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Lula condecora Alexandre de Moraes com a medalha da Ordem do Rio Branco | Foto: Montagem Revista Oeste/Ricardo Stuckert/PR
Edição 211

Libido censória

Os arquivos investigados por Michael Shellenberger revelam que Alexandre de Moraes e o TSE estavam envolvidos em uma clara tentativa de minar a democracia no Brasil

Rodrigo Constantino
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O respeitado jornalista Michael Shellenberger, responsável pelos Twitter Files quando Elon Musk comprou a plataforma, divulgou nesta semana o resultado da análise do caso brasileiro. E é um escândalo! Em resumo, houve um esforço por parte do TSE de censurar conteúdos mais conservadores, com fins partidários, e tudo isso fora da lei.

“O Brasil está envolvido em uma ampla repressão à liberdade de expressão liderada por um juiz da Suprema Corte chamado Alexandre de Moraes”, começa Shellenberger. “Moraes colocou pessoas na prisão sem julgamento por coisas que postaram nas redes sociais. Ele exigiu a remoção de usuários das plataformas de mídia social. E exigiu a censura de postagens específicas, sem dar aos usuários qualquer direito de recurso ou mesmo o direito de ver as provas apresentadas contra eles”, acrescenta.

Os arquivos investigados revelam que Moraes e o Tribunal Superior Eleitoral que ele controla estavam envolvidos em uma clara tentativa de minar a democracia no Brasil. Eles exigiram ilegalmente que o Twitter revelasse detalhes pessoais sobre usuários do Twitter que usaram hashtags de que eles não gostaram; exigiram acesso aos dados internos do Twitter, em violação da política do Twitter; procuraram censurar, unilateralmente, postagens no Twitter de membros do Congresso brasileiro; procuraram transformar as políticas de moderação de conteúdo do Twitter em uma arma contra os apoiadores do então presidente Bolsonaro.

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O caso, exposto por meio de trocas de mensagens de executivos do Twitter, não recebeu a devida atenção da velha imprensa, justamente porque ela é cúmplice no esforço de censurar os independentes e perseguir a direita. A mídia sonha com a volta da velha hegemonia que possuía, com seu viés esquerdista passando relativamente despercebido pela falta do contraditório. O silêncio dos jornalistas diante das revelações bombásticas é ensurdecedor e diz muito sobre a morte do velho jornalismo em nosso país.

Podemos buscar as origens desse comportamento em interesses obscuros, tais como a luta pelo poder ou pelo bom e velho ouro. Mas acho que existe um fenômeno mais abrangente em curso. Afinal, muita gente “boa” e sem ganhos diretos aparentes também tem aplaudido esse comportamento incompatível com a democracia. A censura avança graças a muitos corações bem-intencionados, que juram estar protegendo as minorias e a própria democracia.

Para compreender melhor isso, recomendo o livro Contra Toda Cendura, de Gustavo Maultasch. “É crescente o número de pessoas que têm abandonado o princípio fundamental da liberdade de expressão para aderir à crença no debate público tutelado, na ideia de que um debate público saudável é aquele em que uma classe superior detém poder para determinar, em nome do ‘bem’, aquilo que pode ou não pode ser dito”, escreve logo na introdução.

Capa do livro Contra Toda Censura, de Gustavo Maultasch | Foto: Reprodução

Diante de ideias que as pessoas consideram imorais, ofensivas, equivocadas ou mesmo vis, muita gente passa a crer que a única saída é “alguém” controlar esse tipo de debate público. O que poucos se dão conta é do perigo de delegar tal poder ao Estado ou a uma casta de “iluminados”. Ideias podres se combatem com ideias boas, e a liberdade é sempre o melhor caminho. Quando Alexandre de Moraes fala em impedir a “lavagem cerebral” das redes sociais, ele demonstra ter a típica visão autoritária e arrogante que leva à censura.

O autoritário que se opõe à liberdade de expressão também precisa disfarçar sua real intenção. Por isso ele sempre vai alegar estar defendendo as minorias ou a democracia

Defender a liberdade de expressão para pontos de vista “moderados” e “consensuais” não é defender a liberdade de expressão, pois até um papagaio pode repetir as “verdades” estabelecidas. O teste é quando temos de defender justamente aqueles cujas ideias consideramos abjetas, inaceitáveis e ofensivas. Ao longo da história, vale lembrar que muitas ideias tidas como subversivas acabaram virando mainstream depois. Isso jamais seria possível sem um livre debate de ideias.

“A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”, disse La Rochefoucauld. As ditaduras comunistas se dizem “repúblicas populares democráticas”, embora não sejam repúblicas, nem populares, tampouco democráticas. O autoritário que se opõe à liberdade de expressão também precisa disfarçar sua real intenção. Por isso ele sempre vai alegar estar defendendo as minorias ou a democracia, enquanto está simplesmente apelando para a censura para calar as vozes dissonantes que ele rejeita.

Ilustração: Jorm Sangsorn/Shutterstock

Maultasch apresenta uma boa definição de liberdade de expressão: “[ela] significa que todo ser humano é livre para pensar ou não pensar o que quiser, e para dizer ou não dizer o que quiser; nenhuma autoridade, governo ou qualquer outro tipo de liderança deve deter o poder de perseguir, silenciar ou censurar alguém por causa de suas ideias. Ser livre para se expressar significa ser livre de coerção; significa que um país livre deve levar a sério a liberdade de expressão de seus cidadãos, e deve protegê-los da coerção e da violência que os tentem silenciar”.

O ideal, claro, é convencer a todos da importância da defesa dessa liberdade com base em princípios. Mas, mesmo pela ótica consequencialista e pragmática, torna-se crucial compreender que somente o ambiente de ampla liberdade permite o nosso direito de pensar e expressar o que acreditamos. Se hoje estamos com a “maioria” ou com a autoridade no poder, amanhã poderá ser diferente, e poderão nos calar simplesmente por não gostarem de nossas ideias. A única forma de preservar o nosso direito de lutar pelo que acreditamos é aceitar o mesmo direito do outro lado, mesmo quando o desprezamos.

“Dar poder ao Estado para regular a nossa expressão — e, ao mesmo tempo, esperar que ele não abuse desse poder para silenciar os seus críticos — constitui grave e imprudente erro de juízo”, conclui o autor. Muitos esquerdistas estão fazendo vista grossa aos abusos censórios do STF, pois os alvos são principalmente bolsonaristas. Seria aconselhável que estudassem um pouco mais de história para entender que essa libido, quando alimentada impunemente, jamais fica restrita às primeiras vítimas.

Leia também “O fim do PSDB”

11 comentários
  1. Julio Cruz Lima Neto
    Julio Cruz Lima Neto

    A ideia é antiga demais. E recorrentemente esquecida: “posso não concordar com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las”

  2. Herbert Gomes Barca
    Herbert Gomes Barca

    Lula e Alexandre ambos são demoníacos !
    e o petismo é a seita deles

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Todos os governos ocidentais sabe como combater o terrorismo, principalmente os que estão na própria casa

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Esta foto, se não me engano, foi na mesma semana da morte do Cleriston. Olhem a cara destes dois psicopatas.

  5. Allan Fernando Quint
    Allan Fernando Quint

    CONSTITUIÇÃO FEDERAL Art. 1°- Parágrafo único. TODO PODER EMANA DO POVO, que o exerce por meio de representantes eleitos ou DIRETAMENTE, nos termos desta Constituição. Só para constar.

  6. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Excelente artigo Constantino. Só me resta acrescentar que Alexandre de Moraes demonstra sintomas perturbadores em relação ao poder,seu pior traço de personalidade é sentir prazer com o sofrimento alheio, essa característica é muito bem explicada nos excelentes livros de Psiquiatria.

    1. Ed Camargo
      Ed Camargo

      Concordo com você Tereza, o Moraes demonstra sofrer da mesma neurose típica dos Nazistas, ele sente prazer em ver ou causar o sofrimento em outros. Essa psicose narcisista conhecida como “schadenfreude” sem tradução em Português, significa sentir prazer em causar o sofrimento em outros. Essa neurose faz dele um juiz sádico e sub-humano, indicando que não possui o mínimo de integridade humana, um compasso moral e a empatia, que são os requisitos mais básicos de decência para ocupar a posição de juiz supremo.

  7. Marlos Rocha De Medeiros
    Marlos Rocha De Medeiros

    Excelente texto Ana. Vozes como a sua e de resto as do pessoal da Oeste, nos dão esperança, senão na justiça dos homens mas na justiça divina. Afinal ainda acredito q Deus não tenha mudado de partido e ainda seja brasileiro.

  8. Celso Ricardo Kfouri Caetano
    Celso Ricardo Kfouri Caetano

    Boa Constantino, excelente, ainda bem que temos jornalistas como você, Guzzo, Navarro, Adrilles, Nunes, Henkel e outros mais que colocam os fatos realmente como são ao contrário da velha mídia que mente para a população, quem mente tira o direito do outro saber a verdade. É isso, afora vocês jornalistas que nominei e outros que deixei de faze-lo com receio de esquecer algum nome. mas é bom lembrar também tempos passados quando também tínhamos José Paulo de Andrade, Vicente Leporace (muitos nem conheceram), Heródoto Barbeiro, Boris Casoy, Ricardo Boechat….

  9. Iury de Salvador e Lima
    Iury de Salvador e Lima

    Muito bom o livro do Maulstasch.
    Mas no caso do Brasil o problema é outro. O buraco é mais embaixo.
    O melhor livro para descrever nossa realidade é “Ponerologia: os psicopatas no poder”.

    1. Emilio Sani
      Emilio Sani

      e os melhores exemplos de osicopatas são luladrao e xandao

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