Investidores, gestores de fundos e altos executivos de grandes companhias parecem tomar decisões sem considerar as manchetes tenebrosas da grande imprensa. O agronegócio registra safra recorde, o setor imobiliário prevê recuperação rápida, o mercado de aquisições está aquecido, avançam consistentemente negociações acerca de concessões e privatizações e o Ibovespa, indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, está na faixa dos 95 mil pontos — marca prevista para ser atingida apenas em dezembro deste ano. As razões são simples: a economia se orienta pelo radar do médio e do longo prazos, a atual crise já foi “precificada” — como se diz no jargão financeiro — e as perspectivas para o Brasil são positivas, até em razão do valor do real ante o dólar, que torna o país barato para investidores estrangeiros.
No mundo do consumidor comum, um dado importante que não obteve o devido destaque: o endividamento da sociedade brasileira se manteve estável, de acordo com o levantamento mais recente realizado pela Confederação Nacional do Comércio. Isso significa que, mesmo com perda de renda, os consumidores vêm mantendo os pagamentos, ainda que tenha aumentado o número daqueles que estão em débito e diminuído a quantidade dos que estão sem dívidas. Ou seja: os sinais são de que o cidadão está se esforçando para manter o nome limpo na praça, de modo que possa voltar a consumir sem dificuldades.
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Esses são alguns dos dados que apontam para um horizonte promissor pós-pandemia. Há espaço para a retomada rápida de atividade, sobretudo em segmentos que se mostram resilientes mesmo em meio ao ambiente de crise.
A força do agro
De acordo com um estudo divulgado em maio pelo IBGE, a produção de soja deve crescer 6,7% em relação à do ano passado. Conforme o mesmo levantamento, a safra de arroz será 3,5% maior ante a de 2019. Para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a chegada tardia do novo coronavírus ao Brasil — no caso, quando comparado ao início da crise no resto do mundo — fez com que o governo pudesse adotar iniciativas preventivas. Num seminário via internet promovido pelo Instituto de Engenharia, a ministra informou algumas das estratégias adotadas. “Criamos uma linha direta de telefone a partir da qual os produtores entram em contato para dizer onde há perdas de hortifrútis em todo o Brasil. Em dez dias, além de identificar perdas, os produtores apresentavam alternativas para resolver os problemas.”
Diferentemente do tom de lamento que tem marcado lideranças de diversos setores, Tereza Cristina aproveitou parte significativa do encontro para exaltar a já citada safra recorde e elogiar a sinergia com o Ministério da Infraestrutura, comandado por Tarcísio Gomes de Freitas. “Tivemos alguns problemas de logística no início, mas, graças à integração com a pasta da Infraestrutura, juntamente com os Estados e municípios, conseguimos fazer fluir a produção.”
As declarações da ministra reforçam a percepção da importância do agronegócio para a recuperação econômica. O setor conquistou relevância global em virtude de altos investimentos em tecnologia, que permitiram um notável crescimento da produtividade sem aumento da área de plantio, e é beneficiado também em razão do câmbio. Como os contratos de exportação são firmados em dólar, as empresas poderão faturar, dependendo das datas de assinatura e pagamento acertadas, até 30% a mais em real.
Infraestrutura
Para quem assistiu à apresentação do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, à live promovida pelo jornal O Estado de S. Paulo, não resta dúvida de que o caminho para a retomada tem como check point esse setor.
É claro que alguém sempre poderá dizer que ali estava o representante do governo tentando vender um cenário positivo. Ao mesmo tempo, o ministro apresentou um conjunto robusto de dados. As iniciativas em curso demonstram que há boas evidências de que os abalos provocados pela crise não afetarão o que de mais precioso está previsto para o segundo semestre, os leilões de portos, aeroportos, rodovias e até da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, de Ilhéus a Caetité, na Bahia.
Ao avaliar o impacto das concessões, Freitas estima investimentos da ordem de R$ 240 bilhões. Os técnicos do ministério conduzem um trabalho inédito: a remoção prévia de todos os entraves burocráticos às concessões. Assim, uma empresa, um fundo ou um consórcio que vença determinada licitação não terá de enfrentar encrencas judiciais ou pendências junto a instituições reguladoras. Planos estratégicos passam por adaptações para torná-los mais exequíveis, é intenso o diálogo com o mercado e a meta é concluir trabalhos em andamento antes do lançamento de novas obras. “Os projetos vão seguir seu cronograma de execução. Não há alteração de prioridade”, diz Freitas.
São dois os fatores que sustentam os prognósticos do ministro. O primeiro tem a ver com a modelagem dos projetos, que, de longo prazo, ambicionam os próximos trinta anos — assim, os investidores enxergarão garantias e poderão planejar o desembolso de recursos. O segundo fator diz respeito ao entendimento de que haverá acomodação em segmentos que foram severamente afetados pela crise, como é o caso do setor de turismo. Conforme recente pesquisa realizada pelo portal de viagens MaxMilhas, os voos nacionais serão os mais procurados depois da pandemia. Salvador, Fortaleza, Recife, Maceió e Natal lideram o ranking das cidades mais pesquisadas, seguidas de capitais como São Paulo e Porto Alegre.
Um estudo encomendado pelo Conselho de Turismo da FecomercioSP chegou a dados que vão na mesma direção. Há 2 milhões de brasileiros que conhecem melhor Nova York do que atrações próximas às cidades em que vivem. No Estado de São Paulo, pelo menos 1 milhão de pessoas já visitaram Manhattan mais de uma vez mas nunca estiveram em Ilhabela. A perspectiva, portanto, é que a recuperação se dê via turismo interno.
Na avaliação de Freitas, para buscar a retomada, o setor terá ainda de transformar a experiência do viajante. “O plano é estabelecer protocolos específicos para o check-in, durante o voo e também no desembarque, de modo a melhorar a percepção de segurança”. O Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, foi o primeiro a adotar os novos procedimentos.
Mercado imobiliário
Depois de se transformar em um dos símbolos do fracasso do Brasil potência nos últimos anos, quando foi entregue ao ex-empresário Eike Batista, o Hotel Glória, agora, tem novo dono, o Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário. O imóvel se tornará edifício residencial. Ainda que esteja longe do período de glamour do século passado, quando recebeu presidentes e celebridades do Brasil e do exterior, o prédio pode sinalizar um novo momento no setor de investimentos imobiliários após a pandemia.
Em que pese a insegurança de eventuais compradores no mercado residencial, a demanda não será alterada, em razão do crescente nível de urbanização, escreveu Claudio Bernardes, presidente do Conselho Consultivo do Sindicato de Habitação de São Paulo, em artigo publicado na Folha de S.Paulo.
O primeiro semestre de 2020 foi um divisor de águas para muitos investidores da bolsa que optaram por alocar recursos em imóveis comerciais. Em busca de resultados robustos, a esmagadora maioria não contava com um revés como esse, que fez do home office o novo padrão. Ainda assim, de acordo com dados da consultoria Cushman & Wakefield, no mês de abril, São Paulo e Rio de Janeiro registraram bons resultados. O Canada Pension Plan, fundo soberano canadense que administra recursos de previdência, investe em imóveis corporativos no Brasil e informa que 98% de seus inquilinos pagaram o aluguel de maio. O chamado mercado triple A, de escritórios de luxo, está surpreendentemente aquecido. “Tem muita gente batendo na nossa porta para falar dos escritórios”, disse numa live Roberto Perroni, da Brookfield Properties.
Existe outro movimento ao qual se deve prestar atenção. “Enquanto áreas como hotelaria e varejo enfrentam dificuldades que podem perdurar após a crise, a demanda por espaço de armazenamento e logística deve crescer”, observa Claudio Bernardes.
Assim como no agro e na infraestrutura, o setor imobiliário será favorecido pelo câmbio. Fundos estrangeiros encontrarão no Brasil boas pechinchas.
Doing Business
Em uma live mediada por Marcos Lisboa, presidente do Insper, os economistas-chefe dos bancos Santander, Bradesco e Itaú confirmaram que a expectativa do mercado financeiro não poderia ser pior nas primeiras semanas da crise.
Os indícios não eram para menos: segundo o FMI, a queda da economia mundial seria na casa de 3,0%, e, no Brasil, de 5,3%. Nos últimos dias, as estimativas do Banco Mundial foram ainda mais pessimistas: retração de 8%, conforme o relatório Perspectivas Econômicas Globais.
Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, entende que abril foi o mês mais difícil. “O fundo do poço”, disse. Ainda assim, o impacto parece um pouco mais raso do que se imaginava, avaliou Fernando Honorato, do Bradesco. “Havia uma projeção de queda muito profunda, o que explica a surpresa com os números de agora”, analisa. Já para Mário Mesquita, do Itaú, as reações dos bancos centrais no mundo foram mais rápidas do que se imaginava.
Para o futuro, além de avaliar que os números da pandemia darão o norte sobre a recuperação econômica, a mensagem que foi reforçada dava conta da importância da reforma tributária, que o governo federal promete enviar em agosto ao Congresso.
De fato, as oportunidades poderiam ser ainda melhores se o país fosse um ambiente menos hostil aos negócios. De acordo com o relatório Doing Business de 2020, produzido pelo Banco Mundial, o Brasil ocupa a 124ª colocação, de um total de 190 economias avaliadas. Isso significa que o país está atrás, entre outros, de nações como Turquia, Sérvia, Hungria, Tunísia e Sri Lanka. E, considerados os países que fazem parte do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil está em último lugar.
Sempre mencionado quando se trata de abordar as perspectivas de alto desempenho para o século 21, o grupo tem um desafio e tanto à frente, uma vez que a crise pode selar de vez o destino das nações do bloco. Na prática, porém, cada país atua independentemente do bloco. No contexto da nova guerra fria — Estados Unidos versus China —, a Rússia é uma importante aliada chinesa. A Índia busca ampliar sua influência na Ásia e a África do Sul, atolada em escândalos de corrupção, é um mercado com um quarto do tamanho do brasileiro. Ou seja: apesar de todas as dificuldades, o Brasil aparece em destaque no radar dos investidores.
Embora seja imprescindível trabalhar firmemente para reduzir a burocracia, simplificar a legislação trabalhista e reformar o serviço público, o país tem espaços para capturar boas oportunidades. Em entrevista recente à Revista Oeste, James Roberts, um dos responsáveis pelo Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation, depois de afirmar que os Estados Unidos não mais permitirão que a China monopolize a produção de equipamentos de saúde, antibióticos e outros medicamentos essenciais, assinalou que o Brasil tem uma indústria farmacêutica confiável, perfeitamente apta para conquistar novos contratos.
Leia também a entrevista com James M. Roberts
Aliás, num momento em que o mundo está à procura da cura para a doença, convém atentar para a movimentação existente no país, uma vez que quatro instituições brasileiras atuam para desenvolver vacinas: Instituto Butantan, Instituto de Ciências Biomédicas (USP), Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais e Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração. Além disso, a multinacional AstraZeneca, desde 1999 estabelecida em Cotia, São Paulo, desenvolve pesquisas em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Se o Brasil fizer a lição de casa, tocando adiante as reformas estruturais, a pancada econômica resultante do coronavírus pode rapidamente tornar-se um triste e remoto passado.
Parabéns pela reportagem, sairemos fortes desta crise.
Muito bom ver uma matéria que transmite otimismo. Parabéns
Permitam que o Brasil avance, basta de potliticagem desonesta e rasteira, usem a politica de forma correta para o progresso do Brasil e de seu povo. Esperem 2022 e vencam as próxima eleicoes. Quanto ao STF, se atenham a protecao da seguranca juridica do Brasil e parem de fazer politica a cada questionamentos de partidos esquerdistas, cuidem melhor de nossa Constituicao tantas vezes pisoteada por Vossas Excelencias mesmo.
Otimismo num momento desses cai bem. Achei realista também quanto às burocracias e entraves que nosso país têm para uma série de questões comparados a outros países, inclusive do bloco ao qual fazemos parte.
Eu acho apenas que a matéria foi extremamente otimista. Infelizmente o cenário que vejo bate muito na condição do desemprego que ganhará no final de tudo traços dramáticos. Rogo a Deus que o colunista esteja certo e passemos por isso dessa maneira. Mas n consigo ser tanto assim.
Clara visão do cenário! Muito bom!
VENCEREMOS!
Tomara que prevaleça realmente essa visão otimista.
Bom ter uma visão otimista em meio a tantas noticias negativas.
Que otimismo hein?! Será?!
Parabéns pela reportagem.
O Brasil precisa ter um congresso que pare de sabotar o governo, e principalmente, que pare de sabotar o país.
“ Os técnicos do ministério da infraestrutura conduzem um trabalho inédito: a remoção prévia de todos os entraves burocráticos às concessões. ”
Qualquer tentativa de atrair investidores para o Brasil, acaba esbarrando nas mãos podres da esquerda e do STF com sua ja notória progressista politização esquerdopata.
A prosperidade virá, mas ela depende de uma boa limpeza política e judicial.
As reformas temporárias trabalhistas não deveriam também ser aplicadas ao serviço publico?
It’s os trabalhadores CLT podem ter suas jornadas reduzidas em 75,50,25% e respectivamente os salários nas mesmas proporções, mas o serviço público fica intocável ?
Isso traz indignação