As palavras trazem do berço indícios inquietantes, por vezes curiosos. Voto é palavra que demorou a chegar ao português e mudou de significado.
Veio do latim votum, promessa, mas não qualquer promessa, uma promessa solene. É do verbo votare, votar, aprovar, tendo também o sentido de desejar, consagrar, etc.: votos de Feliz Natal (mas está longe ainda…). Voto é do mesmo étimo de ex-voto, bodas e outras palavrinhas assemelhadas, que aparecem com frequência no português.
O voto mais potente de Suas Altezas, os Eleitores, tornou-se um número digitado e confirmado na urna eletrônica. Ex-voto, do latim ex voto, por força do voto, designa objeto, pintura, quadro, etc. para mostrar que a promessa feita aos santos foi atendida. Os santuários estão repletos de tais representações.
Mas não há altares para agradecimento aos políticos. Os eleitores não têm o costume de agradecer nem de cobrar. Só o de votar. Na verdade, logo esquecem em quem votaram, menos se for para prefeito, governador ou presidente da República.
Há bodas também entre eleitos e eleitores, mas não são muito comuns como as bodas de prata ou de ouro para comemorar 25 ou 50 anos de casamento, respectivamente. Bodas de madeira, cinco anos de casamento, acontecem muito. São muito raras as bodas de brilhante, 75 anos de casamento.
O voto tem outras roupas: voto de confiança, voto vencido, voto de Minerva, como é chamado o voto de desempate. O primeiro voto de Minerva não foi de Minerva, foi de Atena. Orestes mata a mãe, é submetido a um júri de 12 cidadãos, que se dividem entre condená-lo ou absolvê-lo. Atena, a deusa da sabedoria, dá o voto de desempate em favor do réu. Em Roma, o nome da deusa era Minerva, daí o nome do voto.
Os norte-americanos não declaram a inocência de ninguém, dizem not guilty, não culpado. Isto é, não foi provado que o réu é culpado. Todos se fundam no direito romano: reus sacra res, o réu é coisa sagrada.
Leia também: “É proibido modernizar a urna eletrônica?”, reportagem de Cristyan Costa publicada na Edição 69 da Revista Oeste