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segundo turno inflação argentina
Sergio Massa e Javier Milei | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Reprodução Redes Sociais
Edição 188

A síndrome de Estocolmo argentina

No primeiro turno das eleições presidenciais, a maioria dos argentinos preferiu a continuidade do atual Executivo peronista. Uma escolha que desafia a lógica, já que o ministro da Economia é responsável direto por uma hiperinflação de 180% ao ano

Carlo Cauti
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Em 1973, um assalto a banco na Suécia gerou um novo conceito psicológico. Os reféns tomados pelos assaltantes acabaram desenvolvendo um sentimento de simpatia e até mesmo de atração por seus algozes. Surgia, assim, a chamada síndrome de Estocolmo. 

Na noite de domingo, 22 de outubro de 2023, o mundo descobriu que a síndrome de Estocolmo pode ser aplicada a uma nação inteira, a Argentina. O país decidiu votar mais uma vez nos políticos responsáveis pela catástrofe econômica que assola o país há décadas: os peronistas.

No primeiro turno das eleições presidenciais argentinas, o candidato governista, o ministro da Economia Sergio Massa, foi o mais votado, obtendo cerca de 36,7% dos votos. Ele quase ganhou no primeiro turno, já que, pelas regras eleitorais argentinas, é necessário obter apenas 40% das preferências e se distanciar dez pontos do segundo colocado. O liberal Javier Milei, uma possibilidade de ruptura com o passado, ficou bem atrás, com cerca de 30% do total.

A maioria dos argentinos preferiu a continuidade do atual Executivo peronista. Uma escolha que desafia a lógica, já que o ministro da Economia é responsável direto por uma hiperinflação de 180% ao ano. Por um Produto Interno Bruto (PIB) de -3%. Por quase metade da população estar abaixo da linha de pobreza. Por um peso que vale cada vez menos em comparação ao dólar. Por um país superendividado interna e externamente, com reservas internacionais líquidas negativas, e que está se encaminhando a passos largos para mais um calote.

“A Argentina é uma coisa indecifrável”, resumiu o ex-presidente uruguaio, José Mujica. “Como pode um ministro da Economia com uma inflação como essa tentar chegar à presidência?” A explicação, segundo ele, supera a política. Seria mitológica. O mito do peronismo. 

Como destruir um país

No começo do século passado, a Argentina era um dos países mais ricos do mundo. A renda per capita era a mesma da França e da Alemanha. E muito à frente da Itália ou da Espanha. Os argentinos detinham 3,7% de todo o estoque de ouro do planeta. Seu PIB representava 1,2% de toda a economia mundial. A Argentina não parava de crescer, e os argentinos eram tão opulentos que impressionavam os outros povos. Tanto que os franceses criaram até a expressão “riche comme um argentin” (“rico como um argentino”), ainda hoje usada para definir um padrão de vida exageradamente abastado.

De lá para cá, o país só empobreceu. Segundo o Banco Mundial, a Argentina é o segundo país que passou mais anos em recessão desde 1950, atrás apenas do Congo. Buenos Aires se tornou cercada de “vilas de miséria”. O peso é a moeda emergente que mais perdeu valor nos últimos 20 anos. No mesmo período, a inflação argentina sempre foi mais do que o dobro da brasileira ou da chilena. O país é atrasado pela burocracia, carcomido pela corrupção endêmica, confuso pelas 14 diferentes taxas de câmbio com o dólar, humilhado pela fama de caloteiro que ganhou internacionalmente. 

O peso é a moeda emergente que mais perdeu valor nos últimos 20 anos | Foto: Shutterstock

O peronismo, responsável por essa calamidade econômica, governou a Argentina por boa parte dos últimos 80 anos, desde a chegada ao poder do general Juan Domingo Perón, em 1946. Uma ideologia que injetou o populismo diretamente nas veias da sociedade, com aumento desenfreado dos gastos públicos, impressão monetária maciça, assistencialismo generalizado, estatização de empresas e protecionismo feroz. As condições perfeitas para uma vertiginosa destruição de riqueza. 

Foi por causa desse apocalipse econômico que muitos observadores consideravam a vitória de Javier Milei como algo possível já no primeiro turno. Até mesmo o candidato liberal começou a considerar essa hipótese plausível. Tanto que, na cerimônia de encerramento de sua campanha, no estádio Movistar Arena, em Buenos Aires, ele galvanizou as 15 mil pessoas presentes, aos gritos de “Primera vuelta!” (“primeiro turno”), seguidos de um palavrão contra a atual classe política argentina. 

A divulgação dos resultados surpreendeu analistas e observadores. “Como isso foi possível?” foi a pergunta que dominou a imprensa argentina e internacional na segunda-feira depois da eleição. Ninguém esperava uma vitória do peronismo. Até porque Massa tinha chegado em um embaraçoso terceiro lugar nas prévias realizadas em agosto. Ficando atrás de Milei, que foi o mais votado, e da candidata de centro-direita, Patricia Bullrich. 

Juan Péron, ex-presidente argentino | Foto: Wikimedia Commons
O peronismo falou mais alto

A resposta é simples: a dependência de boa parte da população das benesses públicas. De um total de 45 milhões de habitantes, cerca de 18,7 milhões recebem algum tipo de recurso estatal. Por exemplo, beneficiários de planos sociais, pensionistas, aposentados, inábeis ao trabalho, entre outros. Além disso, há quase 4 milhões de argentinos que são funcionários públicos, quase 10% da população, ante 6,2 milhões de pessoas empregadas no setor privado. 

Sem contar os milhões de favorecidos pelos incontáveis programas de subsídios. Como para os transportes públicos, contas de água, luz, gás e até internet. Um custo de mais de 3% do PIB por ano para os cofres públicos, que garantem para essas pessoas pagarem apenas10%, ou até menos, do valor real da conta. 

Para convencer esses eleitores a votar no peronismo não foi sequer necessário usar a estratégia do terror. Foi suficiente apresentar os programas de Milei e Patricia. Ambos previam a redução gradual ou até o corte de muitos gastos públicos, economicamente insustentáveis. Funcionou, e os eleitores escolheram Massa. 

Por isso que o voto se dividiu por faixa etária. Os mais jovens, menos beneficiados pelos programas sociais e que já nasceram em uma Argentina em crise, votaram maciçamente em Milei. Enquanto os mais velhos, amedrontados pela mudança e pelo tom do candidato liberal, preferiram Massa ou Patricia.

“Vou votar no Milei, pois é a única solução para mudar as coisas”, explica Manuel, garçom de 24 anos de um restaurante na Avenida Corrientes, no centro de Buenos Aires. “Não estou preocupado com a dolarização, já vivemos num país dolarizado. Todos trocam seus pesos por dólares cotidianamente e guardam as notas em casa. Só o governo que não quer admitir isso. Mas em casa meus pais, tios e avós não gostam do jeito do Milei. Mesmo sabendo que temos problemas e que o governo é ruim, não vão votar nele.”

Javier Milei | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Lula mandou tropa de elite dos marqueteiros

O Brasil também ajudou na vitória peronista. Com os marqueteiros enviados pelo presidente Lula e liderados pelo prefeito de Araraquara, Edinho Silva, reproduziram na Argentina a pirotecnia e os golpes baixos vistos em outras campanhas eleitorais nessas latitudes. 

Nas telas dos trens começaram a aparecer propagandas que mostravam as tarifas disparando de 56 pesos para 1,1 mil pesos em caso de vitória da oposição. Vídeos com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro que se transformava em Milei começaram a ser divulgados nas redes sociais. 

Independentemente de quem for eleito presidente, conceitos como responsabilidade fiscal, independência do Banco Central, redução da carga tributária, abertura ao comércio internacional, contenção da burocracia estatal e luta contra os privilégios serão temas ineludíveis

Massa abriu também a torneira do dinheiro público. Logo após as prévias, o ministro da Economia criou o Plan Platita, que engordou ainda mais as benesses oferecidas para a população, garantido aumento das pensões, dos abonos e dos benefícios sociais. Além disso, foram criados sorteios de carros, motos e eletrodomésticos para quem pagar com cartão suas compras. 

O peronista também acabou com o imposto de renda na Argentina. Pela nova lei, apenas quem receber acima de 15 salários mínimos federais vai ter que compilar a declaração anual. Com isso, mais de 99% da população argentina ficou isenta, e sobraram apenas 88 mil contribuintes. 

O custo do Plan Platita foi gigantesco: cerca de 2% do PIB. Mas não é um problema do candidato. “Fizemos tudo o que tinha que ser feito. E ganhamos. O resto, veremos no futuro”, responderam lideranças peronistas durante a celebração eleitoral de domingo para quem perguntava sobre a conta a pagar. 

Para tentar segurar o câmbio com o dólar, que nas semanas anteriores à eleição disparou, o governo optou pela repressão cambial. Dias antes da abertura das urnas foram iniciadas operações policiais e de fiscalização em vasta escala contra casas de câmbio da City, de Buenos Aires e de outras cidades argentinas. Centenas de milhares de dólares foram apreendidos, e cambistas foram presos. 

Isso provocou o fechamento momentâneo dessas atividades, deixando impossível para muitos argentinos trocar pesos por dólares. O câmbio acabou caindo artificialmente, passando de mais de 1,2 mil pesos por dólar para cerca de 900 pesos. 

Candidato à Presidência e atual ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Dividir para conquistar

A mobilização da máquina estatal, especialmente nas regiões mais povoadas da Argentina, foi decisiva para a vitória do candidato governista. Boa parte dos votos obtidos por Massa veio da região de Buenos Aires, onde vive cerca de 37,5% da população argentina. E que reelegeu no primeiro turno o govenador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, ex-ministro da Economia de Cristina Kirchner e peronista de ferro. 

“A mobilização do aparato partidário peronista na região urbana de Buenos Aires e no interior foi decisivo”, afirma o cientista político argentino Andrés Malamud. A divisão das oposições também ajudou no resultado. A vitória de Kicillof no primeiro turno foi possível porque o partido de Milei, La Libertad Avanza, e a coligação de Patricia Bullrich, Juntos por el Cambio, se apresentaram separados. Caso tivessem se juntado, teriam obtido mais de 51% dos votos válidos.

O mesmo foi observado em nível federal: somando-se os votos de Patricia e Milei, seria possível chegar a 53% do total, ganhando no primeiro turno. Todavia, o apoio da candidata de centro-direita no segundo turno não garante esse resultado. “Nem todos os eleitores do Juntos por el Cambio votarão em Milei. Qualquer resultado é possível”, explica Malamud. Um dos partidos da coalizão de Patricia, a União Cívica Radical (UCR), decidiu que ficará “neutro” no segundo turno, para não ter que apoiar Milei. 

A peronista Cristina Kirchner, ex-presidente e atual vice-presidente da Argentina | Foto: Shutterstock
Pongan huevos, huevos liberales

Mesmo que o segundo turno acabe elegendo Massa para a Casa Rosada, Milei terá alcançado um resultado histórico. Ele decuplicou o número de deputados e conquistou oito senadores. O seu partido, La Libertad Avanza, foi o único que aumentou o número de assentos. 

Milei ganhou projeção internacional. E, com 53 anos, torna-se um candidato natural para o próximo pleito. Mas seu maior feito é, sem dúvida, ter vencido a batalha cultural e trazido as ideias liberais para o centro do debate político.

Independentemente de quem for eleito presidente, conceitos como responsabilidade fiscal, independência do Banco Central, redução da carga tributária, abertura ao comércio internacional, contenção da burocracia estatal e luta contra os privilégios serão temas ineludíveis. A opinião pública pode não ter votado em Milei, mas sem dúvida foi sensível ao apelo de suas ideias. 

“Há dez anos, ‘liberal’ era quase um palavrão”, relembrou Milei em seu discurso após as prévias. “Ser liberal era quase motivo de insulto.” Hoje, ser liberal se tornou o fator que acomuna os argentinos mais jovens. O país do futuro. 

Não por acaso, terminando sua campanha, Milei conclamou seus apoiadores: “Pongas huevos, huevos liberales” (“coloquem ovos, ovos liberais”). Um modo de dizer em espanhol “tenham coragem”. Mas poderia também ser considerado um convite a plantar sementes para a geração de liberais do futuro. Os quais, quem sabe, poderão mudar de vez o rumo da Argentina. Ou pelo menos tentar superar a síndrome de Estocolmo que parece ter afetado a sociedade do país.

Casa Rosada, o Palácio do Governo da República Argentina | Foto: Shutterstock
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Entrevista com Alberto ‘Bertie’ Benegas Lynch, responsável econômico da campanha de Javier Milei

Reduzir a presença do Estado na economia, baixar os impostos, privatizar estatais, acabar com a inflação, abrir a Argentina para o comércio internacional e, claro, a dolarização. Essa é, em resumo, a terapia de choque que o candidato liberal para a Presidência da República argentina, Javier Milei, quer implementar para acabar com o declínio quase secular do país.

Quem tirará do papel tudo isso será Alberto “Bertie” Benegas Lynch, responsável econômico na campanha eleitoral — e possível futuro ministro da Economia, num eventual governo Milei. Economista de 56 anos, com uma longa carreira como executivo em bancos como o Santander e o Comercial, na Argentina e no exterior, Lynch escreveu textos e colunas de opinião denunciando os erros e equívocos cometidos pelos governos argentinos que se sucederam. 

Em entrevista exclusiva a Oeste realizada no dia do encerramento da campanha eleitoral, em Buenos Aires, Lynch explicou como pretende dolarizar a Argentina, evitando problemas para a população; reduzir os gastos públicos sem atingir as camadas mais frágeis da sociedade; e transformar a economia do país para que possa voltar a crescer. 

Javier Milei e Alberto “Bertie” Benegas Lynch | Foto: Divulgação
A Argentina vive uma catástrofe econômica há décadas. Mesmo que ganhem as eleições, como pensam que o país poderá retomar o rumo da prosperidade?

Não será algo factível em apenas quatro anos. Temos um plano de governo de longo prazo, para três gerações. Pensamos para os próximos 50 anos. Nossas propostas para o primeiro mandato de governo se limitam a algumas questões, como a reforma monetária, indispensável para tirar o monopólio do dinheiro das mãos do governo. Além disso, vamos cortar os gastos públicos em 13 pontos do PIB, eliminando as ocasiões de corrupção para a classe política, e reformar os programas sociais de forma gradual. Vamos vender ou entregar para os funcionários todas as empresas estatais e tirar do Estado a responsabilidade de tocar obras públicas. Vamos unificar 170 impostos atuais em apenas dez e reduzir a carga tributária. Essas são apenas as reformas que chamamos de “primeira geração”. Não são suficientes sozinhas para mudar décadas de declínio na Argentina, mas são necessárias para mudar o jogo e se preparar para as reformas de segunda geração. 

O senhor chama de reforma monetária o que seria uma dolarização. É um dos pontos mais criticados de seu programa eleitoral. Como será possível implementá-lo evitando erros cometidos por outros países?

A dolarização é, como o tema da segurança, a proposta de bandeira de Milei para terminar de vez com a chaga da inflação. Vamos seguir os exemplos empíricos de outros países. Não vamos dolarizar imediatamente e de forma abrupta, será algo progressivo. As pessoas vão poder trocar seus pesos em dólares, como já estão fazendo hoje. Será um processo lento. Mas nosso objetivo é acabar com os déficits fiscais e com a impressão desenfreada de dinheiro. O objetivo é liquidar o Banco Central. Com isso, após a dolarização, qualquer governo que vier será obrigado a ser fiscalmente responsável e não poderá apenas ligar as impressoras de notas para financiar seus gastos extravagantes. 

Mas a Argentina hoje tem reservas líquidas negativas.

Primeiramente, é bom lembrar que o Equador não perdeu reservas durante seu processo de dolarização. Então não é uma questão de ter reservas. Além disso, hoje os argentinos já guardam enormes valores em dólares em suas casas ou no exterior, principalmente em contas no Uruguai. Não os deixam depositados em bancos argentinos, pois têm medo de eventuais confiscos do governo, como já ocorreu no passado. A maioria desses recursos não é declarada, mas há estimativas que superam os US$ 400 bilhões ou até US$ 500 bilhões. Basicamente o PIB nacional. Somos o primeiro ou o segundo país do mundo que mais detém dólares por habitantes, depois dos Estados Unidos. Não precisamos injetar todos esses recursos de uma vez na economia. Precisamos ganhar a confiança das pessoas. Elas os trarão de volta gradualmente. Então, mesmo que as reservas do governo sejam negativas, há dólares o suficiente no mercado.  

O seu partido, La Libertad Avanza, tem menos de 40 parlamentares no Congresso argentino. Estão longe da maioria. Como pensam que o Legislativo vai aprovar uma reforma como essa?

Esperamos que o Congresso aprove. Acreditamos que há pessoas razoáveis no Juntos por el Cambio. Pessoas de boa vontade, que querem acabar com o socialismo imperante na Argentina há décadas. Muitas pessoas se elegeram com pautas liberais. Quiseram surfar a onda de Milei, da batalha cultural que ele levou adiante com sucesso. Encheram a boca com promessas liberais e conquistaram votos. Agora vamos ver se vão cumprir. Caso contrário, terão que responder aos seus eleitores. E, na Argentina, vota-se a cada dois anos para renovar parte do Legislativo. 

O candidato liberal à Presidência da Argentina Javier Milei | Foto: Divulgação
Mais da metade dos argentinos dependem diretamente de auxílios, bolsas, benefícios ou assistências públicas. O governo gasta 3% do PIB apenas em subsídios. A redução dos gastos não impactará essa camada importante da população, criando problemas políticos e também possíveis convulsões sociais?

Vamos ser claros: subsídios públicos devem ser cortados. Para as empresas, que vivem de prebendas e esqueceram como se compete num livre mercado, e também para as pessoas. Mas não vamos fazer como o governo de Mauricio Macri, cortando os subsídios abruptamente e transferindo o enorme peso dessa decisão para os usuários. Não podemos simplesmente parar de fornecer subsídios para luz, água ou gás de um dia para o outro. Vamos ter que sentar com os fornecedores e recalibrar os contratos, para que os investimentos deles sejam rentáveis, garantindo a sobrevivência do negócio, sem asfixiar nem as empresas nem as famílias. Vamos transferir aos poucos esse custo aos usuários. Afinal, me parece normal que cada um pague o que consome, como internet, telefone, fruta, verdura ou carne. Não entendo a razão para que seja diferente para as outras contas. 

Como foi possível que os argentinos aceitassem passivamente conviver com uma inflação em dois ou até três dígitos por mais de 20 anos, todos os anos?

Foi uma aceitação movida por questões culturais. Mas isso está passando. Na Argentina temos ainda economistas e jornalistas que falam em “inflação inercial”, “inflação da guerra”, “inflação de custos”, “inflação de dólar”, “inflação de percepção”, e assim por diante. Mas o problema é apenas uma questão monetária. Disseram até que Milei era o responsável pela hiperinflação, apenas pelo fato de ele ter dito que “o rei está nu” e que há um processo hiperinflacionário em andamento. Tenho certeza de que, mesmo antes das eleições, já ganhamos essa batalha cultural. As pessoas entenderam que a emissão exógena de dinheiro não faz sentido, pois está longe do mercado. Mas é o mercado que demanda moeda em suas transações. Não faz sentido ter um decisor centralizado que defina a quantidade de moeda em circulação. E que, quando capturado por interesses políticos, ligue as impressoras de dinheiro a todo vapor.  

A Argentina é um país superendividado interna e externamente. Caso ganhem as eleições, o que pensam em fazer com a dívida pública?

A dívida já contraída tem que ser paga. Mas, no futuro, devemos pensar em algum instrumento constitucional que proíba nova dívida pública. O governo não pode se endividar. Ainda mais porque o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial são instituições filhas de um pensamento terceiro-mundista que só prejudica os países. Quando um governo está pronto para finalmente adotar práticas de mercado, ou é forçado pela conjuntura, o FMI e o Banco Mundial fornecem dólares e assistência, e impedem que a escolha pelo livre mercado ocorra. Mas isso acaba piorando a situação das pessoas.

Leia também “A vitória do trabalho”

9 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Javier Milei e Patricia Bullrich juntos tem condições de vencer os comunistas. E destaque também para a vice do Milei, boa candidata.

  2. MNJM
    MNJM

    A eleição será igual ao Brasil. O sistema vencerá. A corrupção e o mau caráter dos políticos atrelados a um Judiciário vendido.
    Cauti parabéns pelo texto.

  3. Jaime Moreira Filho
    Jaime Moreira Filho

    Um texto maravilhoso, bem escrito, muito bem fundamentado, com um pouco da História do retumbante fracasso do Peronismo e finalizado com uma entrevista onde vemos princípios fundamentais de uma boa administração pública e de como diminuir a administração pública, pois por incrível que pareça, toda administração tem muito mais defeitos e irresponsabilidade que administrações privadas. Daí ser muito interessantes as explicações do entrevistado, com idéias positivamente privatistas. Uma pergunta se faz em primeiro lugar: “Na Argentina tem urna eletrônica?” Uma segunda pergunta: Onde está a cabeça, a capacidade de analisar, o discernimento, o sentimento, a vivência individual e familiar em todo este período peronista, o preço de tudo, a abundância de tudo, os empregos de todos, a valentia e a hombridade do povo argentino? Uma terceira pergunta: Como votaram no continuador da destruição econômica da Argentina para a continuidade da destruição. Era de se supor que os argentinos votariam melhor, ou será que estão “de amores com Massa. Numa expressão nossa: o Massa é massa?. Gostaria muito que o povo argentino pensasse e votasse melhor no segundo turno para estancar a catástrofe em andamento e quase finalização. Não troque voto por pão e mortadela. No futuro não nem pão nem mortadela. Levantem a cabeça…..Torço por Vocês, de coração…

  4. Maria Weber
    Maria Weber

    Artigo fantástico, professor! Auguri!

  5. Heribert Emil Schrage
    Heribert Emil Schrage

    Não se preocupam, a eleição a favor de Massa já foi comprada por conhecidos comunistas do exterior.

  6. Célio Antônio Carvalho
    Célio Antônio Carvalho

    Lá como cá o Socialismo da companheirada quer o Povo no Cabresto, com as rédeas tesas!
    Que faça isso meu caro, privatize, venda, corte, que cada um pague o justo e cada empresa se mantenha na lei de mercado, parabéns!

  7. Marcial Ferreira da Silva
    Marcial Ferreira da Silva

    Síndrome de Estocolmo por aqui no Brasil também, que recolocou no poder a quadrilha que saqueou e quebrou o país.

  8. André Bruno Carrilho Donas
    André Bruno Carrilho Donas

    Não se enganem achando que este país está livre da desgraça que assola a Argentina. Aqui a coisa está muito pior. Além do DESGOVERNO do ladrão de 9 dedos, temos todo o aparato do STF e das altas cortes, que se transformaram num departamento jurídico do petismo, validando tudo que o partido quadrilha faça ou venha a fazer. Paralelamente, há ainda quase toda a mídia apoiando.

  9. RODRIGO DE SOUZA COSTA
    RODRIGO DE SOUZA COSTA

    Uma pena, o país de muitos, acaba sendo um país para poucos. Claramente, o que vai acontecer no Brasil. E as pessoas assistindo e sem ação. A oligarquia política trabalha para que os benefícios sejam concentrados somente na capital, jogam dinheiro na imprensa e atual em conluio com o judiciário.

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