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Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal (7/6/2023) | Foto: Montagem Revista Oeste/Geovana Albuquerque/Agência Brasília
Edição 215

Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal: ‘Só o DF pagou o preço pelo 8/1’

No comando da capital federal no período em que Ibaneis Rocha foi afastado do cargo, ela esteve no Ministério da Justiça no dia em que ocorreram os atos de vandalismo no Congresso

Rute Moraes
Rute Moraes
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Quem “pagou” pelos atos de vandalismo que ocorreram nas sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro foi apenas o Distrito Federal (DF). A afirmação foi feita pela vice-governadora do DF, Celina Leão (PP), de 47 anos. Depois dos ataques, o governador da capital federal, Ibaneis Rocha (MDB), foi afastado por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), e só retornou ao posto mais de 65 dias depois. Nesse período, Celina assumiu o comando da capital federal. 

“Só o DF pagou o preço pelo dia 8, mas tivemos falhas em todas as áreas”, afirmou Celina. “O governo federal falhou no Gabinete de Segurança Institucional, mas só nós pagamos o pato. Só o governador Ibaneis Rocha foi afastado. Ninguém foi mandado embora como deveria ter sido. Mas a Justiça foi feita, e o nosso governador retornou.”

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Vândalos invadiram prédios na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023 | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Formada em administração de empresas e em Direito, Celina Leão passou pela Câmara Legislativa do DF e pela Câmara dos Deputados, onde foi líder da Bancada Feminina no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em 2021, a vice-governadora, que é jogadora de futevôlei, também foi secretária do Esporte a convite de Ibaneis. Em 2022, depois de ser eleita, foi uma das coordenadoras da campanha “Mulheres com Bolsonaro”, que viajou pelo Brasil em busca do voto feminino para o ex-presidente.

“Não fui para uma campanha para vender aquilo que não vi”, disse Celina. “Fui para tentar contar ao Brasil o que nós mulheres tínhamos feito na Câmara com a Bancada Feminina.” Segundo Celina, Bolsonaro fez “gestos” para todas as mulheres, não apenas para as de direita. “Ele sancionou a lei da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a Lei Aldir Blanc, superimportante para a área da cultura. Tem muitas coisas que as pessoas esquecem, ou fazem questão de não lembrar, ou de não falar.”

Ao comentar o futuro da direita no Brasil, Celina acredita que, caso Bolsonaro continue inelegível, a pessoa apoiada por ele em 2026 terá “grandes chances de ser o presidente do Brasil”. “Esse candidato precisa retomar o diálogo com o Poder Judiciário para que a gente tenha uma eleição tranquila, para que nenhum Poder se sinta ameaçado”, disse.

Celina Leão e Jair Bolsonaro, na assinatura do Projeto de Lei nº 1.360/2021, em Brasília (24/5/2022) | Foto: Alan Santos/PR

A Oeste, Celina Leão falou, entre outros assuntos, sobre como foi assumir o comando da capital federal depois do 8 de janeiro, a relação com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu futuro na política. Confira os principais trechos da entrevista:

Como a senhora ficou sabendo do 8 de janeiro? 

Estava em casa, recebi um telefonema do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, pedindo ajuda sobre a invasão. No mesmo momento, liguei para o governador Ibaneis, passei na casa dele, e ele determinou que eu acompanhasse de perto, pois ele estava acompanhando com os secretários de Estado. Fui para o Ministério da Justiça. Foram os nossos policiais militares que contiveram as pessoas naquele momento, no dia 8. Quem tirou os manifestantes não foi nenhuma outra polícia. Acompanhei isso de perto e só saí do Ministério da Justiça depois de tudo controlado.

“A pauta do governo está totalmente desalinhada com o Parlamento. Eles querem falar sobre aquilo que o Parlamento não aceita. Querem fazer a política por decreto”

Como foi a chegada da senhora ao Ministério? Qual era a visão que vocês tinham de lá? Qual foi a reação do ministro Flávio Dino?

Um clima péssimo. O ministro Flávio Dino me ligou e falou que, se a gente não controlasse tudo o que estava acontecendo, haveria uma intervenção no DF, minha e do Ibaneis. E foi com esse recado duro que eu fui à casa do governador.

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Flávio Dino, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e atual ministro do STF | Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Depois dos atos do 8 de janeiro, a senhora substituiu o governador Ibaneis na gestão do DF. Como foi assumir o posto naquele momento?

As pessoas sempre me respeitaram, pois sabiam aquilo que eu pensava de política econômica, de política administrativa. E porque sempre fui muito respeitosa, mas também muito firme nas minhas ponderações. Posso não concordar, vou respeitar a sua opinião, mas você não vai mudar a minha opinião porque penso diferente de você. Naqueles 66 dias, foi muito difícil para mim, porque fiz a campanha do Bolsonaro do segundo turno com as mulheres do Brasil. Nós cuidamos da nossa cidade, tivemos um relacionamento com o governo federal dentro do que está na nossa Constituição. A minha função é dar segurança para os Poderes, cumprir um papel constitucional, pois Brasília é diferente de qualquer outra cidade. Conseguimos. Tanto que criamos uma condição favorável para o nosso governador voltar, receber a segurança pública de volta depois de um mês de intervenção. No dia 8, quem pagou o preço mesmo foi só o DF, mas tivemos falhas em todas as áreas. O governo federal falhou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mas só nós pagamos o pato. Ninguém foi mandado embora como deveria ter sido.

Ibaneis Rocha e Celina Leão, em solenidade de lançamento do novo Reciclotech | Foto: George Gianni/VGDF
A Justiça pode rever a inelegibilidade do ex-presidente no futuro?

Não sei. Tudo é possível no Brasil, onde o pêndulo se mexe entre direita, esquerda e centro. Vivemos uma pandemia, que foi muito difícil e atrapalhou muito o presidente Bolsonaro na reeleição. Por mais que ele defendesse a economia do país, as pessoas que perderam seus entes queridos tinham esse sentimento de revolta. Muito mais pelo que ele falou do que por seus atos, porque não faltou dinheiro para os governadores, não faltou vacina, não faltaram respiradores. Por ele querer dar um ânimo na economia, muita gente interpretou isso como um desdém da pandemia. Se não tivéssemos tido a pandemia, o presidente Bolsonaro teria ganhado essa eleição com muita tranquilidade. A direita no Brasil não perdeu a eleição. As pessoas votaram no Lula porque perderam seus familiares, mas muitos já estão arrependidos. No governo que vem a direita volta para o comando do Brasil.

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Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores durante o desfile de 7 de Setembro, em Brasília (7/9/2022) | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Por apoiar o ex-presidente na última eleição, a senhora já sentiu alguma dificuldade ao lidar com o governo Lula? 

Não é uma relação fácil, porque você precisa pisar em ovos o tempo todo. Mas eu tive quatro mandatos como deputada e aprendi a conviver com pessoas que pensam diferente de mim. Sou respeitosa e quero muito que me respeitem também. Não tenho dificuldade nenhuma de conviver com o governo do PT. Mas a gente sofre porque poderíamos, neste governo, avançar muito mais aqui no DF. É só ver o que vai de recursos para os Estados do Nordeste, os aliados, e o que vem de recursos para nós.

Celina Leão recebe viaturas para reforçar o combate ao feminicídio (15/3/2023) | Foto: Renato Alves/Agência Brasília
Qual avaliação a senhora faz do atual governo?

Sempre nos acusaram de radicalismo, mas cometem o mesmo erro quando continuam governando para 30% da população. Quando se é eleito presidente da República, tem que governar para todo o país. Quando fazemos um programa social, não perguntamos qual ideologia a pessoa segue. Quando fazemos um atendimento à mulher, não perguntamos isso. E as pautas que eles começaram a discutir no Brasil são sobre aborto, drogas. Pelo amor de Deus. O Brasil não quer liberação das drogas ou do aborto. E eles tentam fazer isso por decreto.

A senhora era deputada na gestão anterior e, ao que parece, o governo tem muita dificuldade na relação com os deputados. O que está faltando?

A pauta do governo está totalmente desalinhada com o Parlamento. Eles querem falar sobre aquilo que o Parlamento não aceita. Querem fazer a política por decreto. Quantas vezes já vimos o Parlamento derrubar decretos, igual estão derrubando? Sustando decreto de ministro. O governo não vai ter apoio mesmo. Nem do centrão, porque discutem a pauta de cima para baixo. Um Parlamento subjugado é uma nação subjugada.

Celina Leão na 26ª Edição do Programa “GDF Mais Perto do Cidadão”, na Região Administrativa da Fercal | Foto: George Gianni/VGDF
A senhora pretende se candidatar a qual posto em 2026?

O governador Ibaneis deve sair no último ano para se candidatar ao Senado. Para isso, ele tem que se licenciar do cargo de governador. Devo assumir como governadora no último ano da gestão e só poderei ser candidata à reeleição como governadora. Então, estou amarrada a esse projeto da reeleição.

Leia também “Marcos Cintra: ‘O Judiciário está sentindo que extrapolou os próprios limites'”

4 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    O melhor projeto que ela pode encabeçar é o fim de Brasília, e que volte a uma cidade grande como era no Rio de Janeiro, por exemplo. As autoridades precisam viver em meio ao povo e sentir na pele as suas decisões.

  2. Renato Perim
    Renato Perim

    Me passou zero confiança. Mulher geléia, que ou não entendeu ou é hipócrita, com esses pronunciamentos. Estou de s@co cheio de gente que pisa em ovos e fica o tempo todo usando palavras macias pra adjetivar canalhas sem caráter. “Bolsonaro perdeu a reeleição por causa do que falou” Bahhhh sabe de nada, perdeu porque as urnas do xandão votam com vontade própria. E até parece que alguém relacionou a opinião do Bolsonaro com o voto em lule. Ao inferno com uma falsa dessa. Meu voto não teria nunca.

  3. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Rute, faltou perguntar o que ela assistiu enquanto esteve no Palacio da Justiça com Flavio Dino. O que sabe sobre as gravações das câmeras que foram “apagadas”. Viu black blocs participando e força nacional inerte?

  4. João Carlos de Souza Carvalho
    João Carlos de Souza Carvalho

    A Celina Leão tem o meu voto para qualquer cargo a que ela venha concorrer ! Ótima administradora e uma pessoa confiável !

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