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Ilustração: Shutterstock
Edição 180

Governo sádico

Este é o cotidiano brasileiro do investidor, empreendedor, empregador, pagador de impostos: insegurança legal e insegurança jurídica

Alexandre Garcia
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Os deputados acabam de aprovar, por 430 votos a 17, a prorrogação, por quatro anos, da lei que desonera a folha de pagamentos em 17 atividades que mais empregam. O governo tentou evitar, mas, quando viu que perderia, até o PT votou a favor, para não ser noticiado como derrota; afinal, a lei vem dos tempos de Dilma. A desoneração não isenta; cobra de 1% a 4,5%. Todas as demais atividades não listadas continuam pagando 20%. Imagine um país em que, para empregar, a empresa ainda tenha que pagar mais uma quinta parte da folha. O governo queria cobrar mais de R$ 9 bilhões de quem emprega e paga salários que geram impostos. Parece louco, não? Punir quem emprega; quanto mais emprega, mais paga. Esse sadomasoquismo pouco inteligente não se limita a isso. 

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Agora também o governo viu convertida em lei a sua medida provisória que elevou a isenção do Imposto de Renda de Pessoa Física: quem ganha até R$ 2.640,00 não paga. Quem ganha R$ 2.641,00 se torna pagante de imposto sobre essa irrisória renda, além de já ter pagado imposto sobre tudo o que comeu e sobre o pouco que conseguiu comprar. Esse pobre assalariado deve contribuir por mês, para o Estado brasileiro, com cerca de R$ 600 a R$ 800 em impostos embutidos nas compras, e recebe serviços ruins de segurança pública, ensino, saúde. É sadismo. 

Para compensar a “isenção”, o governo vai taxar as aplicações em offshores, de 15% a 20%, embora não preste serviço ao aplicador. Calcula amealhar R$ 7 bilhões de 2,5 mil pessoas. Iria tirar, em média, R$ 2,8 milhões por pessoa. São pessoas que investiram no Brasil e lucraram. Investiram no ramo certo de atividade, empregaram os melhores, souberam vender e pouparam. Cautelosos, ponderando a segurança jurídica do Brasil, puseram dinheiro onde o viam mais bem guardado. Mas vão ser punidos com o quinto de seus rendimentos, por sinal o mesmo quinto que revoltou Tiradentes e seus inconfidentes mineiros. O governo quer punir quem se deu bem. Parece uma vingança da ideologia da luta de classes. Só que, prevenidos e bem-informados como são os bem-sucedidos, já mudaram de porto em R$ 40 bilhões, segundo a Anbima.

O governo anuncia que precisa de R$ 168 bilhões para fechar as contas do ano que vem, enquanto cria mais um ministério. Repetem-se os hábitos de gastos dos anteriores governos de Lula e Dilma

No fundo da escala econômica, é a ponta que tudo paga. Todo imposto que as empresas recolhem faz parte da formação de custos e vai para o preço final. Ao taxar o empregador, o governo desestimula o emprego. Em julho deste ano, o número de novos empregos com carteira assinada foi 36% menor que o de julho do ano passado. A insegurança tributária e jurídica está derrubando a arrecadação. Até agora a coletoria federal de impostos já recuou em 5,3% — e a queda aumenta a cada mês. A desconfiança com o futuro e a falta de segurança para planejar fizeram os investimentos estrangeiros recuar 32% — e a queda aumenta a cada mês. E o governo anuncia que precisa de R$ 168 bilhões para fechar as contas do ano que vem, enquanto cria mais um ministério. Repetem-se os hábitos de gastos dos anteriores governos de Lula e Dilma. Os resultados não serão diferentes.

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Este é o cotidiano brasileiro do investidor, empreendedor, empregador, pagador de impostos: insegurança legal e insegurança jurídica. É uma política em que o Estado se serve da nação, para que ela o sustente, de modo cada vez mais pesado. E, quando as frentes parlamentares da agropecuária, do comércio e serviço, do empreendedorismo mostram ao presidente da Câmara que apoiam uma necessária reforma administrativa, o ministro político do governo Alexandre Padilha as acusa de quererem destruir o serviço público. O Estado quer ser maior que a nação. Aí se torna opressor, desestimulador, mau prestador de serviços, lento, burocrático. Tem que emagrecer para se tornar ágil. Se o Estado é grande, a nação fica pequena. É uma inversão. A avidez do Estado glutão taxa muito, põe regra em tudo e anestesia o desenvolvimento, o emprego, a renda. Quer se meter em tudo e tudo atrapalha. Faz propaganda de justiça social e cria a casta da nomenklatura estatal. Gasta fortunas do pagador de impostos em propaganda. A propaganda de um governo é a qualidade de seus serviços prestados. Outro dia, vi um mote de propaganda do governo afirmando que a reforma tributária é a base do desenvolvimento. Sofisma sádico.

Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Leia também “O dono da grana”

13 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    É pagar INSS para bancar, além das aposentadorias dos funcionários, também INCRA, SESI, SENAI, sindicatos de professores, e outros. PIS, COFINS, IRPJ, CSLL. Comércio ficar a mercê do manicômio de aliquotas de ICMS. São percalços do empreendedor…

  2. Jose Carlos Rodrigues Da Silva
    Jose Carlos Rodrigues Da Silva

    Haja impostos para bancar essa turma da esquerda. Tá maluco.

  3. Joel Luiz Oliveira Rios
    Joel Luiz Oliveira Rios

    O estado sempre foi usurpador do trabalho e dos impostos dos olhos da cara que ele, o estado cria para extorquir o cidadão e não nos dá a contra partida que deve em termos de segurança, educação e saúde. Agora então com este desgoverno da esquerda, menos ainda. É um salve-se quem puder.

  4. ANTONIO VICENTE DE LIMA
    ANTONIO VICENTE DE LIMA

    Caro Alexandre Garcia, o que dizer de uma pai de família que ganha 10 e gasta 15??

  5. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    Esse desgoverno é uma tragédia

  6. Nilson Abrao Porto
    Nilson Abrao Porto

    Estado versus NAÇÃO, quem tombará primeiro.

  7. Marcus Borelli
    Marcus Borelli

    Talvez a melhor coisa para destruir alguém definitivamente é deixá-la fazendo as M sempre. O brasileiro acordou para a política e não dormirá mais. A conferir.

  8. Rosangela J . Dias
    Rosangela J . Dias

    Texto excelente, parabéns!
    A tendencia é fortalecer o Estado e enfraquecer a nação resultando em opressão da população.

  9. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    O Brasil dos políticos é diferente do Brasil dos brasileiros.
    Somos saqueados sem pudor pelo estado letárgico. Esfaqueados pelo judiciário politizado e órfãos do Congresso omisso.

  10. MNJM
    MNJM

    Muito bom Alexandre. O governo tem que gastar com propaganda para ter a mídia a seu favor. Não entrega nada , mas a mídia é militante pelas verbas milionárias. MÍIDIA VENDIDA.

  11. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    O IBGE dá tudo ao contrário da realidade. Isso é que é uma corja de bandidos e esse Alexandre Padilha quando era ministro da saúde comprou dum laboratório do Canadá 400 milhões de doses de tamiflu pra curar a gripe aviária que contaminou 2 chineses, os funcionários quando chegava pra trabalhar tinha 200 mil na gaveta do birô. Isso é uma corja muito imunda estão todos aí de novo e com mais alguém, esse cara não foi eleito e a sociedade brasileira vai permitir uma imundice dessa?

  12. Celso Ricardo Kfouri Caetano
    Celso Ricardo Kfouri Caetano

    Muito bom Alexandre Garcia, texto digno de nota. Nenhum empreendedor no geral quer seja pequeno, médio, grande, comércio, indústria consegue manter produção, emprego e riqueza para o País com impostos predatórios. Um empregado custa ao patrão o dobro do salário que recebe. Mas qual a voracidade da esquerda em uma simples reflexão: não há imposto, taxa etc que dê conta de manter um Estado inchado com salários e mordomias jamais vistas em outros países, exceto os assemelhados e olhe lá……Para não me alongar mais o Alexandre Garcia utilizou um termo que as vezes me vem a cabeça dos tempos de juventude. Naquela ocasião o que conhecemos hoje por Receita Federal era denominada de Coletoria da Fazenda Nacional.

  13. Leonardo Abreu
    Leonardo Abreu

    Texto corretíssimo. O Brasil já sifu e vai naufragar novamente com o lulopetismo

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