Muita coisa mudou desde que Hipócrates transformou a medicina em ciência na Ilha de Cós, no século 5 a.C. Mas a atual transformação é uma das mais radicais e imprevisíveis de todos os tempos. Por isso, ainda causa receio.
Esse medo está sendo substituído rapidamente pela lógica. “A medicina precisa aderir à inteligência artificial.” Quem disse isso foi Gianrico Farrugia, CEO daquele que é considerado há seis anos seguidos o melhor hospital do mundo: o Mayo Clinic, nos Estados Unidos. Enquanto alguns falam em “tomar cuidado”, “ir com calma”, Farrugia fala em adesão.
O professor Aymeric Lim, CEO do National University Hospital, de Singapura (11º no ranking global), vai pelo mesmo caminho. “Cada sistema de saúde do mundo tem os mesmos desafios”, declarou Lim para a Newsweek. “Custos em alta, envelhecimento da população e diminuição da força de trabalho. A única maneira de lidar com isso é usando inteligência artificial, então não temos escolha.”
A inteligência artificial está ocupando cada vez mais espaço nas clínicas, laboratórios e hospitais. E isso não tem nada a ver com o clichê do robô com estetoscópio pendurado no pescoço metálico que ilustra a capa da Newsweek. A IA chegou para mudar a mentalidade dos médicos, os procedimentos clínicos e acelerar processos a uma velocidade que parecia impossível antes dela. E isso é só o começo.
O exemplo precoce da Estônia
Um dos maiores problemas atuais da medicina é a descontinuidade. Você vai fazer um check-up no médico do convênio ou do SUS — e começa sempre do zero. Seu passado clínico vira uma vaga lembrança guardada em algum envelope esquecido no fundo de alguma gaveta.
“O hospital do futuro é um hospital gerido por dados”, declarou Paulo Nigro, CEO do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, à edição especial da revista Newsweek sobre IA na medicina. “E a crise de covid acelerou esse processo de usar dados para tomar decisões.”
O exemplo prático já havia sido dado numa pequena república da Europa, a Estônia, em 2020. Publicamos na edição 26 de Oeste uma matéria detalhando essa visão avançada de medicina:
“Cada cidadão da Estônia tem todos os dados referentes a sua condição física e mental registrados num aplicativo chamado e-Ambulance: consultas, médicos consultados, os remédios que toma, medições de pressão e peso, radiografias, exames, vacinas, doenças crônicas, alergias etc. Consultas presenciais são evitadas desde 2011. O fluxo contínuo de dados sobre a condição de uma pessoa permite o monitoramento remoto de sua saúde.”
Isso foi concebido antes da popularização da inteligência artificial. Hoje, o caminho seguido pela Estônia parece quase profético. Um dos objetivos médicos da IA é justamente coordenar diferentes atendimentos em diferentes especialidades de forma automática, sem a necessidade de intervenção humana nesse processo.
A guerra contra a septicemia
A IA está sendo usada também para acelerar os processos e diminuir a burocracia interna dos hospitais. Mas o que deixa os médicos realmente excitados são outras capacidades da IA, segundo a edição da Newsweek:
“Já está ajudando a analisar melhor tomografias computadorizadas e raios X e a identificar sinais precoces de muitas doenças, incluindo câncer na mama, no pâncreas e osteoporose. O Mayo Clinic desenvolveu maneiras de usar IA para identificar sinais de insuficiência cardíaca, e, na Cleveland Clinic, a IA está ajudando a identificar uma das causas mais comuns de morte entre pacientes hospitalares: a septicemia, quando o corpo não responde mais corretamente a uma infecção.”
O uso de algoritmos na Cleveland fez o tratamento para septicemia ter uma melhora de 40%. O Hospital Sírio-Libanês usa algoritmos para indicar riscos à saúde causados por situações demográficas específicas. “Por exemplo”, diz Nigro, “se estamos falando de uma empresa mineradora, provavelmente os empregados estarão mais expostos a certos tipos de doenças”. Não é preciso que fique doente e seja encaminhado a um pneumologista.
No Brasil: Albert Einstein e Sírio-Libanês
Os melhores hospitais do Brasil já estão se adaptando à nova era. O Hospital Albert Einstein, por exemplo, está implantando desde 2023 algumas soluções baseadas em IA. O Projeto Codificação transforma notas médicas em Classificação Internacional de Doenças (CID). Ou seja, faz o trabalho burocrático, liberando os funcionários para atividades práticas junto aos pacientes.
Outras conquistas marcam o programa de IA do Einstein. Uma delas foi reduzir o número de pacientes com síndrome metabólica. Essa síndrome representa um conjunto de fatores de risco fortemente relacionados com o desenvolvimento de doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes tipo 2. Com o uso de inteligência artificial, o número de pacientes com a síndrome metabólica caiu 80%.
Outra aplicação prática (em uso desde 2021) da IA no Einstein é analisar os dados de internação de pacientes e estimar o risco de uma eventual reinternação num prazo de até 30 dias. Com isso, permite ao complexo hospitalar planejar melhor sua logística. O que é muito bom para os pacientes, para os médicos e para a empresa.
O Sírio-Libanês está investindo especialmente no uso da IA para agilizar e incrementar o atendimento, segundo Felipe Veiga, coordenador médico de informática em imagens médicas do hospital:
“Entre as ferramentas implantadas no hospital, temos opções que atuam na agilidade de exames, melhora da qualidade da imagem, gestão de leitos, tratamento de dados, histórico dos pacientes, atendimento posterior à alta, entre outros. Em relação à qualidade dos exames, a IA fornece informações valiosas para os médicos, como, por exemplo, a área de penumbra no caso de acidente vascular cerebral isquêmico, em que cada segundo é determinante para evitar agravamentos.”
Graças à IA, hoje sabemos que o remédio usado para garantir uma boa performance no motel pode diminuir também entre 30% e 54% o risco de Alzheimer
A rápida evolução
Parece que tudo isso surgiu de repente, mas é fruto de uma rápida evolução. Há apenas nove anos a revista The Economist anunciou a descoberta de um programa destinado a identificar a ocorrência de uma doença nos olhos chamada retinopatia diabética, que é capaz de causar a total perda da visão. Médicos já faziam essa identificação, mas o programa desenvolvido na Universidade de Warwick, no Reino Unido, passou a fazer esse diagnóstico sem custo e com velocidade muito maior. E acertou em 85% dos casos.
Em 2018, o programa (também britânico) Viz.ai conseguiu identificar a formação de coágulos ocultos no cérebro. No mesmo ano, uma pesquisa de IA na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, conseguiu descobrir 95% dos casos de câncer de pele. (Os médicos humanos haviam conseguido 86,6%.)
A azulzinha surpreende de novo
Às vezes a pesquisa com inteligência artificial descobre soluções que já existem. Um exemplo divulgado pelo Wall Street Journal aconteceu numa pesquisa da Cleveland Clinic que só foi possível com o uso da inteligência artificial. Cientistas estudaram células cerebrais afetadas pelo Alzheimer e usaram a IA para identificar quais das mais de 1,6 mil drogas aprovadas nos EUA poderiam causar o retardamento da doença.
Chegaram a uma pré-seleção de 66 medicamentos que de alguma forma interagiam com as proteínas ligadas ao Alzheimer. E então descobriram que, dos 66 remédios, um era o mais efetivo: o sildenafila. Mais conhecido como Viagra.
A ironia da história é que o citrato de sildenafila foi criado em 1989 para o tratamento da angina — o baixo suprimento de oxigênio ao músculo cardíaco. A descoberta de que podia ajudar na ereção do pênis foi acidental. A inteligência artificial pode fazer com que outras “coincidências” sejam descobertas muito rapidamente. Graças à IA, hoje sabemos que o remédio usado para garantir uma boa performance no motel pode diminuir também entre 30% e 54% o risco de Alzheimer.
Combate aos zumbis
Células senescentes (conhecidas como “zumbis”) não servem para mais nada e ajudam a causar problemas relacionados com a velhice — de simples rugas a artrite e, de novo, o Alzheimer.
Como eliminar essas células prejudiciais? Um grupo de cientistas da Espanha e da Escócia colocou a IA para pesquisar entre 4 mil componentes farmacêuticos quais seriam os matadores de zumbis. O programa separou 21 componentes, que foram levados para testes de laboratório. Dos 21, três foram os escolhidos. São substâncias naturais, encontradas em medicamentos fitoterápicos tradicionais: ginkgetin, periplocin e oleandrin.
Aonde vamos chegar?
A revista britânica The Economist imaginou um programa de inteligência artificial chamado YULYA (sigla em inglês de “sistema automatizado para a diagnose de linfoma”), criado para encontrar melhores tratamentos para o câncer.
Na ficção da Economist, o YULYA causaria grande polêmica no ano de 2036 ao ganhar — merecidamente — o Prêmio Nobel de Medicina.
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Lá no Rio Grande do Norte tem um programa de IA que não atende só em hospitais, atende também na segurança pública. A IA comandada pela governadora Fátima Bezerra tem um algoritmo chamado de Gópi que já acusa a fuga de presos com antecedência, por exemplo, quando Flávio Dino conversou com o CPX no complexo da maré, o algoritmo Gópi já havia descoberto a fuga de dois meninos do CV
Este medicamento também é usado no tratamento da hipertensão pulmonar e algumas doenças reumaticas (fenômeno de Raynaud, p.ex.), justamente por agir na capacidade de mudar o diâmetro vascular. Este mecanismo, apesar de não ser recente seu uso, volta a ser explorado para melhora de moléstias, por vezes graves, com recursos cada vez mais avançados no campo da informática. Os algoritmos processarão cada vez mais rápido os dados, colhidos por diferentes fontes de captação. A Lei de Gordon Moore, tão avançada há pouco, já começou a ser superada com o uso de estruturas nanométricas de carbono com capacidade de diminuir tempo de processamento e “massa” de dados. A medicina será mais precisa e, acredito, com maior acesso de camadas mais carentes da população quando esse processo se popularizar. Como calculadoras. Daí os profetas do apocalipse mais uma vez falharão e irão buscar catástrofes em outras coisas, pq é sempre assim que agem.
Então vamos tomar Viagra ????
Tudo que possa melhorar a saúde das pessoas precisa ser usada. Os médicos poderiam usar esse recurso para melhorar os atendimentos e quem sabe descobrir uma doença na fase inicial. O medo da IA não deveria impedir avanços na medicina preventiva.
Estou deacordo
Estou descordo com a mensagem acima( Capt );A IA deve ser usada ao máximo , máscara ajudar o ser humano a tomar decisões e jamais para substuí- lo . Se não for assim nós vamos coroar o processo de de redução do ser humano ao desumanisá- lo.
Estou descordo com a mensagem acima( Capt );A IA deve ser usada ao máximo , máscara ajudar o ser humano a tomar decisões e jamais para substuí- lo . Se não for assim nós vamos coroar o processo de de redução do ser humano ao desumanisá- lo.
IA é a meu ver um nome inapropriado. IA é uma enorme evolução da informática e cria e gerencia um banco de dados imenso e muito útil. O problema está em transferir para a IA a responsabilidade de assumir decisões. É utopia pensar que uma máquina cibernética irá substituir o CÉREBRO HUMANO. O ideal é os senhores médicos usarem ao máximo a IA para saber os antecedentes e dados relevantes dos pacientes e ao mesmo tempo verificarem quais as SUGESTÕES para diagnóstico e tratamento. Porém caberá ao médico a decisão final. Se isso não for feito muitos erros irão acontecer. Quem não sabe que computador trava, dá pau, Wase indica caminho errado, etc. Uma prosaica calculadora escolar faz operações matemáticas com velocidade quase instantânea e o nosso cérebro faz a mesma coisa em vários minutos ou até horas, porém isto não significa que a calculadora é superior ao nosso cérebro pensante! Ela é apenas mais uma máquina que o nosso CÉREBRO HUMANO criou para facilitar a nossa vida. É deprimente ver que muitas pessoas supostamente muito cultas e inteligentes não consigam perceber a grande diferença entre uma máquina criada pelo ser humano e o CÉREBRO HUMANO. IA deve ser usada ao máximo, mas para ajudar o ser humano a tomar decisões e jamais para substituí-lo.
Concordo plenamente….