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Foto: Shutterstock
Edição 118

Chocolate, castanhas glaceadas e muita paquera

A nova realidade do mercado de franquias e trechos de uma das raras entrevistas de Danuza Leão: "A sedução não pode acabar, porque é uma coisa maravilhosa"

Bruno Meyer
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Uma mudança em andamento tem mexido com o mercado de franquias, pujante há quatro décadas no país. O perfil do franqueador está em profunda transformação: o velho — mas ainda presente — investidor que usava uma ou mais franquias como investimento tem dado lugar a uma massa de brasileiros que aloca recursos nos mais variados setores de franquias — de uma barraca de castanhas glaceadas no aeroporto a uma revendedora de perfumes em shopping. O filão faturou R$ 188,5 bilhões nos últimos 12 meses, cerca de 2,5 % do PIB nacional. De acordo com uma recente pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF), pessoas que procuram novas oportunidades na carreira já são o principal perfil de quem busca franquia no país, com 29%, à frente de quem só quer investir e manter outras atividades, com 17%. 

A maior do mundo 

A profusão de rostos e sotaques pode ser vista nos corredores do Expo Center Norte desde a quarta-feira 22, quando os portões se abriram para o ABF Franchising Expo, maior feira de franquias do mundo, que deve receber mais de 60 mil pessoas até o sábado 25, em São Paulo. A força do mercado e o crescimento da atual edição do evento são comprovados em dados: 1,5 milhão de brasileiros são empregados diretamente no setor, de Norte a Sul. Nos três primeiros meses do ano, as franquias faturaram mais de R$ 43 bilhões, alta de quase 9%, de acordo com a ABF. 

Do café ao restaurante

A recente transformação das franquias no Brasil se deve muito à variedade, inclusive no valor alocado inicial, pela qual um investidor pode pagar. A transação começa em módicos R$ 3 mil — de lavanderias a representantes de uma agência digital — a valores superiores a R$ 2 milhões, como é o caso do setor de alimentação em shopping centers. Na média geral, o brasileiro investe R$ 100 mil para abrir uma franquia, e nesse valor ele consegue de um café em um bairro de classe média ou um quiosque dentro de um aeroporto a uma sorveteria. Dos pequenos aos grandes investimentos, uma regra não escrita fica clara: um franqueador busca o retorno do investimento em 24 a 36 meses.

Franquia Morana | Foto: Divulgação

As ruas do Brasil

A efervescência do setor não se comprova apenas pelo interesse e pelo vaivém de gente no evento do Expo Center Norte, mas também pela contínua procura entre as grandes marcas de franquias — que, por envolverem obras iniciais, exigem investimentos bem mais altos. O McDonald’s, com mais de mil lojas no país, segue como uma das marcas mais desejadas. O empresário Alexandre Costa vai inaugurar a loja 3 mil de sua Cacau Show neste mês e fala que “nunca teve tantos franqueados querendo abrir novas lojas, sendo que 54% já tinham franquias”. Uma das líderes no gênero, a curitibana O Boticário tem 4 mil franquias. Com 280 lojas, a Morana — maior rede franqueadora de acessórios femininos do país — acaba de bater 40% do faturamento, se comparado a 2019, ano pré-pandêmico. E um palpite por quem entende do riscado: “Se quiser crescer no verdadeiro Brasil, o franqueado precisa de um modelo de negócio chamado rua”, diz Jae Ho Lee, CEO do Grupo Ornatus, holding que inclui a Morana e a Little Tokyo, e diretor da ABF.  

A volta do encontro

O Brasil tem cerca de 550 shopping centers concentrados em 200 municípios. Pode inicialmente causar estranheza para um dono de uma rede de lojas de acessórios, como Lee, falar em expansão de rua, enquanto o mundo só pensa em crescer no digital. Mas o Brasil não é simples, nem foi feito para amadores. Lee usa os mais de 4 mil municípios do país que não possuem shopping centers e têm o seu comércio ultrapopular nas ruas. A expansão tem acontecido lá. A alimentação segue relevante no setor, mas houve um aumento no ramo que envolve saúde e beleza, com marcas de clínicas de estética sendo franqueadas. “Tem a ver com a ida da mulher cada vez mais ao mercado de trabalho”, diz Lee. O setor de moda teve um aumento de 13,5% no faturamento, comparado com o mesmo período de 2021, e 11% nas operações de franquias. “Moda e cosméticos se beneficiam, porque tem a ver com saídas, eventos”, diz. “As pessoas voltaram a se encontrar, a casar.”

Jae Ho Lee | Foto: Arquivo Pessoal

Sotaques brasileiros

O Brasil é um dos mais relevantes países do mundo em termos de franchising, atrás apenas de países como Estados Unidos, China e Coreia do Sul. Há 30 anos no setor de franquias brasileiro, o sul-coreano Jae Ho Lee elenca dois motivos principais para o país ser um território propício para as franquias. O primeiro deles é a regionalidade. “Eu consigo ir a cidades a que eu nunca iria com minha marca própria”, diz Lee. O dono da Morana cita o contrato que acaba de fechar: uma empresária de Américo Brasiliense, no interior paulista, com 40 mil habitantes, vai abrir uma loja de sua marca, após ter duas outras franquias. “Ela fala o sotaque da região, conhece pessoas da cidade e naturalmente vai performar melhor”, diz. A franquia de uma Morana — destinada a uma mulher de classe B, de 25 a 45 anos — começa com uma taxa de R$ 40 mil, passa pelo custo da construção da loja com os padrões da sede, no valor de R$ 150 mil, e mais R$ 50 mil para encher um estoque. Há 35 negociações em andamento para fechar franquias da marca.

Fila de espera

A fila de espera para o banco digital alemão N26 chegou a 200 mil clientes no Brasil. A fintech, com 7 milhões de clientes no mundo, não tem data definida para estrear por aqui, mas será neste ano. Promete oferecer crédito e uma plataforma de educação financeira. 

As mulheres não são fracas… 

A jornalista, escritora e ex-modelo brasileira Danuza Leão — morta na quarta-feira 22, aos 88 anos, de insuficiência respiratória — não gostava de conceder entrevistas, mas foi sucinta em uma de suas últimas, sobre o poder que a mulher tem para controlar situações: “As mulheres não são umas pobres-coitadas, não são débeis mentais, não são tontas, burras e fracas. São perfeitamente capazes de dizer ‘não’ quando um homem chega assediando”. A declaração foi dada ao repórter Eduardo F. Filho, logo após ela ter suscitado críticas inflamadas por ter escrito um artigo em que dizia: “Toda mulher deveria ser assediada pelo menos três vezes por semana para ser feliz”. 

…a arte da paquera…

Na ocasião, Danuza admitiu que, quando escreveu o artigo, em 2018, não tinha noção precisa do que constituía um assédio sexual. “Quando uma mulher passa por uma rua escura e três homens a agarram, não tem escapatória. Agora, quando uma moça vai para a casa de um rapaz, é outra situação.” Desfeita a confusão, Danuza defendeu a arte da paquera: “É ótimo um homem paquerar a gente, porque a gente se sente linda, maravilhosa, poderosa”, diz. “Que história é essa de não poder assobiar para mulher? (…) Sem a paquera não há nada, ficam os homens conversando de política e as mulheres, sobre dieta do outro lado. A economia mundial acabaria se não houvesse essa insistência dos homens. Por que uma mulher vai ao cabeleireiro? Por que ela faz ginástica? Para quem ela compra um biquíni? Para os homens. Se não tiver paquera, elas não precisam de mais nada disso.” 

Danuza Leão | Foto: Hipolito Pereira/Estadão Conteúdo

…e da sedução, por Danuza Leão

E continuou: “Sem paquera, não tem transa. Sem transa, não tem filhos. Sem filhos, diminui a população. Eu acho que um mundo onde todas as pessoas paqueram é muito mais agradável. As pessoas são mais sorridentes, estão dando mais de si, mostrando o seu lado mais gentil, estão tentando seduzir umas às outras. A sedução não pode acabar no mundo, porque é uma coisa maravilhosa”. Salve, Danuza!

[email protected] 

Leia também “Do luxo ao luxo” 

2 comentários
  1. Carla Sant’anna
    Carla Sant’anna

    Exatamente! Grande Danuza! A vida pode ser tão simples. Trabalhar, paquerar, se arrumar, se sentir atraente, cuidar da nossa vida. Viver….

  2. Sergio Vanetti Burnier
    Sergio Vanetti Burnier

    Salve, Danuza!
    Não sabia do seu falecimento…
    Um voz clara e elegante se foi…

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