Nas páginas mais assombrosas escritas pelos fundadores do realismo fantástico, costumam ocorrer num passado impreciso as delirantes performances protagonizadas por governantes latino-americanos, mas as nações em que agem não são identificadas. O ditador criado por Gabriel García Márquez em O Outono do Patriarca, por exemplo, não consegue lembrar a idade que tem — calcula-se que esteja entre 107 e 232 anos. Também não consegue precisar a data em que recompensou com a doação do litoral que havia em seus domínios o desembarque de fuzileiros navais norte-americanos que o ajudaram a sufocar mais uma tentativa de golpe de Estado.
Sim, espantos desse porte já foram mais frequentes. Mas este estranho canto do mundo segue reiterando que, por aqui, o passado não passa. Candidatos naturais a vagas vitalícias no hospício ou na cadeia continuam em ação. Alguns fazem o diabo fantasiados de presidente da República. Outros mandam e desmandam por serem o que a imprensa velha qualifica de “líder”. (Para jornalistas brasileiros, deve ser chamado de “líder” todo liberticida que age ou agiu em qualquer lugar do mundo que aposentou a democracia. Josef Stalin, um assassino psicopata, foi o líder da União Soviética. O serial killer Kim Jong-un é o líder da Coreia do Norte. Quem sofre de estrabismo ideológico só enxerga ditadores de extrema direita.)
Figuras que pareceriam esquisitas demais aos olhos do mais imaginoso ficcionista se espalham por todos os gabinetes que favoreçam a conjugação dos quatro verbos favoritos dos patifes que proliferam pelos trêfegos trópicos: “prender”, “soltar”, “nomear”, “demitir”. Eles estão no Executivo, esperam a vez no Legislativo ou, no caso do Brasil, formam uma espécie de junta judiciária que, para preservar a democracia e o estado de direito, mandou às favas o regime democrático, a Constituição e a liberdade. Na década de 1960, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, fez a advertência sensata: “Japona não é toga”. Passados quase 60 anos, o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi incluído pelo advogado Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal, no grupo formado por “pigmeus morais”. Pacheco poderia ter invertido o lembrete histórico: “Toga não é japona”.
Os ministros do STF decidiram que é. Mais: além de japona, a bancada majoritária acha também que o manto negro lhe permite soltar sem amparo legal um ex-presidente corrupto (e garantir-lhe outro mandato), perseguir um ex-presidente eleito (e todos os que discordarem da decisão suprema), devolver o Brasil aos descendentes dos que aqui moravam em 1500, resolver o que é verdade e o que é mentira, incorporar o Pretório Excelso a uma frente partidária, dissolver o sistema acusatório, revogar o direito de ampla defesa e o devido processo legal, manter preso até a morte um réu sem julgamento e aplaudir a indicação para o Timão da Toga de alguém que continua comunista 35 anos depois da queda do Muro de Berlim.
Se o STF brasileiro é presidido por um advogado que tentou soltar o terrorista Cesare Battisti e mantém na cadeia septuagenários inocentes, se o presidente da República critica a pobreza vocabular dos tuítes sem ter lido uma única orelha de livro ou escrito um único e escasso bilhete sem erros, se o vice é um ex-carola que aprendeu cantorias socialistas enquanto reza para que o fator biológico o transforme em sucessor do titular quase oitentão, por que vizinhos historicamente amalucados haveriam de criar juízo? Governantes com a cabeça no lugar nunca foram muitos neste pedaço do mundo. Tanto no País do Carnaval quanto nos subúrbios da América do Sul, o estadista é a ararinha-azul da fauna política.
O apoio de Lula a Maduro é tão previsível quanto o frio do inverno. O presidente que adotou a política externa da canalhice não nega fogo quando o bandido amigo lhe pede apoio
Na Venezuela, por exemplo, políticos decentes estão na cadeia ou no exílio. Não há lugar para gente assim num país que renunciou ao futuro ao entregar seu destino a reencarnações degeneradas de Simón Bolívar. Morto em 17 de dezembro de 1830, El Libertador não consegue descansar em paz. Convencido de que era o próprio Bolívar, de volta à Venezuela com outro nome, Hugo Chávez botou na cabeça que a consagradora vida passada fora abreviada por envenenamento e mandou exumar o corpo de quem fora Hugo Chávez com outro nome. Especialistas concluíram que Bolívar/Chávez não morreu envenenado. Antes que se exumasse de novo, o ditador morreu de câncer tratado em Cuba. Mas a alma ainda não parece em paz.
O sucessor Nicolás Maduro jura que o padrinho já o visitou duas vezes, em forma de passarinho. Não detalhou o que conversaram. É possível que a ideia de roubar dois terços da Guiana tenha surgido entre um pio e outro. Se foi assim, é certo que Chávez/Bolívar sugeriu ao herdeiro truculento e abobalhado que torcesse pela volta do PT ao governo. A dupla sempre contou com três trunfos: o apoio do Exército venezuelano, comandado por corruptos sem cura; a omissão da ONU, hoje reduzida a um asilo de esquerdistas sem voto; e a falsa neutralidade de Lula, concebida para algemar o lado certo e, simultaneamente, liberar o bandido da história para o ataque traiçoeiro.
Confrontado com a invasão da Ucrânia pela Rússia, Lula envergonhou o Brasil que presta com frases que escancaram a vigarice homicida. “Quando um não quer dois não brigam”, recitou, igualando o invadido ao invasor. Agora convidado a comentar os rosnados do companheiro que cobiça as reservas de petróleo localizadas em Essequibo, Lula miou que “o Itamaraty está à disposição das partes envolvidas no conflito”. Não existe conflito nenhum. O que há é a cobiça da Venezuela economicamente agonizante, sonhando com o confisco de uma imensidão de petróleo. Nem existem partes em litígio. Existem um país pacífico, e praticamente desarmado, e outro sonhando com a amputação territorial do vizinho a caminho da prosperidade.
O apoio de Lula a Maduro é tão previsível quanto o frio do inverno. O presidente que adotou a política externa da canalhice não nega fogo quando o bandido amigo lhe pede apoio. Mas há uma pedra no caminho: o petróleo de Essequibo foi encontrado e será extraído por uma empresa petrolífera norte-americana, e o governo dos Estados Unidos não costuma engolir afrontas a pessoas — físicas ou jurídicas — que tenham nascido lá. Maduro certamente vai consultar o passarinho. O clube dos cafajestes cucarachas sairá ganhando se a ave sempre irrequieta não tiver perdido o juízo de vez.
Leia também “Um timaço sem torcedores”
Hoje ainda é dia 14. São 11h45min. Resolvi voltar a tua coluna da semana passada, só para deixsar um comenta´rio que está fora da data, mas vá lá.
Jà se comentou aqui algumas vezes que Lula, STF e Congresso estão mais fortes do que nunca. Eles não escondem mais sua vocação ideológica. Cada vez aque vocês da revista criticam eles ficam masi fortes. Chamar o STF, o Lula e o Pacheco de comunistas e de extrema esquerda é um combustível que alimenta a faceirice deles e o poder de atrair energias para novos projetos. O Lula já disse que se orgulhava de ser comunista. Hoje ele disse que até que enfim colocamos um comunista no STF. O Moraes atacou a extrema-direita, mas nada disse da extrema esquerda ao lado dele e na praça dos três poderes. Portanto, caro Augusto de mil batalhas, cada vez que você criticar, mais energias serão dirigidas a esquerda brasileira, dando mais força. Agora ninguém segura o pessoal. Sugerir que o povo saia pra rua é ponto para o STF que mandará prender quantos foram possível. E começará a aparecer multidões apoiando o Lula e o comunismo. Como está acontecendo até nos EUA o movimento contra os judeus. Repensar e planejar no longo prazo é a única maneira. Ou receber ajuda dos céus…
Passarinho só está vivo porque ainda o alimentam.
Augusto Nunes e o timaço da Oeste são as vozes do povo que ainda sonha com um país mais justo e prospero para seus habitantes.
Que a luz possa brilhar no caminho dos brasileiros de bem para a real transformação desta república anunciada há 134 anos mas ainda carente de proclamação possa prosperar em benefício de todos.
Que maravilha de texto!
Augusto Nunes, é um prazer ser seu leitor.
Mestre Augusto Nunes, artigo um primor. Perfeito.
Este governo não é de confiança…e se diz popular…
Como sempre, perfeito.
Parabéns Augusto por abrir a mente dos leitores amigos da verdade
Ninguém descreve melhor o perfil psicopático do nosso Macunaíma e eterno candidato ao prêmio Nobel da Calhordagem do que o Augusto Nunes. Parabenizá- lo é repetitivo , além de lavar a nossa alma td semana. As frases sobre o conflito Rússia/Ucrania ( “ qdo um não quer dois não brigam” ) e a relacionada às escaramuças mambembes de Maduo – q não tem dinheiro p comprar nem uma escopeta – são antológicas.
Parabéns ao Jornalista de verdade Sr. Augusto Nunes.
Sempre preciso em seus comentários e artigos.
Parabéns Augusto. Continua com inteligência coragem defendendo meu direito à liberdade e denunciando malandros e corruptos unidos que se escondem por detrás de mandatos que não honram.
Eu gosto de ler os artigos do amado Augusto Nunes , com a VOZ DELE NA MIMHA CABEÇA! O lula MIOU, soltei uma gargalhada ???? Quer dizer que os Estados Unidos ???????? ops ???? corrigindo , OS JUDEUS QUE GOVERNAM OS ESTADOS UNIDOS ???????? IRÃO EXPLORAR O PETRÓLEO DE ESSEQUIBO ? Interessante ????
Como sempre, espetacular artigo, mestre Augusto Nunes. Vcs são nossa salvação!
Excelente, degustei esse artigo várias vezes. Só parabenizar a Revista Oeste pelo trabalho de mestre.Ainda verei esses artigos sendo lidos em nossas salas de aula, é nossa história do Brasil, apenas com verdades e inteligência.
NUNES EXCELENTE ARTIGO !!!
MAS QUERO CONTRARIAR REALMENTE A POLITICA NO BRASIL É FORMADA POR PIGMEUS-MORAIS MAS OS PIGMEUS ESQUECERAM DE RETRUCAR PARA OS STF – ” TOGA NÃO É JAPONA PRECISA DE HONESTIDADE MORAL”.
pachequinho quer e ‘sua parte’ nas indenizações de brumadinho e vai aprovar dino com louvor
A última visita da literatura se faz quando Augusto Nunes escreve. Quando o jornalista vê o corpo e o escopo da realidade, e o mestre Augusto Nunes com uma alquimia entre raras vírgulas, palavras que dançam mesmo sobre o macabro banquete que os bruxos preparam. Já perdi o fio da meada, mas minha palavra : Há literatura! Mestre Augusto Nunes????
Mestre Augusto Nunes!!!!!!!????