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Instituto de Virologia em Wuhan, China | Foto: Wikimedia Commons|Foto: Reprodução WSJ (26/02/2023)|Peter Daszak, presidente da ONG americana EcoHealth Alliance | Foto: Divulgação|Foto: Reprodução Site G1 (02/05/2021)
Edição 156

O vírus de laboratório e a notícia de mentira

A possibilidade da origem laboratorial do Sars-Cov2 não é novidade para pessoas com algum discernimento — jornalistas sérios tentam debater sobre essa teoria desde o começo da pandemia

Paula Schmitt
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Agentes da censura disfarçados de jornalistas tiveram dias difíceis nas últimas semanas. Ao contrário do que era defendido pelos traficantes de versões oficiais, a pandemia pode sim ter tido origem no laboratório de Wuhan, e não no mercado de animais na mesma cidade. Quem defendeu a tese dessa vez foi o Departamento de Energia, um dos órgãos da chamada “comunidade de inteligência” dos EUA, um grupo de departamentos encarregado de investigações relacionadas à segurança nacional e à política externa.

De acordo com reportagem exclusiva do Wall Street Journal do dia 26 de fevereiro, o Departamento de Energia mudou de opinião, e agora se junta ao FBI “em dizer que o vírus provavelmente se espalhou através de um erro em laboratório chinês”. O WSJ fala ainda que a “conclusão do Departamento de Energia é resultado de nova inteligência [novas informações] e é significativo, porque essa agência tem considerável especialização científica e monitora uma rede de laboratórios norte-americanos, alguns dos quais conduzem pesquisa biológica avançada”.

Para jornalistas sérios que passaram os últimos anos sendo perseguidos por meramente contemplar a possibilidade de origem laboratorial do vírus, a notícia pode trazer um certo consolo. Mas, para jornalistas ainda mais sérios que não se contentam em ter suas teses potencialmente confirmadas, é impossível ignorar um detalhe interessante na reportagem do Wall Street Journal: as agências de inteligência incumbidas de investigar a origem da pandemia estão divididas. Duas delas — o FBI e o Departamento de Energia — acreditam na origem laboratorial. Outras quatro agências “ainda acreditam [que a pandemia surgiu] em transmissão natural”. Outras duas agências estão indecisas. Uma dessas agências é a CIA. Notaram que interessante?

Foto: Reprodução WSJ (26/02/2023)

No momento em que o governo dos EUA está embrenhado numa guerra inclemente com a Rússia através de um país-fantoche e necessita da ajuda e do apoio de outras nações (em especial a China), o governo norte-americano revela que faltam duas agências do seu governo para decidir se a China tem ou não tem culpa no cartório da pandemia. O placar agora está 4 a 2 a favor da inocência da China, mas duas agências ainda não opinaram. E, se elas decidirem que o vírus veio do laboratório de Wuhan, vai dar empate, e vai ser necessário chamar o VAR — provavelmente o presidente Joe Biden, que chefia o Conselho Nacional de Segurança dos EUA. Sentiu a pegada?

A batalha entre bandeiras nacionais é uma disputa que vem mantendo eleitores engajados e participativos, mas que cada vez mais é teatro financiado pelos senhores da guerra

Como já venho explicando há tempo, mesmo que não tenhamos meios de entender a motivação, nem os interesses, e nem tampouco o teor das decisões governamentais, uma coisa pode e deve ser analisada: o timing, ou o cenário no momento em que uma decisão é tomada ou uma notícia é liberada para a imprensa. E o cenário aqui é inquestionável: os EUA querem o apoio da China contra a Rússia, e manter uma espada de Dâmocles sobre a cabeça da ditadura chinesa pode ajudá-la a tomar uma decisão mais favorável.

Existe outro detalhe na reportagem do WSJ que reforça a minha teoria de que o governo norte-americano pode estar tentando pressionar a China: o relatório de cinco páginas não apenas volta atrás em uma opinião anterior do Departamento de Energia, mas ele foi entregue ao Congresso sem que tivesse sido requisitado. Funcionários do governo procurados pelo jornal se recusaram a explicar por que razão o Departamento de Energia resolveu mudar de opinião.

China prende manifestantes contra política de “covid zero” | Foto: Reprodução

A possibilidade da origem laboratorial do Sars-Cov2 não é novidade para pessoas com algum discernimento — jornalistas sérios já tentam debater sobre essa teoria desde o começo da pandemia, mesmo sendo perseguidos por isso. A versão oficial — por muito tempo a única versão permitida nas redes sociais do Consenso Inc — costumava deixar de lado um detalhe fundamental: o fato de que até hoje não foi encontrado o animal que teria servido de intermediário para a passagem do vírus de morcego para humano. Já os indícios fortalecendo a teoria de manipulação genética do SarS-Cov2 abundam.

Peter Daszak é uma das pessoas que falavam abertamente sobre como é comum manipular um vírus respiratório para ele se tornar mais contagiante e letal. E Daszak sabe disso como ninguém, porque ele é o presidente da EcoHealth Alliance, uma ONG de fachada que vem servindo para conduzir experimentos de ganho de função. Os experimentos de ganho de função são aqueles em que vírus são manipulados para ficar mais letais. Esses experimentos foram proibidos no governo de Barack Obama, mas Anthony Fauci, o funcionário mais estável e protegido da corporatocracia norte-americana, conseguiu encontrar meios de escapar da suspensão, terceirizando a manipulação genética para a EcoHealth Alliance, que por sua vez encontrou na China o lugar ideal para seus experimentos.

Peter Daszak, presidente da ONG norte-americana EcoHealth Alliance | Foto: Divulgação

Essa aliás é uma das razões para tanto apoio — vindo da direita e da esquerda — à terceirização de serviços governamentais, incluindo ações militares e de saúde pública: quando o processo é terceirizado, acaba-se com a chamada “cadeia de comando”, e a responsabilização criminal de agentes do governo se torna quase impossível. Foi assim na invasão do Iraque, com os crimes cometidos por mercenários da Black Water — enquanto alguns indivíduos expiatórios foram punidos, os grandes responsáveis saíram ilesos.

Foi o próprio Peter Daszak que explicou, em 2016, como esses experimentos funcionam:

“Quando a gente consegue a sequência de um vírus, e ele parece com um parente de um patógeno maligno conhecido — exatamente como fizemos com o Sars —, nós achamos outros coronavírus em morcegos, um monte deles — alguns deles pareciam muito similares ao Sars, então nós sequenciamos a proteína spike, a proteína que se gruda nas células [humanas], então nós — quer dizer, eu não fiz esse trabalho, mas meus colegas na China fizeram esse trabalho —, você cria pseudopartículas, você insere a proteína spike desses vírus e vê se eles se acoplam às células humanas, e em cada passo disso você chega mais e mais perto de [tornar] esse vírus realmente patogênico para as pessoas. Assim você afunila o campo, você reduz o custo, e tem de trabalhar apenas com um número pequeno de vírus realmente assassinos”.

Quem por acaso quiser encontrar o vídeo original deste discurso vai ter trabalho, mesmo que procure no canal do YouTube onde o vídeo foi exibido pela primeira vez, a rede de TV norte-americana C-Span, sem fins lucrativos, especializada na cobertura de assuntos políticos e legislativos. Mas é possível ver o trecho que interessa aqui, divulgado pelo  India Today.

YouTube video

Buscas por menções a essa fala de Daszak também praticamente não produzem resultados. Apesar de a explicação de Daszak ser tão importante, crucial até numa pandemia provocada exatamente  por um coronavírus (Sars-Cov2), é quase impossível achar um jornal conhecido reproduzindo as palavras do homem que levou para um laboratório na China estudos de ganho de função financiados com dinheiro norte-americano. Quem fizer a busca no Duckduckgo vai encontrar apenas sites de notícia independentes nas primeiras páginas do resultado de busca.

Eu já falava deste assunto em maio de 2020, poucos meses depois do começo oficial da pandemia. E não é porque eu seja conspiratória — é apenas porque, fazendo uso do meu cérebro, eu encontrei um artigo da Nature falando algo muito interessante sobre Ralph Baric, parceiro de Daszak nos experimentos de ganho de função. Reproduzo aqui o que falei no artigo “Intervenção na natureza tem seu preço”: “Ralph Baric é um dos autores do estudo que criou um Frankenstein quimérico, em 2015, misturando o gene spike do vírus SHC014 ao Sars em rato [humanizado] e células humanas”.

Vale tirar uma lição preliminar disso tudo, ao menos por enquanto. A briga entre nações, US contra Rússia, China contra US, hoje são questões temporárias, ou meras distrações de um jogo muito menos interessante para quem assiste, mas muito mais lucrativo para quem joga: é o jogo em que quem joga nunca perde — só quem perde é a audiência. Em outras palavras, a batalha entre bandeiras nacionais é uma disputa que vem mantendo eleitores engajados e participativos, mas que cada vez mais é teatro financiado pelos senhores da guerra.

Um ano depois, no dia 2 de maio de 2021, o programa Fantástico, da Rede Globo, cometeu algo impensável, até para o Fantástico. Ele relacionou a tragédia da pandemia a — senta para não cair — queimadas na Amazônia. É isso mesmo. E agora tenta adivinhar quem a Globo entrevistou para explicar essa tese tão intelijegue? Peter Daszak…

Eu já desconfio há tempo que a Globo vende reportagens para governos poderosos e os monopólios mais poderosos ainda que os controlam. Uma das indicações de que minha suspeita é razoável é este vídeo aqui.

Ele mostra Bonner dizendo que a invasão do Iraque foi prevista por Nostradamus, e estava escrita nas estrelas. Para o caso de você não acreditar nem em Nostradamus e nem em astrologia, Bonner apela a uma terceira crença, tirando proveito do cérebro limitado da sua audiência: segundo ele, Saddam Hussein pode ser o “anti-Cristo”.

O meu artigo de hoje seria uma análise dos arjumentos usados pelo Fantástico para contorcer a pandemia até fazê-la caber nas queimadas da Amazônia. Infelizmente não foi possível, porque o vídeo parece ter sido retirado do ar. Aqui nesta página, em que o G1 promove o vídeo, a reportagem escrita continua ali, mas o vídeo tem a mensagem “conteúdo não disponível”. Na GloboPlay, quando acessado pela televisão, esse episódio do Fantástico está indisponível para vários usuários, como mostram alguns prints feitos por assinantes. Eu achei uma cópia do programa no YouTube, mas é possível ver que ele foi grosseiramente cortado ao menos duas vezes: no minuto 1:48 e no 2:54. E quando se tenta acessar o vídeo a partir da GloboPlay na internet, a mensagem da Globo é até mais honesta do que eu esperava: “Esta edição foi modificada em sua versão web”. Para repetir uma frase minha que já virou bordão: salvem tudo.

Foto: Reprodução Site G1 (02/05/2021)

Leia também “A explosão do oleoduto e a erosão gradual da imprensa”

0 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Sobre a Globo, após o segundo turno da eleição ano passado, fui buscar notícias do motivo de Maceió ser a única capital do Nordeste que, segundo o TSE, Bolsonaro venceu. Na reportagem da Globo, aparecia uma suposta cientista política da Universidade Federal de Alagoas, chamada Luciana Santana, dizendo isso ter acontecido por oligarquias que comandam a cidade, gente opressora, e toda aquela narrativa conhecida. Fiq

    1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
      Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

      Fique surpreso com isso, pois moro na cidade e vejo o oposto. Desde Uber, passando por motos de iFood, por um simples cabeleireiro, por um simples padeiro, todos para minha satisfação eleitores de Bolsonaro. Então fui procurar quem é essa tal cientista política no Instagram. Quando achei, Luciana Santana, a primeira foto que aparece é a mesma ”fazendo o L” em comemoração a vitória de seu candidato. É este o nível de ”cientista política” da Globo…

  2. Juan Pablo Fabro da Cruz
    Juan Pablo Fabro da Cruz

    Excelente!

  3. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    A Globolixo é o que existe de pior nessa velha mídia repulsiva.

  4. Elisa
    Elisa

    Tomei 3 doses, estava com um recém nascido em casa e a pediatra pediu que eu me vacinasse. Tive COVID, estou SEQUELADA. Uma tosse que não me larga. RX de tórax completamente limpo.
    Não tomo mais nada!!!

    1. Jorge Luiz Soares Ribeiro
      Jorge Luiz Soares Ribeiro

      Excelente artigo, como de costume. Parabéns Paula.

  5. Daniel BG
    Daniel BG

    William Bonner e as explições inexplicáveis exceto pela denúncia de manipulação da informação. É o carro chefe de informação da Rede Globo. Hahaha.

  6. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Estamos passando agora por uma vacina chamada de bivalente para o vírus mutante,disponíveis em todo posto de saúde do SUS. As indústrias farmacêuticas descobriram vacinas que não imunizam e não abrem mão de ganhar cada vez mais.Tomei quatro doses,desde corona vac. até Pfizer e Jansen. Mesmo assim peguei o vírus e fui tratada em casa com remédios disponíveis nas farmácias, sem qualquer problema .Chega de vacina ,já deu.Gastem o dinheiro público destinado a saúde para melhorarem o atendimento de pessoas que esperam anos na fila,aguardando por cirurgias que de fato salvariam suas vidas.

  7. Silas Veloso
    Silas Veloso

    Pra se pensar. Diante do descarado desprezo da grana mídia pela verdade, nada mais é impossível

  8. Marcos Rogério de Medeiros Almeida
    Marcos Rogério de Medeiros Almeida

    A frase “a ignorância é escravidão, o conhecimento é liberdade” é uma citação do filósofo Victor Hugo e geralmente é interpretada como uma afirmação de que o conhecimento é a chave para a liberdade pessoal e coletiva. Quando as pessoas são ignorantes sobre um determinado assunto, elas podem ser facilmente manipuladas e controladas por outros que possuem mais conhecimento.

    Parabéns por compartilhar conhecimento e nos a liberdade que precisamos. PARABÉNS PAULA.

  9. CLAUDIO JOSÉ DE LIMA
    CLAUDIO JOSÉ DE LIMA

    Eu gosto de Karl Popper: a ciêcia é ente, não é Ser e está posta para ser dsmentida. O ente é anterior ao ser [Heidegger.]

  10. Fe Coelho
    Fe Coelho

    Paula, me parece que a aliança entre as forças da elite globalista e da russo chinesa tinha um tempo pré determinado para aplicar a maior tentativa de controle social e cerceamento de liberdades de todos os tempos, chamada de pandemia, e avaliar os benefícios e eventuais riscos. Agora que perceberam que foram bem-sucedidos, buscaram outros meios de ação. Dessa vez, sem aliança.

  11. Pedro Hemrique
    Pedro Hemrique

    Ainda bem que temos outras fontes de informação, como a Revista Oeste, que não está envolvida, a princípio, com o mecanismo que tanto nos prejudica!

  12. Silvio Ramos Jr.
    Silvio Ramos Jr.

    Posso não concordar com todas as conclusões de Paula Scimitt, mas gosto muito da sua inteligência jornalística e investigativa de ligar pontos e estabelecer conexões lógicas. E honestas. Ótima jornalista com visão cosmopolita e geopolítica aguçada.

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