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Edição 203

Deixai matar

O índice de criminalidade no Brasil é de 19 homicídios por 100 mil habitantes. A média mundial é de menos de seis por 100 mil

Alexandre Garcia
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Enquanto o Supremo se movimenta para livrar o país dos “atos antidemocráticos” com o inquérito sobre “milícias digitais”, o brasileiro comum, principalmente o mais pobre, sente que, enquanto há uma briga política na cúpula, ele continua sendo assaltado, roubado, furtado, ameaçado e morto. Além de afetar nossos direitos básicos, o crime nos tira um pedaço do PIB. É o que nos avisa o Fundo Monetário Internacional (FMI). Cálculo do FMI mostra que, se o Brasil tivesse índice de criminalidade apenas igual à média mundial, seu produto interno bruto avançaria no mínimo 0,6 ponto porcentual, isto é, o equivalente a R$ 65 bilhões em bens e serviços. Isso sem contar a perda de 40 mil vidas por ano e o medo generalizado. Nosso número é de 19 homicídios por 100 mil habitantes. A média mundial é de menos de seis por 100 mil. Regiões antes de comércio movimentado nos centros do Rio e de São Paulo estão abandonadas, de portas fechadas, por causa de roubos e saques. A falta de segurança afasta investidores, como atestam os últimos números. Ao contrário do Brasil, em El Salvador, acaba de ser demonstrado nas urnas que segurança pública é um excelente investimento político.

O presidente que foi implacável com o crime, encheu prisões e limpou as ruas foi reeleito com estrondosa margem de 85%, além de receber como aliados 58 dos 60 congressistas. Na primeira entrevista, provavelmente perguntado com referência ao Brasil e Lula, Nayib Bukele disse que El Salvador está resolvendo esse problema por vontade política. “Isso se aplica ao Brasil e a qualquer parte do mundo.” Perguntado se havia tratado sobre isso com o presidente Lula, respondeu que eles conversaram algumas vezes, mas Lula nunca tocou no assunto segurança pública. “Imagino que ele terá sua forma de abordagem da situação”, acrescentou, disfarçando a ironia com o semblante sério. E repetiu que o problema tem solução se houver vontade política. Admitiu que El Salvador e Brasil podem ser diferentes, mas, quando um país não resolve o seu problema, é porque não há vontade política de resolver. 

Nayib Bukele | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Se o encarceramento faz o criminoso, os presos do 8 de janeiro estariam sendo transformados em criminosos nos presídios de Brasília? E, se a exclusão social é que faz o criminoso, por que tantos incluídos engravatados são os criminosos descobertos na Lava Jato?

Depois, Bukele tocou num ponto: “Muitas vezes não resolvem porque são sócios dos delinquentes. Se atacar o crime, perde um sócio de seu negócio. O exemplo de El Salvador serve para qualquer país do mundo”. Aí a gente constata o que aconteceu também com México, Colômbia e Equador, com o crime e a política mancomunados. Os territórios de facções nas grandes cidades e as ligações com gente dos Três Poderes são similares no Brasil ao que aconteceu nos outros países do continente. Hoje, por aqui, se expressam duas correntes: de um lado, o ministro da Justiça e Segurança Pública afirma que a origem do crime é a exclusão social e o encarceramento; de outro, três governadores — de Goiás, Minas e São Paulo — e o presidente do Congresso decidem eliminar as “saidinhas”, para manter fora das ruas os agressores da sociedade, por acreditarem que ser criminoso é uma questão de desvio de caráter. Eles se uniram e já tocaram o projeto de lei aprovado na Câmara por 311 votos, que se arrastava no Senado havia um ano e meio. Parece que faltava a “vontade política” mencionada por Bukele. O projeto agora tem urgência e será logo concluído no plenário. Caberá ao presidente Lula sancionar ou vetar. Se vetar, será mais um veto a ser derrubado no Congresso.

Se o encarceramento faz o criminoso, os presos do 8 de janeiro estariam sendo transformados em criminosos nos presídios de Brasília? E, se a exclusão social é que faz o criminoso, por que tantos incluídos engravatados são os criminosos descobertos na Lava Jato? É preconceituoso julgar que um excluído socialmente, isto é, pobre, tenha que ser, por isso, criminoso. Além disso, a pregação oficial dos últimos dias é de não prender autores de pequenos furtos, assim como o Supremo não quer criminalizar traficantes de pouca quantidade de droga. Isso significa não interferir no aprendizado dos futuros grandes criminosos. O perigo de deixar furtar é, depois, deixar roubar; por fim, deixar matar.

Capa da Revista Oeste, Edição 173 | Foto: Shutterstock

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7 comentários
  1. Oswaldo Galvão Carvalho
    Oswaldo Galvão Carvalho

    que precisamos mudar tudo isso que aí está é uma questão pacifica. (não se discute mais)
    porque não propomos, então, um “leasing” do Brasil aos USA por 100 anos, assim poderemos nos beneficiar da liberdade e do desenvolvimento econômica e pessoal para todos, baseado na experiência lá vividas.
    desenvolvimento educacional, principalmente.

  2. jorge alves
    jorge alves

    O BRASIL é PARAÍSO PARA BANDIDO o cara pega 30 anos de cadeia paga 6 anos e tá na rua , MATA COFESSA O CRIME e sai pela porta da frente os COLARINHOS BRANCO com 200 anos de pena tá na rua todos da LAVA JATO estão rindo a toa rsss multa da 10 BI da JBF perdoada multa 4 BI da ODEBRECH perdoada pois é BRASIL PAÍS da LADROEIRA tudo é PERMITIDO rsss

  3. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Essa ladainha de “justiça social” da esquerda – ouvi isso ontem à noite durante o jantar na casa de um parente esquerdista doutrinado na UFPR – é pura demagogia.
    Sou o mais velho de uma prole de 6 filhos e com 67 anos bem vividos, ostento uma história de vida que contesta todos os argumentos da esquerda.
    Em 3 de janeiro 1967 morando na roça no interior do Paraná, minha mãe com 32 anos, 6 filhos, eu com 10 anos e a caçula com 9 meses, foi abandonada pelo marido.
    Um tio irmão de minha mãe nos acolheu oferecendo um “canto” para morar e um prato de comida.
    Foi assim por 6 meses até que em junho do mesmo ano minha mãe tomou a decisão mais louca para uns e mais acertada para nós.
    Fomos para Curitiba tentar a “sorte”.
    Um pequeno quarto de 3,00 x 2,50 no bairro Bacacheri abrigava de forma rudimentar a família de 7 pessoas. Para dormir tinha duas camas onde a mãe dormia com as 3 meninas em uma e na outra dormia os 3 meninos. Para cozinhar um buraco no quintal compartilhado, idêntico ao descrito pelo Motta em seu artigo. Não havia fogão, geladeira, rádio ou qualquer outra mobília.
    Minha mãe foi trabalhar de diarista e eu, o mais velho, fazia serviços de jardinagem, venda de frutas e picolés nas ruas, engraxate no ponto de táxi da Avenida Erasto Gaertner esquina com a Rua Holanda e pintura de casas para engrossar o orçamento doméstico.
    Em 1969 com 13 anos consegui emprego fixo em um escritório de contabilidade como contínuo – usava roupas doadas – e este emprego fixo possibilitou minha primeira compra de vestuário e calçado.
    Neste mesmo ano compramos um terreno na periferia da cidade.
    Hoje minha mãe está com 88 anos e não sei quanto tempo ainda ficará entre nós, mas tenho muitas certezas de que é uma pessoa realizada.
    A principal delas é ter formado 5 filhos na universidade e o único que não se gradou foi por vontade própria.
    Minha mãe foi alfabetizada aos 50 anos pelo antigo MOBRAL e nunca permitiu que seus filhos não tivessem desempenho escolar exemplar.
    Quando partir para o plano superior deixará um legado de luta, perseverança, honestidade e valores que sempre balizaram nossa convivência em família.

    1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
      Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

      Bonita história de vida, Donizete.

  4. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Alexandre, procure convencer velhos amigos jornalistas, juristas, economistas, artistas, militares. religiosos e politicos que realmente prezem a democracia e a verdade, a promover uma gigantesca manifestação pacifica e que não impeça o direito de ir e vir, para mostrar a essa “pouca gente” autoritária o que é democracia.
    Não dá para entender que grandes veículos de comunicação ainda digam em seus jornais que Valdemar Costa Neto estava preso por PORTE ilegal de arma. Não sabem sequer distinguir PORTE de POSSE de uma arma legal com registro vencido. Essa aberração judicial e jornalística resulta na prisão do presidente do PL, o partido com a maior representação na Câmara dos Deputados. Outros veículos (Record) convidam professora de Direito da FGV para falar que a reunião em 2022 do presidente Bolsonaro com ministros alertando para o perigo que a falta de transparência das urnas poderia revoltar a população, deixa evidentes sinais de preparação de GOLPE. Quanta insanidade de profissionais ativistas e militantes que precisariam ser sérios com a população.

  5. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Perfeito Alexandre Garcia,como sempre.A segurança pública e a segurança jurídica são os alicerces básicos para um país prosperar.Aqui os traficantes recebem regalias mesmo carregando cem quilos de cocaína e quem pratica crimes e pequenos furtos são liberados no mesmo dia.Estamos vivendo tempos de terror.
    .

  6. Raimundo Rabelo Lucas
    Raimundo Rabelo Lucas

    Mestre Alexandre Garcia, não se pode esperar NADA referente a segurança pública em um país presidido por um meliante que foi condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro,com PROVAS SOBRADAS. A tendência é piorar.

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