Num evento chamado 12ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, em Brasília, o presidente Lula, usando uma “cola” que levava na mão, afirmou que 12,3 milhões de crianças haviam sido bombardeadas em Gaza, e a plateia aplaudiu entusiasmada. Juntaram-se um orador e sua plateia, ambos sem noção da realidade e ainda assim empolgados. Eu me perguntei que democracia se pode praticar neste Brasil em que do topo à base uma boa parte dos que o integram não tem a menor noção do que vai além do próprio nariz. Um exemplo é o funcionamento da democracia, tão citada e tão desconhecida.
O Datafolha recentemente perguntou a pouco mais de 2 mil pessoas, em 147 municípios, que regime preferem: democracia ou ditadura. Pois 140 disseram preferir ditadura; e 360 responderam que “tanto faz”. O resultado da pesquisa revela que apenas 71% preferem democracia, 7% preferem ditadura, e 18% não se importam com o tipo de regime. Se a pesquisa representar a população brasileira, temos apenas 71 em cada cem brasileiros com mais de 16 anos a preferir a democracia. Creio que, mesmo entre esses “democratas”, boa parte não saiba o que realmente é uma democracia, mesmo porque neste país a prática da democracia é um arremedo. Democracia, por aqui, é mais rótulo que prática.
Os que estão satisfeitos com a “democracia” brasileira pensam assim porque nunca a exerceram. Só votar não é democracia, embora seja um sinal dela. Na democracia tem que haver contato entre o representante e o representado, o que é raro por aqui. O eleitor logo esquece em quem votou. Não acompanha a atuação do seu vereador, deputado ou senador. E há chefes do Executivo que, depois de eleitos, se distanciam de seus eleitores e se vingam dos que votaram em seu adversário. Nos Legislativos, debates são parecidos com brigas escolares, tal a puerilidade e ausência de argumentos. Os assuntos são abstrações, bobagens em geral, longe das grandes questões reais. Na Justiça Eleitoral, o eleitor é punido com a perda de seu voto se votou em alguém que a Justiça decide punir.
Quando se escolhe um homem público para gerir nossos impostos e administrar a prestação de serviços públicos para todos, idealmente o escolhido deveria ser altruísta, desprendido, disposto ao sacrifício pessoal
Uma nação não se valoriza nem se torna respeitada se seus representantes agem como figuras caricatas, que conseguiram votos de quem não se importa com o destino de seus filhos e netos, como esses 18% para quem tanto faz democracia ou ditadura. Os 7% a favor de ditadura certamente não sabem o que é uma ditadura, em que o povo não tem voz nem liberdade. No entanto, esses eleitores contribuem para, com seu voto, dar mandatos a pessoas que não estão dispostas a pensar nos direitos alheios, apenas nos seus interesses, em geral financeiros. E representam uma ponderável quarta parte do eleitorado.
Quando se escolhe um homem público para gerir nossos impostos e administrar a prestação de serviços públicos para todos, idealmente o escolhido deveria ser altruísta, desprendido, disposto ao sacrifício pessoal. No entanto, eleitores desinformados elegem aproveitadores que enriquecem por causa do mandato e cuidam em primeiro lugar de seus amigos e parentes. Acontece na democracia, mas é muito pior numa ditadura. Churchill disse que “a democracia é a pior forma de governo, exceto por todas as outras formas que já foram tentadas na história”. Para cairmos numa democracia é preciso ensinar o que é democracia e mostrar as consequências da alienação com a mesma ênfase com que se assustou a nação com o SARS-CoV-2. A democracia não funciona quando a origem do poder se deixa conduzir e aplaude qualquer mentira.
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Alexandre, o seu artigo deveria ser lido e debatido nas escolas públicas e privadas para adolescentes a partir dos 12 anos e já na iminência de votar primeira vez.
O desconhecimento das formas de governo e a maneira como são exercidas são reflexos do caótico sistema educacional brasileiro.
No início dos anos 1980 em um programa humorístico do Chico Anysio ele interpretava um personagem denominado Washington que era um universitário militante que estava a anos na mesma grade curricular na universidade e deixava os pais enlouquecidos com sua defesa da revolução Sandinista na Nicarágua, na época liderada pelo atual ditador deste país.
Em 21/04/1993 houve um plebiscito no Brasil para determinar a forma de governo entre republicano ou monarquia e o sistema de governo entre presidencialista ou parlamentarista.
Votei no republicano parlamentarista, sistema já praticado no país em duas ocasiões, a primeira no Império, de 1847 a 1889 e a segunda de 8 de setembro de 1961 a 24 de janeiro de 1963, com Tancredo Neves ocupando o cargo de primeiro ministro, mas fui voto vencido.
Há 31 anos a escolha não representou a vontade do eleitor, mas sua total ignorância sobre o assunto.
Como sempre , cirúrgico !
O Brasil é o país mais atrasado do mundo ocidental, numa época em que o mundo todo sabe sobre a política ainda tem tanta gente tapada. Os bandidos fraudaram as eleições de todas as formas e ficam roubando o Erário e debochando
Eu, pai, só tenho uma certeza: essa país não serve para minhas filhas! Estou tratando de criar condições para que possam alçar vôo. E para bem longe!
Acredito que os 7% que dizem preferir a ditadura, o dizem pq estão fartos do arremedo de democracia em que vivemos. Devem ser os mesmos que foram pra frente dos quartéis pedir socorro para as FA., como única forma de nos salvar da esquerda corrupta no poder. Me preocupa muito mais os 18% que não se importam com o tipo de regime. Esses são os zumbis, os ignorantes ou os que que vivem na bolha do individualismo e do analfabetismo político.
Por incrível que possa parecer para quem acredita no seu valor pessoal, que crê na meritocracia como forma de progresso pessoal, há pessoas que preferem ser conduzidas pelo primeiro aventureiro que aparece. Agem como crianças desorientadas que esperam ansiosas pela chegada do “homem do saco”, sem conhecer bem os seus propósitos, mas por acreditarem que esse ser imundo vai resolver todos os problemas para elas e protegê-las de outros. Os brasileiros acreditaram no “homem do saco”. Agora vão ter que viver escravos, submissos, dominados, sabe-se lá até quando.