Natural de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Rodrigo de Freitas Moro Ramalho, de 34 anos, foi garçom em vários restaurantes. Ele chegou a ganhar um prêmio por ter sido o trabalhador mais ágil da capital paulista. Recentemente, teve de abandonar a profissão para cuidar da mulher, Viviane Ramalho, de 34 anos, e de seus dois filhos, Miguel, 12, e Gabriel, 10. Os três sofrem de osteogênese imperfeita, uma doença hereditária que causa fragilidade nos ossos, mais conhecida como “ossos de vidro”.
Algumas vezes, a criança passa a ter a doença ainda no útero da mãe. O simples fato de vestir uma camiseta pode acarretar fraturas nos braços. A osteogênese imperfeita pode provocar surdez, por causa da fragilidade do osso do tímpano, além de problemas nos tecidos do corpo, pela falta de colágeno. Há também risco de parada respiratória, de rompimento de vasos sanguíneos, entre outros problemas em órgãos do corpo.
Uma pisada em falso, por exemplo, resulta em fraturas no osso do pé. O mesmo aconteceria com uma torção. Sua mulher já teve mais de 20 fraturas. Um de seus filhos, Gabriel, também — dez apenas no crânio. Seu outro filho, Miguel, já teve dez. Além disso, Rodrigo era o ponto de apoio da mãe, Noemi Aparecida Schiavi, de 50 anos, que operou um tumor cerebral.
Para dar conta de cuidar da família e continuar ganhando dinheiro, Rodrigo passou a trabalhar como entregador de aplicativo, por causa da flexibilidade de horário. Todos os esforços foram em vão, pois ele foi obrigado a deixar a mulher e os filhos. O motivo? Foi condenado a 14 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter participado das manifestações do dia 8 de janeiro.
Dois dias antes, em 6 de janeiro de 2023, Rodrigo entrou num ônibus que saiu de Marília, no interior de São Paulo, cidade onde sua família mora atualmente, com destino a Brasília. Chegou à capital federal por volta das 11 horas do sábado, 7. Naquele dia, ele descansou numa barraca emprestada por um casal, que preferiu se hospedar num hotel. “Acharam melhor, pela idade e pelo conforto”, contou.
Ao acordar no domingo, 8, ele nem desconfiava de que aquele seria um dos dias mais cruéis da sua vida. Rodrigo se juntou aos manifestantes que caminhavam, em direção à Praça dos Três Poderes, vestidos com as cores da bandeira do Brasil. “No caminho, fomos escoltados pela Polícia Militar”, disse. “Fomos cantando, ordeiramente, pacificamente.”
Quando chegaram ao destino, depararam-se com uma barreira policial. Os agentes revistaram os manifestantes, olharam as mochilas e os apalparam. “Algumas pessoas que tinham bandeira com haste de cano tiveram de tirá-la e deixá-la ali”, afirmou. Depois de constatado que os manifestantes não estavam armados, eles foram liberados.
Depois disso começou, de fato, a manifestação. Todos cantavam, oravam, aplaudiam. “De repente, começou uma confusão.” Rodrigo não sabe como tudo teve início. Primeiro, foi um empurra-empurra. De pronto, policiais começaram a jogar gás de pimenta nas pessoas, e as grades foram derrubadas.
Rodrigo foi empurrado pela multidão e atingido por gás de pimenta. “Meus olhos começaram a arder, perdi a respiração, vi o espelho d’água e me desloquei até lá”, afirmou. “Comecei a jogar água no rosto para conseguir respirar.”
“É como se 30 pessoas estivessem num mercado fazendo compras. De repente, entram quatro bandidos, assaltam, roubam, e vão embora. Quando a polícia chega, diz que todos os que estão no mercado vão ser presos.”
Quando percebeu, estava sobre a rampa do Congresso. “Vi o povo chamando: ‘Vem pra cá’”, contou. “Eu não conseguia ver, nunca havia ido para Brasília, não conhecia nada.” Em meio aos tiros de balas de borracha, Rodrigo escondeu-se, junto com a multidão, no Congresso Nacional. “Quando subi, olhei para baixo e lá havia muita gente.”
Enquanto se abrigava no Congresso, com uma garrafa de água em mãos, viu algumas pessoas que usavam máscaras e roupas pretas “que quebravam tudo que viam pela frente”. “Falamos para eles pararem.” Ele viu as cadeiras reviradas e muitas coisas destruídas. Enquanto Rodrigo tentava arrumar algumas cadeiras, a Tropa de Choque e o Exército chegaram e expulsaram quem estavam ali.
A prisão de Rodrigo Ramalho
De volta à rampa, Rodrigo ficou parado com a garrafa de água na mão e uma bandeira do Brasil amarrada nas costas, sem saber o que fazer. “Fiquei daquele jeito, me protegi, porque o que se via era uma cenário de guerra.”
Segundo ele, naquele momento havia três tipos de gente: os mais exaltados, os que ajudavam a conter a bagunça, e aqueles que, deslumbrados, tiravam fotos e filmavam tudo. Nesse momento, agentes da polícia abordaram, agarraram e prenderam Rodrigo.
“É como se 30 pessoas estivessem num mercado fazendo compras. De repente, entram quatro bandidos, assaltam, roubam, e vão embora. Quando a polícia chega, diz que todos os que estão no mercado vão ser presos”, explicou. “Foi mais ou menos isso que aconteceu. Não vi aquele cara que quebrou o relógio preso. Pegamos condenações de 14, 15, 16, 17 anos de prisão sem haver uma prova de que fizemos algo de errado.”
Rodrigo Ramalho no presídio
Rodrigo descreve o período que permaneceu no presídio como “uma humilhação”. Ele ficou sete meses preso na Papuda, comendo “uma marmita azeda”. Dormia no chão em meio a fezes de ratos. Ficou doente e não teve acesso a remédios. Às vezes, passava cinco dias sem banho de sol. “Os agentes davam risada quando pedíamos papel higiênico”, contou. “Eles diziam que ‘preso não se limpa’.” Quando pediam toalhas para se secar depois do banho, eram obrigados a usar a própria roupa. “Fiquem tranquilos, depois de dois anos vocês estarão acostumados”, diziam os funcionários do presídio. “Nós, pagadores de impostos, fomos tratados como bandidos.”
Durante os sete meses que passou preso, uma pessoa foi cuidar de sua família. Mas isso não evitou que seus filhos entrassem em depressão. Os três sobreviveram graças à ajuda financeira de amigos.
Em liberdade condicional, Rodrigo Ramalho foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica. Também foi proibido de ter redes sociais, de frequentar a igreja e de deslocar-se para fora de Marília. Só podia sair de sua casa de segunda a sexta-feira, das 6 às 19 horas. Depois de oito meses em casa, em 27 de abril, veio a condenação: 14 anos de prisão. Seu crime? Ter estado na Praça dos Três Poderes com uma garrafa de água na mão e uma bandeira do Brasil amarrada nas costas.
A família
Depois da condenação, Rodrigo disse que sente “um misto de sentimentos” que não consegue explicar direito. Tem medo de não conhecer o futuro de sua família e se sente responsável por ela. “Sempre tive um bom histórico na escola, no trabalho, como pessoa, vizinho, sempre ajudei o próximo”, afirmou. “Ganhei uma condenação de 14 anos por exercer um direito constitucional. Não existe nem uma segunda instância para que eu possa recorrer, porque já fui julgado na última.” Religioso, ele espera contar pelo menos com uma ajuda divina: “Humanamente, não vejo saída”.
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Curioso é que a Constituição de 1988 foi redigida com o objetivo de evitar que esse tipo brutal de arbitrariedade voltasse a ocorrer, e o STF foi imaginado como o tribunal que obrigaria ao cumprimento de todos os seus artigos. Tudo deu errado.
Que crueldade com esse Sr. Que nada fez.Alexandre de Moraes e demais do STF vão ter uma punição de Deus. aguardem!
As arbitrariedes e abandono da CF e demais aparatos jurídicos foram jogados no lixo pelo Supremo Imperador Alexandrus I, o Calvo.
Alguém tem que detê-lo ou estaremos a caminho de um desfecho que não será benéfico para ninguém.
Monstruosidade.
Amigo não se revolte pois tudo que está passando tem um propósito, conhecemos somente uma página da nossa existência e não sabemos os males que causamos a outrem em existência passadas, o que posso afirmar é que no mundo existe injustiça, mas jamais injustiçado e que nada dura para sempre e todos colhem o que plantaram, e graças a Deus ele nos dá o esquecimento do que plantamos no passado.
Todo mundo sabe que esse quebra quebra foi armado pelo governo ladrão com o apoio dos comandos do exército ladrão pra virar melancias. Quem recebe dinheiro roubado dos impostos para aderir ao sistema é pior do que os ladrões. Quem tem que tá preso é Lula Flávio Dino essa corja toda do STF TSE e os melancias entrar no fuzil por traidores da pátria
Projetos de anistia no senado,só para aparecer na imprensa.
Nada de concreto para ajudar estas pessoas que não cometeram crime algum.
É muito revoltante
Triste . Injusto.
Um verdadeiro filme de terror. Fico imaginando como é para um pai, que foi preso injustamente, ficar longe da sua família e dos filhos. Todo este mal tem que ser reparado um dia. Torço para que, quando os bons ventos retornarem, eles sejam indenizados pelo estado e que recebam um pedido formal de desculpas do governo e da justiça!
Exatamente. E que os políticos de direita, e quem mais possa, ajudem-os neste momento.
Num país onde o presidente é ladrão, inocentes mofam na prisão. Indignante!