Observador da política nacional há décadas, o economista Ricardo Amorim acompanhou de perto os governos que se elegeram no país desde a redemocratização: de José Sarney a Jair Bolsonaro, de Fernando Collor de Mello a Dilma Rousseff, de Itamar Franco a Fernando Henrique Cardoso. E todos os mandatos de Lula. Sobre o terceiro, que começou em janeiro, tem um diagnóstico: a política econômica é pior do que se esperava.
Amorim é o economista mais influente do Brasil, segundo a revista Forbes. Com mais de 20 anos de carreira no mercado financeiro global, ele também é comendador do agronegócio brasileiro. Maior influenciador do LinkedIn, foi apresentador do programa Manhattan Connection, da GloboNews, e é o único brasileiro na lista dos mais importantes palestrantes do Speaker’s Corner.
Para Amorim, a atuação da equipe econômica de Lula neste terceiro mandato tem sido pior do que a observada no segundo mandato, considerado por analistas como o precursor da crise que Dilma Rousseff ajudaria a intensificar.
“O governo brasileiro gasta mais com o rico do que com o pobre, algo que o presidente Lula continua a fazer”, diz, ao criticar a preferência do petista por investimentos na educação universitária, e não na educação básica. “A universidade pública e ‘gratuita’ é um programa antissocial. A maior parte de quem vai estudar nas universidades públicas sem pagar são os mais ricos, e não os mais pobres. Ela é gratuita para quem vai, mas financiada por todos os pagadores de impostos, incluindo os mais pobres. Os mais ricos estudarem sem pagar não faz sentido.”
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Como o senhor avalia a atuação do governo Lula na economia nesses primeiros 11 meses de governo?
Minhas expectativas eram baseadas no que foi o primeiro e o segundo governo Lula, que tiveram muitos defeitos, mas ao menos tinham mérito de equilíbrio fiscal. A inflação acabou ficando sob controle. Funcionava na época o tripé macroeconômico, que era uma política fiscal responsável, com câmbio flutuante e com a independência do Banco Central [BC]. Não esperava que Lula fosse bater de frente com o BC, com a força que ele tem batido. Já estava claro desde a época da campanha que haveria um aumento de gastos por parte do governo. Tem sido pior que o governo Lula 1 e que o governo Lula 2. Já era esperado que fosse pior, mas está sendo ainda pior que o imaginado.
Os bens e serviços estão mais caros por causa das pressões de Lula sobre o Banco Central, que, por sua vez, é forçado a manter a taxa de juros alta?
O que está ficando mais caro é o acesso ao crédito. Não só mais caro, mas mais limitado. O Banco Central continua tendo independência, e é muito sério no combate à inflação. Pré-Lula, no fim do ano passado, o Brasil tinha uma inflação inferior à dos Estados Unidos e à da Europa, coisa que não acontecia havia praticamente 50 anos. Nossa inflação continua baixa, perto da meta. Só que, para conseguir fazer isso, o Banco Central teve de manter os juros num nível bastante elevado, em termos de taxa de juro real, por mais tempo. A consequência disso é uma contração na oferta de crédito. Isso levou algumas empresas e setores a terem dificuldades. As empresas que quebram acabam demitindo gente. Não fossem essas declarações do Lula, o Brasil teria uma taxa de inflação parecida com a atual, só que com uma taxa de juros mais baixa, com mais crédito, empregos e mais crescimento econômico.
Quais são as consequências de o governo Lula gastar mais?
O governo brasileiro gasta demais, e muito mal. Um governo funciona como uma família: se gasta mais do que ganha, tem de tomar dinheiro emprestado. Portanto, se endivida. Se uma família vai ficando cada vez mais endividada, vai ficando com a corda no pescoço. Com o país é igualzinho. O governo já gastava demais antes de Lula, e agora está gastando mais ainda. Para gastar isso tudo, o governo vai ter de cobrar muito mais impostos — e na prática tornar as pessoas mais pobres, porque tira dinheiro do bolso das pessoas para transferir para o governo. A outra alternativa é esta: se endividar. Se continuar se endividando, chega uma hora em que a confiança no país some. E o dinheiro some junto. Com o dinheiro, somem os empregos, some a renda das pessoas. E o país entra numa crise muito grave, que, se mantida por muito tempo, provoca o que vem acontecendo na Argentina e na Venezuela. O Brasil está longe disso ainda, mas algumas das decisões recentes estão aumentando esse risco. Lula está tornando o Brasil mais endividado, o que significa que está tornando todos os brasileiros mais endividados. O que é público é nosso, inclusive a dívida pública. Quem vai ter que pagar seremos nós, por meio de mais impostos no futuro.
Quais são os impactos dessa dívida pública na vida real do brasileiro?
Fiz uma análise do que aconteceu em termos de desempenho fiscal, que basicamente é o desempenho das contas públicas, e do que ocorreu no período de 2011 a 2016, no mandato de Dilma Rousseff. Foi quando na história recente brasileira as contas públicas pioraram sistematicamente. E o efeito prático é o seguinte: países com pior desempenho das contas públicas, que gastam muito mais do que ganham, crescem menos. O Brasil foi um dos cinco países de todo o continente americano com pior desempenho durante esse período. Só a Venezuela, que tem uma situação fiscal muito mais grave, teve um desempenho pior que o brasileiro. Todos os outros foram melhores. O resultado é muito desemprego. Uma queda na renda per capita brasileira, um empobrecimento dos brasileiros. O governo que gasta demais faz com que a população fique mais pobre. E, para piorar, ele gasta mal. O governo brasileiro é um grande sugador de recursos sem devolver serviços públicos de qualidade.
Como o senhor avalia o projeto atual da reforma tributária?
A reforma tributária tem grandes méritos e deméritos. O lado positivo é resolver o problema estrutural na forma como a gente cobra impostos, que condena o Brasil a ser um país produtor de produtos básicos. Cobra-se imposto em cima de imposto, imposto em cascata. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo [Fiesp] fez um estudo, em 2015, na época em que o Brasil já era o maior exportador mundial de café. O país vendia café em grão por R$ 8,60 e importava a cápsula para expresso, pagando quase 40 vezes mais. Por que não fazia as cápsulas aqui? Porque o imposto pago em toda a cadeia aumentaria em mais de cem vezes o custo. Com o imposto muito maior, ficaria caro demais produzir aqui. Ao acabar com o imposto em cascata, a reforma cria condições para que a indústria manufatureira seja mais competitiva. Tanto pela simplificação como pela redução da própria carga tributária em cima da indústria.
Qual é o lado negativo da reforma tributária?
A reforma deveria ser neutra do ponto de vista da arrecadação. Ainda vai passar por mudanças no Congresso, mas, do jeito que está, reduz o total de impostos pagos pela indústria, anualmente em R$ 500 bilhões. Assim, a indústria fica bem mais competitiva. De onde virão os R$ 500 bilhões? Serão R$ 20 bilhões da agropecuária e R$ 480 bilhões do setor de serviços. Aí começam os problemas graves. O setor de serviços é o maior empregador do Brasil: sete de cada dez empregos do setor privado estão ali. Será um aumento médio de 30% do custo no setor de serviços. Ou as empresas de serviços vão ter de se tornar 30% mais eficientes para zerar a conta, ou vão ter de mandar gente embora, porque o principal custo do setor de serviços é gente. Ou, ainda, vão repassar os custos para o preço — e a gente vai ter mais inflação.
“Quanto mais o Brasil se posicionar ao lado de países que estão desalinhados com os valores ocidentais, menor será a capacidade de atração de investimentos da Europa e dos Estados Unidos, que são as duas principais fontes de investimento do país”
Como a reforma tributária afeta os Estados e municípios?
Estamos no Brasil. Qual foi a legislação que, durante dez anos, não mudou? A reforma aumenta a arrecadação do governo federal. Alguns Estados vão aumentar a arrecadação, e outros vão perder. Os perdedores vão entrar com lobby no Congresso. Dirão que precisam ser ressarcidos com alguma medida que compense a perda de arrecadação. E o que o governo vai fazer? Vai aumentar imposto em algum outro lugar para poder pagar essa conta. O efeito prático da reforma é que não vai ser neutra. Haverá aumento de imposto num país que já tem imposto demais. São 165 países emergentes, e o Brasil tem a terceira maior carga de todos. Uma loucura que não faz o menor sentido, principalmente considerando os serviços públicos que a gente recebe.
Lula está se alinhando à Rússia e ao Irã e se afastando de democracias liberais, como Israel. Isso pode afetar o desempenho do Brasil no mercado internacional?
Não dá para ninguém falar que ficou surpreso com esse tipo de escolha. Atrapalha muito, porque pode fazer com que o Brasil perca o “bilhete premiado da loteria”. Com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, as tensões entre China e Taiwan aumentando, mais a guerra em Israel, as possibilidades de investimento para grandes empresas e investidores globais em países emergentes estão diminuindo. Com o investimento de empresas estrangeiras vêm empregos, renda e tecnologia. Ao construir esse tipo de alinhamento ideológico, a capacidade brasileira de atrair esses investimentos vai caindo. Até agora não pararam de vir, simplesmente, porque os investidores estão sem outras opções — mas isso tem limite. Quanto mais o Brasil se posicionar ao lado de países que estão desalinhados com os valores ocidentais, menor será a capacidade de atração de investimentos da Europa e dos Estados Unidos, que são as duas principais fontes de investimento do país.
O governo Lula estabeleceu que o trabalho aos domingos e feriados deve ser negociado com os sindicatos. Quais serão os impactos disso?
Existe um esforço por todos os lados do governo Lula de fortalecimento dos sindicatos, a sua base política. Lula está usando os trabalhadores para se autopromover. Isso é um absurdo. Até não muito tempo atrás, o mercado de trabalho era local. Uma empresa que estava no Brasil tinha como opção única e exclusiva contratar para trabalhar quem estivesse no país, e isso não é mais realidade. As empresas podem contratar à distância. Quanto mais Lula complicar a contratação e as regras para o pagamento das pessoas, mais as empresas que estão aqui vão acabar optando por contratar gente que não está aqui. O efeito prático desse tipo de medida é exportar os empregos dos brasileiros e aumentar o desemprego no país.
O que Lula deveria fazer na economia?
Parte do que deveria fazer vai exatamente na contramão do que tem feito. Mas a primeira coisa que Lula tinha de fazer é reduzir brutalmente os gastos públicos de má qualidade no Brasil. Como resolver os gastos excessivos com o funcionalismo público? Alguma reforma administrativa pode ser feita, mas temo que vai ficar muito aquém do ideal. Isso não só ajuda as contas públicas, mas reduz uma tremenda injustiça que acontece no Brasil: regras completamente diferenciadas para os empregados no setor privado e no público. Não tem por que dividir brasileiros em cidadãos de primeira e de segunda classe. Também é preciso acabar com a hipocrisia que existe no Brasil de chamar de “sociais” programas de governo que, na prática, privilegiam os brasileiros mais ricos — e não os mais pobres.
Quais programas de governo não deveriam ser chamados de “sociais”?
Em 2015, o Banco Mundial elaborou um estudo durante o período em que Dilma Rousseff esteve no governo. Salvo engano, o Brasil tinha 15 programas sociais. Só o Bolsa Família e mais um eram de fato sociais. A maior parte dos programas beneficiava mais os 20% mais ricos do que os 20% mais pobres. São programas que concentram renda. O governo brasileiro gasta mais com o rico do que com o pobre. Lula recentemente fez uma medida assim: zerou o Imposto sobre Produtos Industrializados [IPI] de veículos zero-quilômetro até R$ 120 mil, só que quem compra veículos zero-quilômetro, mesmo os mais baratos, são os 5% mais ricos. Estão subsidiando o rico no Brasil. Isso é um programa antissocial. É preciso poupar dinheiro para reduzir brutalmente os impostos. O pobre é mais beneficiado quando paga menos impostos.
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Ricardo Amorim, voce deve desculpas ao povo brasileiro.
Amorim foi um dos que nos colocou nessa situação vergonhosa e o fez com pleno e total conhecimento. Destruiu toda a sua credibilidade.
Qualquer ser humano com no mínimo dois neurônios funcionando pode deduzir com poucas chances de erro que o consórcio PT/STF/TSE não apresentaria nenhum projeto de interesse do país.
O PT sempre usou a classe trabalhadora, desde os discursos do descondenado em cima de carroceria de caminhão nas portas das montadoras do ABC nos 1970/1980. Nunca foi a favor de pobre e seus “sociólogos” (declaração dos mesmos) e outros trambiqueiros da legenda adoram guarnição de cama de algodão egípcio e odeiam a classe média.
Seu projeto é de poder, com declarações do presidente do STF “derrotamos o Bolsonarismo”, nomeação de advogado pessoal para o mesmo STF, “atos antidemocráticos” perpetrados por cidadãos de 60 anos ou mais sem líderes, sem armas, sem tanques e presos sem processo legal, sem acusação, sem direito a defesa, etc. condenados à margem da lei a até 17 anos de reclusão e agora pasmem… indicação de Flavio Dinossauro para o STF.
Cabe ao Congresso lavar a alma dos brasileiros e sua própria roupa suja se os seus integrantes ainda pleiteiam continuar na vida pública e barrar esse nefasto senhor a ocupar uma cadeira no STF.
A essa turminha da Avenida Paulista e Brigadeiro Faria Lima cabe o nosso desprezo, pois apoiaram um projeto maligno ao país e seu povo talvez na esperança de conseguir alguma vantagem. É assim que as ditaduras sempre funcionaram.
Ricardo Amorim não tem o direito de dizer que esperava uma coisa e está acontecendo outra.
Fez o L descaradamente. Agora quer posar de enganado.
Já foi razoavelmente reconhecido quando fazia de conta que era liberal, mas na verdade sempre foi um fabiano.
Merece ir para o lixo da história, junto com a Forbes, o Manhattan Connection e o Speaker’s Corner.
Entrevista fantástica. Uma aula. Super elucidativa sobre , onde a economia está indo. Só dá pra acreditar que o governo está fazendo toda essa destruição, de propósito.
esse cara fez o L e finge demência agora , realmente impressionante ! o Lula e os comunistas tem a intenção de empobrecer todos até paara poder ter mais controle só não entende isso quem nunca leu nada sobre o comunismo ! o intuito dele era esse e nisso ele esta indo muito bem aliado ao STF e a midia podre contra o legislativo e quebrando o país!
Fez o L embaixo da mesa e tá arrependido ????
Entendo que a Oeste é pulralista, por isso esse entrevista com Ricardo Amorim.
Esse senhor fez campanha velada ao Lula, e agora vem falar que o goeverno esta pior do que esperado?
Hipocrisia é a comememoração do vício sobre a virtude.
Já fui leitor desse senhor, mas, me desfiz dos livros e artigos acumulados.
Não merece crédito.
Revista Oeste. ????????????❤️
Como diz o Emílio Surita: “o cara fez o L embaixo da mesa” e vem com esse papinho? Claro q sabia q seria assim! E preferiu apoiar quem roubou o Brasil como “nunca antes da história deste país e do mundo”!
Discordo do Surita: foi em cima da mesa mesmo! Descaradamente! O sujeito ajudou a chegar aqui e a piorar o q ainda ficará pior!
Insisto em acreditar que a intenção de divulgar a entrevista desse senhor seja para mostrar o arrependimento dele por ter apoiado a atual corja política.
Gostaria de ve-lo na equipe economica do atual governo do qual ele fez campanha. Ou será que ele esqueceu disso?
mais um ‘em cima do muro’ que caiu com ‘gosto’ no colo dos esquerdopatas e agora vem com essa conversinha mole de ‘pior do que o esperado’…se isso é exemplo de ‘influenciador’ está explicado porque existem tantos influenciados por Nelipe Feto
Esse mais um hipócrita que navegou no fora Bozo, fora genocida…. seria interessante ele explicar o papel que teve na derrota do Bolsonaro e saída do Paulo Guedes. Deve desculpas aos brasileiros antes de ter espaço aqui na Oeste. Vergonha.