Duas noites atrás, deveria ter havido um momento de verdade e acerto de contas. Tucker Carlson, o jornalista intrépido e independente, ia questionar Donald Trump, que faltou aos debates do Partido Republicano porque já é o favorito absoluto e não quer nada com a política convencional.
Tucker passou os últimos três anos na Fox denunciando corretamente os lockdowns, a censura, a obrigatoriedade das vacinas e a segregação médica, além dos ataques à liberdade norte-americana. Ele com certeza sabe das coisas. Poderíamos supor que os problemas que afundaram a presidência de Trump e quase toda a sociedade e liberdade americanas estariam em destaque. Tinha chegado a hora!
Curiosamente, nada disso veio à tona em sua entrevista com Trump. Ela não respondeu a nenhuma de nossas perguntas sobre as razões pelas quais Trump fez o que fez, o que não apenas arruinou a economia dos Estados Unidos, mas também, possivelmente, lhe custou a eleição. Mesmo que você ache que a eleição tenha sido roubada, foi só por meio das cédulas de votação enviadas pelo correio que os controles da covid-19 começaram. Tucker não aprofundou nada disso. Foi como se 2020 não tivesse acontecido.
O debate simultâneo do Partido Republicano foi ainda pior. Ron DeSantis abriu os trabalhos em grande estilo e falou sobre o lockdown, mas o tópico se dissipou rapidamente. Depois de uma enxurrada de anúncios farmacêuticos — aliás, o evento inteiro foi financiado pelas vendas de medicamentos aprovados pela agência responsável por alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) —, os moderadores perguntaram brevemente se o ex-vice-presidente Mike Pence achava que sua administração tinha alguma responsabilidade pela perda de aprendizado, uma vez que o governo Trump incentivou o fechamento das escolas.
Pence — que passou o ano de 2020 dando cobertura para Anthony Fauci e Deborah Birx — ignorou completamente a pergunta e falou de outra coisa. O tópico nunca foi retomado.
Ninguém falou nada sobre a censura tecnológica, os milhões de pessoas desabrigadas e prejudicadas pela obrigatoriedade da vacinação, o alcance ditatorial do governo, a grande quantidade de litígios contra tudo e todos, a enorme perda de confiança no Estado e na mídia, o ataque fundamental à Declaração de Direitos ou a ameaça muito real de que isso pode acontecer de novo.
No mesmo dia do debate, vimos a obrigatoriedade das máscaras sendo retomada. Mas ninguém falou sobre isso.
Com certeza é possível enxergar o que está acontecendo. As maiores questões da vida norte-americana, que todos vivenciaram com tanta tragédia e morte por todos os lados, e de que todos têm conhecimento, de repente são delicadas demais para serem discutidas. Todo mundo está ciente delas, mas, como todas as instituições oficiais estavam envolvidas, todas as instituições oficiais ficam quietas. O resultado é que o grande acerto de contas de que precisamos para recomeçar está mais distante do que nunca.
Enquanto isso, temos Robert F. Kennedy Jr. dando inúmeras entrevistas públicas, como pré-candidato presidencial, declarando coisas impressionantes, como 1) a CIA matou seu tio, que era presidente em 1963; 2) as agências de informação trabalham com a Big Pharma nas pesquisas de “ganho de função” para criar e curar novos vírus assassinos; 3) os lockdowns já estavam planejados desde 2001; 4) os lockdowns de março de 2020 foram um golpe de Estado contra a democracia representativa; 5) neste momento as agências do deep state que estão governando os Estados Unidos não têm nenhuma consideração pela Constituição nem pela ideia de liberdade.
Ele fala tudo isso sem nenhuma timidez e com muito conhecimento e riqueza de detalhes. Ele apresenta as evidências. Na verdade, RFK escreveu vários livros sobre esses temas. As pessoas ouvem e pensam “nossa, isso é muito interessante” e vão ouvi-lo falar, sem achar que ele tenha nenhuma chance de ser presidente, apesar de sua enorme popularidade, porque, essencialmente, o esquema está montado.
Biden já foi escolhido para receber a indicação, o que comprova o argumento de Robert F. Kennedy Jr. Enquanto isso, nunca ouvi nenhum repórter nem li nenhum artigo que o questionasse sobre os fatos. É como se todos soubéssemos que o que ele está dizendo é verdade, mas, mesmo assim, ninguém pudesse fazer nada. Então ele é tolerado como um rebelde excêntrico de linhagem nobre, mas é melhor para todo mundo ignorá-lo.
Sem dúvida é um momento muito estranho na história política dos Estados Unidos. Temos uma linha de pensamento tomando conta da população — ela é baseada em incredulidade e fúria em massa — e outra que é uma camada de normalidade aplicada sobre a nossa raiva de todas as instituições oficiais, que trabalham duro para manter todos esses tópicos longe das conversas respeitáveis. Enquanto isso, toda a Academia, a mídia social mainstream, a grande mídia e o governo parecem concordar que esses tópicos óbvios são muito incendiários para serem levantados por pessoas educadas.
Dessa forma, todos no nível mais alto desse consenso fabricado estão felizes em participar desse grande jogo de faz de conta. Enquanto isso, as pessoas sabem perfeitamente que os setores de informação estão profundamente envolvidos em áreas da vida que costumávamos considerar independentes. E desconfiamos de que isso seja verdade até para organizações e publicações que considerávamos mais ou menos confiáveis. De que outro modo poderíamos explicar o silêncio e/ou as mentiras em relação a todos os problemas cruciais do nosso tempo?
Quanto a todas as instituições que confinaram a população apenas alguns anos atrás, nada mudou. Claro, algumas decisões judiciais disseram que elas foram longe demais, mas todas estão sendo contestadas e aguardam apelações na Suprema Corte. Enquanto esses processos exaustivos correm, Google, YouTube, Facebook, LinkedIn e todas as nossas antigas plataformas de mídia social gratuitas iniciaram uma censura mais brutal do que nunca. O YouTube chegou a anunciar que não vai tolerar nenhum conteúdo que contradiga a Organização Mundial da Saúde, que apenas três anos atrás recomendou ao mundo inteiro os lockdowns inaugurados pelo Partido Comunista Chinês em Wuhan.
Nos últimos dias, meu próprio telefone disparou com pessoas aterrorizadas por um novo lockdown. Elas estão preocupadas em deixar o país por medo de novas restrições de viagem. E se preocupam com novas vacinas obrigatórias para seus filhos na escola. Elas estão pensando em se mudar para a Flórida e para longe das grandes cidades litorâneas, onde a criminalidade piora a cada dia e boa parte dos prédios está vazia porque os trabalhadores não voltaram. E a canção número 1 do mundo todo (Rich Men North of Richmond, de Oliver Anthony) lamenta a crueldade deste novo mundo e como ela está levando as pessoas a uma morte prematura.
Quem teria imaginado que um colapso desse nível aconteceria diante de nossos olhos, que todo mundo veria isso acontecer e, mesmo assim, todos os organizadores da cultura imporiam uma fatwa a qualquer um que tocasse no assunto?
Sem dúvida, eu nunca imaginei esse cenário. Durante toda a vida cantamos sobre a “terra dos homens livres e o lar dos corajosos”, mas aqui estamos, sem liberdade e sem coragem. Por causa da tecnologia de reconhecimento facial, não podemos mais sair às ruas. Foi para isso que a ofensiva pós-6 de janeiro serviu: uma lição de que, se resistirmos pessoalmente, seremos reconhecidos e tratados com severidade.
O silêncio sobre a verdade é absolutamente ensurdecedor. Não só não estamos recebendo respostas para nossas perguntas; nem sequer estamos recebendo perguntas fora de alguns poucos espaços, incluindo este.
A trilha sonora do fim dos tempos não é Mahler nem Wagner. São as músicas de videogames ou de dancinhas do TikTok
Enquanto isso, as maiores esperanças para salvar o país da ruína estão nas mãos do próprio chefe do Executivo sob o qual tudo isso começou. E por quê? Porque as pessoas acreditam que ele foi enganado e convencido a aprovar esse desastre, ainda que ele nunca tenha realmente dito nada desse tipo. É a única esperança que as pessoas têm. Uma esperança frágil, de fato.
Quando li 1984, de George Orwell, pela primeira vez, pareceu uma fantasia e um alerta sombrio e implausível. Nunca imaginei que fosse ver de fato um reductio ad absurdum de uma realidade que ele viu acontecer diante de seus olhos no totalitarismo cada vez maior de sua época. Descobrimos que ele estava profetizando o grau de corrupção a que pode chegar na prática uma sociedade altamente politizada, excessivamente burocratizada, em que o carreirismo supera a coragem e o nexo do dinheiro dissemina a mentalidade coercitiva pelo alto comando da ordem social.
Estamos descobrindo isso agora. A trilha sonora do fim dos tempos não é Mahler nem Wagner. São as músicas de videogames ou de dancinhas do TikTok, com ecos sombriamente distantes de um simples cantor country na Virgínia lamentando os ricos ao norte de Richmond.
Jeffrey A. Tucker é fundador e presidente do Instituto Brownstone. Ele também é colunista sênior de Economia do Epoch Times, além de autor de dez livros, incluindo Liberty or Lockdown, e de milhares de artigos publicados na imprensa acadêmica e popular. Ele fala amplamente sobre economia, tecnologia, filosofia social e cultura.
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