É complicado dizer que a “política externa” do terceiro governo Lula é pior que a maioria das suas políticas internas. Como seria possível, por exemplo, ser pior que a política de educação, ou a de saúde, ou a de segurança pública? A única esperança, na verdade, está nas áreas em que não há política nenhuma — nessas, quem sabe, o esforço de demolição liderado pelo presidente da República possa deixar alguma coisa mais ou menos de pé, já que estará concentrado em demolir o resto. As relações externas do Brasil não tiveram essa ajuda da fortuna. São, ao contrário, o foco da hiperatividade mais destrutiva das facções extremistas do atual governo e do seu “projeto de país”. O resultado é um Brasil que o mundo nunca viu antes, nos raros momentos em que olhou para cá. O princípio-chave de sua estratégia diplomática é se aliar, sempre, com o que há de moralmente mais errado nas relações internacionais.
Os serviços de propaganda do governo sustentam, é claro, que moral é uma coisa relativa — o que é errado para uns é certo para outros, com a particularidade de que “nós” estamos sempre certos e os “outros” estão sempre errados. Mas princípios morais de verdade não são uma questão de ponto de vista. São regras objetivas de conduta, aceitas pela maioria das consciências humanas e evidentes por si próprias. A política externa do governo Lula é uma violação frontal, deliberada e permanente a essas normas. É simples. A Rússia invadiu o território da Ucrânia; é inevitável, a partir daí, que há um agressor e um agredido, e a agressão é moralmente errada. O Brasil de Lula ficou, para todos os efeitos práticos, a favor da Rússia. Ditaduras ofendem as regras mais elementares da moral; o Brasil de Lula é a favor de todas as ditaduras. O terrorismo é obviamente condenado pelos princípios morais em vigor. O Brasil de Lula é a favor do Irã, descrito como Estado terrorista por todas as democracias, e do Hamas, que impõe o assassinato em massa de judeus como dever de seus militantes.
O último acesso de falta de escrúpulos da diplomacia brasileira é a sua volta ao local do crime na questão da Ucrânia. Tornou-se uma ideia fixa. O governo Lula, é certo, não consegue ficar a favor da moral — mas não precisaria ficar a favor do que é imoral. Não quer condenar a invasão de um país por outro, como a diplomacia brasileira sempre condenou? Tudo bem. Bastaria, aí, o Brasil não dizer nada, nem a favor e nem contra, e se fazer de morto. Ninguém iria perceber, e muito menos cobrar nada do governo. Mas não. Lula inventou de ficar a favor do agressor contra o agredido — e desde então o Brasil só tem se enterrado mais neste buraco onde se meteu de graça. Não parece que vai sair, pois uma das compulsões mais frequentes do Lula 3 é fazer dois erros, ou quantos forem necessários, para reforçar o erro inicial. No caso, o erro de origem foi a ideia realmente extraordinária de que tanto a Rússia como a Ucrânia eram responsáveis pela guerra. Pela teoria diplomática de Lula, quando um não quer dois não brigam; tudo o que a Ucrânia teria de fazer, por esse tipo de raciocínio, seria aceitar que o seu território fosse invadido e se sentar com os russos num botequim para tomar uma cervejinha e resolver tudo na conversa.
É esse disparate que serve de princípio fundamental para a política externa brasileira no momento mais crítico para a paz mundial desde o fim da Segunda Guerra. Na hora em que o Brasil mais precisa da competência e do compromisso da sua diplomacia com os interesses nacionais, o que o governo Lula oferece é a ideologia pessoal, rancorosa e fracassada do próprio presidente e dos viciados em Terceiro Mundo que governam com ele e consomem teorias de 70 anos atrás. Só existe, no governo, uma regra válida em política externa: para ser independente, um país tem de combater o “imperialismo capitalista” dos Estados Unidos e das “potências centrais” do mundo democrático. Isso só se faz, segundo o pensamento único do Itamaraty lulista, ficando do lado da Rússia e da China. Esqueçam o Brasil. O que é bom para russos, chineses e suas ditaduras tem de servir para os brasileiros — e não é da conta de ninguém ficar perguntando se é bom ou ruim. Tanto faz se é invasão da Ucrânia, assassinato em massa de civis em Israel, tortura de mulheres no Irã, ou o que for. É “contra os Estados Unidos”? Então é bom para o Brasil.
O fundo do poço até aqui (só até aqui, porque esse tipo de poço não tem um fundo conhecido) é a presente escroqueria do plano de “desescalada” que a China colocou no ar para ajudar a Rússia na guerra com a Ucrânia. A ideia geral, com o apoio do ministro-chefe Celso Amorim, é criar um “clube da paz” imaginário, que pretende cessar os combates — desde que fique tudo como está hoje no “terreno”. Ou seja: a Rússia continua no território que ocupou até agora, para de atacar a Ucrânia, e a partir daí a gente conversa. A Ucrânia, por sua vez, não precisa mais se defender, pode até ficar com o território que lhe sobrou e leva a vantagem, pelo menos por enquanto, de não tomar mais bomba nas costas. É a essência da oferta feita pela China: vamos falar de paz, mas não se fala de desocupar território nenhum. Lula acha isso muito razoável — segundo ele, “a decisão da guerra foi tomada por dois países” e, sendo assim, os dois têm de aceitar as “consequências”. Como assim — “dois países”? Seria a primeira vez na história em que um país decidiu ser invadido por outro, mas isso não vem ao caso para a diplomacia brasileira. Se tudo der certo, a Rússia aceita não ocupar mais território do que já ocupou. A Ucrânia aceita perder a parte do seu território que já foi ocupada.
O Brasil tem peso militar equivalente ao quadrado do zero, não controla nenhuma tecnologia crítica e está no lugar errado do mapa-múndi
Isso é a “paz possível” de que fala o chanceler Amorim. Qual seria a “paz possível”, então, quando a Alemanha nazista ocupou a maior parte dos seus vizinhos de fronteira? Ou, para ficar mais perto, quando o Paraguai invadiu o Brasil? O “clube da paz” de Lula deixaria o Paraguai ficar com a parte de Mato Grosso que tinha invadido? É o que ele propõe para a Ucrânia. Pela sua visão das coisas, “o Putin não toma a iniciativa de parar, o Zelensky não toma a iniciativa de parar”, e por isso está havendo esse problema todo. “O Zelensky”, segundo a doutrina de política internacional de Lula, deveria tomar a iniciativa de não defender mais o seu país. Sua teimosia, como se vê, é um obstáculo para a paz. É a nossa grande sorte, levando-se em conta a soma de Lula, Amorim, Janja e quem mais dá palpite na diplomacia brasileira, que ninguém queira invadir o Brasil hoje em dia. Já no primeiro tiro, iam propor uma “negociação” com o invasor e mostrar para o mundo como um metalúrgico resolve o que as grandes potências não têm capacidade de resolver.
A política externa de Lula está errada em tudo. Parte da miragem de que o Brasil é um país “importante” para o mundo e, como tal, pode ter voz, influência e poder de decisão na comunidade das nações. Não é nada disso. O Brasil tem peso militar equivalente ao quadrado do zero, não controla nenhuma tecnologia crítica e está no lugar errado do mapa-múndi. Não produz conhecimento. A governança é uma piada, a segurança jurídica não existe, e a vida pública é uma das mais corruptas do planeta, segundo as organizações de vigilância de melhor reputação internacional. A maioria da população é semianalfabeta, quando comparada aos países com os índices de educação mais altos. Vai influir no que, desse jeito? O Brasil, sem dúvida, é fundamental para a produção mundial de alimentos; é uma economia com PIB anual na casa dos US$ 2 trilhões e com condições materiais de crescimento melhores do que tem a maior parte dos países. Mas isso não significa poder político — e muito menos o patrimônio moral indispensável para ocupar uma posição de respeito no cenário internacional.
Lula e o seu Itamaraty imaginam que podem ser levados a sério porque não admitem nenhuma das condições citadas acima — e dizem a si próprios que o Brasil é uma potência que não existe no mundo das realidades. Quer influir no equilíbrio mundial, assustar as potências desenvolvidas e resolver as grandes questões em jogo — Ucrânia, Palestina, “mudança do clima” e tudo mais que passar pela frente. Não consegue dar esgoto à maioria da sua população, nem lidar com uma epidemia de dengue, nem fornecer um mínimo de segurança para a vida dos próprios cidadãos brasileiros. Mas fica falando em “Sul Global”, em resistência ao “avanço da direita no mundo” e em “salvar o planeta” com a sua política externa “ativa e altiva”. Acreditam que sendo contra o “imperialismo” vão receber tratamento especial da Rússia e da China — que, naturalmente, não vão fazer ou deixar de fazer coisa alguma por causa do Brasil, a não ser no seu estrito interesse nacional. Não existe nada no fim desse arco-íris.
Leia também “O Brasil dos Randolfes”
Sir Guzzo,análises sempre perfeitas,lúcidas,claras e inteligentes.Como fomos cair, de novo ,nesse engodo?
Muito lamentável , triste e vergonhoso . Mestre Guzzo foi certeiro!
Tamos bem mal. Como tirar tantos ratos de esgoto ao mesmo tempo..?
Verdadeiramente o Lula transformou o Brasil em um anão diplomático.
Lula é uma pessoa que parou no tempo, mais precisamente nas décadas de 70 e 80 do século XX.
Ele é uma pessoa retrógrada, não evoluiu em nada.
Estamos pagando caro a desconfenação dele.
É o fim da picada.
Tá… mas qual o objetivo de lula com isso tudo? o que ele espera ganhar com isso? já se perguntaram isso?
” Não consegue mandar na sua cozinha e quer mandar no mundo inteiro.” O Brasil é uma vergonha, politicos ladroes e corruptos, fariseus com a sua virtude da hipocrisia, e o Janjo ladrão com sua Rainha Exbanja. O pt conseguiu provar que o Brasil é um país sem futuro!
Na história da humanidade existem diversas atrocidades que os sedentos de poder causaram ao povo que não concordava com as ideias que eles queriam IMPOR. Na maioria das vezes, a escravidão.Obviamente que para o bem estar dos que governavam, eles mandavam que a punição para quem não concordava, era a morte, a prisão ou escravidão. Isto posto:
OU FICAR A PÁTRIA LIVRE
OU MORRER PELO BRASIL.
corrigindo e completando:
antes morto na terra mas vivo e livre nos braços de DEUS do que vivo na terra e escravo nas mãos do demônio.
Antes morto na terra e vivo nos braços de DEUS do que vivo na terra nas mãos do demónio.
Este Celso Amorim deveria tomar vergonha na cara e pedir demissão junto à Lula!
Se essa porcaria de país resolvesse primeiro seus problemas internos poderia servir de exemplo para o mundo. Mas bem isso. Perfeito novamente mestre Guzzo.
Seriam explicáveis as tramas e a imposição no sentido de considerar válido tornar elegível um condenado por corrupção por nove magistrados em três instâncias? Qual o propósito, de fato, dessa conduta ilegal e, em complemento, a expedição de mandados inconstitucionais e obediência aos mesmos.
A foto da capa representa a essência do PT, que foi discutir democracia na China, onde o mesmo partido está no poder a ”trocentos” anos.
Show de raciocínio. Parabéns, Guzzo.
Perfeito esse artigo .
Disse tudo , Guzzo!
Em que pede as discordâncias com o Lula, ele está certo nesse ponto em 2 fatores: era sabido que se a Ucrânia decidisse por entrar na OTAN haveria guerra, a Rússia já havia alertado sobre isso desde a primeira década do presente milênio. Zelensky decidir dar ouvidos pra Boris Johnson foi um erro grotesco, porque ele se meteu em um conflito militar que não tinha como vencer e que já custou a população Ucrânia muitas vidas e sofrimento. Agora só resta lidar com as consequências da escola desastrada do Zelensky de peitar o Putin (seria o equivalente do AMLO, no México, entrar em uma aliança militar com a Rússia e topar instalar mísseis russos em seu território, e a consequente resposta dos EUA pra defender sua segurança, que seria bem rápida).
Perfeita colocação! Zelensky foi plantado lá pelos globalistas, para destruir o seu próprio país. E veja que ele já suspendeu as eleições, ou seja, já é oficialmente um ditador.
Grande Guzzo !
Luladrão, o mais famoso artista do engodo, sempre será um artista do engodo, Afinal de contas, é fácil enganar uma população semianalfabeta.
Ações falam mais alto que palavras, na sinfonia da existência, nossas ações compõem a melodia do nosso legado. E não será alianças com Comunistas, pagas com o sangue, suor e lagrimas do povo brasileiro, que inocentará ou mudará a história e legado do Luladrão.
O Brasil diplomaticamente sempre foi um zero, tendo em vista seu subdesenvolvimento, e agora com esse analfabeto que condena o capitalismo, sem enxergar que foi com um capitalismo selvagem que a China chegou ao topo. Já que ele é amiguinho de Xi Jinping, poderia fazer o mesmo sem a selvageria dele pra ser pelo menos razoável
Excelente texto!!
Esses desgovernantes não sabem para que lado está ventando.
Lula, o ladrão, e sua quadrilha, o PT, transformaram o Brasil em anão nas relações internacionais.
No fim desse arco-íris existe um balde de m….
Guzzo, brilhante, como sempre.
Só não concordo que o Brasil deveria ficar neutro, mas deveria escolher o lado certo, ou seja, da vítima.
É redundante, mas vou dizer assim mesmo, que a análise de J.R. Guzzo é precisa, na mosca, mais uma vez. É bom saber que há pessoas no meio jornalístico que expõem suas ideias sensatas de forma franca e corajosa. São poucos, mas são gigantes. Quem sabe aos poucos os desavisados vão começando a compreender a realidade desse governo lendo artigos com essa qualidade.
É o Brasil descendo a ladeira cada vez mais…
A incompetência infinita desse desgoverno, não terminará por aí. Aguardem as próximas ações.
Quem vai respeitar um país presidido por um meliante Nove Dedos que foi condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro, COM PROVAS SOBRADAS.
Mestre Guzzo sempre excelente nos seus textos.