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María Fernanda Cabal, senadora na Colômbia | Foto: Divulgação
Edição 167

‘A Colômbia é governada como se fosse uma guerrilha’

A senadora colombiana María Fernanda Cabal relata o fracasso das políticas de extrema-esquerda adotadas pelo ex-guerrilheiro e atual presidente do país, Gustavo Petro

Fernando de Castro
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Conhecida por posicionamentos firmes e contrários às ideias de esquerda, a senadora colombiana María Fernanda Cabal lidera de forma enérgica a oposição ao atual presidente Gustavo Petro. 

A congressista vem ganhando notoriedade ao longo dos anos com sua postura visceralmente contrária ao esquerdismo validado nas últimas eleições presidenciais na América Latina. Gustavo Petro, ex-guerrilheiro do grupo M-19, saiu vitorioso nas eleições de 2022, com mais de 11 milhões de votos, por seu partido de extrema-esquerda, o Colômbia Humana. 

A senadora, que já confirmou sua intenção de disputar a Presidência do país nas próximas eleições, também se inspira em figuras enaltecidas pelo público conservador no Brasil, como o ex-presidente Jair Bolsonaro e o filósofo e escritor Olavo de Carvalho (1947-2022). A parlamentar já participou de cursos do escritor e propaga as ideias de Carvalho.

Na entrevista a Oeste, María Fernanda Cabal detalha aspectos tenebrosos do governo de Gustavo Petro. Na visão da parlamentar, os colombianos passaram a viver um caos no país, onde as drogas e os traficantes ganharam espaço e benefícios do novo governo.

“Há dissidentes das Farc agindo em novas guerrilhas aqui. Os guerrilheiros voltaram a marcar presença em territórios onde não estavam mais presentes, principalmente em áreas de exploração de petróleo”

Para a senadora, o histórico de Gustavo Petro na guerrilha até hoje exerce influência em seu governo, com consequências totalmente negativas para o país. Ela também alerta para a sobrevida das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

María Fernanda Cabal, senadora na Colômbia | Foto: Divulgação

Confira os principais trechos da entrevista:

Você alertou sobre os perigos representados pela possível vitória eleitoral de Gustavo Petro ao longo do ano passado. Quase um ano depois, o que mudou na Colômbia com a eleição do ex-guerrilheiro? 

Petro começa seu governo de forma extremamente negativa. Ele inicia a gestão fazendo todo tipo de elogio a países marcados pelo socialismo do século 21. Petro iniciou uma série de reformas mal elaboradas, como a da saúde, a trabalhista e a previdenciária. Ao mesmo tempo, ofereceu aos criminosos um programa chamado Paz Total, uma iniciativa para impedir a investida dos grupos de segurança contra os criminosos. E aqui entram todos os criminosos, desde os guerrilheiros até os cartéis de drogas. Há dissidentes das Farc agindo em novas guerrilhas aqui. Os guerrilheiros voltaram a marcar presença em territórios onde não estavam mais presentes, principalmente em áreas de exploração de petróleo. Eles organizam bases populares em milícias rurais conhecidas como guardas camponesas e também incentivam as guardas indígenas. Petro é um excelente anarquista e é seu próprio inimigo dentro do governo. E sem falar do fracasso da nossa economia. A inflação está disparando e o capital está indo embora. Ele pretende acabar com a exploração de petróleo, iniciativa que afeta a própria petrolífera da Colômbia, a Ecopetrol. Isso provocou uma queda acentuada das suas ações. Vivemos uma cadeia de eventos que está levando a Colômbia ao desemprego e à pobreza.

Há conflitos em curso na Colômbia. Existem informações de aumento no número de minas nas áreas rurais, como na cidade de El Carmen, o que tem causado muitas vítimas. O que está acontecendo nesse sentido? Há uma política de terror nas cidades do interior?

Sim, e isso é resultado das ações do governo de Petro, fruto da sua mentalidade revolucionária. Ele removeu mais de 60 generais do Exército e da polícia em seus primeiros atos de governo. Nosso Exército e nossa Polícia contam com alguns dos melhores e mais bem treinados agentes do mundo. Eles são preparados para enfrentar todo tipo de violência. Mas Petro optou por jogar fora anos de experiência das pessoas que estão lá para proteger os cidadãos. A força pública está completamente desmoralizada, e todos os grupos violentos estão mais fortes hoje, porque eles veem na figura do presidente alguém sob o seu comando. Gustavo Petro diz algo um dia e, no dia seguinte, tem que mudar de ideia, porque os terroristas a rejeitam, começam a matar o povo, os massacres se multiplicam. A Colômbia tem hoje mais de 23 organizações criminosas responsáveis pelo tráfico de cocaína, assassinatos de civis, policiais e soldados. Mesmo assim, Petro chegou ao poder e mandou os juízes soltarem jovens violentos, que queimaram policiais e mataram pessoas durante os protestos. É um presidente que está governando como se fosse um guerrilheiro.

Gustavo Petro, presidente da Colômbia | Foto: Divulgação/Wikimedia
Como tem sido o diálogo de Petro com os demais Poderes?

Temos uma separação de Poderes como no Brasil: Executivo, Legislativo e Judiciário. Atualmente, Petro tem recebido muitos “não” dos juízes. No Legislativo, quando tenta aprovar as reformas, que não são fáceis, começa a atacar os partidos políticos, especialmente no Twitter, com cerca de 30 a 40 publicações por dia. Ameaça o Partido Liberal e tenta comprar políticos através do ministro do Interior. E não tem conseguido avançar, porque os parlamentares não concordam com as reformas como estão propostas. Com dificuldade para passar as reformas, ele fica furioso e chama o povo para ir às ruas. Mas as pessoas não se importam e não comparecem. Na Colômbia, temos um dos melhores sistemas de saúde do mundo. Gustavo Petro quer acabar com isso e nos deixar dependentes do Estado.

Como você avalia as políticas de Petro e sua postura na Presidência?

Ele é um péssimo presidente, com políticas absurdas. Lembro-me de quando falei com o professor Olavo de Carvalho sobre os políticos de extrema-esquerda da América Latina e ele me disse que todos esses líderes se tornam ditadores, porque seus traços de personalidade são os mesmos de Chávez, Fidel Castro, Ortega e Evo Morales. São mitômanos, mentirosos profissionais e narcisistas. Sentem-se pessoas superiores às outras. São megalomaníacos, como se o mundo girasse em torno deles.

Recentemente, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto. Como você vê a relação do governo brasileiro com a ditadura do país vizinho?

Não podemos esquecer que o grande promotor do Foro de São Paulo é Lula da Silva. Ele e Maduro fazem de Hugo Chávez uma figura continental bárbara. Acredito que estamos no socialismo também por causa da direita covarde, dos presidentes covardes que têm medo de confrontá-los. Não esqueço da Operação Lava Jato. Lembro bem dos atos da Odebrecht, empresa criminosa transnacional que comprava candidatos na América Latina. Lula e a Odebrecht trabalharam lado a lado com Chávez, que os levou para Cuba, Nicarágua, África, entre outros. Eu sinto, no fundo, que a América Latina não aprende. Essa segunda onda do socialismo no século 21 vai nos ajudar a conscientizar as pessoas, mas o custo será muito alto.

María Fernanda Cabal | Foto: Divulgação
Caso a senhora seja eleita presidente da Colômbia, quais são os seus planos de governo?

Tenho todos os planos e eles são possíveis. Primeiro, desenhar políticas públicas de mãos dadas com o setor produtivo. Precisamos de estradas, e temos como fazer isso por meio de uma parceria entre os prefeitos e a nação, com impostos locais e impostos nacionais. Dá para fazer muito em quatro anos. Precisamos de um uso misto do peso e do dólar no sistema financeiro que não seja uma economia só em pesos ou dolarizada, como o Equador. Pode ser criado no sistema monetário onde é possível economizar em pesos e em dólares. Isso evita impacto, por exemplo, quando a posição do peso cai em relação ao dólar. Em relação à violência, é preciso atacar antes que evolua para uma guerra. O Estado tem a obrigação de fechar os circuitos por onde entram armas, suprimentos e tráfico de pessoas, além de usar as tecnologias da informação para aprimorar o Exército. A Colômbia continua a ser a esperança para a próxima geração. 

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2 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Bom nome da direita colombiana.

  2. João Simoncello Filho
    João Simoncello Filho

    Faltou fazer uma pergunta à senadora: Por que a maioria da população com direito a voto decidiu-se por votar em Gustavo Petro? É a mesma questão que teimo em fazer aqui no Brasil e não consigo resposta de alguém mais esclarecido: Por que BA, CE, PE e PI votaram por trazer de volta o PT? O que esses eleitores veem no partido? Sem essa reflexão não conseguiremos jamais estabelecer estratégias para trazer essas pessoas para um nacionalismo sadio, e continuaremos lamentando a ascensão ao poder de políticos que não merecem esse nome e sim outro nome.

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