O que se viu no saguão e no interior do enorme Teatro Friedrichstadt-Palast, no meio do badalado bairro de Mitte, em Berlim, foi um show de inovação: dos gigantes norte-americanos Apple e Google às famosas montadoras europeias, como Mercedes-Benz e Volkswagen, somado a um desfile dos mais variados designers do planeta. Na noite da segunda-feira 16, Oeste esteve na mais recente edição do iF Design Award, considerado o Oscar do design no mundo, um evento para premiar projetos e design de diversos setores da indústria no mundo.
De Hannover para o mundo
Criado em 1953, em uma feira de Hannover, com o objetivo de impulsionar a indústria alemã, o iF se expandiu ao longo dos anos e virou objeto de desejo de inúmeros profissionais, estúdios e empresas. Ter um iF para chamar de seu não apenas traz status, como é uma chancela para atrair outros grandes trabalhos. Nos últimos dois anos, quebrou-se a tradição da premiação presencial por conta da pandemia. No retorno neste ano, um protocolo pareceu quase ensaiado por todos os vencedores que subiram ao palco: em vez de um aperto de mão nos apresentadores, apenas um soquinho como cumprimento. A máscara — atualmente obrigatória apenas nos transportes públicos da Alemanha — era rara de ver entre os mais de 1,5 mil presentes, de mais de 40 países, dos Estados Unidos à Coreia do Sul, da Holanda ao Brasil.
Verde e amarelo
A grande novidade desta edição foi a adesão e a aprovação de talentos brasileiros. Foram 30% de aprovados das 96 inscrições recebidas dos mais variados setores — do maior banco do Brasil a uma health tech paranaense. Em contato com a coluna, o CEO do iF, o alemão Uwe Cremering, diz que os brasileiros estão à frente de inúmeros outros países em relação à criatividade e à inovação. Para efeitos de comparação, a taxa de aprovação dos trabalhos chineses está em 8%.
Banheiro sem toques
Os mais variados e inovadores produtos e projetos foram premiados. Do Japão, veio a ideia de um banheiro público inteligente, chamado Hi Toilet, em que o usuário não precisa tocar em nada, seja maçaneta ou torneira. Basta dar um comando em voz para que uma porta se abra ou caia um papel para secar a mão. De Hong Kong, veio uma garrafa térmica que permite ao comprador fazer um café coado direto na própria garrafa. Na Holanda, uma ferramenta parecida com um alicate gigante foi criada para ajudar bombeiros em acidentes graves em veículos, para facilitar o resgate de pessoas.
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Steve Jobs do design
E eis que aparecem os gigantes da tecnologia: a sul-coreana Samsung levou três troféus para casa, sendo um deles pelo lançamento de um celular que se dobra no meio. O Google subiu com seis funcionários do Vale do Silício para receber um troféu. A Apple, desbancada dias atrás do posto de empresa mais valiosa do mundo pela petrolífera saudita Saudi Aramco, recebeu três prêmios da noite. Entre eles, o design de seu iPhone 13 (carro-chefe da companhia, que faturou US$ 50,5 bilhões apenas nos três primeiros meses de 2022) e um novo fone de ouvido. Quem não conhecia até então o chefão da Apple que subiu ao palco, poderia facilmente identificá-lo na plateia de mais de 1,5 mil pessoas: ele andava, se vestia e até reagia como o falecido Steve Jobs. Um grande exemplo do que significa a eficaz cultura organizacional da empresa.
Star Trek brasileiro
O Brasil foi chamado ao palco, ao lado de gigantes como a Apple, por uma criação feita por uma health tech — como são chamadas as startups da área de saúde. Fundada em Curitiba em 2016, a Hilab, que começou com 13 funcionários e pulou para os atuais 400, partiu da seguinte premissa: apenas 24% da população brasileira possui plano de saúde. O que fazer? Os sócios da empresa sempre estiveram focados em aliar tecnologia e saúde, mas a gênese do produto campeão veio mesmo da televisão norte-americana: o Tricorder médico, um dispositivo capaz de detectar problemas de saúde, foi inspirado num equipamento homônimo da franquia de ficção científica Star Trek. “O Tricorder do filme sempre foi uma grande inspiração para criação da Hilab”, diz Marcus Figueredo, CEO da empresa.
Exames na nuvem
O produto da Hilab digitaliza resultados de exames laboratoriais a quilômetros de distância do laboratório, sem necessitar de logística para transporte das amostras. É possível, por exemplo, colher o sangue de uma comunidade indígena, jogar os resultados na nuvem e um laboratório ter acesso a essas informações em 20 minutos. “Conseguimos transformar a espera de resultados de exames de gravidez, covid-19, exames moleculares e até de hemogramas de dias em minutos, o que faz toda a diferença para iniciar um tratamento médico”, diz Figueredo. “É possível entregar esse mesmo serviço para qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Vamos até onde outros laboratórios não vão.” O produto, agraciado com o prêmio máximo Gold na categoria, já foi usado em mais de 1,4 mil cidades brasileiras, além de Portugal e Reino Unido. Os clientes da empresa são farmácias, clínicas, consultórios, laboratórios, hospitais e o setor público.
Cartão pré-pago hospitalar
A saúde estava em alta entre os criadores do Brasil. O carioca Pedro Junqueira foi outro nome que se destacou: ele aperfeiçoou um cartão de saúde pré-pago já existente no mercado. A operadora de saúde sofria com a falta de constância nas recargas por parte do usuário. Junqueira e seu time propuseram a criação de parcerias com redes de supermercado, por exemplo, para que fosse possível arredondar o valor das compras no estabelecimento e levar o excedente direto para o cartão. “Criamos uma experiência fluida e contínua para um bom produto, tornando-se uma plataforma de soluções para cuidar da saúde”, diz Junqueira, sócio do Estúdio Marte. Ele usou como premissa os mesmos dados utilizados pela Hilab: 76% da população está sujeita aos processos da saúde pública ou aos altos preços praticados pela saúde privada.
Cartão inclusivo
Maior banco privado do país, o Itaú enviou o superintendente de branding e design Clayton Caetano para receber o prêmio. Caetano desenvolveu, junto com sua equipe de 20 designers, além de outras áreas envolvidas, um cartão de crédito inédito de acessibilidade destinado a clientes cegos. O cartão tem as informações em braile e um corte em uma das laterais. A equipe do banco construiu o produto a partir de pesquisas de clientes com familiares cegos, que contaram da dificuldade deles para manejar mais de um cartão. O custo da produção do novo cartão chega a dobrar, se comparar com um cartão de crédito tradicional. No entanto, o projeto foi aprovado internamente e o Itaú passou a disponibilizar através do seu banco digital iti: 5 milhões de novos cartões de acessibilidade já foram impressos.
Assédio alemão
Num encontro informal entre os criativos brasileiros, no espaço de eventos da Volkswagen na mais famosa avenida da cidade, a Unter den Linden, um consenso prevaleceu na roda de conversa: o assédio por profissionais brasileiros vindos de empresas estrangeiras. O próprio Caetano, do Itaú, disse que se preocupa com a fuga de talentos de sua equipe para fora do país. Um dos colegas que acabara de visitar na cidade era um ex-funcionário que se mudou para Berlim para trabalhar como designer em empresas de tecnologia. Entre elas, o banco digital alemão N26. “E ele disse que recebe de quatro a cinco propostas semanais de trabalho”, diz.
O bom negócio
Um dos grandes impulsos para essa atração de talentos estrangeiros é um incentivo da maior parte da União Europeia: a Alemanha concede o EU Blue Card (cartão azul), inspirado no Green Card norte-americano, a profissionais qualificados formados fora da União Europeia e estudantes estrangeiros que concluírem os estudos no país para viver e trabalhar em países europeus. Tecnologia da informação, medicina e engenharia são algumas das áreas escassas. Por essa razão, a Alemanha é o país da União Europeia que mais concede o Blue Card. Designer é outra categoria de trabalhador que falta no país, como se vê no exemplo acima. A justificativa para ter bons profissionais na área é resumida por Juliana Buso, gestora de projetos do Centro Brasil Design e representante do iF no Brasil: “O bom design é um bom negócio, porque ajuda as empresas a venderem mais e muito melhor os seus produtos”.
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Quando ganharemos um prêmio Nobel?
Criativos Brasileiros!!!
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