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Ronaldo Caiado, governador de Goiás | Foto: Reprodução/Flickr
Edição 204

Ronaldo Caiado: ‘A estrutura do crime é maior que a do Estado’

O governador de Goiás criticou Lula, defendeu o agronegócio e ressaltou a importância da segurança pública para o país

Cristyan Costa
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Integrante de uma família influente em Goiás, produtor rural e médico, Ronaldo Caiado trilhou o caminho inverso na política. Em 1989, aos 40 anos, decidiu candidatar-se na concorrer à Presidência da República, na primeira eleição direta depois da Constituição de 1988, pós-regime militar. Enfrentou nomes conhecidos como Mário Covas, Leonel Brizola, Lula, Ulysses Guimarães, Paulo Maluf e o vitorioso Fernando Collor de Melo. Embora tenha ficado em décimo lugar — de um total de 22 candidatos –, não deixou a política para trás. Pouco depois, tornou-se deputado federal por cinco mandatos, virou senador e, por fim, governador, cargo para o qual foi reeleito em 2022. No Estado, tem aprovação de mais de 81% da população. Com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, é considerado um forte pré-candidato à Presidência em 2026. “Sendo o candidato, trabalharei fortemente para ter apoio, mas dentro de uma convergência com Tarcísio, Zema e Ratinho”, disse.

O governador elogiou o desempenho do agronegócio, setor que tem carregado o Brasil nas costas, e criticou a propaganda ambientalista de países europeus contra os produtores rurais. Caiado também não poupou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), visto pelo governador como “clandestino”, que anunciou mais invasões neste ano. “Uma pessoa que dá uma declaração assim tem de ser processada ou presa no ato”, disse. “Invasão é crime; e o direito à propriedade, sagrado”.

Além da defesa do agronegócio, outra de suas bandeiras é a segurança pública. “As facções criminosas chegaram a tal nível de sofisticação que começaram a vender ‘pontos de franquias’ nas cidades para grupos comercializarem drogas sem ser incomodados”, constatou o governador de Goiás. Ele responsabilizou ainda a gestão Lula 3, por não ter feito o dever de casa corretamente. “Se o Brasil não vive a mesma situação do Equador, é porque ainda não declarou guerra às facções criminosas. Quando fizer, aí é que vamos ver a dimensão das estruturas de criminosos bem armados e treinados.”

Ronaldo Caiado: além da defesa do agronegócio, uma de suas bandeiras é a segurança pública | Foto: Reprodução/Redes Sociais

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o senhor vê a segurança pública no Brasil?

Infelizmente, nossa sociedade não tem mais as condições mínimas para viver em paz no dia a dia. O brasileiro não pode hoje caminhar tranquilamente com seu filho em uma praça ou receber os amigos em casa à noite, tampouco ficar no ponto de ônibus sozinho ou andar pelo bairro onde mora. As facções criminosas chegaram a tal nível de sofisticação que começaram a vender “pontos de franquias” nas cidades para grupos comercializarem drogas sem ser incomodados. Se o Brasil não vive a mesma situação do Equador, é porque ainda não declarou guerra às facções criminosas. Quando fizer isso, aí é que vamos ver a dimensão das estruturas compostas de criminosos bem armados e treinados. Vivemos um falso positivo, uma cortina de fumaça que encobre o sofrimento das pessoas. A estrutura do crime é maior que a do Estado. Essa situação mostra quanto o governo federal foi omisso ao deixar que a criminalidade alcançasse proporções inimagináveis.

Como estão as negociações no Parlamento para acabar com as ‘saidinhas’ temporárias de presos?

Avançadas. É um absurdo imaginar que, no decorrer de um ano, sejam permitidas de quatro a cinco saidinhas. Muitos dos que deixam os presídios acabam não voltando. Portanto, as polícias têm um trabalho dobrado para prender novamente um criminoso que, às vezes, levaram tempo para colocar atrás das grades. Isso desmotiva e desrespeita os nossos agentes. Eu e os governadores Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Júnior, Mauro Mendes e Wanderlei Barbosa estamos trabalhando fortemente junto com o Parlamento. Queremos que o Congresso Nacional nos escute e aprove o projeto que põe fim a esse benefício de uma vez por todas. O brasileiro não pode ficar a mercê de criminosos reincidentes que, mesmo com a tornozeleira eletrônica, praticam delitos. Tenho conhecimento de que esses bandidos recorrem a subterfúgios capazes de driblar o equipamento, a fim de impedir o monitoramento da sua localização exata.

Um dos líderes do MST, João Pedro Stédile, disse que as invasões do movimento vão aumentar em 2024. Qual avaliação o senhor faz desse grupo?

Trata-se de um movimento clandestino, porque não tem estatuto ou quem responda por ele. Sobre a fala referente ao aumento do número de invasões, quero lembrar que ninguém está acima da lei. Uma pessoa que dá uma declaração assim tem de ser processada ou presa no ato. Invasão é crime. E o direito de propriedade, sagrado. A esquerda convive com o crime. Ela não consegue combatê-lo. Não tem independência para isso. Essa conivência é o que deteriora a estrutura do Estado. Faz com que o cidadão desacredite a autoridade. Quando se faz negócio com o crime, não tem mais solução. Ou se é conivente ou se beneficia dele. Ou a pessoa tem independência intelectual e faz valer a lei, ou o “jeitinho” não é por acaso. Em Goiás, reinam a paz e a lei.

Discute-se como girar a economia sem prejudicar o meio ambiente. O Brasil está no caminho certo?

Nenhum país tem uma legislação ambiental tão restritiva quanto o Brasil. Além disso, preservamos, e muito, a nossa vegetação. Posso garantir que 99% dos produtores respeitam as regras. O discurso segundo o qual não cuidamos das florestas vem de fora. Essa propaganda do exterior surgiu porque a eficiente competitividade do Brasil assusta sobretudo a Europa. Recentemente, a máscara caiu. Depois de manifestações de agricultores estrangeiros, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia está cancelado. Dessa forma, Macron vai manter os subsídios ao agronegócio francês e as taxas aos produtos brasileiros, de modo a desestimular a nossa exportação, que ganharia aquele mercado. Para ter ideia, o Brasil discute essa tratativa entre blocos há 25 anos. A demora se deu principalmente pelos entraves que a Europa sempre põe no caminho, acusando injustamente o Brasil. Perceba que agora pararam de falar sobre a Amazônia, a qual já está dominada pelo crime organizado, e voltaram os olhos para o Cerrado. Por que não lembram mais o desmatamento e os indígenas? Fica cada vez mais claro que sempre houve uma conivência internacional para com o crime organizado, a fim de buscar algo que impedisse o Brasil de entrar no mercado. Estamos falando de uma política poderosa e bem financiada.

Macron
Macron vai manter os subsídios ao agronegócio francês e as taxas aos produtos brasileiros, de modo a desestimular a nossa exportação, que ganharia aquele mercado | Foto: Reprodução/Twitter/X
O que o senhor pensa sobre a reforma tributária?

Um desastre completo. Ela atende aos interesses de poucos, dos que comandavam a equipe do economista Bernard Appy. O texto faz com que tenhamos uma carga tributária estratosférica com conceitos de distribuição de renda que podem comprometer enormemente os Estados centrais do Norte e do Nordeste. Preferiu-se valorizar lugares de consumo, em detrimento de regiões produtivas. Inverteu-se a roda do desenvolvimento do Brasil. Voltaram as costas para o que hoje é o sustentáculo da economia: o agronegócio. A coisa foi tão malfeita que até agora não sabemos qual será o porcentual final do nosso Imposto sobre Valor Agregado. Uns falam em 20%, 30% e até 33%. O governo está preocupado em aumentar a carga tributária sobre bens imóveis, Imposto de Renda, heranças e doações. O que vimos foi uma voracidade ímpar sobre o bolso do cidadão para aumentar a arrecadação. Lamento que não se esteja falando, agora, em reforma administrativa para reformar o Estado e conter despesas. O cidadão não suporta mais. Afirmo ainda que esse arcabouço fiscal, com promessa irreal de déficit zero, principalmente agora que o governo terminou 2023 com rombo de mais de R$ 200 bilhões, não é bom para o país. Acabaram com um teto de gastos que servia como freio de arrumação para as contas. Espero que uma cabeça lúcida assuma o comando do país.

“Em pleno século 21, o Brasil não pode admitir mortes por picada de mosquito”

O senhor tem se movimentado para uma candidatura à Presidência. O que fazer para atrair o eleitor de direita? Estaria disposto a abrir mão da candidatura para apoiar outro nome em 2026?

Se Jair Bolsonaro ficar elegível, ele será o candidato. Não se discute. Caso permaneça como está, lembro que tenho 40 anos de vida pública e passei por vários cargos, entre eles de deputado, senador e, agora, governador por dois mandatos. Haverá pré-candidatos, e aquele que der conta de ter uma boa avaliação, além do apoio do ex-presidente, terá mais chances. Não vejo a eleição de 2026 como uma estratégia complexa, mas, sim, como um divisor de águas. Teremos um candidato de esquerda e outro conservador. Sendo o candidato, trabalharei fortemente para ter apoio, mas dentro de uma convergência com Tarcísio, Zema, Ratinho e demais postulantes. É um jogo harmônico. Não adianta ter disputa interna agora, sendo que o momento de definição não chegou. Lembro ainda que, se Bolsonaro sinalizar uma candidatura, ele terá chances reais de ir para o segundo turno contra o outro lado.

No Estado de Goiás, Ronaldo Caiado tem aprovação de mais de 81% e é considerado um forte pré-candidato à Presidência em 2026, com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro | Foto: Reprodução/Redes Sociais
O que o senhor pensa a respeito do 8 de janeiro?

Sou um soldado da democracia e não transijo em questões referentes ao Estado de Direito. Por isso, não admito invasões, seja a prédios públicos, seja a privados. Se fizermos concessões à desordem, desestabilizaremos a governabilidade futura. Agora, um comparativo precisa ser feito: a situação das pessoas que estavam em Brasília e o cidadão que pratica um crime contra a vida ou por tráfico de drogas. A ponderação que faço é de que a pena tem de ser alinhada conforme as práticas da pessoas. Quem comete um crime que choca a sociedade não pode ter uma pena menor que a de 17 anos daquele cidadão que estava em Brasília e que não era sequer o cabeça das manifestações.

O país vive uma epidemia de dengue. Qual é sua avaliação a respeito?

Em pleno século 21, o Brasil não pode admitir mortes por picada de mosquito. Trata-se de algo que choca a todos nós. Uma coisa é ir a óbito em virtude do novo coronavírus, um patógeno que era totalmente desconhecido. Outra é imaginar que, em 2024, ainda tem gente falecendo por causa da dengue. A ciência brasileira precisa responder rapidamente, com o apoio dos governos estaduais e federal.

O governo Lula completou um ano. Qual é sua avaliação sobre esses 12 meses, e como tem sido sua relação com o Executivo?

Sem dúvidas, este governo deixou muitos problemas nacionais de lado e investiu em uma política internacional cujo resultado ainda não vimos. Penso que, primeiro, temos de arrumar a nossa casa e, depois, tentar resolver os problemas do mundo. Volto a dizer que a reforma tributária e o arcabouço fiscal são dois tiros no pé. Em relação à segurança pública, vejo que o governo de maneira nenhuma conseguiu avançar no combate à criminalidade. Além disso, já começou o segundo ano com queda de braço com o Parlamento e uma discussão orçamentária que sabemos quanto pode dificultar o andamento da nossa economia.

Leia também “Tiago Pavinatto: ‘Alexandre de Moraes não cumpriu a lei'”

9 comentários
  1. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Acho sinceramente que o que cacifa um candidato à presidência da República é a honestidade. Nesse critério está Bolsonaro e Tarcísio. Eu não acredito num homem que sabe o que está se passando nesse país e usa uma retórica de eufemismo, passa pano e banho-maria

    1. Rodrigo Cassol Lima
      Rodrigo Cassol Lima

      Concordo !

  2. Luiz Antonio Cafieiro Guimarães
    Luiz Antonio Cafieiro Guimarães

    Ótimo, mas a culpa principal está na Câmara e no Senado, seus presidentes e CPI de faz de contas

  3. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Caiado tem qualidades, é de direita e sincero. Com Bolsonaro elegível ele tem que ser o candidato. Só não entendo é ter sido pouco crítico do ocorrido em 8 de janeiro e porque ocorreu. Quem depredou não foram os patriotas sempre pacíficos, democratas e sem antecedentes criminais. Pessoas julgadas em bloco sem especificar o crime de cada um e em última instância no STF, é coisa de ditadura.
    Não entendo também qual o receio da reportagem de perguntar sobre a transparência e auditoria das urnas. Afinal, quase toda a população da direita acreditou no Ministério da Defesa e nas FFAA, quando relataram que as urnas eletrônicas não tem segurança para detectar fraudes e fizeram recomendações que o TSE não aceitou.
    Então, tinha muito mais para Caiado falar que simplesmente condenar vandalismos que sequer foram praticados pela maioria dos patriotas. Continuar calado sobre a necessária auditoria das urnas eletrônicas e eventual recontagem em resultados por pequena diferença percentual como ocorreu em 2022, como um processo de aperfeiçoamento e segurança das urnas eletrônicas, não dá para entender.

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Ronaldo Caiado é um grande político. Conheci em 2023 algumas cidades de Goiás e deu para perceber o estado próspero e povo batalhador.
    E, gostaria de uma pergunta a ele sobre a criação de Brasília, o que ele acha se foi bom ou ruim para o Brasil. Já que fica vizinho a Goiás.

  5. Fábio Gavião Avelino de Méllo
    Fábio Gavião Avelino de Méllo

    O Caiado é um homem sensato, com uma visão clara da política brasileira e será um ótimo candidato à presidência da república em 2026!

  6. Célio Antônio Carvalho
    Célio Antônio Carvalho

    Concordo com o político e médico Ronaldo Caiado: “não se pode morrer por uma picada de um mosquito em 2024”.
    Outra questão serão as próximas eleções para presidente e o parlamento. É preciso inteligência, união, jogar de acordo com o pleito. Não será fácil mas possível sim derrotar a esquerda que está aí no poder.
    Caiado sempre foi um bom nome. Inteligente, moderado, capaz. Provou isso durante toda a sua vida pública.
    É preciso uma composição muito forte para derrotar o esquerdismo que dá sinal de fraqueza. Então é sim possível.

  7. João Carlos de Souza Carvalho
    João Carlos de Souza Carvalho

    O Ronaldo Caiado sempre lúcido e patriota ,querendo o melhor para os brasileiros ! Votei nele no primeiro turno em 1989 ,depois tive que votar no Collor porque não voto em petistas ladrões e mentirosos ! Gostaria de votar nele de novo se Bolsonaro for inelegível em 2026 !

  8. Joao Pita Canettieri
    Joao Pita Canettieri

    *Revista Oeste – Edição 204* *Parabéns e não abandonem o Brasil*

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