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Astronauta Marcos Pontes foi eleito senador por São Paulo neste domingo, 2 de outubro | Foto: Arquivo EBC
Edição 133

‘O Brasil estará nos grandes programas espaciais’

Marcos Pontes, senador eleito por São Paulo, promete preservar investimentos na área de ciência e tecnologia e defende a redução do Estado

Iara Lemos
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Primeiro astronauta brasileiro, o engenheiro aeronáutico Marcos Pontes (PL), 54 anos, chega ao Senado Federal na esteira dos votos que mandaram para o espaço Márcio França (PSB), seu principal adversário na disputa. Ao contrário do que mostravam as pesquisas de intenção de voto, o ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação de Jair Bolsonaro conquistou a preferência do eleitorado, com quase 50% dos votos válidos (10,7 milhões). 

Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro | Foto: Cortesia Marcos Pontes

Em entrevista a Oeste, o parlamentar eleito afirmou que uma de suas principais atribuições no Senado será proteger o orçamento de ciência, tecnologia e educação. Mas ele quer mais: promete trabalhar pela retirada do orçamento dessas áreas do limite imposto pelo teto de gastos. 

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o senhor recebeu a notícia da vitória nas urnas?  

Fiquei muito feliz e agradecido aos mais de 10 milhões de paulistas que confiaram em mim. Agradeço a cada um deles e à minha equipe, que trabalhou muito para que isso acontecesse, ao partido, ao presidente Bolsonaro. Estava viajando por todo o Estado, conversando com os moradores, sentia que havia esperança. As pessoas olhavam para mim como alguém novo na maneira como fazer política, diferente do político mais tradicional. Via as pesquisas com muita dispersão dos pontos, mas havia uma curva que mostrava a minha ascensão para além do que as pesquisas mostravam.

Que nova forma de fazer política é essa?

É uma política mais técnica. Isso o eleitor viu no meu desempenho no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, assim como o Tarcísio, aqui em São Paulo também, no Ministério da Infraestrutura. As pessoas buscam políticos que tenham maior formação, mais competência para trazer os projetos para a realidade, do ponto de vista técnico. Na conversa com as pessoas, senti que elas queriam sair daquele político tradicional, que consegue ser ministro de todas as áreas. Agora, eles querem um político focado, que não é ficha suja.

Ainda que o senhor não seja ficha suja, o senhor integra o PL, um partido com grande histórico de corrupção. Como o senhor consegue se desvincular disso?

Um partido é composto de muitas pessoas, e você precisa estar num partido político para disputar uma eleição. É o partido em que o presidente Bolsonaro está. Entrei no partido por causa dele. Hoje estamos com uma bancada muito forte, muitos senadores e deputados foram eleitos pelo apoio do presidente Bolsonaro. Pela lógica, uma vez reeleito, ajuda muito na governabilidade do presidente.

Sua fidelidade é ao presidente?

Lógico. O presidente foi quem me trouxe para o ministério. Se não fosse a coragem do presidente Bolsonaro de indicar ministros técnicos, eu nunca seria ministro, assim como o Tarcísio também não. Esse trabalho em conjunto faz com que ele tenha resultado. A gente está falando de pessoas, de um país e de um Congresso muito grande.

Marcos Pontes e o presidente Jair Bolsonaro | Foto: Divulgação/PR

O orçamento do ministério hoje é suficiente?

Peguei o ministério com uma dívida de R$ 350 milhões e entreguei com um superávit de R$ 9 bilhões. Houve um aumento de recursos considerável na minha gestão. Hoje nós temos três fontes alternativas de recursos. Uma delas era o até então único Orçamento da União. Temos agora uma secretaria especializada em buscar recursos externos do setor privado para projetos, e o terceiro é a liberação do Fundo Nacional de Conhecimento Científico e Tecnológico, que aumentou mais de R$ 9 bilhões, para ser aplicado nos diversos setores. Quando assumi o ministério, na parte que conseguimos usar para projetos, tínhamos um orçamento de R$ 3,8 bilhões. No segundo ano, que foi a pandemia, tivemos uma redução para R$ 3,2 bilhões, mais um acréscimo de R$ 1 bilhão para que fosse feito o desenvolvimento de vacinas, remédios e outros. Em 2021, o orçamento ficou em R$ 3,2 bilhões, e em 2022 saltou para R$ 6,7 bilhões, o maior valor. Foi um acréscimo considerável, mas agora é importante manter o orçamento. O meu trabalho dentro do Senado vai ser a proteção do orçamento da ciência e tecnologia e da educação, para que não haja contingenciamento e, possivelmente, a retirada desses dois orçamentos do teto, de forma que sejam protegidos, e que não haja cortes. 

“Quando a Terra começar a levar seus primeiros astronautas para Marte, vou estar ali, com 70 e poucos anos, quem sabe?”

Faltam investimentos nessas áreas para que o Brasil possa crescer mais?

Existe uma previsão do que será gasto pelos Estados e pelos municípios. O Paulo Guedes defende uma coisa interessante neste sentido, que é desvincular esses valores, para que o gestor possa ter liberdade de trabalhar com essas duas áreas tão importantes de uma forma mais livre. São setores que precisam desse orçamento, e quando eles estão funcionando você melhora a indústria, melhora o serviço, gera emprego. Sem dúvida esses investimentos precisam ser estratégicos.

Quando o senhor fala em retirar do teto de gastos a ciência, a tecnologia e a educação, com a quebra da regra de ouro, não estaria gerando conflito com o governo e até mesmo com o mercado?

Não. Até porque nessa regra de ouro, em que você tem de gastar menos do que você arrecada, quando se melhoram a ciência, a tecnologia e a inovação vai se arrecadar mais. Seria até uma preservação dessa regra de ouro. E também é importante levar em consideração a redução do Estado, como prevê uma economia mais liberal, defendida por Paulo Guedes, e que não é prevista em governos socialistas, que crescem de maneira absurda. O Brasil não pode entrar nesse círculo vicioso. O país precisa ter um Estado menor para que sobre mais dinheiro para investir em saúde, educação, segurança pública e no apoio às pessoas com vulnerabilidade. 

O senhor defende a privatização das universidades públicas?

Não. Universidade pública tem de ser pública e gratuita. O que precisa se tomar cuidado é na seleção. Existe uma distorção bastante interessante e ruim, porque ocupam as vagas das universidades públicas muitos alunos que têm mais condição financeira. Eu vim da periferia, estudei em escola pública. Naquela época, a escola pública era muito boa. Se a gente tiver uma educação homogênea e estabelecida, com parâmetros para avaliar o estudante, você pode garantir um número maior de jovens nas universidades públicas com menor poder aquisitivo. A universidade pública é um patrimônio e precisa ser preservada. 

Como o senhor pretende trabalhar pela reforma tributária no Congresso?

A reforma tributária é essencial. Está lá, enroscada há muito tempo, mas o fato é que é extremamente necessária. Ela aumenta a competitividade do país. Quando se veem a complexidade e o valor da nossa tributação, precisa-se melhorar isso. E quando se fala da redução de tributos, muita gente de esquerda fala que vamos perder arrecadação. Não, na verdade vamos ganhar arrecadação. Redução de impostos é bom para todo mundo. Você tenta convencer uma empresa a vir para o Brasil e um dos questionamentos é: ‘Não entendo os tributos’. 

O senhor é favorável a uma nova tabela do Imposto de Renda?

Também. Tem de se trabalhar de forma que a tabela possa privilegiar, e essa palavra é ruim quando se fala em tributos, mas privilegiar aqueles que têm um salário mais baixo. Com relação aos que ganham mais, é preciso aumentar a tributação, mas tudo feito de forma balanceada, que não desanime as pessoas a terem sucesso e chegarem a uma faixa superior.

O senhor volta para o ministério ou a população de São Paulo pode contar com o senhor no Senado?

O que está desenhado para mim é ir para o Senado. É isso que quero. Está previsto no meu plano assumir a Comissão de Ciência e Tecnologia no Senado, de preferência com um ministro de Ciência e Tecnologia que possa ser um parceiro. Eu protegendo o orçamento, ele ou ela trabalhando de forma correta o orçamento no ministério. Esse trabalho é extremamente importante.

Marcos Pontes participa da manifestação pró-Bolsonaro, na Avenida Paulista | Foto: Reprodução

O senhor pretende voltar um dia para o espaço?

Coloquei o Brasil no programa Artemis, da Nasa. Essa é uma das facilidades que eu tenho, de acordos internacionais. Esse programa está na fronteira da exploração espacial, com retorno à Lua a partir de 2025, com a ida a Marte a partir de 2035. Então temos a possibilidade de nossos alunos, pesquisadores, empresas participarem dos mais altos níveis dos programas espaciais. Vejo uma possibilidade grande para nossos jovens, mas quem sabe lá na frente, quando a Terra começar a levar seus primeiros astronautas para Marte, vou estar ali, com 70 e poucos anos, quem sabe?

Leia também “Rainer Zitelmann: ‘Os intelectuais sonham com utopias anticapitalistas'”

2 comentários
  1. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Desejo sucesso ao senador eleitor Marcos Pontes. Além de lutar pela Ciência, Tecnologia e Inovação no Senado Federal, o que é muito bem vindo, que ele também defenda e vote em caso de impeachment de sinistros do stf. Se fizer essas duas coisas já terá feito um grande bem ao Brasil.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Até quando vamos aguentar esse pessoal da esquerda? Precisamos de gente como esse homem em todo Stablichment Público

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