Em setembro de 1989, no segundo dia do encontro da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) no México, os participantes foram atropelados pela notícia condenada a virar manchete: outra bomba explodira no prédio do jornal El Espectador, em Medellín. Junto com meu amigo Júlio César Mesquita, eu debutava em reuniões da entidade como representante do Estadão. Naquele ano, a SIP agrupava mais de 2,5 mil jornais espalhados por cidades das três Américas. Todos os presentes sabiam que o caso dispensava investigações. Era apenas um item a mais na extensa relação de violências promovidas pelo cartel de Medellín contra o diário que ousava publicar verdades sobre seu chefe Pablo Escobar.
Execuções de jornalistas, sequestros de funcionários da empresa, mutilações de prédios com explosivos — essas e outras abjeções compunham a espiral de brutalidades que chegara ao clímax com o assassinato do jornalista Guillermo Cano, proprietário do jornal transformado em alvo preferencial do mais poderoso narcotraficante do mundo. Julinho e eu propusemos que a SIP reagisse à audácia sociopata de Escobar com a publicação simultânea de um editorial que exigisse ações imediatas e vigorosas em defesa da liberdade de imprensa e da democracia colombiana. Os organizadores entregaram aos autores da proposta a redação do texto. Colocado em votação duas horas depois, foi aprovado quase por unanimidade.
Quase. Por ter sido rejeitado em peso por uma única delegação: a formada pelos colombianos. Desconcertado com o veto das vítimas diretas dos cartéis fora da lei, pedi a um deles que revelasse o motivo do veto. “Medo”, respondeu o jornalista. “Vocês nem imaginam o poder dos cartéis. Eles têm cúmplices no Judiciário, no Congresso, no governo. Vão acabar controlando o país inteiro.” A marcha da insanidade seria bloqueada na última década do século pela entrada dos Estados Unidos na zona conflagrada. Em parceria com governantes decentes, oficiais militares imunes à corrupção e policiais sem medo, especialistas norte-americanos orientaram a contraofensiva vitoriosa. Hoje, Pablo Escobar só assusta espectadores de séries que contam o que houve na Colômbia até pouco tempo atrás.
Em 1989, o país parecia um caso perdido. Antes de virar uma lembrança inverossímil, o monarca do narcotráfico matou meio mundo impunemente, intimidou a metade restante, foi deputado federal, reinou em Medellín como benfeitor dos desvalidos e fechou com o presidente da República o acordo de espantar um García Márquez: toparia passar uma temporada na prisão, desde que pudesse construir um presídio customizado. Com as bênçãos do governo, um serial killer de filme americano ergueu La Catedral e ali se hospedou. A fachada simulava uma cadeia. Por trás da camuflagem, o dono da prisão de araque e um bando de condenados amigos atravessaram alguns meses ocupados com festas, bebedeiras e visitas femininas.
Uma cláusula do acordo ordenava que militares e oficiais ficassem a pelo menos 1.000 metros de distância do mais acolhedor presídio da história. Essa espécie de promiscuidade entre quem deveria prender e quem merecia ser preso pareceu excessiva até para os padrões colombianos da época. Forçado pelos aliados ianques a romper o acerto pornográfico, o governo tratou o proprietário e prisioneiro do lugar com a devida deferência. Escobar soube com dois dias de antecedência a hora e a data da invasão por tropas do Exército. Sem sobressaltos, retirou-se da prisão cabaré e deslocou-se sem pressa para um esconderijo seguro.
Nesta semana, uma denúncia do Estadão escancarou constrangedoras semelhanças entre o Brasil de Lula e a Colômbia de Pablo Escobar — e pode ter interrompido a gestação de uma espécie de Cartel de Brasília. Em 1984, para deixar claro o que ocorreria com quem se atrevesse a obstruir-lhe o caminho, Escobar ordenou o assassinato do ministro da Justiça, Rodrigo Lara Bonilla. Como o similar brasileiro Flávio Dino está concentrado na consumação de iniquidades prioritárias, deixou por conta de assessores de confiança a missão de estreitar laços de amizade com uma das versões brasileiras dos cartéis que atormentaram a Colômbia no último quarto de século.
Almeida acha que é coisa de racista criticar o patrocínio com dinheiro dos pagadores de impostos uma das visitas a Brasília da cônjuge de Tio Patinhas. Na cabeça do ministro, todo preso que apoia Lula é mais uma vítima da infância sofrida e da injustiça social
De novo, Flávio Dino esqueceu-se de providenciar um álibi menos mambembe para justificar a visita feita ao Ministério da Justiça e Segurança Pública por Luciane Barbosa Farias. Segundo os anfitriões, quem esteve lá foi a comandante do Instituto Liberdade da Amazônia, uma ONG concebida para melhorar as condições de vida da população carcerária. Se quisessem saber direito quem era a visitante, os assessores descobririam no Google que Luciane vem lutando para driblar uma condenação estacionada na segunda instância; que é conhecida no submundo da bandidagem pelo título de “Dama do Tráfico”; que é casada com Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas”; e que o maridão está engaiolado numa cela no Amazonas pelo que fez para tornar-se um dos chefões do Comando Vermelho (CV). A facção ocupa a segunda colocação no ranking das organizações criminosas especializadas em tráfico de drogas e controle de presídios. A liderança continua com o Primeiro Comando da Capital, o PCC.
Já se sabe que emissários do PCC mantêm “conversas cabulosas” com Altos Companheiros do PT. Embora o conteúdo dos diálogos permaneça desconhecido, pode-se afirmar que não entraram na pauta os malefícios do tabagismo ou o possível rebaixamento do Corinthians à série B do Campeonato Brasileiro. Quanto ao que conversaram a Dama do Tráfico e emissários do ministro que fingiu ter rompido com o PCdoB, alguma coisa vazou. Ela confirmou, por exemplo, que um dos temas debatidos foi a abolição das revistas íntimas na entrada dos presídios. Os doutores do Ministério da Justiça ainda não confessaram se aprovam a livre entrada de mulas carregando armas, drogas e celulares.
Flávio Dino ainda recitava desculpas esfarrapadas quando a Dama do Tráfico contou que anda recebendo afagos também de Silvio Almeida, instalado no primeiro escalão pelo critério de cotas: pegaria mal entregar a algum branco o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania no Brasil. No cargo por ser negro, Almeida acha que é coisa de racista criticar o patrocínio com dinheiro dos pagadores de impostos uma das visitas a Brasília da cônjuge de Tio Patinhas. Na cabeça do ministro, todo preso que apoia Lula é mais uma vítima da infância sofrida e da injustiça social. Mais importante ainda, a Dama do Tráfico é uma mulher de preso que conseguiu subir na vida. Como Janja. Ambas merecem respeito.
Em países normais, ministro que adula meliantes perde o emprego. No Brasil do PT, quem faz uma coisa dessas, e até entra na Favela da Maré sem pedir licença, merece ganhar uma toga de ministro do Supremo. Estes tempos andam mesmo estranhos. Não só os idiotas identificados por Nelson Rodrigues, mas também os fora da lei irrecuperáveis perderam a vergonha de vez e estão agora por toda parte. Por que haveriam de ficar fora da cúpula dos Três Poderes?
Leia também “Janja quer poder”
@parabens Augusto Nunes , um dos melhores jornalista deste país, corajoso, sou teu fã
A patifaria está tão grande e como as instituições que deveriam barrar estes absurdos nada fazem, chegará o momento de uma possível guerra civil.
Essa semana eu lia “O escândalo do século” de Gabriel García Marques, livro que reúne contos, artigos e crônicas dos seus tempos atuando como jornalista e me deparei com a história do assassinato do jornalista Guillermo Cano de quem Gabo era amigo. Gado também era amigo de Fidel. Penso que foram vítimas de suas próprias ideologias. Daí o “medo” dos jornalistas colombianos. Ditadores e narcoterroristas nunca foram amigos da imprensa livre.
Dizer de como é magistral a capacidade de síntese e a clareza do texto de Augusto Nunes é repetir o óbvio.
O mais importante é a coragem desse jornalista em escancarar o rumo do país cujos condutores sequer se preocupam em disfarçar. Porém, triste é constatar que nenhum Rambo virá nos salvar, que estamos condenados a viver o que a Colômbia viveu no final do século passado.
Falando claramente o Ministro Escorregadino protege ou é protegido por pessoas um tanto quanto enroladas. Será por isso que entra em favela com tanta facilidade? Será por isso que outros ministros bancam passagens para a tal Dama do Tráfico? Será por isso que ministra passeia de moto sem capacete em favela e aprecia a tal linguagem neutra? Saudades de quando ministros eram nomeados pela técnica e competência. Hoje ministro quer proteger sindicato e ainda atrapalhar o setor privado, esquecendo-se de que se não houver emprego, também não haverá imposto sindical para a turma gastar. A burrice que impera atualmente nos fará um favor: acabará com o governo.
Sensacional artigo! Augusto incrível como você expressa maravilhosamente a situação atual no país do faz de contas.
Sim!
Maravilhoso texto, verdadeiro, sucinto, abrangente, parabéns Augusto. Sintético nada a acrescentar. Somente o desespero e desesperança de nos os cidadãos brasileiros de bem.
Augusto Nunes, temos quase a mesma idade: nasci 5 meses depois de você, acho que por respeito a sua competência. Serei rápido, para não tomar muito seu tempo, que é precioso para todos os brasileiros. Precisamos urgentemente cobrar do Comgrresso o Voto Impresso. Uma ideia seria tentar implantar para 2024 e negociar para 2026. Mas, somente o voto impresso não garante a lisura de uma eleição. Quando chegar a campanha de 26, mesmo com o voto impresso, precisamos valorizar os nosso fiscais de urna, colocando-os mesmo como um “exército de heróis que salvarão a pátria”. Eles são muito importante para evitar a fraude do mesário pianista que o Gilmar Mendes denunciou. Bem, meu irmão, por enquanto é isso. Grande abraço a todos da Oeste, uma esperança para o Brasil.
Sem meias palavras: creio que o nosso Brasil já é governado pelo narcotráfico. O projeto de corrupção social e econômica avança a cada instante.
Estamos esperando o quê para visualizarmos que a tênue fronteira entre a esculhambação e a patifaria já foi, de muito, invadida?
AUGUSTO NUNES, EXCELENTE ANALISE HISTORICA E ATUAL !!!
ESTAMOS A BEIRA DO BRASIL ENTRAR NUM PERIODO SEMELHANTE.
ATUALMENTE A JUSTIÇA NOS CAUSA DUVIDAS – EU NÃO ACREDITO MAIS.
Parabéns Augusto!
Parabéns!!! Texto irretocável…
Minha admiração e respeito a você. Jornalista honrado!!!
Parabéns Augusto!
Mais um brilhante artigo do brilhante mestre Augusto Nunes.
Não são apenas semelhanças. O processo é exatamente o mesmo e o conluio Estado x crime organizado fica cada vez mais cristalino.
Presidiários festejando a “vitória” do ex presidiário e descondenado pela mais alta Corte do país ao mais importante cargo do Executivo Federal;
Ministro da Justiça entrando de peito aberto em um dos bunkers mais conhecidos do tráfico brasileiro sem qualquer aparato de segurança. Nota: nem o caminhão de entregas da Coca-Cola adentra ao Complexo da Maré sem prévia autorização dos chefões da comunidade;
Devolução pela “justiça” de helicópteros, mansões e lanchas de conhecidos traficantes;
Proposta entusiasta – deve ter o dedo da Dama do Tráfico – através de sua ONG criminosa de desencarceramento em massa;
Visita de criminosa, condenada em segunda instância, ao centro do poder judiciário do país com reuniões com o alto escalão da pasta.
Se tudo isso ou apenas isso não for suficiente para afirmar que estamos caminhando a passos largos para a instalação de um narco estado, sinceramente não sei o que é.
No Brasil petralha de hoje há duas formas de rapidamente subir na vida.
A primeira é atraves do roubo das eleições e logo em seguida subjulgar o povo a um despotismo absoluto.
A segunda é fazer o tráfico de drogas, obviamente com a benção dos políticos, pois quanto mais pessoas drogadas, menos interferência com o roubo desencadeado das riquesas do país e do fruto do nosso trabalho, praticado pelos políticos desonestos e seus vassalos.
Na verdade, creio, o que os EUA de Bill Clinton fizeram foi eliminar os cartéis para concentrar produção e tráfico de drogas nas FARC, de forma que essas tenham recursos para financiar o movimento comunista no continente. Esta era a percepção do Olavo de Carvalho.
Os presídios Brasil afora não festejaram a vitória da quadrilha petista na eleição do TSE a toa.
Triste realidade esta nossa, termos um desgoverno que tem um descondenado como chefe do executivo que, juntamente com o judiciário, formam um consórcio dos mais nefastos de que se tem notícia, impondo à todos nós ao invés de um estado democrático de direito com todas as garantias constitucionais, impõe-nos um estado de excessão com perda das nossas liberdades individuais. Lamentável, mas assim o será, e cada vez pior, na medida em que a população brasileira permaneça permitindo que nosso congresso nacional permaneça omisso como tem sido até aqui. Congresso Nacional, PAREM O STF.
PARABÉNS COMO SEMPRE IMPECÁVEL O JORNALISMO, QUADRILHA SEMPRE SERÁ UMA QUADRILHA, PRECISAMOS TER GENTE FORTE PARA ACABAR E LIMPAR ESSES LIXOS
O artigo está da pesada. Dá gosto de ler.
Sou radicalmente contra a pena de morte, exceto para traficantes. Esse conluio entre integrantes do governo e essa raça ignóbil é o que de mais infame há sobre a Terra.
Até quando, nossas “autoridades” vão ser omissas, vivendo no país de “faz de contas”…
“A DAMA DO TRÁFICO É UMA MULHER DE PRESO QUE CONSEGUIU SUBIR NA VIDA. COMO JANJA. AMBAS MERECEM RESPEITO”. AUGUSTO NUNES CONSEGUE SE SUPERAR EM CADA FRASE. AVANTE, BRASIL DOS PETRALHAS.
No brasil, tudo ou quase tudo deixou de ser verdadeiro: O STF deixou de ser o guardião da Constituição e passou a ser dono dela como se fosse um imóvel onde o proprietário pode quebar qualquer parede ou muro sem o menor receio de prejudicar o vizinho; Jornalistas da velha imprensa deixaram de ser informantes bem intencionados sobre fatos como eles são, para serem capachos de redação a troco das verbas federais; a OAB deixou de ser a tutora de seus associados para ciceronear as atrocidades do stf ; a esquerda brasileira deixou de ser socialista p/ser roubalista dos bens e serviços do país; alguns padres e pastores deixaram de ser mensageiros do reino dos céus p/serem adoradores marxistas do ex-presidiário; as Urnas eletrônicas deixaram de ser confiáveis para serem instrumentos da desconfiança; o congresso nacional deixou de parlar em defesa do povo/eleitor para ser moeda de interesses escusos político/partidário de um DEScondenado sujo e perdulário …ufa
É a toa que Dyno foi o escolhido pelo 9?
Nas barbas da justiça, os indivíduos ultrapassam todas as barreiras da insensatez. Qual será o limite? Quem sera o freio? terremotos destruiram, e destroem, cotidianamente a Estrutura da justiça e ninguém responsável pela sua preservação percebe….
É sempre redundância elogiar os artigos de Augusto. Primoroso e superlativo em todos os sentidos. Parabéns Augusto Nunes!
Tipo asqueroso, esse Pepodino.
Tanto o chefão do tráfico quanto o chefe de quadrilha instalado no Palácio do Planalto perderam o senso estético. Me lembro de traficantes desfilando com mulheres lindas. Me lembro de presidentes da República muito bem casados com damas de verdade. Hoje, a coisa tá feia. É canhão pra todo lado nesse desgoverno. Poderiam ir à linha de frente em gaza.
Até onde irá o poder dos gangsters brasileños? Os três poderes estão perfeitamente aparelhados e ‘trabalhando’ de forma integrada, o modelo e a estrutura de uma nação narcotraficante.
É … Cabuloso … Até quando Catilina ?
TEm muita gente que gostaria de saber a posição do STF e da PGR sobre este estado de coisas.
Em 28 de março de 2022, o Presidente Jair Bolsonaro aceitou o pedido de exoneração do seu ministro da educação, Milton Ribeiro, vejam só, por ter recebido dois pastores no seu gabinete.
A eleição do Lula pelo TSE é, realmente, a vitória do amor a qualquer tipo de contravenção e iniquidade.
O amigo Rodrigo abaixo, comenta que “vamos virar um narco-estado”, pois eu acredito que já viramos, pq temos no poder vários políticos; alguns processados, outros condenados, outros indiciados e, alguns com poderes especiais que se intitulam super-heróis. SERÁ DIFÍCIL SAIRMOS DESSA. Temos que continuar acreditando.
Ou o brasileiro toma lado, pressiona a mídia tradicional para informar adequadamente o povo, ou vamos virar um narco-estado.
Já somos um narco-estado, apenas não produzimos cocaína …. ainda.
Resumidamente, na década de 1980 o tráfico fortaleceu-se utilizando o Brasil como rota para outros países. Por infelicidade nossa, na década de 1990 tivemos dois mandatos de presidente do socialista Frenando Henrique Cardoso. Na sequência, dois mandatos do comunista Lula, mais dois da anta socialista Dilma (menos 2 anos) – total 22 anos – ou seja, tempo mais que suficiente para a bandidagem se estabelecer sem qualquer dificuldade. E o resultado é isso que está aí; o crime organizado infiltrou-se em todas as esferas.
Flertar com o socialismo dá nisso.
Eu só acredito na interrupção desta gestação apenas com a entrada dos EUA neste teatro. A exemplo da Colômbia, esta entrada terá que ser rápida e efetiva, pois ao contrário a América vai sofrer muito.
Júlio, concordo com seu comentário. Hoje com a parceria do Consórcio Lula/STF de políticos fracos e sem ética e infelizmente com a omissão total de nossas FFdesarmadas (gostam de aparecer com a cara sisuda nas fotos), só podemos contar com os americanos para nos ajudar a salvar o Brasil, razão pela qual Lula e seus apaniguados detestam o EUA.
Governo corrupto, não salva um .Acho que já nasceu falido ,não dá para continuar, veio para roubar .Tomara que não chegue ao final,são ruins demais.