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Martin Luther King Jr. dirige-se a uma multidão na escadaria do Lincoln Memorial, onde fez seu famoso discurso “Eu Tenho um Sonho”, durante a marcha de 28 de agosto de 1963, em Washington, D.C. | Foto: Wikimedia Commons
Edição 200

Quais vidas negras importam?

O comprometimento de King em criar uma sociedade justa, confiando que é o caráter das pessoas que deve ditar seus merecimentos, nos dá uma pista do que ele diria sobre o movimento woke de hoje

Ana Paula Henkel
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A América é mundialmente conhecida como “terra da oportunidade”. E uma das características desse apelido global se deve ao fato de que a grande maioria de seu povo, ou quem vem para a terra do Tio Sam em busca de trabalho, coloca o labor como prioridade. Há inúmeros elementos na terra da liberdade que ajudam qualquer um que chegue aqui a empreender, e um deles é o fato de que há pouquíssimos feriados. Tudo está aberto e funcionando o tempo todo. E até em feriados oficiais essa premissa segue.

Se o comércio segue pulsando a maior economia do mundo até em feriados, em alguns deles as escolas públicas não têm atividades. São raras essas datas, fato, e uma delas foi nesta semana, com a celebração do feriado de Martin Luther King Jr. 

Nascido em 15 de janeiro de 1929, em Atlanta, Geórgia, King desempenhou um papel fundamental no movimento pelos direitos civis nas décadas de 1950 e 1960. Ele advogou pela igualdade racial e justiça por meio da desobediência civil não violenta, sendo inspirado pela filosofia de resistência não violenta de Mahatma Gandhi. A liderança de King foi fundamental para eventos importantes, como o Boicote aos Ônibus de Montgomery, em 1955, e a Marcha em Washington por Empregos e Liberdade, em 1963, onde proferiu seu famoso discurso “Eu Tenho um Sonho” (“I Have a Dream”). Seus esforços contribuíram significativamente para a aprovação da Lei dos Direitos Civis, de 1964, e da Lei dos Direitos de Voto, de 1965.

https://www.youtube.com/watch?v=yz0TjhINctI

A vida de MLK, ou Dr. King, como era chamado, foi marcada por um compromisso firme com os princípios de igualdade, justiça e não violência. Crescendo em uma sociedade segregada, King vivenciou de perto as duras realidades da discriminação racial, e sua exposição precoce a essas injustiças alimentou sua determinação em promover uma mudança positiva.

King emergiu como líder durante o Boicote aos Ônibus de Montgomery, em 1955, um evento crucial desencadeado pela recusa de Rosa Parks em ceder seu assento a uma pessoa branca. O boicote, organizado pela Associação de Melhoria de Montgomery, que tinha King como líder, durou mais de um ano e, eventualmente, levou a uma decisão da Suprema Corte declarando a segregação nos ônibus públicos inconstitucional. 

Com profundas raízes no Cristianismo, a Conferência de Liderança Cristã do Sul (SCLC, na sigla em inglês), fundada por King e outros líderes dos direitos civis, tornou-se uma plataforma importante para advogar pela resistência não violenta. Ele acreditava que, por meio de protestos pacíficos, as pessoas poderiam expor a injustiça da segregação e discriminação, apelando para a consciência moral da sociedade.

Martin Luther King Jr. e outros líderes à frente da Marcha dos Direitos Civis, em Washington, D.C. (28/8/1963) | Foto: Wikimedia Commons

A Marcha em Washington por Empregos e Liberdade, em 1963, marcou um ponto alto na liderança de King. Centenas de milhares se reuniram no Monumento Lincoln para exigir direitos iguais para os afro-americanos. Apesar de enfrentar violência e oposição, King permaneceu comprometido com seus princípios. A Lei dos Direitos Civis, de 1964, que proibia a discriminação com base em raça, cor, religião, sexo ou origem nacional, foi uma vitória legislativa significativa. A Lei dos Direitos de Voto, de 1965, seguiu, abordando barreiras ao voto para afro-americanos.

O incansável ativismo de King teve um custo pessoal. Tragicamente, Martin Luther King Jr. foi assassinado em 4 de abril de 1968, em Memphis, Tennessee, e, em reconhecimento aos seus incansáveis esforços pelos direitos civis e justiça social, o Dia de Martin Luther King Jr. foi estabelecido como feriado federal nos Estados Unidos. Chancelado pelo presidente Ronald Reagan em 1983, o feriado acontece anualmente na terceira segunda-feira de janeiro, próxima ao aniversário de King, para honrar seu legado e a contínua luta por direitos civis e igualdade. Sua morte foi uma perda trágica, mas seu legado perdurou. O histórico discurso “Eu Tenho um Sonho” clama pelo fim da discriminação racial e vislumbra um futuro em que as pessoas seriam julgadas pelo caráter, não pela cor da pele.

Memorial Martin Luther King Jr., em Washington, D.C. (2015) | Foto: Shutterstock

O autointitulado grupo marxista Black Lives Matter, que jura de joelhos “lutar pelas vidas negras”, por exemplo, talvez seria uma das maiores vergonhas para o Dr. King

Todo o discurso, incluindo as seções improvisadas, deixou uma marca indelével na história e é considerado um dos discursos mais influentes do século 20, expressando eloquentemente sua visão de um futuro livre de discriminação racial. Embora ele não tenha mencionado especificamente seus próprios filhos pelo nome, há uma parte comovente do discurso em que ele fala sobre o sonho que ele tem para todas as crianças:

“Digo a vocês hoje, meus amigos, que, mesmo que enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença: ‘Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais’. [Declaração de Independência.]

Eu tenho um sonho de que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho de que um dia até mesmo o estado do Mississippi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, sufocado pelo calor da opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça. 

Eu tenho um sonho de que meus quatro filhos pequenos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.”

Martin Luther King Jr. discursa na Marcha pelos Direitos Civis, em Washington, D.C., em 28 de agosto de 1963 | Foto: Wikimedia Commons

Nesse segmento poderoso, King articula seu sonho de um futuro onde seus filhos, juntamente com todas as crianças, serão julgados exatamente pelo seu caráter, e não pela cor de sua pele. O profundo comprometimento de King em criar uma sociedade mais justa e inclusiva para as gerações futuras, confiando que é o caráter das pessoas que deve ditar seus merecimentos e seus caminhos, nos dá uma pista do que MLK diria sobre o movimento woke de hoje, as mil e uma cartas vitimistas puxadas por grupos segregacionistas e, principalmente, como muitos, brancos e negros, usam os afro-americanos apenas como massa de manobra de projetos de poder e enriquecimento.

O autointitulado grupo marxista Black Lives Matter, que jura de joelhos “lutar pelas vidas negras”, por exemplo, talvez seria uma das maiores vergonhas para o Dr. King. Depois de colocar fogo, literalmente, em várias cidades do país, trazendo absoluto caos e desordem, destruindo bairros pobres inteiros por puro jogo político antes das eleições presidenciais americanas de 2020, os fundadores da organização arrecadaram milhões de dólares em doações com o pretexto da “luta contra o racismo”. O patrimônio do clube marxista é avaliado hoje em mais de US$ 90 milhões.

Manifestantes do Black Lives Matter queimam a bandeira dos Estados Unidos | Foto: Shutterstock

“Vidas negras importam”, eles gritaram aos quatro ventos durante anos. Sim, vidas negras importam, assim como qualquer vida, mas, como a hipocrisia dessa gente não consegue ficar no armário por muito tempo, a vida negra que mais importou para o movimento não foi a de George Floyd, altamente drogado e morto em uma parada policial, mas a da cofundadora do Black Lives Matter. De acordo com documentos fiscais do imposto de renda, Patrisse Cullors usou boa parte dos fundos de doações para pagar a seu irmão e ao pai de seu filho quantias exorbitantes de dinheiro por vários serviços.

A superpreocupada com vidas negras teve que admitir, apenas depois de uma investigação, ter dado grandes festas na nova ostentosa mansão de US$ 6 milhões da organização em Los Angeles. Cullors também já se viu em maus lençóis depois de receber um ótimo pagamento de US$ 120 mil por “taxas de consultoria” não reveladas do Black Lives Matter. E não para por aí: a marxista comprou secretamente uma mansão em Los Angeles, na nobre área de Malibu, com seis quartos e banheiros, piscina, estúdio de som e espaço para um grande escritório. A compra só foi descoberta depois de uma auditoria dos fiscais do imposto de renda na Califórnia.

Artigo publicado no New York Post (19/5/2022) | Foto: Reprodução

Os movimentos atuais que prometem lutar por “vidas negras” estão profundamente ligados ao Partido Democrata de Joe Biden. O que não é mostrado pela imprensa, relações públicas do partido atualmente, é a história sórdida dos Democratas, casada com a história abominável do movimento “progressista” de Margaret Sanger, por exemplo, fundadora da Planned Parenthood, cadeia de clínicas de aborto espalhadas por todo o país. Elogiada publicamente por Hillary Clinton, por democratas famosas, como Madonna e outras celebridades de Hollywood, e por figuras marxistas, como os fundadores do Black Lives Matter, Sanger apoiava causas como a eugenia e o darwinismo social. Embora o aborto não fosse um “problema político” na época de Sanger, ela apoiou a esterilização forçada para pessoas “impróprias”, principalmente os negros e imigrantes. O projeto do modelo de feminismo para as democratas foi especificamente focado na redução da população negra, e clínicas abortivas foram implantadas majoritariamente nas comunidades e bairros negros em vários estados da América.

Martin Luther King Jr., negro, cristão, ícone e inspirador ativista dos direitos civis, da justiça e da igualdade social, mesmo com a sua eloquência, provavelmente estaria sem palavras com a agenda vitimista, mentirosa e assassina dos negros que se associaram aos velhos brancos hipócritas que usam exatamente os afro-americanos para permanecerem no poder.

Margaret Sanger, sentada atrás da mesa, cercada por outras 12 mulheres, em 1920 | Foto: Domínio Público

Todas as vidas importam e, claro, vidas negras importam. Mas, para a turba milionária às custas de destruição e vandalismo, as vidas negras de pobres que hoje estão abandonados em grandes cidades administradas pelos democratas ou dos bebês negros assassinados nos ventres de suas mães não têm a menor importância.

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15 comentários
  1. Jorge
    Jorge

    Eu tenho um sonho:
    Todas as pessoas entenderem que as cores são reflexos da luz branca, que só resplandece com a luz negra.
    O mundo está repleto de ilusões!

  2. SEVERINO JOSE DA SILVA
    SEVERINO JOSE DA SILVA

    Parabéns Ana, excelente.

  3. Thais de MORAES Machado Suppo Bojlesen
    Thais de MORAES Machado Suppo Bojlesen

    Como sempre ANA vc está de parabéns por mais um texto magnífico! Muito me orgulho de vc ser brasileira de nascimento e de coração, uma verdadeira Patriota! Beijos

  4. Isolda Aranha Leite
    Isolda Aranha Leite

    A luta é contra a maldade! Triste.

  5. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Ótimo artigo, Ana.

  6. Leila marta Vieira Lima
    Leila marta Vieira Lima

    Eu tenho um sonho que o povo brasileiro na sua adquiram mais conhecimento para que possa então serem livres e que possam caminhar com as suas próprias pernas.

  7. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Eu também tenho um sonho que é o sonho de 220 milhões de brasileiros, é extinguir essa corja de ladrão comunista terrorista narcotraficante assassino genocida estelionataio fraudulento, desapareça do cenário político brasileiro

  8. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Ana Paula já trabalhou muito no Brasil no esporte e provavelmente na igreja cristã, portanto também por aqui foi reconhecida. Atualmente nos EEUU enaltece o reconhecimento do pais por quem procura trabalho e oportunidade, logo, lá também cresceu no conhecimento da historia politica e jurídica americana.
    Creio que falta somente voltar ao Brasil em 2026 para em 8 anos como SENADORA enriquecer essa CASA e com outros brasileiros sérios e honestos reajustar esse excessivo autoritarismo das CORTES SUPREMAS.
    Posteriormente volte a essa terra de oportunidades mais feliz ainda pelo bem que fez ao nosso pais.

    1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
      Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

      Apoiado.

    2. Vanessa Días da Silva
      Vanessa Días da Silva

      Verdade. Ficamos com aquela porcaria ignorante da Leila do.volei, enquanto os EUA ficaram com a nossa grande Ana Paula

  9. Antonio Saggese Netto
    Antonio Saggese Netto

    Ana, muito obrigado por me ajudar a melhorar meu conhecimento histórico. Texto brilhante!

  10. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    Muito bom o artigo. Aliás, com fundo humanista, cristão e democrático. Estou pensando em comentar algo mais a respeito do Brasil. Mas, vou ficar hoje a tarde apreciando a mãe natureza (ficará proibido utilizar a palavra mãe?), além do ronco dos bugius e a revoada das andorinhas e das tirivas. Penso, logo existo.

  11. Ed Camargo
    Ed Camargo

    O Brasil sob o domínio do regime petralha, visto filosoficamente, como diria a Dr. Martin Luther king, tornou-se uma série de campos de escravos, onde os cidadãos – são tributados como animais de sacrifício – trabalham sob as cadeias da ilusão ao serviço dos seus mestres, que vivem no luxo e viajam pomposamente pelo mundo gastando os frutos do nosso trabalho.
    Ninguém é mais escravizado do que aqueles que acreditam falsamente serem livres. Quando 50% dos frutos do seu trabalho é confiscado antes que você receba seu ganho e quando opós receber seu salário você ainda paga de 30 a 50% de imposto embutido no preço de tudo aquilo que compra, você pode categóricamente afirmar que é um escravo e o seu governo é a causa de você viver em condições análogas a escravidão, enquanto os parasitas que confiscam os frutos do nosso trabalho vivem no luxo de mansões palaciais comendo a famosa picanha no jantar, tudo as nossas custas.

  12. Walter Cesar Gomes
    Walter Cesar Gomes

    Se ele tivesse o poder da não linearidade no tempo e caísse hoje no Ocidente, ficaria mais que perplexo: Se isolaria em uma ilha , até que seus neurônios se reorganizassem. Aí talvez, poderia recomeçar…

  13. José Pedro Scatena
    José Pedro Scatena

    Uma aula sobre a História recente. Mas, ainda mais recente e digna de uma análise no próximo número da Oeste é a declaração de Mark Fischer, co-fundador do BLM-Rhode Island, sobre Joe Biden e o Partido Democrata. ???????? Black Lives Matter Rhode Island co-founder Mark Fisher about Trump “We’re not stupid. Brothers are not stupid. We understand when someone is for us and when someone is not, and it’s obvious that the Democratic Party is not for us. A lot of people are misinformed.

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