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Ilustração: Shutterstock
Edição 183

A ideologia da inveja

Aqueles que, guiados por instintos primitivos, fingem defender a igualdade enquanto condenam a propriedade privada, a competição, o lucro representam uma ameaça à civilização

Rodrigo Constantino
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Lula fez seu discurso na ONU esta semana, sendo aplaudido por uma elite culpada enquanto recebia o desprezo de Zelensky, presidente da Ucrânia. O petista disse platitudes, acendeu velas para os globalistas ao falar das “mudanças climáticas”, foi extremamente cínico ao defender a democracia ao mesmo tempo que defende o regime ditatorial cubano, e cobrou mais combate às desigualdades. O foco aqui será este último ponto, crucial para o petismo.

A obsessão da esquerda é sempre com a desigualdade, não com a pobreza em si. Isso ocorre pois os esquerdistas partem de uma premissa absurda de que a economia é um jogo de soma zero, onde João ficou rico porque tirou algo de Pedro. Por essa ótica falsa, o Estado teria o papel de promover a “justiça social”, tirando de João e dando para Pedro para “combater as desigualdades” — e ficando com enorme pedágio no processo, pois esses “ungidos” precisam ser bem recompensados por seu esforço de Robin Hood.

Se retirarmos o véu que cobre os motivadores reais por baixo do adjetivo “social”, fica evidente que essas pessoas falam em desigualdade material apenas, nada mais. Estão condenando o fato de que alguns indivíduos conseguiram recompensas monetárias acima dos outros. Em suma, estão olhando somente para a conta bancária, como se nada mais existisse na vida. 

Ilustração: Shutterstock

Eles sabem que se usarem o termo verdadeiro, perderão a pose de nobreza que vem como resultado do uso do adjetivo “social”. Ora, desiguais os seres humanos já são ao nascer! A genética é diferente, as paixões e interesses, a educação em casa, os anseios e metas, a inteligência e o esforço, até a sorte, claro. É simplesmente impossível atribuir peso para cada um desses itens, e é o resultado dessas características na livre interação dos indivíduos que vai determinar as recompensas financeiras.

Isso não quer dizer valor, no sentido de estima, que é mais subjetivo. Um médico pode ser mais respeitado como indivíduo do que um jogador de futebol, ainda que o último tenha uma conta bancária maior. Isso é injusto? Aqueles que pensam que justiça seria tirar na marra o dinheiro do jogador para dar ao médico estão assinando um atestado de materialistas, que só enxergam dinheiro na frente. E autoritários, claro, pois isso fere a liberdade individual.

Como disse Benjamin Franklin, “aquele que é da opinião que dinheiro fará qualquer coisa pode muito bem ser suspeito de fazer qualquer coisa por dinheiro”. O caráter e a felicidade das pessoas não podem ser medidos pelo bolso. Há pobres decentes e felizes, e ricos imorais e infelizes. No entanto, parece ser justamente isso que os igualitários defensores da “justiça social” pensam. Eles apontam a desigualdade material e clamam por “justiça social”, ou seja, saldos bancários similares. Eles não querem necessariamente melhorar as oportunidades dos mais pobres, e sim focar os ricos, avançar sobre a riqueza que construíram.

Foto: Anton Vierietin/Shutterstock

O esforço não é garantia de sucesso no livre mercado competitivo. Aqueles que tentaram e não conseguiram a mesma recompensa que o vizinho podem ser alimentados pela inveja. Ainda que compreensível, tal sentimento é destrutivo, uma paixão mesquinha, como disse Adam Smith. O invejoso trabalha contra o interesse da sociedade, dos indivíduos. Somente quando o processo de mercado determina a recompensa financeira há um funcionamento eficiente da economia, permitindo maior criação de riqueza e conforto material para todos. 

O foco de quem realmente se preocupa com os mais pobres deveria ser a pobreza em si, não as desigualdades, já que riqueza não é um bolo fixo. Um indivíduo fica rico no livre mercado somente criando valor para os demais

Aqueles que, guiados por instintos primitivos, fingem defender a igualdade enquanto condenam a propriedade privada, os livres contratos, a competição, o lucro e até mesmo o próprio dinheiro representam uma ameaça à civilização. Eles acham que são movidos pelo senso de justiça e que podem definir de cima para baixo como arranjar os esforços humanos da melhor forma para atender seus desejos, mas estão profundamente enganados. Seus meios promovem apenas mais miséria e escravidão.

Eis o que está por trás da máscara da maioria dos combatentes das “desigualdades sociais”. Afinal, o foco de quem realmente se preocupa com os mais pobres deveria ser a pobreza em si, não as desigualdades, já que riqueza não é um bolo fixo. Um indivíduo fica rico no livre mercado somente criando valor para os demais. Michael Dell, Steve Jobs, Elon Musk e tantos outros empreendedores não tiveram que tornar ninguém mais pobre para ficar bilionários. Muito pelo contrário: eles ficaram ricos criando riqueza para os seus consumidores. 

Foto: Shutterstock

Quem pretende acabar com as desigualdades está mirando apenas a relação entre ricos e pobres, ignorando que os pobres melhoram de vida se os indivíduos puderem ficar ricos. Se antes o meu transporte era uma carroça e agora posso andar de carro, não importa se meu vizinho tem uma Ferrari. Minha qualidade de vida melhorou, meu conforto é maior, graças ao capitalismo. Países mais capitalistas e livres podem ter muita desigualdade, mas têm também muito menos pobreza. Já nos países socialistas são todos iguais na miséria, à exceção, claro, da casta no poder.

Focar apenas as desigualdades materiais, ainda por cima disfarçando isso com o uso inadequado da palavra mágica “social”, é um atentado contra a civilização, principalmente contra os mais pobres. Vamos atacar a miséria em si, e isso se faz com o capitalismo de livre mercado. Mas deixemos as desigualdades “sociais”, leia-se “materiais”, em paz. Elas são fundamentais para preservar a ordem espontânea que cria riqueza e reduz a miséria.

Leia também “O controle da linguagem”

25 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Excelente análise, Rodrigo Constantino.

  2. Antonio Carlos Almeida Rocha
    Antonio Carlos Almeida Rocha

    há um discurso no parlamento da Tatcher respondendo a um desses parasitas esquerdistas exatamente essa lógica. Ela usa as mãos para para mostrar a diferença entre ricos e pobres. Depois levanta as duas mãos mantendo a distância entre elas para mostrar que a diferença construída pela iniciativa privada, embora continue existindo, beneficiou os pobres também (pois eles subiram de patamar). É a lógica da diminuição de imposto para lanchas no governo Bolsonaro, por exemplo. O rico que compra uma lancha, movimenta em seguida vários empregos de apoio. Qual é o mal nisso? os parasitas da esquerda (desculpe-me o pleonasmo) nao se conformam que a competência de alguns se traduza em acumulo de riqueza. Eles querem o que o rico acumulou sem ter que se esforçar e ter competência para isso. E nao estão nem aí se o rico quebrar e acabarem os empregos que ele gera, ou se ele for embora do país (como muitos estão fazendo)

  3. JOSE TADEU MOURA SERRA
    JOSE TADEU MOURA SERRA

    BELISSIMO TEXTO ,CONSTATINO É MAXIMO.

  4. JOSE TADEU MOURA SERRA
    JOSE TADEU MOURA SERRA

    Um Texto belíssimo ,graças a DEUS temos um CONSTANTINO que recebeu de DEUS Sabedoria e Conhecimento e distribui conosco LEITORES .
    Assim ficam satisfeitos ELE e nós seus LEITORES .

  5. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Excelente!!

  6. JHONATAN SURDINI
    JHONATAN SURDINI

    Achava que só eu tinha visto visto! É puro uso do pecado capital da INVEJA. Bobo quem acredita.

  7. Rosaly Chansky
    Rosaly Chansky

    Como sempre você é sensacional!

  8. Herbert Gomes Barca
    Herbert Gomes Barca

    excelente análise Constantino !!

  9. Geraldo Mahon
    Geraldo Mahon

    Gostaria de ver mais artigos ee outros , sobre: APOSENTADORIAS DE R$ 100,000,00 cEM MIL REAIS) ESSE E O BSURDO>
    .

  10. MNJM
    MNJM

    Excelente texto, exatamente o que o desgoverno do PT sabe propor. Não quer proporcionar ao indivíduo capacitação, , quanto mais ignorante melhor.

  11. COLETTO ASSESSORIA EM SEGURANÇA DO TRABALHO LTDA
    COLETTO ASSESSORIA EM SEGURANÇA DO TRABALHO LTDA

    BELA E COMPETENTE ANALISE !!!!!
    DEVERIA SER A LEITURA OBRIGATORIA DAS PESSOAS QUE UTILIZAM A PALAVRA ” SOCIAL” SEM UMA LEITURA DORRETA DELA APENAS PARA TRANSFERIR O SUCESSO DO OUTRO PARA QUEM NUNCA LUTOU POR ISSO E COM UM AGIO NA TRANSFERENCIA ” PARA A LUTA SOCIAL ” DE UM BANDO DE PARASITAS.

    1. Alzira Conceição Pacheco de Lima
      Alzira Conceição Pacheco de Lima

      Os esquerdistas sobrevivem criando rancor, ódio e inveja entre a população. Eles jamais pretenderam oferecer a condição básica para o desenvolvimento dos menos favorecidos que é a educação, não educam, doutrinam os incautos para tomarem na força o que muitos conseguiram trabalhando, enquanto aqueles se lamentavam e se consideravam injustiçados pela sociedade. Haja desfaçatez!

  12. Oldemar Reis Sebalhos
    Oldemar Reis Sebalhos

    Parabéns pelo excelente artigo. Muito didático, até para um esquerdista!!!!

  13. Ana Kazan
    Ana Kazan

    Rodrigo, parabens e muito obrigada pela clareza,

  14. Nilson Octavio Campos Lobo E Silva
    Nilson Octavio Campos Lobo E Silva

    Focar na pobreza e não na desigualdade. Eis o cerne do artigo. Uma vez que somos diferentes desde que nascemos, uns mais laborativos, outros mais afeitos à deitar na rede, é natural e justo que uns tenham mais que os outros. A liberdade dada aos mais capazes invariavelmente refletirá sobre os outros puxando-os para condição de vida melhor. Foi perfeito o exemplo da Ferrari. Num país rico e livre para empreender, as pessoas, ao verem alguém passar com um carrão pensam: “vou trabalhar pra ver se consigo comprar um desses”. Já em países onde se apregoa a famigerada “justiça social” as pessoas estariam torcendo para ver o carrão ser abalroado. O socialismo é, realmente, a ideologia da inveja.

  15. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Esses bandidos comunistas terroristas ladrões estão pensando que as pessoas não sabem o que é comunismo e comunista. Hoje com o celular, ou seja a IA nas mãos, todos entendem o que é a política. Onde foi implantado o socialismo a sociedade foi ao caos, os exemplos estão aí na cara de todos. O Brasil tá andando na contra mão com um bandido colocado no poder pelo STF e TSE na fraude eleitoral, resta a população anular essa bandidagem e o Brasil voltar a tomar seu rumo certo combatendo veementemente o crime e o criminoso.

  16. Carlos Alberto Carravetta
    Carlos Alberto Carravetta

    Parabéns, Consta! Brilhante!

  17. Isabel
    Isabel

    Excelente!

  18. Flavio Casaccia
    Flavio Casaccia

    Tens toda razão Constantino. Nós países que se proclamam socialistas , os dirigentes tornam todos iguais, acabam com os ricos e não acabam com a pobreza. Só os apaniguados ficam bem.

  19. Débora Vicente Martins
    Débora Vicente Martins

    Excelente 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

  20. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    O Brasil vai na contramão de absolutamente tudo que está escrito por Constantino.As falácias de um regime esquerdista e ditador já estão presentes em nossas vidas.Esse governo não se sustenta,como sobreviver em um país onde seu presidente acena em um dia de comemoração nacional para absolutamente ninguém, vi imagens de Lula em um Shopping ,também acenando para o vácuo. Representa a imagem de um governo falido em todos aspectos.

  21. Cassiano Moreira Machado
    Cassiano Moreira Machado

    MAIS UM TEXTO BRILHANTE! SÃO TEXTOS ASSIM QUE NÃO ME DEIXAM ENLOUQUECER COM O PROSELITISMO E CINISMO ESQUERDISTA. ACRESCENTO: A IGUALDADE TOTAL SERIA UMA TREMENDA INJUSTIÇA!

  22. Paulo RS
    Paulo RS

    Análise inteligente, moderna e lúcida. Parabéns.

  23. Adriana Fossa
    Adriana Fossa

    Parabéns mais uma vez, Rodrigo. Justamente o que essa turma (não vou perder tempo com outros adjetivos) quer. Fala em desigualdade, mas querem todos iguais na pobreza. Justamente como fazem com o sofrido povo do Nordeste. Simples assim.

  24. RODRIGO DE SOUZA COSTA
    RODRIGO DE SOUZA COSTA

    Incrível que um texto cristalino desse não seja amplamente compreendido por parte da sociedade. Chega a ser óbvio.

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