O tema segurança jurídica foi o mais debatido no Fórum Empresarial Lide, encontro com 300 empresários, políticos e investidores realizado há uma semana no Rio de Janeiro. Roberto Sallouti, presidente do banco BTG Pactual, foi o nome que puxou o assunto em painéis do evento. “A gente precisa de segurança jurídica no Brasil”, disse no palco. “Não dá para, como empreendedor e empresário, fazer um investimento, acordar e mudar a regra.” Um alto executivo da Blau Farmacêutica fez questão de puxar o coro na plateia, reforçar a importância de um país seguro juridicamente, e assim o assunto foi dominante por três dias no palco do evento e em rodas de conversas.
É só obedecer à lei
João Doria, organizador do megaencontro, confirmou que essa foi a maior demanda dos presentes. “Foi o tema que pautou todos os painéis”, disse o ex-governador de São Paulo. “Como você tem segurança jurídica? Obedecendo àquilo que a lei determina e que os contratos estabelecem. Qualquer sinalização do Brasil de retrocesso naquilo que foi feito em privatizações, concessões e programas de outros governos vai refletir mal nesse governo e para o Brasil. Houve uma condenação geral, inclusive de entes públicos.” Doria se referia à fala, durante o evento, do presidente do Tribunal de Contas da União, Vital do Rêgo, de que “em contratos formulados e assinados não se mexe”.
É a reforma, estúpido!
Sallouti, do BTG Pactual, fez um dos mais potentes e lúcidos discursos do evento. Uma das bandeiras do executivo: o mercado de capitais precisa crescer novamente — e as reformas deveriam ser levadas a sério. “Nos últimos quatro anos, todo mundo se surpreendeu com o crescimento do PIB do Brasil”, disse. “No fundo, isso foi o quê? As reformas que foram feitas nos últimos seis anos — Previdência, independência do Banco Central, Lei do Saneamento. Essas reformas acabaram deixando a produtividade do Brasil maior. Por isso, todo mundo se surpreendeu.”
A defesa do Banco Central
O economista do BTG defendeu a gestão do Banco Central, comandado por Roberto Campos Neto, na condução da política monetária. Sallouti disse que o ciclo de elevação da taxa básica de juros (a Selic) seguiu a tendência das principais autoridades monetárias do planeta. Ele relembrou que o BC elevou de forma agressiva a Selic a meses das eleições, em fevereiro de 2022 (Campos Neto foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro). “Acusam o Banco Central de ser político. Se fosse, não subiria o juro em 1,5 ponto percentual antes da eleição.”
É sério que a gente vai discutir isso?
A educação brasileira foi outro ponto levantado pelo CEO do BTG. “Eu vejo agora uma discussão sobre revogar a reforma do ensino médio ideológico. É sério que a gente vai discutir isso?”, questionou Sallouti à plateia, em referência ao Novo Ensino Médio, implantado no governo Michel Temer, e as ações do governo Lula para suspender a aplicação do método. “A gente deveria discutir se os nossos alunos têm de aprender noções básicas de programação, de computação, de reforço da matemática. A gente não vai premiar o professor excelente, vai passar a premiar todos os professores igualmente? A gente não vai premiar quem está realmente ensinando e transformando a vida dos alunos?”
Mirando o MIT
Sallouti fala com propriedade. Ele e o banqueiro André Esteves, dono do BTG, criaram uma notável instituição brasileira de ensino superior, inspirada no Instituto de Tecnologia de Massachusetts: o Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli). Só Esteves doou R$ 200 milhões do próprio bolso para construir o campus em São Paulo e dar a largada na operação. “O que vai melhorar a renda média, a qualidade de vida, o que vai melhorar o Brasil como país é ter obsessão por produtividade. Na nossa visão, produtividade vem da educação, do incentivo ao empreendedorismo e da preservação do meio ambiente”, diz Sallouti.
É só tiro!
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e o prefeito Eduardo Paes discutiam no evento sobre maneiras de atrair mais turistas para movimentar a economia da bela, mas violenta, cidade. A culpa, claro, recaiu sobre a imprensa. “Veja o Bom Dia, Rio. É só tiro”, disse Castro sobre o telejornal local matutino da Globo. “Eu nem me preocupo com o Bom Dia, Rio, porque é só o carioca que assiste. Meu problema é com o que a GloboNews transmite, pois é o cara de Goiás que assiste e deixa de vir para cá com medo.”
O elevador no Rio
Dias depois da declaração, o prefeito sancionou uma lei municipal proibindo o uso de denominações “elevador social” e “elevador de serviço” nos prédios privados do Rio de Janeiro. O motivo? “Coibir qualquer tipo de discriminação.” Nada de mais importante tem acontecido na cidade?
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