Em se tratando de comida fresca e saborosa, quem se deu melhor? Henrique VIII, rei da Inglaterra de 1509 até 1547, ou você e eu que vamos ao Burger King com US$ 10 (ou R$ 50) no bolso?
“O Whopper do Burger King Whopper na verdade é uma combinação de alimentos de diferentes partes do mundo que não se encontraram durante a maior parte da história humana”, afirma a historiadora (e colaboradora da Reason) Katrina Gulliver. E Henrique VIII também nunca teria visto uma batata sem a qual um acompanhamento de fritas seria impossível.
O rei morreu em 1547. As batatas, originárias do Novo Mundo, não chegaram à Europa até 1570. Levaria mais uns dois séculos até que elas substituíssem o nabo e a rutabaga na cozinha inglesa. Mas, quando isso aconteceu, a vitória foi decisiva. É por isso que nunca se escuta: “Você quer rutabaga de acompanhamento?”.
A história do tomate é parecida. Ele chegou à Europa no começo dos anos 1500, com os navegadores espanhóis que tinham acabado (mais ou menos) de voltar de suas conquistas. Como o tomate não fazia parte dos banquetes de Henrique VIII, o ketchup também não — pelo menos o que conhecemos. “Antigamente, na Inglaterra, o ketchup era feito com cogumelos”, afirma Gulliver. “Ele era mais um molho.” Mas eles tinham mostarda. Ela existe desde os tempos dos romanos.
As conservas também existem há tempo, o que é bom, porque não havia geladeiras. E, como a Inglaterra cultivava pepinos, Henrique tinha muito picles. O mesmo vale para a alface e a cebola. Mas na época os vegetais eram considerados comida barata para os camponeses, ainda que Henrique VIII tivesse contrariado a tradição e ingerido frutas cruas — algo que era considerado digno das classes baixas.
E o pão do Whopper? Claro, o pão é um alimento básico dos britânicos. Mas o pão fofo e macio requer farinha branca refinada, que não foi desenvolvida até o fim do século 19. “E era/é uma espécie de desvantagem nutricional”, explica Gulliver, porque “ela elimina a tiamina e outros nutrientes. É por isso que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos exige que a farinha seja enriquecida”.
Se o rei quisesse carne moída, alguém teria de forçar a carne por uma peneira — por isso, em inglês, “recheio de carne” se chama forcemeat —, uma vez que o moedor ainda não tinha sido inventado
Já o gergelim é um dos alimentos mais antigos cultivados em toda parte. O rei Tut foi enterrado com cestas de gergelim. Mas não está claro quando ele surgiu na Inglaterra.
Então vamos voltar ao recheio da questão: Henrique VIII teria podido se deliciar com um hambúrguer grelhado? Sim, com alguma dificuldade (não da parte dele, claro). Se o rei quisesse carne moída, alguém teria de forçar a carne por uma peneira — por isso, em inglês, “recheio de carne” se chama forcemeat —, uma vez que o moedor ainda não tinha sido inventado.
A carne de Henrique VIII era fresca, não armazenada. Isso era um luxo. Nessa questão, pelo menos, o rei supera o Burger King, que tem hambúrgueres congelados. Mas, até aí, a “cadeia de frio” dos tempos modernos — a refrigeração do depósito, passando pelo caminhão, até o restaurante — é, em si, uma maravilha.
Ao contrário dos clientes do Burger King, Henrique VIII também tinha uma vasta gama de outras carnes à sua escolha, incluindo baleia, toninha e cisne (nesses casos você realmente precisa de ketchup).
O rei Henry VIII gozou de outros privilégios que não estão disponíveis para os frequentadores do Burger King, como escolher quem comia à sua volta e ser o único usuário de um garfo à mesa. E ele podia decapitar qualquer um que o incomodasse, o que a maioria das franquias de fast-food condena. Pelo menos, em termos oficiais.
Em contraste, nossos privilégios do século 21 incluem pimenta extra de graça. Isso era desconhecido nos tempos do rei, quando os condimentos eram extremamente caros. Henrique VIII não só pagava preços altíssimos pelos temperos, ele também precisava empregar cerca de 200 pessoas na cozinha, incluindo garotos que ficavam sentados ao lado do fogo virando o espeto. Por causa do calor intenso, eles ficavam sem roupa — até o rei emitir uma ordem proibindo que ficassem “nus ou em trajes tão sumários, como o fazem agora”. (O que também deve ser uma exigência do Burger King.)
Sua majestade precisava oferecer duas refeições por dia para a Corte inteira, o que exigia um exército de caçadores, chefs, giradores de espeto e agregados. Sendo que eles nem podiam comer pão, tomate nem batata frita.
Hoje em dia, por míseros US$ 6,49 (equivalente a pouco mais de 33 reais) nós, plebeus, podemos pedir toda uma refeição Whopper, incluindo um refrigerante adoçado com algo que era extremamente raro no mundo de Henrique VIII: açúcar.
Chegamos a este ponto em decorrência da pesquisa, da exploração, da bravura, das artimanhas, da inovação e, claro, do comércio. De muito comércio.
“Uma refeição do Burger King realmente é um triunfo da globalização”, afirma Gulliver. Imagine o que o rei Henrique VIII acharia das famosas coroas de papel das redes de fast-food.
Lenore Skenazy é presidente do Let Gros, uma organização sem fins lucrativos que promove independência e resiliência na infância, e fundadora do movimento Free-Range Kids
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Evoluímos apesar do agro ser “fascista” pela ótica dos “progressistas”.
Achei. Esse. Assunto. Desnecessário
O final do texto foi o melhor.
Não me esqueço do brinde supostamente encontrado por um cliente de uma rede de junk food em PoA, uma barata. Duvida? Dê uma busca e… enjoy.
Já tinha lido um texto sobre o fato de que, em grande grande parte dos países, vivemos hoje melhor que os reis antigos. Fantástico texto; materializa os feitos da humanidade que, apesar dos humanos, caminha no trilho do progresso.
pra quem gosta de veneno e comida de corruPTo, Burger King
Eles apoiaram o Ladrão, Ronaldo?