O Caso Bis é maravilhosamente didático. Não chega a ser revelador, porque expõe o que todos já deviam estar cansados de perceber. Mas, a partir dele, quem continuar falando em “sociedade dividida”, “polarização política” etc. é porque está gostando da brincadeira — ou então se distraiu além da conta e não pode ser levado a sério no “debate”.
O Caso Bis, com a polêmica aberta em torno da ideia hilariante de transformar chocolate em substância revolucionária, vanguardista, descolada, neohippie, neopunk, e outras rupturas de playground, é a apoteose do ridículo. Depois do cacau transgressor, só resta o nada.
Militante esquerdista era Luiz Carlos Prestes. Esse atravessava territórios marchando por sua miragem igualitária. Os revolucionários de internet não foram nem até a esquina por ideal nenhum
O Caso Bis decreta, de forma definitiva, irrevogável, inexorável, indelével e inapelável: a “guerra ideológica” é falsa.
Não tem guerra ideológica nenhuma. Tem uma burguesada com esmalte revolucionário para surfar nas oportunidades fúteis que o mercado oferece. Não tem filosofia alguma nisso. Nem ética. Nem política. Tem pose. Malandragem rasteira e pose. Oportunismo barato e pose. Pose. Pose. Para quem se distraiu: POSE. É tudo pose. E o que advém dela: graninha e poderzinho — que miseravelmente, graças a todos os que tratam essa bobajada como “guerra ideológica”, está virando poderzão.
Fermentar nerds carentes como líderes de massa dá nisso. Figuras de teclado alçadas pela aritmética de likes e cliques a “militantes esquerdistas” é a piada do século. Militante esquerdista era Luiz Carlos Prestes. Esse atravessava territórios marchando por sua miragem igualitária. Os revolucionários de internet não foram nem até a esquina por ideal nenhum.
Mas o mercado covarde se acha esperto e investe tudo na propaganda enganosa de consciência humanitária. Se lambuza investindo os tubos nessa cisão imaginária entre os que “aceitam a diferença” e os que a repelem. Mentira. Tudo mentira. Jogam fora mais de meio século de conquistas raciais, sexuais e comportamentais que levaram as sociedades a um nível de harmonização das diferenças sem precedentes no século 21. Esses oportunistas de araque fantasiados de “progressistas” tentam jogar tudo isso fora, com sua distribuição reacionária de estigmas.
Tratar linchadores como libertadores é uma vergonha. É vergonhoso demais tentar criar ídolos da ética entre figuras que vivem de apontar o dedo, pedir cabeças, inventar inimigos monstruosos, jogar a turba contra os seus marcados para morrer, reger asfixias, dedurar, difamar, coagir, linchar.
Estamos vivendo, sem dúvida alguma, o império da covardia. Foi longe demais o truque de premiar a malandragem demagógica. Brota um malandrinho demagogo a cada esquina — se enchendo de grana e poder graças aos que o criticam como “militante esquerdista”, “revolucionário comunista” e outros disparates que condecoram o picareta como um “ser político”.
Vamos repetir: não há doutrina, nem dogma, nem conceito, nem credo numa pantomima achocolatada.
Que sejam expostos os linchadores e seus cúmplices perfumados. Mas isso não se resolve a longo prazo com uma guerra de boicotes sem fim. Olho por olho, dente por dente não é promessa de civilização. Está na hora dos hipócritas saírem do armário.
Leia também “Receita de felicidade apocalíptica”
Fiuza sempre simples, direto e lúcido nos seus comentários.
Felizmente não invisto meu precioso tempo com as futilidades destes youtubers e outros gurus da Internet.
Está cada dia mais complicado separar o joio do trigo.
Parabéns pela lucidez – em extinção na biodiversidade jornalística – e simplicidade em tratar os fatos como eles realmente são.
#BIS NUNCA MAIS
Tudo pose mesmo. Marmanjos atrás de um dispositivo móvel em busca de futilidade para se ocupar.
Heheheheh deixa o pau cair a folha
Como sempre vai direto ao cerne da questao????
Saudades dos comentários ácidos e irônicos do Fiuza no Oeste Sem Filtro.
Feliz vê-lo de volta, mestre Fiuza! Desejo somente o melhor para seu futuro, que seus textos inspiradores com um toque de ironia ácida sempre apareçam nos poucos canais realmente isentos de nosso país.
Os “diálogos” imaginários sempre me renderam boas risadas (nervosas).
Duas coisas que causa todo este mal que vai até o terrorismo: Ego e Dinheiro
Brilhante!
As pessoas de bem fazem o que podem. Não têm armas, não tem apoio. Boicotar um produto que é anunciado por um ícone da esquerda, que foi guindado a “autoridade” por um ministro do STF, que faz parte do conselhão do lula, que faz a cabeça de mais de quarenta milhões de garotos e garotas, é o mínimo que se espera de uma sociedade que busca algum tipo de justiça, de melhora do país. Nós sabemos que isso não é nada, mas é o que cabe fazer e o que se pode fazer. É o mesmo que escrever contra o que está errado, por quem tem espaço para escrever, para quem tem um nicho na mídia para falar.
Fiúza, não tiro sua razão. Mas vale lembrar que após o ataque a Pearl Harbor, os EUA bombardearam Tóquio como uma forma de revanche e recuperação da moral. A revolução não se dará com os boicotes do chocolate mas a recuperação da força para lutar com métodos melhores, sim.
Belíssimo texto
Muito bom texto.
Entretanto, os hipócritas não sairão do armário. Deverão ser “arrancados e expostos” para que se vejam nus perante os que olharem críticos. Belo texto, Fiúza.ST****