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Pessoas são socorridas em trator após suas casas terem sido inundadas em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, Brasil, 7 de maio de 2024 | Foto: Reuters/Amanda Perobelli
Edição 217

O povo pelo povo

Nossos heróis modernos nos lembram que, mesmo diante da adversidade, o espírito humano é capaz de atos extraordinários de bondade e bravura

Ana Paula Henkel
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As imagens que continuam chegando do Rio Grande do Sul são profundamente impactantes. Lama e destruição se misturam com água, muita água, e as cenas da devastação de todo um Estado lembram filmes que retratam cenários apocalípticos.

Diante da histórica catástrofe não apenas para o Rio Grande, mas para o Brasil, os abutres que permeiam as páginas de qualquer tragédia humana seguem operando, mesmo diante das terríveis circunstâncias. O mau cheiro, no entanto, não vem das águas turvas que carregam lixo, corpos e animais mortos; mas de Brasília e da inundação de ações inescrupulosas de um governo fétido que tem o apoio de parlamentares inescrupulosos.

Enquanto no Sul vítimas socorridas se tornavam socorristas, em Brasília o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, colocou em pauta o Projeto de Lei nº 8.889/2017, que visa a regular e a taxar serviços de streaming e de TV por assinatura, ao mesmo tempo que fornece isenção fiscal para o Globoplay, o serviço de streaming da Globo. O projeto que também taxa produtores de conteúdo nas redes sociais e nas plataformas digitais nem sequer passou pelas devidas comissões da Câmara dos Deputados ou mesmo pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que analisa se uma proposta é constitucional ou não. Lira, por dois dias consecutivos, resolveu, sorrateiramente, desengavetar um projeto draconiano que faz parte de um esforço maior do governo de centralizar e controlar a informação, impondo assim a censura às vozes divergentes que andam perturbando os poderosos. 

Arthur Lira colocou em pauta o Projeto de Lei nº 8.889/2017, que visa a regular e a taxar serviços de streaming e de TV por assinatura, ao mesmo tempo que fornece isenção fiscal para o Globoplay | Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Mas o absurdo não parou por aí. Enquanto parlamentares de oposição faziam um estardalhaço para que a censura não seguisse seu caminho no Legislativo, e os gaúchos ainda tentavam socorrer sua gente e seus animais, contar seus mortos e encontrar forças para seguir, Lula aproveitou a “distração” para surrupiar o governo do Rio Grande do Sul. Na mão grande, desafiando a Constituição e o Congresso, Lula nomeou Paulo Pimenta, seu ministro da Secretaria de Comunicação, para um ministério extraordinário que cuidará da reconstrução do Rio Grande do Sul.

O abjeto movimento de Lula é a mais recente exposição de que o atual presidente agora vai usar uma tragédia humanitária para seguir gritando suas bravatas e permanecer no palanque político, lugar de onde nunca desceu. O Brasil está à mercê dos sujos tentáculos de um partido que jamais pensou em governar o país. Enquanto ainda estamos chocados com a destruição quase completa do Rio Grande do Sul, com centenas de mortos e desaparecidos e milhares de desabrigados, o plano de Lula é fazer da reconstrução do Estado uma vitrine do governo federal, que derrete em velocidade meteórica, e alavancar a candidatura de Pimenta ao governo gaúcho em 2026.

E, apesar de tudo isso, no Sul as lições e histórias seguem se aglomerando em montanhas de dejetos e sentimentos. O povo está ocupado demais tentando salvar, literalmente, o seu semelhante. Talvez a magnitude da catástrofe tenha até colocado o brasileiro mais próximo da espinha dorsal do que fez dos Estados Unidos a grande nação que é hoje. O óbvio para os americanos desde a concepção da nação, hoje parece ter se tornado o óbvio para quem está no sufoco no Rio Grande do Sul: o Estado é um monstro parasitário e ineficiente. Vai sugar, e sugar, e sugar, e não fornecer quase nada em troca. E, agora, até o governo do Estado do Rio Grande do Sul foi sugado.

O plano de Lula é fazer da reconstrução do Rio Grande do Sul uma vitrine do governo federal, que derrete em velocidade meteórica, e alavancar a candidatura de Pimenta ao governo gaúcho em 2026 | Foto: Ricardo Stuckert/PR

A imensa tragédia no Sul nos coloca também perto das grandes tragédias americanas. Através da dor e do sofrimento, esses eventos forjaram a robustez da reconstrução e mostraram à nação a superação de muitos homens e mulheres que firmaram suas digitais pela força do homem comum.

Em meu artigo da edição de Oeste da semana passada, com os olhos nas imagens de centenas de pequenos barcos, caiaques e jet skis salvando as pessoas em todo o Estado do Rio Grande de Sul, não pude deixar de lembrar da histórica evacuação de 138 mil soldados encurralados em Dunquerque, na França, feita por embarcações civis durante a Segunda Guerra Mundial.

Nesta semana, apesar da incredulidade dos atos vindos de Brasília, meus olhos não desgrudaram das dezenas e dezenas de vídeos de pessoas ainda arriscando a própria vida enquanto escalavam telhados, grades, árvores. Jipeiros que se enveredaram por terrenos completamente inóspitos para salvar pessoas e animais. Diante das cenas de pura coragem e dedicação ao próximo, lembrei-me de outro evento também da Segunda Grande Guerra, mas desta vez com os americanos, e que também virou um aclamado filme pelas mãos de Mel Gibson como diretor.

Até o Último Homem (Hacksaw Ridge, 2016) baseia-se na história real de Desmond Doss, um soldado que serviu como médico no Exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. O filme foca a coragem extraordinária de Doss durante a Batalha de Okinawa, uma das mais sangrentas do Teatro do Pacífico. O personagem, vivido pelo ator Andrew Garfield, nasceu em fevereiro de 1919 no Estado da Virgínia e foi criado como um devoto da Igreja Adventista do Sétimo Dia, aderindo estritamente ao mandamento “Não matarás”. Suas crenças, aliadas a traumas com um pai abusivo e alcoólatra, levaram-no a fazer a promessa de que jamais pegaria ou usaria uma arma de fogo. Apesar de seus princípios, Doss se alistou no Exército Americano em abril de 1942 com o objetivo de servir como médico de combate na guerra.

YouTube video

A Batalha de Okinawa, no Japão, de 1º de abril a 22 de junho de 1945, foi uma das mais famosas e cruéis batalhas da Segunda Guerra. A posição geográfica era crucial para os Aliados, que procuravam assegurar uma base de operações próxima ao continente japonês. No entanto, havia ali um penhasco extremamente íngreme que era fortemente protegido pelas forças japonesas, e que apresentou um desafio significativo para as tropas americanas.

Os bravos do Rio Grande, sejam eles gaúchos ou de qualquer lugar do Brasil, deixarão contribuições significativas para um país mais decente e na formação de homens de verdade

Apesar do fogo inimigo intenso e sem carregar uma arma de fogo, Doss repetidamente arriscou sua vida para resgatar soldados feridos no campo de batalha, descendo-os pelo penhasco e usando uma maca de corda para a segurança. Ao longo de vários dias, ele salvou aproximadamente 75 homens, e seus atos de bravura foram realizados sob constante ameaça de morte, muitas vezes enquanto estava exposto ao fogo inimigo.

Por sua coragem extraordinária, Doss foi condecorado com a Medalha de Honra pelo presidente Harry S. Truman, em 12 de outubro de 1945. Sua história era relativamente desconhecida pelo público em geral até o lançamento de Hacksaw Ridge, que trouxe reconhecimento generalizado ao seu heroísmo e à complexidade moral de suas convicções.

Desmond Doss foi condecorado com a Medalha de Honra pelo presidente Harry S. Truman, em 12 de outubro de 1945 | Foto: Wikimedia Commons

Mas o legado de Desmond Doss não se acomoda em sua medalha ou no premiado filme apenas. Ele é um poderoso lembrete da relevância duradoura da coragem pessoal, da convicção ética e do impacto do amor ao próximo ante o perigo. Enquanto fitamos as cenas da tragédia no Sul, fazemos uma conexão de homens como Doss com os nossos “soldados” em 2024. Assim como Doss deixou uma marca indelével na história, os bravos do Rio Grande, sejam eles gaúchos ou de qualquer lugar do Brasil, também deixarão contribuições significativas para um país mais decente e na formação de homens de verdade.

Ao justapor o heroísmo de Doss em tempos de guerra com a bravura mostrada nas últimas difíceis semanas no Rio Grande do Sul — e nas outras tantas que ainda estão pela frente —, vemos um fio comum das melhores qualidades da humanidade: altruísmo, determinação e um compromisso inabalável de ajudar os outros.

Sem um homem como Churchill, ou sem uma sombra sequer do que é liderança em nosso país em um cenário de guerra, nossos “Desmonds” emergiram da escuridão e do frio para liderar almas a um patamar grandioso e indelével. Nossos heróis modernos nos lembram que, mesmo diante da adversidade, o espírito humano é capaz de atos extraordinários de bondade e bravura. Cidadãos comuns que arriscaram sua vida para salvar outras pessoas apenas com a determinação de um senso de dever para com seus semelhantes — o de não parar até o último homem.

Equipes de resgate ajudam um idoso ferido em Humaitá, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (8/5/2024) | Foto: Reuters/Diego Vara

Leia também “A Operação Dynamo brasileira”

19 comentários
  1. Esmeralda kiefer
    Esmeralda kiefer

    O POVO PELO POVO!!!! Que Deus abençoe e fortaleça cada pessoa que salva vidas!!!!

  2. Celia Rosa Heringer Dittmar
    Celia Rosa Heringer Dittmar

    Parabéns, Ana Paula! Excelente texto!!!

  3. Jackson B Silva
    Jackson B Silva

    Viva Desmond Doss! Grande filmaço Hacksaw Ridge!!!

  4. MB
    MB

    Tudo dito 👏👏👏

  5. Gilberto de Almeida Sampaio
    Gilberto de Almeida Sampaio

    O governo federal se superou na semana passada, após idas e vindas do presidente e comitivas (com minúsculas) saindo e voltando a Brasília sem que qualquer ideia ou medida consistente fosse apresentada. Apenas declarações paliativas, tão rasas e inexpressivas quanto os valores morais deste governo.

    Como sempre não trataram de buscar soluções de Estado para o estado de calamidade pública de fato. Afinal, para que buscar equidade, igualdade e melhores condições ao povo brasileiro quando, de fato, seu objetivo trata apenas de um programa de consolidação do poder, não importa a que custo?

    A pá de cal veio na semana passada ao criar, de forma oportunista e imoral, o “ministério do rio grande do sul” (em letras minúsculas mesmo), encampando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, deslocando de lado e de fato os governantes legalmente eleitos pela população daquele Estado.

    A nós, brasileiros de todos os cantos deste Magnífico e Sofrido País resta pedir aos nossos irmãos gaúchos autorização para cantar e incorporar os valores expressos no seu hino:

    Mostremos valor, constância,
    Nesta ímpia e injusta guerra,
    Sirvam nossas façanhas
    De modelo a toda a terra,
    De modelo a toda a terra.
    Sirvam nossas façanhas
    De modelo a toda a terra.

    Mas não basta pra ser livre
    Ser forte, aguerrido e bravo,
    Povo que não tem virtude
    Acaba por ser escravo.

    E para terminar, fazer um plágio descarado da obra de Teixeirinha em Querência Amada:


    Meu coração é pequeno
    Por que Deus me fez assim
    O Brasil é bem maior,
    Mas cabe dentro de mim

  6. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Que sirva de alerta ao povo gaúcho, demasiadamente acreditando na falácia e elegendo políticos esquerdistas e fomentando grupos terroristas como MST. Stédile, Eduardo Leite, Paulo ”montanha” Pimenta, Manuela Davila, Maria do Rosário, e outros bestialidades que os gaúchos tiveram a capacidade de colocar na política.

  7. Maurício de Jesus
    Maurício de Jesus

    Bastante didático. O Brasil somos nós, um povo trabalhador e de muita garra.

  8. OTNIP M. IAVI
    OTNIP M. IAVI

    AS URNAS DA FRAUDE SEM VOTO IMPRESSO E AUDITAVEL COLOCARAM NO PODER O SOCIALISMO COMUNISMO. REAGIMOS E TERMINAMOS COM ESSE BOSTIL OU TERMINAREMOS MORTOS OU PRESOS.

  9. Miriam Franco
    Miriam Franco

    Às vezes custo a acreditar que um cidadão brasileiro de boa índole tenha votado no Ladrão,mas se tempos remotos até Barrabás escolheram eis o fato!

  10. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Esse PT tem que sair do poder, todos os seus membros são bandidos e ladrões da pior espécie e essa justiça tem que ter uma reforma antes que viremos uma Cuba. Temos que unir as autoridades decentes em todos os segmentos e forças armadas pra retirar essa bandidagem que tomou conta do nosso país

  11. Claudio Araujo Santos dos Santos
    Claudio Araujo Santos dos Santos

    Excelente, Ana Paula!

  12. Ed Camargo
    Ed Camargo

    Ignoramos a criança interior, atribuindo a sua voz à imaturidade, em vez de validarmos o seu coração como honesto.
    A verdade não é amiga nem inimiga. Em vez disso, é a nossa decisão de aceitá-la ou rejeitá-la que o torna um ou outro. Portanto, a natureza da verdade no que se refere a nós depende de nós e de nossa habilidade de discernimento. Se você perguntou: O que ele esta querendo dizer com isso? Você não esta sozinho. Vou explicar.
    O maior engodo, o maior engano da imaginação foi ter feito as mentiras do Luladrão a nossa verdade. Muitos cairam no golpe do amor venceu e da picanha no jantar e este mais recente onde o Luladrão aproveitando-se da situação de caos e catastrofe humana, faz de seu pupilo Paulo Pimenta o próximo possível Governador do Rio Grande do Sul.
    Recentemente, houve duas palestras convocadas por Jair Bolsonaro que atrairam milhares de pessoas, consequentemente os esquerdopatas tentaram revidar e colocaram o Luladrão no palco para vomitar suas mentiras, mas não há nada de redentor em mentir, a não ser alertar os outros sobre a natureza do seu caráter. Sujeitos como o Luladrão que so sabem mentir, não possuem caráter, não merecem qualquer confiança. Portanto, atrairam poucos, foi um fracasso colossal, demonstrando que o regime e seu mestre, perdeu seu status, “o amor acabou” e agora é rejeitado pelo povo. Portanto, decidiram que seria necessário trazer sua arma mais poderosa ao palco. Eles usaram o seu poder de polícia para confiscar os frutos do nosso trabalho e pagaram R$60 milhões do nosso suado dinheiro para a sacerdotisa do demônio mais conhecida como Madona, vir ao Brasil e celebrar uma missa negra ou ritual macabro na praia de Copacabana e com a transmissão da Globo-Lixo formaram um triunvirato satânico disfarçado de entretenimento para alcançar centenas de milhares de expectadores, provocando uma reação psicotrópica na audiência, enquanto isso, uma grande parte da população sofria com chuvas torrenciais e perdiam bens materiais e suas vidas. Quem entende de assuntos espirituais consegue associar as vidas perdidas como sendo um sacrifício oferecido ao capiroto.
    O cenário montado para o “show da Madona” ou “ritual satânico” tinha de tudo, um pentagrama, a cruz invertida, roupas indicando a presença do malígno e obviamente uma pletora de atos bizarros e depravidade de homosexuais pornográficos colocando em evidência a turpitude moral desses esquerdopatas malígnos…
    A humanidade é capaz de um bem inimaginável, como vimos acontecer onde o povo ajuda o povo demonstrando seu sentimento de empatia. Contudo, à luz daqueles que praticam o mal como o triunvirato de: Madona – Globo-Lixo – Governo esquerdopata, e sua conivência com a bestialidade de seres bizarros e rancorosos adéptos a tirania da diversidade, da equidade e da inclusão. Tal façanha parece inimaginável, mas aconteceu de verdade. Portanto, a hora chegou de nos libertarmos para imaginar, para que possamos libertar o nosso mundo daqueles que perpetram o mal e querem nos dominar, e como parasitas viver as nossas custas. Se recusamos viver nosso sonho de Vida, Liberdade e Propriedade que é a retenção dos frutos do nosso trabalho, é o mesmo que escolher suportar um pesadelo e servir de forragem para os golpistas espetalhões ladrões de eleições.

    1. OTNIP M. IAVI
      OTNIP M. IAVI

      Escreveu tudo isso para dizer QUE ESSE PAIS ESTA UMA MER // DA ., VIVEMOS NO BOSTIL, E ESPERAMOS QUE ALGUEM PUXE A DESCARGA.

      1. Ed Camargo
        Ed Camargo

        Estamos simplesmente sendo dialéticos

  13. JAQUES Goldstajn
    JAQUES Goldstajn

    Sempre maravilhosas lembranças

  14. Maria Porfíria de Paiva Grilo Scanferla
    Maria Porfíria de Paiva Grilo Scanferla

    Excelente matéria, como sempre.

  15. Denis R.
    Denis R.

    Tempos difíceis criam homens fortes! Força para o RS.

  16. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Ana, força ai nos EUA para TRUMP nos salvar. Aqui, enquanto o povo do RG do SUL sofre com tamanha catástrofe, os INUTEIS do EXECUTIVO FEDERAL e do STF sorriem diante de um comício para a criação do Ministério para o Paulo Pimenta.

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