Aos 74 anos, Valdemar Costa Neto comanda um partido político com a estatura que jamais imaginou. Em 2006, o hoje gigante Partido Liberal (PL) precisou de uma fusão às pressas com o Prona, de Enéas Carneiro, e mudou o nome para PR (Partido da República) para sobreviver — superar a cláusula de barreira, ou votos mínimos para a Câmara dos Deputados. Foi uma época em que o então deputado federal Valdemar Costa Neto teve de renunciar ao mandato para não ser cassado pelas denúncias do mensalão — foi condenado e cumpriu o início da pena na Papuda. Jamais largou a política, continuou dando as cartas na sigla e, no final de 2021, fez uma grande — e arriscada — jogada: filiou o então presidente Jair Bolsonaro.
O resultado foi estrondoso nas urnas: elegeu cem cadeiras na Câmara, uma bancada jamais pensada para uma legenda que sempre foi satélite, ganhou musculatura no Senado, em assembleias estaduais e capilaridade municipal por causa da base conservadora dos parlamentares que seguiram Bolsonaro. É claro que vieram problemas: a perseguição do Judiciário contra a direita, com uma multa desproporcional de R$ 22 milhões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a dificuldade de compor o tabuleiro eleitoral nas eleições para prefeito em 2024 — sobretudo em São Paulo.
Valdemar recebeu a reportagem de Oeste na terça-feira, 19, em Brasília. Mencionou o nome de Bolsonaro mais de 20 vezes: “Ele nunca teve disposição para fazer nada fora da lei”. Falou das pretensões de chegar ao final do ano com a maior bancada também no Senado. E afirmou que o dia 8 de janeiro “foi uma bagunça, jamais um golpe de Estado”.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
O PL faz oposição a Lula, mas alguns deputados votaram com o governo em algumas matérias. O que o partido pretende fazer?
No Brasil, alguns Estados do Nordeste e do Norte são muito pobres. Até mesmo um posto de saúde nesses locais não tem insumos para fazer curativos. Então, se o deputado desse Estado não leva recursos, ele está morto politicamente, pois foi eleito pelo vereador e pelo prefeito. Por isso, eles votam em algumas pautas com o governo para sobreviver. Mas eles são de direita. Nas pautas conservadoras, vamos ter todos os 99 votos. Agora, nas pautas que não são conservadoras, mais relacionadas aos impostos, teremos essa dissidência de 25 a 30 deputados. Temos que ter paciência, pois o pessoal da direita mais forte fica chateado com os outros. Eles precisam entender que todos somos diferentes. Cada um tem seus interesses e representam esses interesses, pois esses Estados são muito pobres.
O partido aceitaria ministérios no governo?
Nenhum. Zero. Falaram que tem gente do PL que tem cargo no governo. Eu quero ver, porque, se tiver, vou convidar a sair do partido. Não podemos participar do governo. O PT fez uma reunião e colocou na pauta que poderia se aliar ao PL; o pessoal enlouqueceu. Nós não vamos coligar com eles. O PT fez isso para criar problemas.
Existe um plano para filiar mais parlamentares no Senado?
Conversei com um representante do senador Izalci Lucas (PSDB-DF) há pouco. Vamos fazer a maior bancada do Senado. Até o final deste ano, queremos chegar a 17 ou 18, pois temos mais um mandato pela frente, são três anos e meio. Preciso “tourear” o Bolsonaro, pois os senadores querem vir com o apoio dele. A condição é essa. Eles querem o “222” para se reeleger em 2026. Estou trabalhando para trazer o Izalci para o PL, mas dependo da deputada Bia Kicis, do Bolsonaro. O Rogério Marinho (RN) e o Carlos Portinho (RJ) vão se reunir comigo para discutir isso. Tem alguns senadores que desejam vir, mas dependemos do Bolsonaro.
O senador Izalci é do PSDB, que já foi muito grande e está prestes a perder até a sala da liderança — tem apenas dois parlamentares. Onde o PSDB errou?
Um fator muito ruim para o partido foi o ex-governador de São Paulo João Dória. Ele foi eleito nas costas do Bolsonaro. Quando se elegeu governador, apostou que o Bolsonaro não ia dar certo. Na pandemia, o Bolsonaro fez tudo o que deveria fazer — as vacinas, deu dinheiro para mais de 5 mil municípios no Brasil, para todos os 27 Estados —, e ninguém disse que ele ajudou. Acho que errou quando falou sobre a vacina, confundiu as mulheres, por isso perdeu muitos votos. Se ele não tivesse feito aqueles comentários na pandemia, se reelegeria no primeiro turno. Agora, isso também passa, pois ele tocou bem o país, a economia reagiu. Bolsonaro não dava cargo, mas dinheiro para o deputado levar ao município.
Com que tamanho o senhor acha que o PL vai sair das eleições de 2024?
Estamos estudando as capitais. Em alguns lugares, vamos acompanhar outros candidatos. Por exemplo, em São Paulo, a tendência é acompanhar o MDB, do atual prefeito, Ricardo Nunes. Se o Guilherme Boulos ganhar, vai ser um prejuízo danado para o município. Se for o melhor caminho seguir com o Nunes, iremos com ele. Ainda não está fechado, pois o Bolsonaro é quem vai resolver. Não dou mais palpite sobre isso. Desde que o Bolsonaro disse que ia eleger o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o senador Marcos Pontes (PL-SP), não falo mais nada. Na época, o Tarcísio queria ser senador. Eu sabia que ele faria um bom governo, mas não tinha certeza de que o povo votaria nele. Bolsonaro sabia que o Tarcísio cresceria. Quero que o Bolsonaro acerte o prefeito de São Paulo pelo bem da cidade.
O PT não ter um candidato próprio pode influenciar na campanha do PL?
Foi um erro o presidente Lula ter fechado com o Boulos. Muitas pessoas de prestígio em São Paulo não querem o Boulos como prefeito, pois sabem que ele vai dar uma “banana” para eles. Se Boulos ganhar, vai acabar com São Paulo e querer ser candidato à Presidência contra o Lula em 2026, com o dinheiro e a estrutura da máquina paulistana. A nossa ideia é montar uma frente nas eleições de 2024: todos contra o Boulos. A direita contra a esquerda.
Existe o nome de um possível vice-prefeito na capital paulista. Em entrevistas, o senhor chegou a mencionar a Marta Suplicy…
Essa história da Marta Suplicy foi um repórter que me perguntou. Além disso, teve um vereador do PL em São Paulo que mencionou o nome da Marta, pois ela é a única que tira votos do Boulos. Ela tem votos na periferia. Outro nome que surgiu foi o do vereador Milton Leite (União Brasil-SP), que também tira votos do Boulos. Vamos ver o que o Bolsonaro vai achar de tudo isso. Ele que vai decidir quem será o candidato a prefeito e a vice. Bolsonaro não vai querer a Marta, pois ela é do PT. Algum nome do PL também pode ser encontrado. Ele precisa fazer essa mágica. São Paulo é uma cidade de centro.
Questões relacionadas à zeladoria da cidade e à cracolândia também pesam contra Ricardo Nunes. Como o PL vê isso?
A cracolândia é um problema, pois não podemos fazer o que precisa ser feito, que é a intervenção compulsória ou prisão — só sai quando se livrar do vício. Agora, o prefeito precisa cuidar disso. O Nunes alugou hotéis para eles no centro da cidade, mas eles não querem. Precisamos fazer uma lei para acabar com a cracolândia. Eles não querem ficar no lugar apropriado, querem ficar na rua para pedir dinheiro, comprar drogas e atormentar os outros. O Nunes gasta uma fortuna com isso. Na Câmara, tem um deputado nosso que está estudando essa questão. Eles não podem fazer isso, acabar com a vida dos outros. O cara trabalha para comprar um imóvel, construir um mercadinho, e a pessoa fica lá na frente…
Quantos prefeitos o PL tem hoje e quantos pretende ter em 2024?
Teremos 1,5 mil candidatos a prefeito. Isso está completamente ligado aos deputados federais e estaduais. Atualmente, temos 480 prefeitos eleitos.
“Uma pessoa com um pedaço de pau atacou o país? Aquilo foi uma bagunça. O PT teve culpa porque não colocou o devido policiamento”
Jair Bolsonaro é o líder da oposição no Brasil? Sem ele elegível, quem o partido projeta como líder nacional?
Sim, é o líder. Não pensamos na questão da inelegibilidade ainda. O Bolsonaro vai ter chance. Estamos recorrendo ao Tribunal Superior Eleitoral e vamos recorrer ao Supremo Tribunal Federal depois. Daqui a dois anos, o Poder Judiciário pode mudar o comportamento e dar ao Bolsonaro a chance de ser candidato novamente, pois ele não cometeu nenhum crime. Ele está sendo condenado pelo que falou das urnas? Podemos falar tudo o que quisermos. Não tinha lei para condená-lo. Mas isso pode ser revertido. As coisas mudam muito. Contudo, caso não aconteça, há excelentes nomes para se candidatar: Tarcísio e os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Jr. (PSD-PR), Jorginho Mello (PL-SC)… Tem gente muito boa.
O partido conversa com o governador Tarcísio para trazê-lo para o PL?
Isso nunca foi discutido com o partido, mas acho que é cedo para isso. O Tarcísio pode decidir alguma coisa amanhã ou depois. Ele é bem-vindo em qualquer partido, pois tem apoio popular. Se ele quiser vir para o PL, faço uma festa para ele. E, se ele for candidato à Presidência, terá de vir para o PL.
Algumas publicações disseram que, depois das eleições, Bolsonaro teria procurado o senhor para saber se a classe política apoiaria a convocação dos militares para interferir no STF. Isso aconteceu?
Isso é conversa mole. O Bolsonaro nunca tocou nesse assunto comigo. Uma vez eu conversei sobre isso com ele, pois as pessoas me cercavam no aeroporto indagando se eu deixaria o presidente Lula assumir. Eu respondi que havia acabado a eleição. Conversei com o Bolsonaro e disse que o pessoal não parava de falar de golpe, que tinha um artigo tal na Constituição, e não tinha nada. O Bolsonaro respondeu que isso era impossível, que o artigo da Constituição não falava nada sobre isso. Ele nunca pensou nisso. Era um tormento as pessoas vindo atrás de mim para falar sobre esse assunto. O Bolsonaro nunca teve disposição para fazer nada fora da lei.
O portal Metrópoles publicou que o senhor acha que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, será candidato à Presidência da República. Confirma?
Não tenho dúvidas. Para fazer as coisas que ele está fazendo? É potencial candidato. Ele não poderia julgar esse pessoal [pelo 8 de janeiro] dizendo que era um golpe contra o país. Um golpe de um lascado? Uma pessoa com um pedaço de pau atacou o país? Aquilo foi uma bagunça. O PT teve culpa porque não colocou o devido policiamento. Parece até que o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general G. Dias, não telefonou para ninguém pedindo apoio. Ou que eles sabiam que aquilo ia acontecer. Só protegeram a sala do Lula.
Como o senhor avalia a CPMI do 8 de Janeiro?
Foi um erro da oposição. Quando vi o deputado André Fernandes (PL-CE), que é um excelente deputado, coletando assinaturas, pensei em falar com ele, mas não falei. A bancada pensaria que eu estava protegendo o PT. Mas eu ia falar para não fazerem essa CPMI. Uma CPMI só faz sentido quando se tem maioria. Agora o governo quer investigar joias, golpe de Estado.
O ministro Moraes homologou a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid com a Polícia Federal. Como o senhor avalia essa questão?
Não tenho a menor preocupação. Só fico chateado com o que aconteceu com ele, mas não tenho preocupação nenhuma, pois sei que não tem nada de dinheiro público envolvido, e isso dá uma tranquilidade grande para nós.
Depois de tantos anos na política, o que aconteceu com a Praça dos Três Poderes?
O STF está exagerando, e queremos que a estabilidade volte, que o Congresso, o Executivo e o Judiciário cumpram o seu dever. Precisamos ter um equilíbrio, pois a situação atual gera insegurança. O Senado tem um grande peso nisso, inclusive para julgar o Supremo e defender o Congresso. Quem manda no Congresso é o presidente do Congresso. Precisamos ter um entendimento entre os Três Poderes para cada um respeitar os limites.
O STF quer riscar a Lava Jato da história?
O Moro cumpriu a obrigação dele, mas saiu do eixo. Extrapolou. Um juiz que estava ali para defender a lei não podia desrespeitá-la. Por exemplo, na primeira convocação do Lula, obrigaram ele a depor coercitivamente. Ele era um ex-presidente, por que não intimá-lo para determinado dia? Isso transpareceu que o Moro tinha aspirações políticas — e tinha, pois se tornou ministro do Bolsonaro.
Como o senhor vê a atuação do Moro na Lava Jato e depois da política hoje em dia?
O grande problema do Moro foi que ele extrapolou os limites da lei. Ele tinha que fazer o que fez, mas extrapolou. Quando um camarada que tem que defender a lei extrapola os limites da lei, paga caro. Por que o Moro fez isso? Porque a imprensa inteira estava do lado dele. Virou o herói do Brasil. O Alexandre de Moraes, às vezes, parece estar no mesmo caminho. Ele não pode julgar no STF alguém que deveria ser julgado na Primeira Instância, por exemplo. Quer prender alguém porque ele pode colocar em risco a democracia? Que golpe?
Em 2022, o ministro Moraes multou o partido em quase R$ 22,9 milhões, depois que o PL pediu a verificação das urnas antigas usadas na eleição de 2022. O partido já quitou essa dívida?
Foi uma loucura. Isso foi o maior absurdo da história. E o ministro Alexandre de Moraes não respondeu à pergunta que eu fiz. Ele não explicou o motivo de o Bolsonaro ter ganhado nas urnas novas e perdido nas velhas. Nem eu sei o motivo. Esse valor da multa acho que foi para fazer graça. Recorremos, mas não sei se vamos reaver o dinheiro algum dia. A mesma coisa aconteceu no julgamento do Bolsonaro, que foi no dia 22. Ele tinha outros 30 dias para escolher.
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É triste ver pra qual rumo o país está tomando depois que um sujeito como Lula voltou ao poder.
Eu não suporto esse Waldemar, infelizmente na política brasileira temos que conviver com esse tipo