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Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 189

O Super Rico e o Super Esperto

Alguém aí ainda tem dúvida de que a facada é para o bem da coletividade?

Guilherme Fiuza
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O Super Rico é um herói moderno. É contemporâneo do Super Esperto.

Eles podem estar lado a lado ou em lados opostos, dependendo da direção do vento.

O Super Rico pode até ser cria do Super Esperto.

Num dos episódios mais emocionantes dessa história em quadrinhos, o Super Esperto chupa o sangue da aldeia e injeta num Zé Ninguém, transformando-o em Super Rico.

Aí o Super Novo Rico sai voando por cima de todo mundo, usando seus superpoderes para criar superfacilidades para o Super Esperto e transformar a aldeia num laranjal aos pés dele.

Tem uma hora que a aldeia vampirizada consegue capturar o Super Novo Rico, mas como sempre acontece na história dos super-heróis ele dá a volta por cima, ou melhor, dá a volta nos outros e sai voando de novo para continuar fazendo o bem (para o Super Esperto). É uma dupla infernal.

Em outro episódio, o Super Rico é vilão. Nas histórias em quadrinhos modernas é assim, os personagens são flex. Aí o Super Esperto vai enfiar a faca no Super Rico, dizendo que ele é rico demais.

Nesse caso, acontece tudo ao contrário. Em lugar da vampirização da aldeia para anabolizar o Super Rico, o sangue dele será sugado para anabolizar o Super Esperto.

Uns distraídos vão dizer que o Super Rico nem era tão rico assim, e que sua riqueza até beneficiava o funcionamento da aldeia. Serão silenciados por outros ricos espertos que apoiarão a facada — com destreza suficiente para não serem atingidos por ela.

A facada no Super Rico será defendida como um bem para a coletividade. E o que é a coletividade? A coletividade sou eu.

Foto: Shutterstock

Não é possível, coletivo pressupõe plural — estranharão os distraídos.

Essas dúvidas passageiras logo são superadas na nossa saga. “Eu”, no caso, sou eu e meus amigos, meus sócios, meus correligionários, meus familiares, meus cúmplices, meus áulicos, meus intermediários, meus advogados, meus afilhados, meus padrinhos, meus despachantes, meus tesoureiros, meus caseiros, meus biscateiros, meus apaniguados, meus cupinchas e meu astrólogo, que também é filho de Deus. Enfim, gente à beça. Alguém aí ainda tem dúvida de que a facada é para o bem da coletividade?

Só não vão confundir o Super Rico vilão com o Super Rico herói.

O Super Rico vilão é um ser avarento, inimigo do povo, que ganhou dinheiro demais graças ao capitalismo, esse regime nefasto. Ele precisa ser punido e expropriado em nome do social.

Faz as amizades certas. Quem sabe você consegue acesso a uma das palestras internacionais promovidas pelos nossos milionários

O Super Rico herói é um açougueiro ou um empreiteiro do bem que se alia ao Super Esperto para botar a coletividade no bolso — no bom sentido. Ninguém haverá de negar os benefícios civilizatórios desse tipo de aliança amorosa. Só o amor constrói (sem concorrência).

Na saga do Super Rico herói (que não leva facada) entra também a figura do Banqueiro Sensível amigo das estrelas. Uma irresistível joint venture de charme e dinheiro em favor da bondade. Bondade é a razão social do nosso clube privê.

Não fica com água na boca. Levanta daí e reage. Faz as amizades certas. Quem sabe você consegue acesso a uma das palestras internacionais promovidas pelos nossos milionários. Um Super Hiper Rico sorridente muda o mundo.

Leia também “O Movimento dos Sem-Tela”

6 comentários
  1. Jorge
    Jorge

    Mandou muito bem !
    Esse nível de maturidade precisa virar escola!

  2. Thais de MORAES Machado Suppo Bojlesen
    Thais de MORAES Machado Suppo Bojlesen

    FIÚZA VOCÊ É TOP! Disse tudo sem dizer nada, tenha certeza que eles não entenderão nada!

  3. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Tem também o Super Corrupto, e sua turma a Super Quadrilha.

  4. Lourenço Bojan
    Lourenço Bojan

    Que sensacional o Guilherme Fiúza desfilando sua sabedoria em ironia pura. Revelando os escuros da noite do sistema a nós dominar e escravizar.

  5. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Fiúza, suas ironias são o espelho da nossa realidade republicana.
    República que aliás no próximo dia 15 de novembro completa 134 e continua devendo muito a maioria dos brasileiros.
    Nasceu com o aval dos Barões do Café e um presidente medíocre e autoritário.
    Hoje é sustentada por banqueiros, industriais, ONGs, amigos e políticos amigos dos amigos e assim caminhamos rumo ao nada.

  6. Oldair Dorigon Bianco
    Oldair Dorigon Bianco

    Resumo perfeito de banania Fiuza.

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