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Marianna Spring, jornalista britânica que trabalha para o BBC Verify | Foto: Montagem Revista Oeste/Divulgação/BBC
Edição 167

O medo da liberdade de expressão

O novo projeto BBC Verify não apenas inflama os perigos das mentiras nas redes sociais, mas também coloca o rótulo de desinformação em matérias que são verdade

Fraser Myers, da Spiked
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A BBC lançou mais um projeto para combater o que considera o grande mal dos nossos tempos — a chamada desinformação. Ao apresentar o novo projeto BBC Verify, Deborah Turness, CEO da BBC, afirmou que “o público é bombardeado constantemente com desinformação, fake news (…) ruído e sensacionalismo”. Isso, ela acrescenta, levou o público a duvidar do que vê e ouve, incluindo o que vem da BBC. 

Não é exagero afirmar que a BBC é obcecada por essa suposta ameaça da desinformação. O BBC Verify terá 60 jornalistas à sua disposição. Ele reúne o serviço de checagem de fatos já existente, o BBC Reality Check, o BBC World Service Disinformation Team, o BBC Monitoring Disinformation Team e o BBC Trending (que dedica grande parte da sua cobertura à desinformação das mídias sociais). E também vai atribuir um papel grande à correspondente especializada em desinformação Marianna Spring. Como se não bastasse, a BBC também tem repórteres especializados em “desinformação sobre o clima” e “desinformação sobre saúde”.

Marianna Spring | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Ninguém é contra falar a verdade, claro. E jornalistas que desmascaram as mentiras da internet podem prestar um grande serviço público. Mas não é exatamente isso que está acontecendo na BBC. Sua batalha contra a desinformação é colocada em termos quase apocalípticos. Ela se vê encampando uma “guerra de informação” com o bom jornalismo, baseado em fatos, de um lado, e atores malignos e desonestos, do outro — esse segundo grupo supostamente bancado pelo “dark money” e/ou por Estados hostis. Em resumo, essa obsessão pela desinformação se tornou um pouco paranoica. 

Ninguém representa melhor essa perspectiva do que Marianna Spring, correspondente de desinformação da casa. Ela alerta aos usuários das redes sociais que estão sendo tomados por uma “cultura do caos”, em especial no Twitter, onde há menos moderação de conteúdo. Ela produziu podcasts para a BBC como Death by Conspiracy?, que acompanha um teórico da conspiração sobre a covid-19 que morre da doença, e The Denial Files, que afirma que informações falsas sobre o clima podem nos levar a uma “catástrofe”. Seu próximo podcast, Marianna in Conspiracyland , que vai fazer parte da marca BBC Verify, questiona se a desinformação pode levar o Reino Unido a uma violenta insurreição.

A paranoia que se vê aqui talvez esteja à altura dos defensores de teorias da conspiração e dos excêntricos que a BBC está tentando combater. Sintomaticamente, em um vídeo promocional da BBC Verify que foi ao ar há alguns dias no programa Breakfast, Spring está diante de um painel digital desenhando setas entre o “movimento conspiratório do Reino Unido”, “figuras de extrema direita”, “mídia alternativa” e “links estrangeiros”. A semelhança com o conhecido meme do monólogo sobre uma conspiração do personagem Charlie Kelly (Charlie Day), na série It’s Always Sunny in Philadelphia, é impressionante. 

Charlie Kelly (Charlie Day), na série It’s Always Sunny in Philadelphia | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Nada disso significa que teorias da conspiração ou fake news não sejam um problema. Tive meus próprios encontros com teóricos da conspiração antivacina recentemente. Mas precisamos ter cuidado para não exagerar nem na escala nem no impacto. Com todas as montanhas de conteúdo antivacina circulando nas redes sociais, e com todo o alarmismo do establishment sobre a recusa em se vacinar, nove em cada dez britânicos tiveram bom senso e tomaram duas doses de vacina contra a covid-19. A propaganda de guerra russa denunciando a Ucrânia como o verdadeiro agressor malévolo talvez seja ainda mais detestável. Por sorte, ela evidentemente não conseguiu prejudicar o apoio à causa ucraniana. Claro que é importante que os jornalistas desafiem essas mentiras, mas não é preciso perder o sono por causa disso. 

A BBC não apenas inflama os perigos das mentiras nas redes sociais, ela também coloca o rótulo de desinformação em matérias que são verdade. Então, se você fizer barulho sobre as restrições ao trânsito de carros que vão chegar ao seu bairro, se você protestar contra os planos ecológicos das “cidades de 15 minutos”, pode ser considerado “teórico da conspiração” pela BBC — ainda que esses esquemas de trânsito não liberais estejam acontecendo em todo o Reino Unido. Com muita frequência, a acusação de “desinformação” é usada como outra forma de demonizar aqueles que têm opiniões dissidentes. 

A mudança climática é outro enorme ponto cego da agência. Apesar de sua aparente preocupação com a desinformação sobre o clima, jornalistas e apresentadores da BBC costumam fazer afirmações alarmistas e falsas sobre o meio ambiente

Enquanto isso, a BBC sabidamente espalhou suas próprias inverdades. Vamos olhar para sua cobertura da questão trans. O site da BBC com frequência descreve homens predadores, incluindo estupradores, pedófilos e assassinos, como “mulheres” — apenas porque eles “se identificam” como tal. Ela produziu matérias e documentários inteiros sobre “homens” que engravidam. Quando se pede que os pagantes da licença ignorem as evidências diante de seus próprios olhos, não deveria nos surpreender que a BBC esteja perdendo confiança.

A mudança climática é outro enorme ponto cego da agência. Apesar de sua aparente preocupação com a desinformação sobre o clima, jornalistas e apresentadores da BBC costumam fazer afirmações alarmistas e falsas sobre o meio ambiente. Panorama, um documentário recente apresentado pelo editor para o clima da BBC, afirmou em sua sequência de abertura que eventos climáticos extremos estão matando mais pessoas. A realidade é exatamente o oposto: o número de mortes causadas por eventos climáticos na verdade diminuiu consideravelmente nas últimas décadas. Mas isso não cabe na narrativa estabelecida e motivada pelo medo. 

Mudança climática é outro enorme ponto cego da agência | Foto: Shutterstock

Ao contrário das teorias absurdas sobre vacinas e o QAnon, essas afirmações apocalípticas sobre o clima de fato têm um grande alcance e são prontamente aceitas. De acordo com uma pesquisa recente, mais da metade dos adolescentes acha que o mundo vai acabar no decorrer da sua vida. Não há nada na ciência mainstream sobre o clima que sugira que alguma coisa assim tenha chance de acontecer. Mas não espero que o BBC Verify vá derrubar esse mito tão cedo. 

Claramente, o pânico da desinformação tem pouco a ver com fatos e verdades. O que ele expressa na verdade é o medo da liberdade de expressão — um medo de conversas não regulamentadas e de ideias não sancionadas. A primeira vítima dessa guerra será nossa liberdade de dizer o que pensamos.


Fraser Myers é editor-adjunto da Spiked e apresentador do podcast da Spiked.
Ele está no Twitter: @FraserMyers

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3 comentários
  1. Gilson Herz
    Gilson Herz

    BBC – Bando de Babacas Contemporâneos. A imbecilidade tomou conta dos cérebros desses seres abjetos.

  2. Pedro Hemrique
    Pedro Hemrique

    Grande iniciativa da BBC! Como sempre, dando exemplo de honestidade, para a grande mídia, principalmente a do país do faz de contas, que não tem nenhum compromisso com a verdade!

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    As pessoas acreditam na imprensa porque são acomodadas. Essa estória do mundo se acabar, das mudanças climáticas, se temos a Internet, vão nas melhores fontes e não é só uma, são várias, um exemplo, consulte Marcelo Gleise sobre o mundo se acabar

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