empresas não aguentam mais”, chegou a clamar o prefeito araçatubense.
O colega de Bauru foi pelo mesmo caminho e pediu, ainda, autonomia aos administradores municipais. Deixando, consequentemente, o tucano abandonado. “Os prefeitos são responsáveis e não aceitam tomar ações que não estejam respaldadas por decisões médicas”, registrou Gazzetta.
Criticado no ABC Paulista
As críticas vindas de prefeitos filiados ao PSDB ao tucano abandonado não pararam após a divulgação do mapa colorido. Pelo contrário, fez com que o governador de São Paulo recebesse mais reclamações de colegas de partido. Ao ver que São Bernardo do Campo e as demais cidades do ABC Paulista teriam uma perspectiva de flexibilização mais lenta do que a capital paulista, Orlando Morando se revoltou. Segundo noticiou Oeste, falou em “injustiça”. Em vídeo, foi além: garantiu ser um “aliado, não alienado”.
O posicionamento do prefeito de São Bernardo do Campo fez a região como um todo se posicionar — e ir contra as medidas impostas pelo governador de São Paulo. O Consórcio Grande ABC, que a saber é composto pelos prefeitos das sete cidades que formam o ABC Paulista, chegou a se dirigir ao Palácio do Planalto. No local, documento foi entregue ao secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi. Material que, todavia, defende que o grupo de municípios avançasse de fase e, assim, pudesse dar início à retomada econômica, como já estava prevista para a capital do Estado. Doria “sentiu” a cobrança e tirou o ABC Paulista da zona de “alerta vermelho”. Além de Orlando Morando, a região tem como prefeitos tucanos Paulo Serra (Santo André), José Auricchio Júnior (São Caetano do Sul) e Kiko Teixeira (Ribeirão Pires).
Juntos, os três tucanos do interior paulista e os quatro do ABC são responsáveis por grandes populações (e eleitores). Segundo dados do último Censo, as cidades em questão contam a com a seguinte quantidade de habitantes:
- São Bernardo do Campo — 838.936;
- Santo André — 718.773;
- Ribeirão Preto — 703.293;
- Bauru — 376.818;
- Araçatuba — 197.016;
- São Caetano do Sul — 161.127;
- Ribeirão Pires — 123.393.
Embate com Bruno Covas
No PSDB de São Paulo, Doria já recebeu críticas públicas de sete prefeitos, mas a questão pode ser ainda pior. É que nesse sentido, de ir contra análises do governador, Bruno Covas tem agido nos bastidores. É o que registrou, por exemplo, Oeste na última semana. Nesse embate, contudo, a situação se inverte. É que o prefeito da capital paulista vê o lockdown como possibilidade como alternativa de combate ao novo coronavírus na cidade que registra mais mortes pela doença no Brasil.
Pedidos de impeachment
Enquanto perde o apoio integral de prefeitos tucanos, João Doria pode, por ora, afirmar que conta com um aliado de primeira linha no comando da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Presidente da Casa, Cauê Macris tem feito com que os pedidos impeachments do governador não sejam levados adiante. Aliás, o deputado estadual — que também é do PSDB — arquivou as solicitações de cassação. Macris não viu crime de responsabilidade, conforme noticiou Oeste.
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[…] Em junho de 2020, ele integrou o time de prefeitos do PSDB espalhados pelo Estado de São Paulo que reclamaram da postura adotada pelo governador diante da pandemia. Agora, no entanto, a decisão de ir contra o Doria pode fazê-lo perder espaço dentro do […]
maluco! doria decepcionou!