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Protesto do movimento Black Lives Matters
Protesto do movimento Black Lives Matters
Edição 109

Como o Black Lives Matter se tornou um grande negócio

Movimento angariou muito dinheiro — e causou muito dano

Tom Slater, da Spiked
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Faz dez anos desde o assassinato de Trayvon Martin, o jovem norte-americano negro cuja morte prematura faria nascer o movimento Black Lives Matter. Adequadamente, o BLM começou com uma postagem de rede social. Em reação à absolvição de George Zimmerman, o homem que matou Martin, Alicia Garza postou “uma carta de amor ao povo negro” no Facebook expressando seus sentimentos de luto e injustiça. Uma amiga, Patrisse Cullors, repostou o texto com a hashtag #BlackLivesMatter. Outra amiga, Opal Tometi, registrou o domínio e as contas nas redes sociais. Nasciam um slogan, uma organização e um movimento. Em 2020, ele rodou o mundo. Mas, uma década depois, nesta nova era de agitação “antirracista”, de uma política norte-americana identitária, racial e globalizada, o que o BLM conseguiu fazer? Em primeiro lugar, ele arrecadou muito dinheiro. Polêmicas recentes sobre a “mansão do Black Lives Matter” — um imóvel de US$ 6 milhões comprado discretamente pela Black Lives Matter Global Network Foundation (a organização principal do BLM, conhecida pela sigla BLMGNF), em 2020 — nos ajudaram a lembrar como as quantias são impressionantes. Depois do assassinato de George Floyd, começaram a chover doações de empresas, como ​​Amazon, Microsoft, Airbnb e Unilever. De acordo com a BLMGNF, a organização fechou 2020 com cerca de US$ 60 milhões.

Trayvon Martin, de 17 anos, foi assassinado em 26 de fevereiro de 2012 com um tiro no peito pelo vigilante George Zimmerman, na época com 28 anos | Foto: Steve Rhodes/Flickr

Muito antes de descobrimos sobre a mansão — que o movimento Black Lives Matter afirma ter sido comprada com o propósito de desenvolver “conteúdo”, ainda que pouco conteúdo supostamente tenha sido desenvolvido até o momento —, ativistas da base ficaram bravos sobre como as decisões estavam sendo tomadas e como as vítimas de violência policial acusaram a liderança do BLM de “lucrar em cima de seus filhos mortos”.

Mansão comprada pelo BLM por US$ 6 milhões. No detalhe, Patrisse Cullors, ex-diretora executiva do movimento | Foto: Reprodução Keller Williams Imóveis Encino/Youtube

Patrisse Cullors se demitiu do cargo de diretora-executiva BLMGNF em maio do ano passado, depois de protestos sobre o aumento de seu portfólio de imóveis. Ela disse que financiou suas quatro casas por meio de seus contratos de produção e publicação, mas isso só enfatizou como ela e os demais estão faturando com o movimento, enquanto aqueles que estão na base lutam para pagar as contas.

Patrisse Cullors, ex-diretora-executiva BLMGNF | Foto: Wikimedia Commons

Tudo isso traz à tona a pergunta: quem se beneficia do Black Lives Matter? Ele é, pelo menos em termos de alcance internacional, a maior campanha antirracista da história moderna. Mas não há nenhum sinal de objetivo político ou policial que se possa prontamente atribuir a ele. Sua missão básica parece ser a perpetuação de sua própria narrativa desoladora e apocalíptica, que afirma, de forma grandiosa, em seu site “erradicar a supremacia branca e criar poder local para intervir na violência infligida às comunidades negras pelo Estado e pelos justiceiros”. Sua principal conquista tem sido divulgar a ideia de que os Estados Unidos estão totalmente apodrecidos, que a polícia racista está aterrorizando as comunidades negras — sonhos identitários febris que não nasceram de evidências.

O chamado para “desfinanciar a polícia” levou a um recuo das forças policiais em áreas com alto índice de criminalidade

Nada disso quer dizer que o racismo não exista mais, ou que algumas comunidades ainda não estejam lutando contra o legado do racismo e da atual injustiça econômica. Mas, em termos de “experiência vivida”, se é preciso usar essa expressão, dos norte-americanos negros, o Black Lives Matter piorou as coisas. O chamado para “desfinanciar a polícia” após o assassinato de George Floyd levou a um recuo das forças policiais em áreas com alto índice de criminalidade e habitadas principalmente por minorias. Os assassinatos dispararam. Os tumultos — disfarçados de protestos pela mídia mainstream — devassaram comunidades negras e urbanas dos Estados Unidos. Uma atmosfera tóxica de censura e cancelamento dificultou até mesmo que se criticasse o que está acontecendo.

Grafite com a imagem de George Floyd, morto depois de uma abordagem policial no dia 25 de maio de 2020, em Minneapolis (EUA) | Foto: Rossographer licenciado para reutilização sob Creative Commons Licence

Enquanto isso, milhões entraram nos cofres do BLM e — como descobrimos recentemente — no bolso de imobiliárias californianas de luxo. Boa parte veio de monstros corporativos do capitalismo moderno. Google, Apple e Microsoft estavam tão ávidos para doar para o Black Lives Matter que, num dado momento, quase doaram milhões do dólares para uma entidade chamada Black Lives Matter Foundation, que não tem nenhuma relação com o movimento BLM (e, por acaso, é a favor de um aumento das forças policiais).

Os direitistas ignorantes que repreenderam essas empresas por apoiar uma organização “marxista” não entenderam nada. O Black Lives Matter nunca foi uma ameaça àqueles que estão em posições de poder. Na verdade, ele causou mais danos aos que estão na base, ao mesmo tempo que permite que ativistas comprem casas e empresas comprem virtude.

Para os progressistas genuínos, o trabalho da próxima década será nos livrar do “antirracismo” neoliberal que o BLM nos deixou.


Tom Slater é editor da Spiked. Ele está no Twitter: @Tom_Slater_

Leia também “O caso Kyle Rittenhouse e a histeria das elites”

1 comentário
  1. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Como diz um ditado popular: enquanto existir cavalo, São Jorge não anda a pé.

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