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O presidente Lula ao lado de imagem de Che Guevara durante visita oficial a Cuba, em 2008 | Foto: Ricardo Stuckert/Agência Brasil
Edição 149

O líder dos cucarachas

Lula reabre os cofres do BNDES para países de esquerda falidos e reassume o papel de comandante do Foro de São Paulo

Silvio Navarro
Loriane Comeli
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Vinte dias depois de reassumir o poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que vai cumprir sua primeira ameaça de campanha: os cofres do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vão financiar países falidos na América Latina, tomada pelos companheiros de esquerda — em alguns casos, ditadores.

A afirmação foi feita na Argentina, sua primeira viagem internacional no ano, escolhida a dedo para tentar socorrer a desastrosa gestão de Alberto Fernández. Ele pretende disputar a reeleição, mas o país enfrenta sua pior crise econômica desde a virada do século, com inflação de 95%, o valor da moeda em frangalhos e sem crédito internacional. Desesperado, Fernández bateu à porta de Lula no dia seguinte à vitória do petista. Lula atendeu.

“Se há interesse dos empresários e do governo, e nós temos um banco de desenvolvimento para isso, quero dizer que nós vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente puder fazer para ajudar o gasoduto argentino”, disse Lula.

O problema do gasoduto argentino já começa no nome: o campo fica na região de Vaca Muerta (Vaca Morta), na Patagônia, mas trata-se da continuação do gasoduto Néstor Kirchner, referência ao marido da vice-presidente, Cristina, enrolada até o pescoço com a Justiça. Néstor Kirchner era amigo de Lula e governou o país vizinho nos mesmos moldes do peronismo populista de esquerda. Morreu em 2010, e Cristina continuou seu projeto de eternidade no poder — como o PT tentou instituir há duas décadas, o chavismo venezuelano e o grupo de Evo Morales na Bolívia.

“O BNDES vai voltar a financiar as relações comerciais do Brasil. São projetos de engenharia para ajudar empresas brasileiras no exterior e para ajudar os países vizinhos, para que possam crescer e vender o resultado desse enriquecimento para países como o Brasil” (Lula, em visita à Argentina)

A ideia é que o Brasil financie US$ 820 milhões para construir dutos que vão escoar o gás da Bacia de Neuquén até o Rio Grande do Sul. A exemplo dos contratos obscuros do passado, não há nenhuma cláusula pública sobre garantias, prazos ou juros — nesse caso, sabe-se que são os menores juros do mercado.

Se o financiamento sair, será feita a substituição do gás boliviano pelo argentino. Para isso, empresas brasileiras terão de oferecer preços melhores do que concorrentes chineses. Há, ainda, sérios entraves ambientais e com os indígenas mapuche — mas, como o problema é no vizinho, Lula não demonstrou preocupação com os povos originários nem com a contaminação da água nos poços utilizados por eles.

Veias abertas da América Latina

O gasoduto argentino é a polêmica da vez, mas os problemas com os dutos do BNDES nas mãos do PT são antigos. O banco financiou 90 obras no exterior de 1998 a 2016. Foram 140 contratos com 15 países — a maioria teve início depois da chegada de Lula à Presidência, em 2003. O valor total é de US$ 11 bilhões.

Dessa lista de beneficiados, três países deram calote: Cuba, Venezuela e Moçambique. Três pagaram o que deviam em dia: Uruguai, Paraguai e Angola. E outros ainda têm dívidas em execução: Argentina, Equador, Gana, Guatemala, República Dominicana, Honduras e Costa Rica. Houve empréstimos para México e Peru, mas os dados não são públicos, porque as linhas de crédito envolvem partes privadas.

O BNDES chegou a ser apelidado de “caixa-preta” durante os governos do PT. Os contratos foram investigados por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O cofre do banco também não escapou da Operação Lava Jato. De 2015 a 2019, apareceu de tudo.

Em 2016, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou uma ação de improbidade pedindo a suspensão de 25 financiamentos do BNDES, no valor de US$ 7 bilhões. As obras estavam sob a responsabilidade do cartel de empreiteiras da Lava Jato. Quando firmou acordo de delação com a Justiça, o ex-ministro Antônio Palocci revelou que essas empresas pagaram R$ 480 milhões em propina para o PT. O cheque no maior valor — R$ 360 milhões — foi da Odebrecht, segundo revelou a revista Veja na época. Anos depois, tudo o que Palocci detalhou foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte entendeu que o então juiz Sergio Moro foi parcial no caso — agiu contra Lula.

Apesar da forte blindagem de partidos e parlamentares atingidos pela Lava Jato, a CPI produziu alguns resultados. No relatório final, com base na denúncia do Ministério Público, consta uma relação de viagens de Lula a países latinos e a contratação de obras com dinheiro do BNDES. Foram 107 viagens, metade de todas as que fez em seus mandatos — para a África, voou 34 vezes.

“Já pagamos um preço muito alto. Se vamos fazer empréstimos, que seja feito de outra forma” (Maria Silvia Bastos Marques, ex-presidente do BNDES, em entrevista ao jornal Valor)

O parecer da CPI diz que, depois das visitas de Lula, governos da América Latina e da África “passaram a oferecer oportunidades em série para grandes obras de engenharia a empreiteiras brasileiras — obras essas que viriam a ser financiadas pelo BNDES”.

Outra denúncia, oferecida pelo Ministério Público Federal, em outubro de 2016, a partir dos indícios colhidos na Operação Janus, mostra que a atuação de Lula nesses países — alegadamente para dar palestras — era, na verdade, “no intuito de beneficiar a construtora Odebrecht”.

Um episódio deixa claras as digitais do petista. Depois de uma reunião do Config, sigla para Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações, que integra a Câmara de Comércio Exterior, a área política do governo brasileiro insistiu na aprovação de dois financiamentos à República Dominicana. Os pedidos contrariavam as negativas dos pareceres técnicos. “Havia naquele período a orientação para priorizar os pleitos dos países latino-americanos nos programas oficiais de incentivo às exportações de bens e serviços de engenharia, mesmo que questões técnicas indicassem o contrário”, diz o relatório da CPI.

Eram empréstimos com condições extremamente favoráveis aos países estrangeiros e às empreiteiras: os contratantes não precisavam dar garantia de pagamento, havia um fundo garantidor brasileiro (FGE) e os juros eram os mais baixos do mercado, de 3% a 4% ao ano.

A CPI pediu o indiciamento de dezenas de autoridades, incluindo Lula, Dilma Rousseff, os ex-ministros Guido Mantega e Palocci, a cúpula do BNDES e donos das construtoras. Os pedidos de indiciamento não foram aprovados na Câmara. A CPI não deu em nada.

Presidente Dilma Rousseff e o presidente de Cuba, Raúl Castro, durante inauguração do Porto de Mariel em 28 de janeiro de 2014, Cuba | Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência da República

Charutos e calote

Roteiro romântico de dez em dez militantes de esquerda, Cuba deu um calote de mais de R$ 1 bilhão no BNDES. Dos US$ 656 milhões emprestados, a ditadura dos irmãos Castro não pagou nem 5% das dívidas vencidas. Restam mais US$ 406 milhões a vencer.

A grande obra em Cuba é o Porto de Mariel, a 60 quilômetros de Havana. A imagem da inauguração, com Dilma Rousseff e Raúl Castro, lado a lado, é lembrada até hoje como cartão de visitas da Odebrecht. Os juros cobrados eram de 4% a 7% ao ano. Um detalhe nessa papelada permaneceu uma década escondido: Lula permitiu que a garantia fosse lastreada em charutos. “Garantias: fluxos internos de recebíveis gerados pela indústria de tabaco”, diz o documento da Câmara de Comércio Exterior. Quando o assunto foi revelado, no ano passado, Lula disse que isso era “bobagem”.

“A lógica desses empréstimos é torta: o Brasil empresta dinheiro e, se o país não paga, tudo bem, o Brasil paga. Não tem lógica.  Essa condição usada nesses financiamentos internacionais é de pai para filho” (Gustavo Segré, analista internacional)

O calote não foi diferente com a ditadura de Nicolás Maduro. A Venezuela tem a segunda maior dívida: do total de US$ 1,5 bilhão emprestado, US$ 682 milhões não foram quitados, e US$ 122 milhões ainda vão vencer. Foram quatro financiamentos para a ampliação do metrô de Caracas, todos via Odebrecht, embora capitais pelo país, como Belo Horizonte, não conseguiram linhas de crédito similares. Também houve captação para a construção da Usina Siderúrgica Nacional no Estado de Bolívar, quando Hugo Chávez ainda comandava o país.

Moçambique tem uma dívida vencida de US$ 122 milhões e US$ 45 milhões a vencer. O dinheiro foi destinado ao Aeroporto Internacional de Nacala e para uma barragem — a primeira obra é da Odebrecht, e a segunda, da Andrade Gutierrez.

Diante do histórico de pagamentos suspeitos, indícios de que o caixa do banco brasileiro foi usado para desviar dinheiro para o PT e seus aliados latinos, uma pergunta sempre pode piorar a situação: esse montante saiu do bolso de quem, afinal? A resposta oficial é: do Fundo Garantidor de Exportações, o que corresponde ao Tesouro Nacional. Traduzindo: foi bancada pelos pagadores de impostos brasileiros.

Leia também “Um projeto para destruir o Brasil”

27 comentários
  1. Juan Pablo Fabro da Cruz
    Juan Pablo Fabro da Cruz

    Excelente material!

  2. MARCOS ANTONIO SIEBRA
    MARCOS ANTONIO SIEBRA

    Brasil was stolen
    Brasil wil be stolen
    Make the L

  3. Eduardo Orlando Cavallero De Freitas
    Eduardo Orlando Cavallero De Freitas

    Agora, experimente você, brasileiro médio, sem filiação partidária e sem “padrinhos” políticos, tentar conseguir um empréstimo em bancos estatais para abrir uma empresa, que empregará brasileiros e pagará impostos no Brasil… Caso consigas, quase impossível, tens de deixar teus dois rins e pulmões de garantia, além de pagar um juros bem maior que os apontados na presente matéria jornalística… Triste, nosso país…

  4. Jarlan Barroso Botelho
    Jarlan Barroso Botelho

    A ideia básica é a seguinte: O Ministro da Fazenda inclui os pobres como novos contribuintes de IR, e assim rechear os cofres do governos, que pega nosso dinheiro e desvia para os amigos da América Latina e África, que irão deixar de pagar. Enquanto isso, a ministra Marina Silva vai poder ir para o exterior para dizer que no Brasil, 240 milhões de pessoa passam fome. Ela poderá esclarecer que o montante de 120 milhões de famintos era o número antes da implementação da nova política de distribuição de renda criada pelo PT.

  5. Jose Carlos Rodrigues Da Silva
    Jose Carlos Rodrigues Da Silva

    E história de novo vai se repetir, e agora vai ser pior, pois pode pode ser os últimos quatro anos do ladrão Lula no poder.

  6. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    É possível uma coisa dessas? Só em pesadelos.Se.permitirmos doações como essas do BNDES para países devedores há anos,entraremos em um buraco sem fundo para a economia brasileira
    Esses países usam o Brasil e consequentemente seu povo como idiotas.Nao temos Porto como o de Cuba e nem metrô em vários estados.Lula irá fazer caridade para benefício próprio e político com nosso dinheiro.Como sempre os que pagam corretamente seus impostos,fazer caridade com dinheiro alheio é roubo.

  7. JAMIL HALLE NAJM
    JAMIL HALLE NAJM

    Ladrão é ladrão.

  8. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Faltou citar que esse terrorista desse Lula não foi eleito, as eleições foram flagorosamente Fraudadas, caso pra fuzilamento. E Guiné Equatorial, daquele negro genocida que matou o tio pra assumir a tirania

    1. Erico J Pereira Da Veiga
      Erico J Pereira Da Veiga

      Exatamente isso, Erasmo. Está passando batido, não só nos comentários, como nas notícias do dia a dia, aquilo que é o principal: o roubo na apuração dos votos.. temos que falar bem alto e sempre: A ELEIÇÃO FOI ROUBADA.

  9. Adail da Costa Leite Filho
    Adail da Costa Leite Filho

    Podem pedir emprestadas tambem as urnas eletronicas como a Venezuela faz com republiquetas da america latrina e caribenhas. Garantem suas reeleicoes e mais una platita do hermano molusco.

  10. Rogerio De Souza
    Rogerio De Souza

    Além de não terem pago ele vai “dar” mais dinheiro, pq falar em empréstimo é apenas para enganar os que ainda acreditam.

  11. Marcelo Martins
    Marcelo Martins

    Somos, sem sombra de dúvidas, uma republiqueta de bananas.
    O povo merece se lascar mesmo por votar nesses canalhas. Quem puder ir embora desse país, que vá, pois isso aqui não tem concerto.

  12. Karla Regina alves
    Karla Regina alves

    Que pesadelo. As vezes estar por dentro dás notícias faz muito mal. Pressão altera, dor de cabeça e diarreias. Estamos sem rumo! Ou melhor… rumo na queda do abismo. E nessa, nem Chapolin Colorado poderá nos ajudar.

  13. jose alberto ramb
    jose alberto ramb

    Por favor conferir o assunto dos mapuches. Isto não é verdade. Os mapuches são terroristas tanto na Argentina como no Chile. O dito conflito é por dinheiro.

  14. Daryush Khoshneviss
    Daryush Khoshneviss

    O Ali Babá quer transformar o Brasil na nova URSS da América Latina – ele evidentemente se apresentando como um filhote de Stálin remasterizado

  15. Marcelo Hial
    Marcelo Hial

    E essa caterva foi novamente reconduzida ao poder, com as bençãos das nossas falidas instituições … o Brasil não corre o menor risco de dar certo …

  16. Luiz Carlos Ladeia
    Luiz Carlos Ladeia

    “Lula permitiu que a operação fosse lastreada em charutos”. Está na matéria. Somente agora eu tive a certeza do que significa Brascubas..(junção das palavras Brasil e Cuba). Quem for à Havana, pergunte nas tabacarias o que significa essa palavra. É uma fábrica de cigarrilhas “DE BRASILEIROS”, dizem com a maior naturalidade. E alguns deles chegaram a citar o nome desse brasileiro.. (adivinhem quem é…) Eu fiz isso várias vezes e ouvi sempre a mesma resposta. E aí eu pergunto: quais brasileiros teriam coragem de investir em Cuba, na produção de charutos? Eles, somente eles… afinal, apesar de grande produtor mundial de tabaco, o povo não consegue fumar um único charuto por ano, e se o fizer, será somente no Natal. Quem duvidar, dê uma chegadinha lá. Despreze os pontos turísticos e veja a realidade do paraíso socialista…

  17. Mara Nadia Jorge Mattos
    Mara Nadia Jorge Mattos

    Excelente texto. Executivo e Judiciário na mesma linha, Congresso precisa fazer o seu papel. FORA PACHECO, senador que tiver vergonha na cara não pode reeleger esse covarde. Prevaricou todo mandato, Pacheco é Lula apoiara a quadrilha que tomou o poder. Acho que é a única saída para tentar segurar as sandices do ladrão

  18. NEIDE MARIA
    NEIDE MARIA

    QUE IDEIA SEM NEXO,A MINISTRA MARINA DISSE QUE TEM 125 MILHÕES DE BRASILEIROS PASSANDO FOME ,AGORA VAI EMPRESTAR DINHEIRO PARA CALOTEIROS PARA NÓS PAGARMOS! MEU DEUS O BRASIL ESTÁ CAPOTANDO ,SOCORRO.
    QUE NOJOOOO DESTE DESGOVERNO.

  19. Renato Perim
    Renato Perim

    Texto irretocável, como de hábito. Parabéns Sílvio e Loriani. Se me permitem uma crítica construtiva, ao final do 10° parágrafo houve um erro de impressão, onde se lê que o ex-juiz Sérgio Moro foi “imparcial”, creio que quiseram dizer que o acusaram de ser “parcial” no processo.

    1. Silvio Navarro

      Obrigado, Renato. Perfeita observação — foi ajustado. Abraço.

  20. Leonardo Saldanha dos Santos
    Leonardo Saldanha dos Santos

    Os fatos estão aí, mas a curto prazo o que se pode fazer? A aliança espúria entre o Executivo e o Judiciário além do Congresso de joelhos.

  21. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    A quadrilha voltou

  22. Lulidi Amin Dada
    Lulidi Amin Dada

    “TODO POVO TEM O GOVERNO QUE MERECE.”

    Um país que elege, lícita ou ilicitamente, um sujeito de tão baixo nível como Lula por 3 (TRÊS!) vezes e aceita tudo novamente, tem mais é que se lascar mesmo.

    O Brasil não passa de uma republiqueta bananeira sem peso internacional, um paraíso composto de corruptos e gente covarde e sem brio.

    E de onde vem os políticos corruptos se não do próprio povo?

    O governo é o espelho de seu povo.

    E assim, uma republiqueta cucaracha bananeira, continuará sendo até o dia do Armagedon.

  23. Laura Teixeira Motta
    Laura Teixeira Motta

    Tanto esforço do governo anterior só serviu para engordar o doente para os parasitas se locupletarem agora. Que desgraça.

  24. Silas Veloso
    Silas Veloso

    Tudo por poder. O povo brasileiro que se dane. Moro perto da av. Amazonas em BH. Trânsito pesado, lento praticamente dia todo. Pessoas espremidas nos ônibus, em trajetos longos. E nossa única linha do metrô só agora pode ser ampliada, graças aos esforços do governador Romeu Zema, que privatizou. Lula e Dilma viraram as costas para uma das principais capitais do país. E vão continuar virando.

    1. Christian
      Christian

      O pior Silas é a Dilma ter se candidatado ao Senado por Minas. Ainda bem que vocês deram uma corrida nela.

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