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A FNSEA du Bassin e várias outras federações de jovens agricultores organizaram uma manifestação em Paris para denunciar o desaparecimento da produção agrícola francesa devido à diminuição o número de pesticidas (8 de fevereiro de 2023) | Foto: Isa Harsin/SIPA/Shutterstock
Edição 152

A irracionalidade das elites em relação à agricultura

Ser ecologicamente correto é mais importante para as novas elites do que a possibilidade de as pessoas trabalharem

Brendan O'Neill, da Spiked
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Nada diz tanto sobre a loucura das elites modernas quanto sua guerra contra a agricultura. Vamos olhar para a França. Um dia o presidente Macron está dizendo ao mundo para levar a “segurança alimentar” a sério. No pós-covid-19 e com uma guerra ocorrendo na Ucrânia, precisamos garantir que os alimentos continuem sendo produzidos e transportados pelo mundo, afirma o governo francês. No entanto, ao mesmo tempo, esse mesmo governo, sem nenhuma hesitação, está impondo proibições a pesticidas que podem destruir setores da indústria agrícola na própria França. O que pode levar ao fechamento de fazendas. Eis a esquizofrenia do establishment do século 21. 

Na quarta-feira, centenas de fazendeiros levaram seus tratores para a região central de Paris, em protesto contra as novas restrições aos pesticidas. Não se preocupe caso você não tenha ouvido da mais recente revolta dos agricultores do continente europeu — a revolta dos tratores contra as elites do laptop raramente chega ao noticiário mainstream hoje em dia. Os fazendeiros estão furiosos com a proibição imposta pelo governo aos neonicotinoides, um composto químico que mata os insetos que comem plantas. Esses inseticidas são potencialmente prejudiciais para as abelhas, então os agricultores serão proibidos de utilizá-los. E o fato de que a medida vai atingir o cultivo de beterrabas de forma especialmente dura, com o potencial de levar ao fechamento de fábricas de açúcar de beterraba? Não importa. As abelhas têm prioridade.  

Os neonicotinoides são potencialmente prejudiciais para as abelhas | Foto: Shutterstock

Para os fazendeiros que cultivam beterraba, os neonicotinoides são essenciais para afastar o vírus amarelo da beterraba, um patógeno espalhado pelos insetos que sugam seiva, que deixa as folhas da beterraba amarelas, o que pode reduzir a colheita em até 50%. Os fazendeiros que saíram às ruas de Paris nesta semana estão preocupados com uma “aceleração no declínio do cultivo de beterraba” e, por consequência, “o fechamento das fábricas de açúcar de beterraba”. “Macron está liquidando a agricultura”, dizia um dos cartazes. “Salve o seu agricultor”, gritava outro. Como a Reuters noticiou, os fazendeiros acreditam que o “excesso de restrições aos pesticidas” por parte do governo vai de encontro “aos apelos de promoção da segurança alimentar em reação à pandemia da covid-19 e à guerra na Ucrânia”. E eles estão certos.  

Como os protestos na França desta semana demonstraram, o país vai acabar importando mais açúcar de beterraba de “países que permitem o uso de neonicotinoides”

A restrição da França aos neonicotinoides resume boa parte do que a política moderna tem de errado. A proibição é um ditame de uma tecnocracia irresponsável. Foi sob pressão da União Europeia que o país derrubou sua velha política de permitir que os agricultores que cultivam beterraba usassem neonicotinoides, ainda que a substância seja proibida no restante da União Europeia. No mês passado, o Tribunal de Justiça Europeu decretou que o comportamento da França era ilegal e que ela deveria interromper imediatamente o uso dessas substâncias tóxicas, que são prejudiciais para as abelhas. Lá se vai a soberania francesa. Com o movimento da caneta de um juiz estrangeiro, as fazendas de beterraba na França tiveram sua capacidade de garantir sua produção colocada em risco. Não é uma surpresa que tantos trabalhadores sintam que não estão mais em controle da própria vida.  

Os neonicotinoides são essenciais para afastar o vírus amarelo da beterraba | Foto: Shutterstock

O cruel decreto da EU, que vai prejudicar o trabalho árduo dos agricultores franceses, é o reflexo de suas trapalhadas em outros Estados membros. Fazendeiros holandeses estão revoltados há quase quatro anos, desde que a União Europeia pressionou o governo da Holanda a reduzir as emissões de nitrogênio no país pela metade até 2030. Uma política tão drástica e maluca seria devastadora para a sobrevivência desses agricultores e poderia levar ao fechamento de 3 mil fazendas. A Irlanda também está sendo forçada pela UE a cortar suas emissões entre 22% e 30%, e os agricultores do país acreditam que isso pode custar à indústria € 4 bilhões e 56 mil empregos. E não é apenas na oligarquia tresloucada da União Europeia que os fazendeiros estão sendo impedidos de trabalhar. Justin Trudeau quer que os agricultores canadenses reduzam as emissões de óxido nitroso em 30% até 2030. E quem pode esquecer a insanidade no Sri Lanka, onde a conversão do governo à religião verde da agricultura orgânica e das restrições na importação de certos fertilizantes levou a uma crise perigosa e assustadora na colheita agrícola.  

Precisamos falar sobre a irracionalidade hostil das elites globais em relação à agricultura. No ano passado, a ONU estimou que 180 milhões de pessoas enfrentariam uma “crise alimentar” neste momento, e, no entanto, diversos governos no mundo todo estão dificultando que os agricultores cultivem alimentos. Além disso, proibir um inseticida como o neonicotinoide em mais um país ocidental — a França — não significa que o mundo vai se tornar um lugar mais “limpo”. Como os protestos na França desta semana demonstraram, o país vai acabar importando mais açúcar de beterraba de “países que permitem o uso de neonicotinoides”. Significa destruir aos poucos a subsistência dos agricultores, e para quê? Não é para livrar o mundo dessas substâncias químicas, que vão continuar sendo usadas em outro lugar, para produzir alimentos que os franceses vão acabar ingerindo.  

Centenas de agricultores se manifestam em Paris contra a recente proibição de neonicotinoides (8/2/2023) | Foto: Samuel Boivin/NurPhoto/Shutterstock

Isso atinge o cerne torpe da agitação antiagrícola das elites. Nações que customizam suas virtudes parecem satisfeitas em terceirizar os aspectos “mais sujos” da agricultura para outros países, assim como não se importam de trazer carvão da África ou da China. Isso significa que nossos países moralmente imaculados podem chafurdar na virtude eco, satisfeitos em saber que o trabalho árduo e sujo da mineração de carvão ou de garantir que as plantações de beterraba não sejam devoradas por insetos contaminados está sendo feito por outras pessoas em outras partes do mundo. Preservar nossa virtude está acima de preservar nossas indústrias e os empregos que elas geram.  

Ser ecologicamente correto é mais importante para as novas elites do que a possibilidade de as pessoas trabalharem, sejam mineradores de carvão, sejam os agricultores de beterraba, de ganhar a vida e contribuir com a sociedade.  

Esse é o tanto que as elites do século 21 se afastaram da realidade e da razão: na louca disputa entre o alimento e a sinalização da virtude, elas escolhem a segunda opção. É o que acontece quando somos governados por figuras alienadas, por uma classe nascida em berço esplêndido que raramente se aventura fora de sua bolha metropolitana e que tem cada capricho atendido pela classe precarizada mal remunerada. Acabamos ficando nas mãos de governantes que sabem pouco e não se importam nada com como as coisas são feitas, com a necessidade da indústria e, mais importante, com a centralidade do trabalho para noção de significado e autonomia da classe trabalhadora. Apenas um establishment que perdeu completamente a conexão com o mundo material das coisas, da produção e dos empregos poderia dizer de forma tão descuidada: “Vamos fechar alguns milhares de fazendas para salvar as abelhas”.  

É por isso que a luta dos fazendeiros importa. É por isso que precisamos celebrar a revolta das classes do trator contra as classes do laptop em toda parte, do Canadá à França, passando pela Holanda. Porque essas pessoas estão lutando por mais do que seu direito de trabalhar e produzir alimentos. Elas também estão lutando para restaurar a razão e a racionalidade do mundo bizarro do controle tecnocrático.  


Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show.
Ele está no Instagram: @burntoakboy

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5 comentários
  1. Valesca Frois Nassif
    Valesca Frois Nassif

    Essa insana narrativa do ambientalismo está nos custando muito ! Estão perdendo totalmente a lucidez!

  2. Carlos Sergio Souza Rose
    Carlos Sergio Souza Rose

    Como os nossos agricultores que cultivam beterraba fazem para preservar as nossas abelhas? Não sabia nada sobre os neonicotinoides. Com a palavra, Evaristo de Miranda.

  3. Christian
    Christian

    Macron, grande defensor do mercado Comum Europeu se esquece do seu povo. Hoje assinei uma petição contra a cobrança de impostos abusivo aos franceses que possuem um imóvel na França, mesmo tendo escolhido outro país para viver a sua aposentadoria.
    Se o imóvel na França não estiver ocupado, ele vai ser taxado duplamente.
    Por você escolher outro país para se aposentar, você não perde a nacionalidade francesa nem os seus direitos de possuir um imóvel e pagar como qualquer outro Frances. Estas aberrações são comuns no MCE, mas na França, que se socializou, está ficando cada vez pior.

  4. gabriel aquino
    gabriel aquino

    É triste ver o que acontece com a UE de modo geral, estão se autodestruindo. O ESG daqui a uns derreterá estas nações.

  5. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    A irracionalidade reinante no meio político nunca foi tão perigoso para a humanidade.

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