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Getúlio Vargas e a campanha “O petróleo é nosso"| Foto: Reprodução
Edição 108

Já passou da hora de privatizar a Petrobras

O Estado deveria sair do mundo dos negócios e parar de competir com a iniciativa privada, concentrando seus recursos para melhorar a vida da população

Salim Mattar
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A discussão sobre o monopólio da exploração do petróleo pelo Estado data dos anos 1930, quando a esquerda, políticos, militares, intelectuais e nacionalistas faziam um movimento estatizante. Em 1939, o então presidente, Getúlio Vargas, nacionalista que flertava com o fascismo, estatizou o poço Monteiro Lobato na Bahia, que levou este nome devido à forte atuação que o escritor fazia defendendo a estatização do petróleo. Desde aquela época, os intelectuais têm sido usados pela esquerda para defender suas mirabolantes ideias socialistas.

A Constituição de 1946 permitia, através de lei ordinária, que o capital privado nacional ou estrangeiro pudessem ser investidos nos negócios de petróleo, mas, em 3 de outubro de 1953, Vargas sancionou a fatídica Lei 2.004, que concedeu à União o monopólio da pesquisa, da exploração, da produção, do refino, do transporte e da comercialização do petróleo e do gás natural, iniciando assim uma complicada trajetória da Petróleo Brasileiro S/A que se arrasta até os dias de hoje.

A Petrobras está registrada na Bolsa de New Iorque desde o ano 2000, logo, sujeita, bem como seus administradores, ao implacável DoJ – Department of Justice dos Estados Unidos (versão melhorada de nosso Ministério Público) e à SEC – U.S. Securities and Exchange Commission (equivalente à CVM – Comissão de Valores Mobiliários). A Lei das S.A. estabelece que os administradores estão vinculados aos seus deveres fiduciários, têm de agir com diligência e lealdade e não intervir em caso de conflito de interesse, sempre zelando pelo melhor para a companhia.

Sem impostos, nossa gasolina poderia custar cerca de 50% menos

Ultimamente, a Petrobras tem ocupado o noticiário e tudo se iniciou com a alta dos preços dos combustíveis que aconteceu simultaneamente em inúmeros países. Com o aumento, veio a chantagem dos caminhoneiros em fazer uma nova greve, infernizando a vida dos cidadãos e prejudicando a economia do país. Vale registrar que não existe greve de caminhoneiros em países como Suécia, Reino Unido e Estados Unidos, porque esses países não possuem estatal de petróleo. Se o Brasil quiser se livrar de vez dessas constantes ameaças e greves, o melhor seria privatizar a Petrobras. Quando a Petrobrás abriu o capital, permanecendo o governo como seu controlador, foi por uma decisão de necessidade de caixa e não por ideologia de privatizar, transferindo parte da companhia para o privado.

A Petrobras se transformou numa máquina de arrecadação, pois seu custo, lucro, distribuição e revenda sofrem um acréscimo 100% de impostos como ICMS, Cide, Cofins e subsídio para etanol e anidro. Sem impostos, nossa gasolina poderia custar cerca de 50% menos! Quando abastecemos um carro, metade do valor que se paga é combustível e a outra metade são impostos. A empresa teve 23 presidentes em 36 anos, com uma média de troca a cada 18 meses. Nenhuma empresa deste tamanho pode dar certo com mudanças dessa magnitude. Essa dança das cadeiras é porque pessoas responsáveis não aceitam orientações de governos com relação à interferência nos preços dos combustíveis e outras práticas não republicanas e incompatíveis com o mundo dos negócios, pois poderão responder pessoalmente por seus atos.

Durante os governos petistas, a estatal foi alvo do maior esquema de corrupção do mundo, que foi desbaratado pela Operação Lava Jato a partir de 2014. Inúmeros diretores foram presos e mais de R$ 6 bilhões devolvidos aos cofres da empresa. Nem mesmo com a abertura de capital e ações negociadas no Brasil e nos Estados Unidos, a empresa foi blindada contra seu uso indevido e certas ideias que prejudicam a governança da companhia por parte de seu controlador, o governo. Graças à cerrada vigilância de conselheiros e minoritários, a empresa tem sido administrada de forma a se evitar o pior.

A Petrobras cumpriria melhor seu papel se fosse privatizada. Mesmo tendo um corpo técnico muito competente, atualmente é refém do corporativismo de seus funcionários com estabilidade. Já teve seu fundo de pensão Petros muito mal administrado e por diversas vezes quase se tornou inadimplente. Atualmente, os presidenciáveis Sergio Moro, João Doria e Felipe d’Ávila já se declararam a favor da privatização da empresa, enquanto o ex-presidiário Lula e o eterno candidato Ciro Gomes são radicalmente contra e já falaram, inclusive, em reestatizar a companhia.

Todas as estatais, suas subsidiárias, coligadas e investidas, sem exceção, deveriam ser vendidas! Estatais são ineficientes e sempre têm sido problemas para os governos de plantão e para os cidadãos. O Estado deveria sair do mundo dos negócios e parar de competir com a iniciativa privada, concentrando todos os seus recursos para melhorar a qualidade de vida da população e, principalmente, assistir os mais pobres e necessitados. Também, por esse contexto, a Petrobras deveria ser privatizada.


Salim Mattar é empresário e presidente do Conselho do Instituto Liberal

Leia também “Os políticos querem se apropriar da Petrobras”

14 comentários
  1. Eloisa Moreira Alves
    Eloisa Moreira Alves

    Monteiro Lobato acreditava que a produção de petróleo deveria ser estimulada pelo setor privado, e não o contrário.

  2. Eloisa Moreira Alves
    Eloisa Moreira Alves

    O poço de Lobato, embora pareça, não é uma homenagem a Monteiro Lobato!

  3. Antonio Carlos Lameira
    Antonio Carlos Lameira

    Parabéns Salim Matta, empresário bem sucedido, dono da Localiza, líder do setor de aluguel de veículos, entrou para o governo com muita vontade de trabalhar, quando viu q privatizar empresas publicas o buraco era mais em baixo, caiu fora, no que fez muito bem. Por pouco não saiu com sua biografia manchada.

  4. Daniel BG
    Daniel BG

    O dia em que atingirmos o nível superior, democraticamente, e apagarmos da nossa realidade a presença nefasta desses que querem um estado controlador e uma liberdade individual cancelada; nesse dia, apesar de continuarmos com os mesmos problemas existenciais do ser humano, seremos mais felizes.

  5. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Mattar errou ao sair porque mesmo não falando mal do governo mas sim do Congresso deveria respeitar quem o indicou que continua lá até hoje. Mas creio que pode voltar, porque é verdadeiro no comentário sobre o preço dos combustíveis e poderia ter ajudado a Petrobras a rebater esses maus políticos, governadores e velhaca imprensa que conseguiram até tirar o excelente presidente gal. Luna que fez surpreendentemente excelente trabalho na Itaipu e na Petrobras, com o argumento que a empresa tem que olhar o social e não praticar a PPI que vem praticando. Esquecem que os maiores vilões nos preços dos combustiveis são o ICMS e a Dist/Rev. que somados representam o mesmo valor que a Petrobras recebe atualmente já com o aumento na gasolina e diesel.
    Vale dizer que no site da Petrobras encontramos com detalhes quais são os agentes no preço da gasolina e diesel e quanto recebem do valor médio cobrado nas bombas.
    Poucos sabem mas a gasolina comum é composta de 73% de gasolina A (Petrobras) e 27% de álcool anidro (Usineiros). O preço médio coletado pela ANP no periodo de 03 a 09/04 foi de R$7,19 assim distribuído: Petrobras (gas.A)=R$2,81 ICMS=R$1,75 Usineiro(álcool anidro)=R$1,07 Dist/Rev=R$0,87 e Imp.Fed.=R$0,69 (vr.fixo desde 2019). Dai podemos concluir que a soma do ICMS+DIST/REV.=R$2,62 representa 93,2% do valor recebido pela Petrobras, e que o preço por lt. da gasolina A é 2,81/0,73=R$3,85 e do álcool anidro é 1,07/0,27=R$3,96 portanto maior que o da gasolina A. Dá para entender que há vários vilões no preço dos combustíveis antes da Petrobras?.
    Agora, por que os políticos e a velhaca imprensa não questionam a Paridade Preços Internacional também praticada pelo negócio agropecuário?. Como entender que sendo campeões mundiais na produção da SOJA, o preço em 2019 de R$2,50 uma garrafa de 900 ml de óleo de soja e atualmente R$9,00. E da Carne, Cana, Milho, etc.etc.?

  6. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Excelente artigo. Parabéns. A Petrobras já deveria ter sido privatizada. Bem como todas as estatais.

  7. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Temos experiência em saber que tudo que é administrado pelos afunda

  8. Benjamin Gonzalez Martin
    Benjamin Gonzalez Martin

    Salim Mattar, Quero vc de volta pra realizar esta tarefa e outras assim que este governo for reeleito.

    1. Ernesto Quast
      Ernesto Quast

      Reforço esse pedido.
      É muito complicado aguentar a pressão e o ritmo (quase parado) de qualquer alteração que seja positiva para a sociedade. Não tenho a mesma competência (nem de longe) o Salim Mattar, mas coloquei-me à disposição para auxiliar em áreas estratégicas para a modernização e aproximação da IES-Federal ao “mundo real”, mas quando me falaram e depois demonstraram que eu teria que ter paciência, para que as mudanças fossem implantadas em 20 anos, coloquei meu cargo à disposição.
      Olho na votação para Senado e Deputados Federais! Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!

  9. Walter Cesar Gomes
    Walter Cesar Gomes

    Será o desespero de uma turba gigantesca que mamam há décadas na Petrobras.

    No entanto, o que vai para um grupo ” privilegiado “, poderá se transformar, tornando o Brasil um país mais justo. Mais limpo.

    Tristes almas que não enxergam o mal que sempre fizeram

    Riqueza, poder, vaidade…, tudo passa

  10. Osvaldo Nogueira
    Osvaldo Nogueira

    Dividir o lucro e socializar o prejuízo, esse é o lema….afhhhh

  11. Osvaldo Nogueira
    Osvaldo Nogueira

    Petrobras é a nossa antiga telebrás de estimação….kkkkk

  12. Ayrton Pisco
    Ayrton Pisco

    A Petrobras, como qualquer empresa pública, só traz vantagens para seus funcionários e para os políticos.

  13. Pedro Paulo Lemos Tavares
    Pedro Paulo Lemos Tavares

    Não há outra solução para essa aberração ao livre mercado.

    Só a privatização pode libertar o Brasil desse engodo.

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