Além de muito calor, outra certeza acompanha a chegada de todo verão brasileiro: vai chover. Na capital paulista, a temperatura de nove entre dez fins de tarde é abrandada pela chuva torrencial que raramente dura mais de meia hora. A situação se repete no interior, no litoral e em quase todo o país. Mas o que houve no último 18 de fevereiro foi decididamente incomum.
Uma chuva torrencial caiu ininterruptamente não por poucos minutos, mas por várias horas. Os 50 milímetros de água considerados normais para a região subiram para 600 milímetros — isso equivale a despejar 30 galões de 20 litros em cada metro quadrado das cidades de São Sebastião, Caraguatatuba, Ilhabela, Ubatuba e Bertioga. Assim começou em escala ampliada a reprise do inferno aquático materializado em anos anteriores: deslizamentos de morros, casas destruídas e estradas em escombros. Até a manhã desta sexta-feira, cerca de 50 pessoas haviam morrido e mais de 40 estão desaparecidas.
Na reportagem de capa desta edição, o repórter Edilson Salgueiro conta que a Defesa Civil decretou estado de calamidade pública no domingo 19, e o governador Tarcísio Gomes de Freitas solicitou o apoio das Forças Armadas. “O Comando Militar do Sudeste disponibilizou aeronaves para socorrer as vítimas, enquanto os técnicos do Batalhão de Engenharia de Pindamonhangaba trabalharam para desobstruir a Rio–Santos.” Desde então, doações não param de chegar, e o país inteiro procura meios de amenizar a dor das incontáveis vítimas.
Não falta quem insista em culpar o suspeito de sempre: o aquecimento global. A verdade é que esta é outra tragédia mais que anunciada. Há 11 anos, também num 19 de fevereiro, publiquei na revista Veja uma reportagem sobre a situação da região serrana do Rio de Janeiro um mês depois do apavorante drama igualmente provocado pelas chuvas de verão. Naquele momento, só em Teresópolis ainda havia mais de 9 mil desalojados e quase 7 mil desabrigados. A contagem dos mortos se aproximava das 900 vítimas. Trecho do relato:
“Um mês depois da tragédia que devastou a região serrana do Rio de Janeiro, as feridas continuam abertas — e demorarão muito tempo para desaparecer. Amainado o fervor dos voluntários, interrompido o fluxo das doações às toneladas, as vítimas dos deslizamentos dependem quase que integralmente dos próprios recursos ou da ajuda dos vizinhos. Nada foi resolvido. A segunda etapa do trabalho, tão penosa e problemática quanto a primeira, começa agora, justamente no momento em que os horrores da catástrofe já não estão no centro das atenções do país.
Teoricamente, boa parte do dinheiro dos governos federal, estadual e municipais já foi liberada. Na prática, nenhum centavo chegou ao bolso de um morador da região. Teoricamente, todos estão bem alimentados com cestas básicas. Na prática, muitos não têm água para cozinhar o que ganharam. Teoricamente, o cadastramento para o aluguel social está quase totalmente concluído. Na prática, não há casas para todos. Teoricamente, um terreno foi desapropriado para a construção de 2.500 moradias. Na prática, um empreendimento dessa magnitude demorará no mínimo um ano para ser erguido. Teoricamente, os mortos estão quase todos sepultados. Na prática, corpos são retirados diariamente do meio da lama e enviados a IMLs improvisados para serem submetidos a testes de DNA — única forma de identificá-los 30 dias depois da tragédia.
Embora as máquinas funcionem ininterruptamente — inclusive nos fins de semana — para remover lama e entulho, nos bairros da periferia, por causa da quantidade de barro, o chão ainda está dois metros acima do normal. O cheiro de podre é insuportável e as rochas que deslizaram morro abaixo deixaram para trás uma paisagem lunar, com pedregulhos e crateras no lugar das casas”.
Esses e outros episódios mostram que a ocupação irregular do solo e o descaso do poder público com moradias e infraestrutura, embora não sejam a causa das tempestades, com certeza podem ser responsabilizados pelo número alarmante de perdas humanas e materiais. Não custa reiterar que, além de muito calor, uma coisa é certa no próximo verão: vai chover — e vários temporais serão muito fortes.
Boa leitura.
Branca Nunes
Diretora de Redação
Isso vai acontecer no início da subida na Imigrantes, embora haja informação de que se trata de área de preservação ambiental, já se observa invasões, que crescem a cada ano.
Outra tragédia anunciada.
O “Teoricamente…” seguido do “Na prática…” é a mais cristalina constatação do descaso e inépcia desde sempre, das autoridades e políticos brasileiros. Paredão não seria suficiente para setenciá-los! Uma vergonha viver neste mundo sem fiscalizações e ações verdadeiras consequentes de TCU, MPF, AGU, STF, etc. a permitir tragédias ANUNCIADAS contra o povo, onde imperam roubalheiras e desvios de verba pública mascaradas de bem feitos… De fato, creio que esses seguem Stalin, que já disse que “Uma única morte é uma tragédia; um milhão de mortes é uma estatística.”
O que esperar de um país que elegeu um corrupto, ficha suja descondenado? Não por acaso, o maior problema do Brasil é a IMPUNIDADE e, NÃO, a corrupção. Parabéns, Branca Nunes, pelo poder de síntese visceral, por isso considero um patrimônio minha assinatura da Revista Oeste.
Parabéns pelo texto❗️
Antes de Petrópolis no Vale do Itajaí, mais precisamente na região do Morro do Baú, houve muita morte, promovida por chuvas e uma alta da maré e com delizamentos brutais. Em 2008 o verão com suas chuvas, levaram muitas vidas e deixaram muitos desabrigados.
Tenho pavor da REVISTA VEJA. Não é de hoje que ela tem viés sociliasta/comunista. Tenho uma experiência própria com ela, desde o tempo de ensino médio. Assombrei. Distorseram a realidade, entrevistaram, falaram uma coisa e escreveram outra com a ideologia esquerdista deles (não é o seu caso). Jogam cidadãos brasileiros de bem contra cidadãos brasileiros de bem, a troco de nada. Aliás a troco deles posarem como salvadores da pátria e que nunca foram.
A veja é extremamente esquerdista/Gramicista e diz ser imparcial, MENTIRA. Essa prova está registrada ao longo da existência dela.
Todo ano tem desabamento de terra em algum lugar do Brasil, as pessoas também precisam saber disso. Eu sei que o Estado tem obrigação de garantir condições para que as pessoas vivam em lugares seguros, mas também ocupar e invadir lugares assim não tem jeito, vamos ver cenas como essas sempre.
Corrupção! De anos e anos . 😞😞😞😞
Muita chuva?
Tempo, em termos meteorológicos, é o conjunto de fatores – temperatura, umidade do ar, pressão atmosférica, regime de ventos e chuvas – que caracteriza a condição da atmosfera em um dado lugar, durante um curto período, de um a alguns dias. Clima é a condição média do tempo em períodos bem mais longos, de décadas em diante. A Organização Meteorológica Mundial (WMO, em inglês) considera 3 décadas de observações como o mínimo necessário para se caracterizar um clima. O clima é, portanto, uma invenção estatística. Não existe de fato… O que nós enfrentamos, dia após dia, é o tempo.
A precipitação pluvial (chuva) é medida em milímetros (mm), em aparelhos conhecidos como pluviômetros. Um mm equivale a um litro por metro quadrado.
Segundo a WMO, as chuvas podem ser classificadas como fracas, moderadas, fortes ou muito fortes, conforme a tabela a seguir:
Chuva fraca | até 5 mm por hora
Chuva moderada | 5,1 até 25 mm por hora
Chuva forte | 25,1 até 50 mm por hora
Chuva muito forte | acima de 50 mm por hora
Cherrapunjee, na Índia, é um dos lugares aonde mais chove do mundo. Lá chove em média 11.777 mm por ano. Esse local coleciona dois recordes mundiais. Choveu por lá 26.461 mm em 12 meses entre 1º de agosto de 1860 e 31 de julho de 1861, quase 125% acima da média. Em Julho de 1861, observou-se por lá a maior precipitação em um mês, 9.300 mm, quase 80% da média anual em um único mês, o equivalente a 300 mm por dia em média, todos os dias do mês.
Entre 15 e 16 de março de 1952, em Cilaos, no centro da ilha de La Réunion, choveu 1.870 mm em 24 horas, o que equivale a quase 78 mm por hora, em média. Esse é o recorde mundial de maior precipitação já observada em 24 horas, em terra. La Réunion é uma ilha no Oceano Índico, a leste de Madagascar, na latitude 21° Sul. La Réunion anotou também outros dois recordes: entre 24 e 26 de fevereiro de 2007, choveu 3.929 mm em 72 horas (3 dias) e entre 24 e 27 de fevereiro de 2007, 4.869 mm em 96 horas (4 dias), durante a passagem do ciclone tropical Gamede, próximo à cratera Commerson.
A maior quantidade média anual de chuva observada é de 11.872 mm, em Mawsynram, na Índia, e a menor quantidade de chuva observada no período de um ano inteiro é 0,0 mm, no deserto de Atacama, na região de Antofagasta, no Chile.
A precipitação pluvial média anual no Estado de São Paulo é de cerca de 1.490 mm. A mínima foi de 1.078 mm, mas a máxima foi de 4.378 mm.
A precipitação pluvial média anual na cidade de São Paulo, no período de 1940 a 1999, foi de 1.591 mm. A década de 1940 foi a mais chuvosa na cidade.
A precipitação pluvial média anual no Mirante de Santana, onde o Instituto Nacional de Meteorologia (INMet) faz as medições oficiais da cidade de São Paulo desde 1943, é de 1.441 mm, concentrados principalmente no verão. O maior acumulado de precipitação registrado pelo INMet em 24 horas foi de 151,8 mm no dia 21 de dezembro de 1988. Outros grandes acumulados em 24 horas foram 140,4 mm em 25 de maio de 2005, 127,4 mm em 12 de janeiro de 1949, 114,3 mm em 15 de dezembro de 2012, 109,5 mm em 28 de fevereiro de 2011, 106,4 mm em 16 de janeiro de 1991, 106,2 mm em 11 de março de 1994, 103,5 mm em 19 de janeiro de 1977, 103,3 mm em 8 de fevereiro de 2007 e 102,7 mm em 17 de fevereiro de 1988. O mês de maior precipitação foi março de 2006, com 607,9 mm registrados.
O que se verifica, portanto, é que há uma enorme variabilidade natural.
Quando a mocinha da previsão do tempo nos telejornais insiste em dizer que “choveu o equivalente a tantos dias”, apenas confunde ainda mais os telespectadores. No caso das chuvas, o que importa é a variabilidade natural, o que de fato já ocorreu e que eventualmente pode ou deve ocorrer novamente.
Quando eu estudava na Faculdade de Ciências Agronômicas, há mais de 30 anos, aprendi no curso de Construções Rurais que se deve considerar, por via das dúvidas e por segurança, uma lâmina de 100 mm por hora nos cálculos de telhados, calhas e drenagens. Creio que isso não deve ter mudado muito, desde então…
Se considerarmos, por exemplo, os 607,9 mm de março de 2006, na cidade de São Paulo, e dividirmos pelos 31 dias do mês, teremos cerca de 20 mm por dia. Mas choveu 151,8 mm em um único dia. E se tomarmos como base a média anual de 1.441 mm da cidade, teremos apenas cerca de 4 mm por dia. E o que isso significa?!
Não é raro chover cerca de 100 mm em um único dia. Mas, para cálculos de drenagem, para evitarmos enchentes, devemos considerar os 100 mm por hora. Se os cálculos não levam em consideração isso, o resultado, infelizmente, é o que se vê, ano após ano, durante os verões.
Construir casas em lugares seguros é direito do cidadão; garantir esse direito é dever do Estado.
Construir estradas modernas, custosas e seguras é tarefa do Estado. São perfeitamente viáveis com competência administrativa e dinheiro dos impostos pagos pelos brasileiros que se esvaem em fundos partidários, orçamentos secretos, assessores parlamentares carésimos e dispensáveis. Enquanto nosso dinheiro não for destinado ao que é essencial, nosso país desmoronará a cada mudança de lua.
Melhor esperar 30 anos pela construção de estradas seguras do que correr risco de morte a cada verão no paraíso tropical Brasil.
Parabéns ao Edilson, um repórter que desponta como dos melhores do país.
Moradora de ILHABELA testemunho q gov.Tarcisio montou um QG no Teatro de S. Sebastião e não voltou pra casa desde então assim como a Sra Freitas e Capitão Derrote.Estão prestando assistência com competência jamais vista e culpar a natureza é mais tranquilo do q assumir o descaso das autoridades q nãofiscaluzam quem constrói nas encostas. Aqui nesta Ilha a costa “pertencia” à Marinha não se sabe q manobra foi f
Toda a costa de Ilhabela está tomada por casas.
Enquanto não houver punição severa das autoridades, o descaso continuará. Sãos anos de desgovernos e nada acontece. Por mais que o atual governador, equipes e demais envolvidos façam para amenizar a situação nada irá substituir a dor da perda. Muito triste! São anos assim!