No primeiro semestre deste ano, três CPIs de grande relevância foram instaladas no Congresso. A do 8 de Janeiro e a do MST mereceram atenção especial da imprensa tradicional e do governo federal — ambos preocupados com os abalos que as investigações poderiam provocar nos alicerces do poder. A blindagem surtiu efeito. As duas comissões chegaram ao fim sem maiores barulhos e sem desvendar segredos que persistem.
Por distração dos figurões federais e seus aliados, a CPI que investiga as ONGs da Amazônia não foi bloqueada e seguiu avançando. Apenas Oeste acompanha com lupa os trabalhos da comissão. O cochilo do governo permitiu que todos os postos importantes fossem preenchidos por parlamentares da oposição. E eles estão vasculhando uma caixa-preta até então intocada.
“A CPI descobriu, entre outras coisas, que o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, do qual Marina Silva é conselheira honorária, recebeu R$ 35 milhões do Fundo Amazônia em 2022 e gastou R$ 24 milhões desse montante com consultorias, viagens e folha de pagamentos”, revela Cristyan Costa em reportagem publicada nesta edição. “Esse tipo de gasto tem sido comum nas ONGs. Em 2019, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) obteve quase R$ 2 milhões do Fundo para capacitar 17 técnicos em um curso de ‘geotecnologia’” — ou cerca de R$ 120 mil para cada um. Na PUC Minas, por exemplo, um curso de Geotecnologias e Desenvolvimento de Sistemas de Informação Geográfica (SIGs) custa R$ 5.394. Na Universidade do Agro (Uniube), o valor da especialização em Geotecnologias na Educação Ambiental é inferior a R$ 1,3 mil.
A comissão também está conseguindo comprovar que realmente existe a esperteza denunciada há anos pelo deputado federal Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro: uma espécie de ciranda que envolve funcionários de ONGs, universidades e governos. “O colega que está na Academia produz estudos para sustentar a visão política dos que estão no governo e embasar os interesses econômicos daqueles que se dizem defensores de causas relevantes”, exemplifica Salles. Assim, servidores simpáticos a alguma ONG trabalham em diferentes governos. Depois, passam a atuar nas universidades para produzir trabalhos a favor do terceiro setor, e aqueles que estavam nas faculdades se transferem para postos no governo. Diferentemente das outras CPIs, a das ONGs foi prorrogada até dezembro. Ou seja, ainda há muita coisa a desvendar.
Enquanto finge ignorar a tempestade desenhada nos horizontes de Brasília, Lula achou prudente abreviar a convalescença para comentar uma guerra ocorrida a 10 mil quilômetros de distância. Era melhor seguir acamado. Depois de solidarizar-se com as crianças que sofrem na Faixa de Gaza, Lula resolveu solucionar o conflito entre Israel e os terroristas do Hamas — bando acostumado a estuprar mulheres e degolar bebês. Para Lula, é necessária “a racionalidade de que o amor possa vencer o ódio, de que a gente não resolve um problema com bala, a gente não resolve um problema com foguete, a gente resolve um problema com carinho, é com afeto, é com dedicação, é com solidariedade”.
Como mostra a reportagem de capa desta edição, assinada por Dagomir Marquezi, o Hamas é um grupo terrorista que sonha com o extermínio de todos os judeus. Para isso, quaisquer armas são válidas. Desde 2014, “a organização usa o método de atacar a partir de locais com ampla densidade demográfica, usando os próprios palestinos como bucha de canhão”, conta Dagomir. “As instruções no ataque a Israel em 7 de outubro era raptar mulheres e crianças.”
É essa a organização que Lula sugere tratar com “amor e carinho”.
Boa leitura.
Branca Nunes
Diretora de Redação
Obs.: Augusto Nunes avisa que a segunda e última parte da viagem pela cabeça de Alexandre de Moraes será publicada na próxima edição.
Espero mesmo que tenha sido calculado pelo congresso para a CPI das Ongs poder fazer seu trabalho a fundo.