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Foto: Alexander Supertramp/Shutterstock
Edição 205

A nova internet

Por três décadas 'demos um Google'. Agora a rede está se transformando em algo muito mais poderoso

Dagomir Marquezi
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A internet já foi uma selva. O usuário tinha que digitar cada endereço, com todos os “:@/” para chegar a algum lugar. O primeiro grande “mapa” para que o usuário se localizasse nessa selva foi o Yahoo!, lançado em 1994. O Yahoo! organizava a rede em grandes temas e serviu como sua primeira bússola. 

Quatro anos depois, dois universitários de Stanford, Larry Page e Sergey Brin, inventaram um novo mecanismo chamado Google. A internet já não precisava mais ser organizada em diretórios. Bastava escrever numa guia o que você desejava. E o Google procurava na rede tudo o que de mais relevante aparecesse relativo ao que você queria.

Christopher Mims resumiu assim essa fase para o Wall Street Journal: “Durante décadas, buscar conhecimento on-line significou pesquisá-lo no Google e clicar nos links oferecidos pelo mecanismo de busca. A pesquisa dominou tanto nossos comportamentos de busca de informações que poucos de nós ainda pensam em questioná-la”.

Passamos os 30 anos seguintes “dando um Google”. Com a popularização da inteligência artificial, demos um salto. Mas, com esse salto, muita coisa vai ter que mudar. Inclusive um modelo de negócios ao qual estamos acostumados.

O que mudou?

Em resumo, quando damos um Google sobre determinado assunto — vamos dizer, “jazz” — recebemos uma longa lista de links para enciclopédias e publicações especializadas, imagens, notícias, vídeos, propaganda, anúncios de shows etc. 

A nova era de pesquisa com inteligência artificial funciona como se você tivesse um assistente para fazer esse trabalho. Pergunte a um desses aplicativos generativos o que é o jazz e ele vai responder algo como: “É um gênero musical caracterizado por uma improvisação altamente criativa e uma mistura de elementos musicais de diferentes culturas, incluindo a música africana, europeia e americana…”.

Mas a IA não se limita a isso. Ela pode traduzir essa definição para o grego (“Τζαζ είναι ένα μουσικό είδος που προήλθε στις…”). Ou gerar em meia dúzia de segundos uma imagem baseada nessa mesma descrição:

Imagem gerada por inteligência artificial com base na definição da palavra “jazz” | Foto: Revista Oeste/Dall-E

A inteligência artificial pode muito mais, como veremos adiante. Ela sairá triunfante sobre o modelo antigo quando se popularizar. Mas existe a possibilidade de uma crise nessa mudança. 

Com respostas prontas, os usuários podem deixar de clicar naquela lista toda de links oferecidos pelo Google. E, com isso, deixar de transitar pelos muitos sites que dependem de nossos cliques para sobreviver. 

Quem acompanha essa área de tecnologia de ponta sabe que previsões catastróficas são o normal a cada novidade. Ao mesmo tempo, a extrema agilidade do ambiente de negócios nessa área já mostrou muitas vezes que soluções aparecem com facilidade para superar qualquer crise. Estamos muito no começo desta nova era para arriscar qualquer palpite.

Não importa o sistema operacional do seu celular ou computador — ele já está equipado com mecanismos de pesquisa por inteligência artificial, mesmo que você não saiba. A gente vai listar aqui algumas dessas possibilidades para que você comece a entrar nesse mundo — ou se aprofunde nele.

  • ChatGPT: o pioneiro e hoje o mais completo modelo. A versão grátis não difere muito dos outros aplicativos. Mas, para quem quiser se aprofundar nesse assunto e ter a IA como parceira, vale muito a pena pagar US$ 20 por mês para ter a versão mais avançada, o Plus. A quantidade de instrumentos incluídos nessa versão aumenta a cada dia.
  • Wolfram: um instrumento dedicado a computação e matemática em tempo real. 
  • Dall-E: descreva o que você quer, e ele desenha. Como o conceito abstrato de “jazz”, que gerou a ilustração acima.
  • Creative Writing Coach: ajuda a tornar seu texto mais criativo, inclusive em português.
  • Canva: assistente completo de arte para qualquer utilidade.
  • Copilot: o aplicativo de IA da Microsoft. A empresa agiu com agilidade quando viu o sucesso do ChatGPT e criou anexou o Copilot em sua rede de produtos, incluindo o próprio Windows. Como o ChatGPT4 (mas numa escala muito menor), oferece plug-ins úteis, como indicações de restaurantes e sites de compras. 
  • Perplexity: mistura um pouco do espírito do velho Google. Você fica sabendo, por exemplo, que a palavra “pizza” surgiu pela primeira vez em Gaeta, na Itália, no ano 997. Mas o Perplexity mostra claramente quais são suas fontes em cada uma das informações fornecidas. Oferece também ilustrações que podem ser aplicadas diretamente na sua pesquisa ou artigo. A versão Pro, com mais recursos, também custa US$ 20 mensais (ou US$ 200 anuais). O Perplexity (que significa “perplexidade”) é em parte financiado pelo dono da Amazon, Jeff Bezos.
  • Gemini: o Google percebeu tarde que estava atrasado nessa corrida pela popularização da inteligência artificial. Lançou o Bard, depois rebatizado como Gemini AI. “Os usuários não estão apenas procurando resumos ou respostas de IA, eles realmente se preocupam com a riqueza e a diversidade que existe na web”, declarou o CEO do Google, Sundar Pichai, em entrevista à CNBC reproduzida pelo Wall Street Journal. “Eles também querem explorar. Nossa abordagem realmente prioriza esse equilíbrio, e os dados que vemos mostram que as pessoas valorizam essa experiência.” Acontece que, apesar de toda essa conceituação de Pichai, o Google continua atrasado. Seu Gemini é um dos aplicativos de IA mais fracos do mercado. A empresa está muito mais adiantada na área de animação por comando de texto, com o aplicativo Lumiere. Basta escrever o que você quer, que o Lumiere anima. Os resultados são impressionantes, mas o aplicativo ainda está em estágio experimental, longe do usuário comum.
YouTube video
  • Consensus: um aplicativo de IA mais voltado para o mundo da pesquisa acadêmica. Segundo o site Euronews, seu campo de atuação por enquanto é limitado a seis tópicos: economia, sono, política social, medicina, saúde mental e suplementos de saúde. A ideia é ter um aplicativo que funcione como um auxiliar para a criação de teses acadêmicas 
  • ResearchRabbit: também é dirigido a pesquisas acadêmicas. Apelidado como o “Spotify das pesquisas”. O usuário que está preparando uma tese de mestrado, por exemplo, pode organizar suas fontes de pesquisa com facilidade. O aplicativo cria um mapa visual dos documentos aos quais você pode ter acesso para criar a sua tese. Não é um serviço para leigos.
Inteligência artificial para tudo

Uma pesquisa mais aprofundada pelo site AI Tools Directory dá uma ideia do quanto essa nova fase de substituição do genérico “dar um Google” já foi longe. Existem aplicativos à base de inteligência artificial para tudo, ou quase tudo: para criar perfis no site de paqueras Tinder; para criar atendimento por chat; para criar vídeos publicitários etc. 

Em 2024 não só procuramos coisas no Google. Agora damos ordens e vemos milagres acontecerem na rede

E mais: aplicativo para criar resumos de podcasts. Para criar logos de empresas. Para criar histórias a partir de uma única imagem. Para criar fotos que nunca foram tiradas. Para gerar desenhos para tatuagens. Para transformar sua voz na de uma celebridade. Para procurar conselhos legais. Existe até um aplicativo de inteligência artificial para identificar quem está usando a IA para falsificar uma voz.

Ordens e milagres

“Não está claro o que está do outro lado da atual transição pela qual a web está passando”, concluiu Christopher Mims em seu artigo para o Wall Street Journal. “Muito depende da rapidez com que as pessoas mudam para a pesquisa baseada em IA, de quão melhores do que os atuais serão os modelos de linguagem futuros e de qual empresa a IA dominará. Haverá vencedores e perdedores nesse futuro à medida que alguns editores e serviços se tornarem obsoletos e outros se tornarem fontes de informações confiáveis e necessárias — para as IAs.”

Com todas as dúvidas e temores, não há como negar que a internet está vivendo sua maior transformação desde que se popularizou, na década de 1990. Em 2024 não só procuramos coisas no Google. Agora damos ordens e vemos milagres acontecerem na rede.

Foto: Shutterstock

@dagomir
dagomirmarquezi.com

Leia também “Quem tem medo do Grok?”

3 comentários
  1. CARLOS ALBERTO DE MORAES
    CARLOS ALBERTO DE MORAES

    Agora não precisamos mais pensar. Qualquer dúvida, pergunte para a IA que ela te responde e vc assume como certo.
    Para se atualizar, ligue a TV que o jornal mostra, descreve e conclui sobre tudo o que está acontecendo.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    O site mais moderno de todos é o site chatFBPT 13 inventado pela professora Fátima Bezerra, esse chat abrange todas as informações políticas da esquerda, ensinou até aquele assaltante do Boulos a captar água no semiárido pra encher uma cisterna com água de chuva que nunca chove

  3. Luzia Helena Lacerda Nunes Da Silva
    Luzia Helena Lacerda Nunes Da Silva

    Duvido que a IA seja mais competente que você.
    Adoro suas aulas.

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