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Meghan e príncipe Harry participam de um evento de basquete em Lagos, na Nigéria (12/5/2024) | Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Edição 219

Meghan Markle deveria deixar os nigerianos em paz

Talvez a única coisa mais importante para ela do que ser vista como uma princesa seja ser vista como uma vítima

Joanna Williams, da Spiked
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Meghan Markle voltou “para casa” há poucas semanas. Não para seus filhos e suas galinhas em Montecito, na Califórnia, mas para a Nigéria — um país onde ela nunca viveu, que nunca visitou antes e onde não tem parentes vivos até onde se sabe. E, ainda assim, acompanhada pelo príncipe Harry, em uma turnê real em tudo menos no nome, Meghan agradeceu aos nigerianos pelas boas-vindas ao “voltar para casa”.

Acontece que, alguns anos atrás, a duquesa de Sussex fez um exame de genealogia que revelou a composição de sua ancestralidade. Aparentemente, ela é 43% nigeriana. Para a maioria das pessoas, isso seria apenas uma história divertida e nada mais. Como observa a Scientific American: “Todos nós temos milhares de ancestrais, e nossas árvores genealógicas se tornam teias emaranhadas à medida que voltamos no tempo, o que significa que, em pouco tempo, nossos ancestrais se tornam ancestrais de todos”.

Com certeza foi algo além dos supostos laços de família que atraiu Meghan e Harry para a Nigéria. Nessa última viagem, pela primeira vez, o casal foi tratado como realeza de fato, com tapetes vermelhos, recepções elegantes e multidões acenando. Os plebeus na Inglaterra podem revirar os olhos para o empreendimento das geleias caras de Meghan, mas na Nigéria ela foi honrada com títulos reais. Ela é uma princesa de verdade, não importa o que seus críticos digam!

Príncipe Harry e Meghan Markle, depois de conhecerem os alunos na Lightway Academy, em Abuja, na Nigéria (10/5/2024) | Foto: Reuters/Akintunde Akinleye

Talvez a única coisa mais importante para Meghan do que ser vista como uma princesa seja ser vista como uma vítima. “Como uma afro-americana, parte disso é não saber muito sobre sua linhagem ou seus ancestrais, de onde você vem especificamente”, declarou ela durante sua visita à Nigéria. Meghan está aludindo ao legado do tráfico atlântico de escravos que sequestrou milhões de homens, mulheres e crianças africanos e tornou impossível para os capturados manterem contato com sua terra natal ou família. Mas, ao se inserir na história bárbara da escravidão, a rainha do estilo de vida de Montecito convenientemente ignora seus privilégios atuais e sua riqueza fabulosa. Megs, a sortuda, se beneficiou não apenas de seu casamento real, mas também, supostamente, dos grandes esforços feitos por seus pais para que ela pudesse correr atrás de suas ambições. Agora ela escolhe interpretar o papel de vítima, em vez de reconhecer o privilégio que seus pais lhe proporcionaram.

Toda a turnê não real nigeriana nos trouxe o tipo de constrangimento hilário que esperamos dos Sussex (até Harry começou a se referir aos nigerianos como seus “sogros”). Mas essa aventura mais recente merece reflexão pelo que nos revela sobre o momento atual. Ela nos mostra que a identidade não é mais vista como algo enraizado na realidade de nossa existência e moldado pelos nossos esforços diários. Agora, é algo que podemos descobrir cuspindo em um tubo de ensaio. Essa não é uma identidade que criamos, mas uma identidade que recebemos por meio de um relatório laboratorial. A “família” foi redefinida de maneira semelhante. Não são as pessoas com quem temos parentesco, com quem construímos relacionamentos ao longo da vida. Em vez disso, são completos estranhos que encontramos um dia e que provavelmente nunca mais vamos ver.

Meghan Markle e príncipe Harry participam de um evento de arrecadação de fundos para polo, em Lagos, na Nigéria (12/5/2024) | Foto: Reuters/Akintunde Akinleye

Para Meghan, identidade e família são definidas como o que for mais conveniente para ela no momento. Meghan pode chamar a Nigéria de “seu país”, mas não quer ser uma nigeriana na Nigéria, onde sem dúvida poderia ter uma vida boa, ainda que tranquila. Em vez disso, ela quer ser uma nigeriana na Califórnia. Sua relação não é com a realidade da Nigéria hoje, mas com um passado imaginado. Meghan quer que o mundo saiba que ela pode ser uma princesa, mas também é uma vítima.

Se alguém é vítima aqui, são os nigerianos. Harry e Meghan usaram a viagem para anunciar que a Archewell, sua fundação, ajudaria a financiar materiais escolares e produtos menstruais na Nigéria. Mas, visto que a Archewell foi recentemente considerada “inadimplente” pelo regulador das instituições beneficentes dos Estados Unidos, podemos de fato ter certeza de que os nigerianos vão se beneficiar?

A última coisa de que a Nigéria precisa é uma princesa vítima e seu marido desinformado apresentando uma psicologia barata às crianças da nação

Pior ainda, Meghan e Harry levaram sua cruzada pela saúde mental e pela linguagem terapêutica ao estilo americano para a Nigéria. Falando com uma plateia cativa de crianças em idade escolar, Harry perguntou:

“Se você vir que seu amigo de classe não está sorrindo, o que você vai fazer? Você vai ver como ele está? Vai perguntar se ele está bem? Tudo bem não estar bem.”

Megs, claramente impressionada, exclamou: “Viram por que me casei com ele? Ele é tão esperto!”.

Se Harry de fato tivesse tantas células cerebrais quanto Meghan imagina, ele saberia que esse tipo de conversa faz muito mais mal do que bem. Vemos em todo o mundo ocidental que perguntar constantemente às crianças sobre seu estado emocional cria os problemas que os defensores da saúde mental afirmam querer prevenir. Como Abigail Shrier explica em seu excelente livro Bad Therapy, fazer as crianças “brincarem de psicólogo” e perguntarem de modo rotineiro umas às outras como estão se sentindo coloca o foco de sua atenção para dentro, em vez de para o mundo lá fora. Isso “já está deixando os jovens mais doentes, mais tristes e mais assustados com o crescimento”, ela escreve.

A última coisa de que a Nigéria precisa é uma princesa vítima e seu marido desinformado apresentando uma psicologia barata às crianças da nação. Os líderes da Nigéria precisam fechar a porta para Meghan, Harry e tudo o que eles representam.

Capa do livro Bad Therapy, de Abigail Shrier | Foto: Divulgação

Joanna Williams é colunista da Spiked e autora de How Woke Won. Ela é pesquisadora visitante do Mathias Corvinus Collegium (MCC), de Budapeste.

Leia também “Crianças e smartphones: mantenha a calma”

6 comentários
  1. Kleber Pessek
    Kleber Pessek

    Ridícula!

  2. Marco Aurélio Oliveira De Farias
    Marco Aurélio Oliveira De Farias

    Excelente texto.
    Harry, tem muito a aprender.

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Não tô enxergando nada tô com mácula na retina

  4. Claudia Aguiar de Siqueira
    Claudia Aguiar de Siqueira

    A Meghan é o suprassumo da dissimulação e do oportunismo, além de ser uma chata. Coitadinho do Harry.

  5. Claudia Aguiar de Siqueira
    Claudia Aguiar de Siqueira

    A Meghan é o suprassumo da dissimulação e do oportunismo, além de ser uma chata. Coitadinho do Harry.

  6. Alberto Junior
    Alberto Junior

    O que dizer deste artigo? Perfeito; simplesmente irretocável! É aquele texto no qual cada palavra, cada sentença, vem com a precisão de um míssil teleguiado! A autora desencapa as parcas células cerebrais que ainda sobrevivem no crânio oco dos dois habitantes de Montecito. A humanidade está mesmo por um fio!

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