Crises de ansiedade, insônia, tonturas constantes, aspecto triste e autoisolamento. Essas são algumas sequelas que a prisão de nove meses na Papuda deixou no cacique Serere, líder da tribo Xavante. Solto em 9 de setembro, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Serere agora é mais um na multidão que se tornou prisioneira do medo no Brasil. Assim como a maioria dos que aguardam julgamento no purgatório dos inocentes, ele usa tornozeleira eletrônica e tem várias restrições. Esse estado de coisas mostra que quem tem a vida interrompida pelo brusco desaparecimento de horizontes raramente escapa do forte abalo emocional.
Habituado a andar pelos mais de 200 mil hectares da terra indígena Parabubure, no interior de Mato Grosso, Serere passa horas perto da tomada para recarregar o equipamento e também não pode ultrapassar o raio de 1 quilômetro da casa onde mora com a mulher, Sueli, e seis filhos, em Aragarças (GO), a cerca de 400 quilômetros de Goiânia. Além disso, Serere só pode sair de casa às 6 horas e precisa voltar até as 18 horas. Se violar as determinações judiciais, pode retornar ao inferno onde ficou trancafiado desde dezembro de 2022, por protestar contra a eleição do presidente Lula e proferir ofensas contra ministros do STF.
No mês seguinte à prisão, Serere publicou uma carta, na qual pede desculpas pelas palavras fortes que dirigiu contra Alexandre de Moraes e os demais juízes do STF. No documento, o indígena afirma que “nunca defendeu ruptura democrática”, apenas criticou a vitória de Lula na eleição de 2022. Declarou também que não acredita na violência como método de ação política. “Entendo que o amor, o perdão e a conciliação são os únicos caminhos possíveis para a vida em sociedade”, afirma Serere, no texto endereçado à Corte.
Antes da carta, ele divulgou um vídeo pedindo a seus apoiadores para não cometerem violência ou vandalismo como reação à sua prisão. Nas imagens registradas diretamente da sede da Polícia Federal em Brasília, o cacique aparece falando em sua língua nativa, o aquém. “Não venha fazer conflito, briga ou confronto com autoridades policiais”, orientou o indígena. Na ocasião, a capital federal sofrera com ataques a prédios públicos e destruição de carros e lixeiras. Os atos teriam sido incitados por Serere. A Justiça também acusou o indígena de provocar distúrbios no Aeroporto de Brasília, teses rechaçadas pela defesa do cacique. Durante esse período, a Funai e o Ministério dos Povos Indígenas não prestaram auxílio a Serere.
Emocional abalado
Em conversas com o advogado Geovane Pessoa, que atua na defesa de Serere, Sueli diz não reconhecer o marido algumas vezes, em razão da impaciência e da pressa que ele tem para “resolver tudo na hora”. A mulher relata que tem de ter muita calma, sobretudo nas noites que passa em claro, por causa das andanças do indígena pela casa. Serere tem tido dificuldades para dormir, devido aos traumas que sofreu na cadeia. Motoboy e com bastante vontade de trabalhar, ele fica visivelmente nervoso quando lembra que não pode se afastar muito de onde mora, optando, então, por ficar dentro de casa e ajudar nos afazeres domésticos, os quais também o irritam facilmente.
A tornozeleira não só o impede de ganhar dinheiro, como também de dar seguimento ao tratamento da diabetes tipo 2. Segundo Pessoa, um laudo médico constatou que o indígena corre o risco de perder membros do corpo se não tratar a doença de forma adequada. “Há momentos em que a visão dele fica turva”, disse. A enfermidade se agravou ainda na Papuda, quando Moraes ignorou os pedidos da defesa para mudar o cardápio do indígena — que não pode comer determinados alimentos, sob risco de passar mal — e fornecer os medicamentos necessários para amenizar a doença.
O local onde Serere reside atualmente é precário. Quando chove, a água entra nos três cômodos da casa pelas inúmeras goteiras no telhado, molhando os poucos eletrodomésticos que a família tem
Há poucos dias, Pessoa entrou com requerimentos para tirar a tornozeleira e, assim, propiciar um atendimento adequado a Serere. Como o cacique não tem plano de saúde, tampouco condições de bancar um tratamento particular, a defesa conseguiu apoio de uma médica de uma clínica em Lucas do Rio Verde (MT), a cerca de 900 quilômetros de onde mora Serere. “Em Aragarças, não tem hospital que ofereça o tratamento especializado de que ele precisa, tampouco na região”, afirmou Pessoa. “Consegui com uma médica, que, voluntariamente, pode atendê-lo em Rio Verde. Ela tem todo o equipamento. Mas precisa tirar a tornozeleira. Caso contrário, ele volta a ser preso.”
De acordo com o advogado, Serere fica muito comovido quando pensa na cerimônia que vai ocorrer em sua tribo, em 8 de outubro. Seu filho de 12 anos, Carlos, será agraciado com um título que o põe na linha sucessória da liderança. Como cacique, Serere deveria comparecer à liturgia. A tradição local diz que o pai tem de apresentar e abençoar o filho ao integrante mais velho para que o jovem assuma o posto, que tem responsabilidades. Geralmente, o patriarca orienta o escolhido sobre como proceder em determinadas situações e o prepara para o cargo.
Pessoa observou que Serere já cumpriu a pena — e por um crime que não cometeu, de acordo com o advogado. “O cacique pagou hora extra na Papuda”, queixou-se a defesa. “Não tem por que usar mais tornozeleira ou ter restrição.” Em março, Lindora Araújo, vice-procuradora-geral da República e responsável pelo requerimento de prisão do indígena ao STF no fim do ano passado, reiterou um pedido de soltura a Moraes. “‘Dona’ do caso, a PGR não via naquele mês mais motivos para Serere ficar no cárcere”, disse Pessoa. “Mesmo assim, ele ficou detido nesse tempo.”
Situação financeira delicada
Desempregados, sem condições de trabalhar para sustentar os filhos e sem parentes nas proximidades, Serere e Sueli sobrevivem da ajuda de uma igreja dos Estados Unidos. Brasileiro, o líder do templo norte-americano conhece há algum tempo o indígena, que, além de cacique, é pastor. O dinheiro, contudo, é pouco mais de um salário mínimo e não garante o sustento necessário. Paralelamente, há uma arrecadação de recursos, via Pix, que são depositados na conta de Sueli. Esses valores ajudam também nos reparos de que a residência deles precisa.
O local onde Serere reside atualmente é precário. Quando chove, a água entra nos três cômodos da casa pelas inúmeras goteiras no telhado, molhando os poucos eletrodomésticos que a família tem. No lugar da tinta nas paredes, há apenas reboco, e o imóvel precisa de uma reforma urgente. A situação não é muito diferente das demais casas ao redor da área semiurbana onde o imóvel está. A vila, chamada pelo advogado de “currutela”, tem um pequeno comércio, como padaria e mercado, mas apenas isso. Quando alguém tem problemas de saúde graves, precisa apelar para municípios distantes.
A casa de Serere foi comprada às pressas pela mulher, com o pouco dinheiro que lhe restava, logo depois da prisão do cacique. Isso porque indígenas de esquerda começaram a ameaçar a família de Serere, contou o advogado. O cacique achou por bem preservar os parentes e, da cadeia, transmitiu orientações para que trocassem a aldeia por um local mais afastado.
Se conseguir a liberdade real, Serere pretende reassumir o posto de cacique da aldeia, principalmente para dar continuidade ao trabalho social que fazia, como o de enfrentamento às drogas. O advogado do cacique conta que, desde que Serere foi preso, vários indígenas se entregaram de vez às drogas. Não é incomum vê-los pedindo dinheiro nas ruas de Campinápolis, onde fica a terra indígena Parabubure, para depois comprar crack e maconha de traficantes locais. O advogado lamenta, contudo, que a agonia de Serere, infelizmente, não tenha prazo para acabar.
Leia também “A escudeira de Flávio Dino”
Nunca imaginei , em meus piores pesadelos, que algum dia passaríamos por situação do tipo, totalmente fora do estado de direito. Verdadeiro acinte a um ser humano !
Não existe judiciário no Brasil. Nunca existiu. Quem acredita no estado é tolo.
Faltou o Pix da esposa do Serere na reportagem.
Gente!!!! Quanta injustiça sendo feita nesse país, que pesadelo…
A justiça se tornou relativa, assim como a democracia no Brasil. Aliás até o conceito de aborígene, que agora atende pela alcunha de “povos originários”, só vale para os alinhados a esquerda. Fico Indignado com isso.
O país está entregue ao crime organizado onde a Lei não tem mais espaço.
Vale o que os Supremos advogados togados decidem.
A população precisa reagir com urgência para colocar um basta nestes desmandos.
Nas outras colunas não consegui postar o comentário.
Parece que o ministério dos direitos humanos deste governo só protege quem tem ficha no partido.
A esquerda maldita não fica defendendo os índios contra tudo e todos. Cadê os vermes esquerdista para defenderem um índio que foi preso injustamente. Ah ele é um indio consciente e não é de esquerda, então não serve para os criminosos comuno socialistas. Deus tá vendo tudo. Quem planta o mal ainda há de pagar algum dia.
Não adianta comentar, abraços e viva o amor!!!!!!!!!!!!!!!
Serere disse que sua tribo toda votou em Bolsonaro, na contagem não apareceu nenhum, será que essa eleição foi também surreal? Que coincidência
Estou chocada com a desgraça importa ao cacique, que ainda é muito jovem. Nunca imaginei que ele ainda estivesse preso durante todo esse tempo.
Primeiramente, quanto ao título: Livramento ou liberdade condicional é o benefício que pode ser concedido a um condenado, que permite o cumprimento da pena em liberdade até total de sua pena. Pelo que eu sei, ele não foi condenado.
Em segundo lugar, a Procuradoria Geral da República não provou a participação de Sererê na destruição de carros e lixeiras.
Falta total de compaixão do Judiciário, Funai e demais entidades indígenas
Para os que mandam no Brasil, nem todos os índios são bons, só aqueles que eles podem controlar. Para a esquerda, o índio tem que colaborar com as ONG internacionais, fazer o jogo dos globalistas, ficar vivendo no mato sem poder progredir. Manter essas pessoas na mais absoluta ignorância, sem voz na sociedade, na miséria, é a vontade da esquerda. Para a esquerda a função dos índios é justificar a existência das suas reservas, grandes áreas do território nacional, separadas do país, sem soberania nacional e entregues a interesses que não são dos brasileiros.
Uns ficam como heróis para a posteridade, outros como covardes. Aí fica por conta de quem lê!
Agora reapareceu.
Meu comentário foi excluído. Por que?
Esse caso ilustra perfeitamente a crueldade sádica dos atuais donos do Brasil, e a maldade abjeta dos que os apóiam.
Toda ação tem reação igual porém em sentido contrário.