A Medida Provisória nº 1.227/2024, que proibia o uso de créditos de PIS/Cofins para compensação tributária, foi percebida como uma “bomba atômica” pela maioria dos empresários brasileiros. E se tornou o estopim de uma revolta contra o governo por parte dos representantes dos principais setores econômicos.
Na última terça-feira, 11, foi realizado um almoço na sede da Frente Parlamentar para a Agropecuária (FPA), do qual participaram expoentes do agronegócio, da indústria e dos serviços.
O clima foi de extrema tensão contra o Executivo. Entre o desabafo coletivo e a conspiração. Segundo um dos participantes, a atmosfera era algo próximo ao vivido durante o impeachment de Dilma Rousseff.
“Não quero falar com o presidente Lula”, disse João Martins, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). “Eu me recuso a falar com o presidente Lula, porque estamos vivendo um desgoverno.”
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Se arrumar a casa, o dólar dispara
Em discurso na abertura do Fórum de Investimentos Prioridade 2024, promovido pelo Instituto da Iniciativa de Investimentos Futuros (FII Institute), no Rio de Janeiro (RJ), o presidente Lula disse que “está arrumando a casa” e “colocando as contas públicas em ordem”.
Lula garantiu aos empresários brasileiros e estrangeiros presentes no evento que o país é seguro e oferece credibilidade aos investidores.
O mercado, evidentemente, não acreditou. E poucas horas depois a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) caiu 1,4%, fechando abaixo dos 120 mil pontos. Os juros futuros subiram, chegando a 12,3%. E o dólar ultrapassou R$ 5,40.
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Papo reto, Haddad
Enfrentando uma crise política, juros em alta, dólar batendo recordes e bolsa de valores na mínima, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, decidiu se reunir com os principais banqueiros do Brasil.
Haddad receberá Isaac Sidney, presidente da Febraban; Luiz Trabuco, presidente do conselho do Bradesco; André Esteves, chairman do BTG Pactual; Milton Maluhy, presidente do Itaú Unibanco; Marcelo Noronha, CEO do Bradesco; e Mario Leão, presidente do Santander.
Formalmente, o objetivo da conversa será discutir sobre a “conjuntura econômica” do Brasil. Fontes do Ministério da Fazenda, todavia, informaram que será uma tentativa de encontrar uma solução para o rombo de R$ 30 bilhões nas contas públicas.
O governo tentou resolver o problema na marra, editando a MP 1.227. Não deu certo, e o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, a devolveu para o Executivo. Agora Haddad quer ouvir dos banqueiros sugestões sobre onde pegar o dinheiro necessário para cobrir o vermelho do Tesouro Nacional.
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Movimentos tectônicos em Brasília
Haddad parece ter entendido que é necessário um corte de gastos para acalmar os mercados. As taxas de juros dos últimos leilões de títulos da dívida pública brasileira NTN-F, os papéis favoritos dos gringos, superaram 12%. Recorde no ano.
Para o ministro, a agenda de corte de gastos “ganhou tração” dentro da equipe econômica. Em reunião com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, foi concordado um ritmo de revisão de despesas públicas nas próximas semanas.
O tempo é curto, pois até agosto o governo deverá enviar ao Congresso a peça orçamentária para 2025.
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Combinaram com os russos?
As declarações de Haddad parecem ir na contramão do que foi falado por seu número 2, Dario Durigan, durante o Fórum Esfera Brasil, no último fim de semana. Segundo o secretário-executivo da pasta, não seria aceitável cortar gastos públicos para favorecer “poucos milhares de empresas ou de municípios”.
No mesmo evento, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, também rejeitou a hipótese de corte de gastos. “O país precisa crescer para resolver a crise fiscal”, disse.
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Receita Federal domina a Fazenda
As tentativas do governo federal para aumentar a arrecadação de qualquer jeito seriam orientadas pela própria Receita Federal.
“O ministro Haddad delega demais”, resumiu uma fonte ligada ao Ministério da Economia. “E o segundo escalão do ministério não é tão preparado assim. Por isso, emergiu a figura do secretário Robinson Barreirinhas. Preparado, determinado e cada vez mais influente no ministério. Hoje é ele o verdadeiro motor da Fazenda.”
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Gringos já jogaram a toalha com o Brasil
As turbulências econômicas que o Brasil está enfrentando levaram várias instituições financeiras internacionais a realizar uma “reprecificação violenta” dos ativos tupiniquins.
O J.P. Morgan decidiu abandonar a recomendação de compra de papéis brasileiros, dos juros domésticos e do real.
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Petrobras de diretoria nova
A diretoria executiva da Petrobras deverá mudar até a próxima semana. A nova presidente da petroleira, Magda Chambriard, disse ao presidente Lula, durante uma visita ao Rio de Janeiro, que os perfis dos novos diretores serão mais alinhados com sua visão.
Entre os diretores que poderiam ser substituídos estão o de Integridade, Mário Spinelli; o Financeiro, Carlos Rechelo; o de Engenharia, Carlos Travassos; e o de Exploração e Pesquisa, Joelson Mendes.
Todos eles votaram em desacordo com Chambriard em uma das últimas votações da gestão Prates, sobre a recontratação de funcionários demitidos da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados (Ansa).
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Fechando um capítulo
Até o final de junho a Vale prevê chegar a um acordo para reparações e compensações pelo rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, ocorrido em 2015.
O valor deveria chegar a R$ 140 bilhões. A proposta apresentada ao Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6) inclui R$ 37 bilhões já investidos em reparação e compensação, um montante de R$ 82 bilhões pagável em 20 anos ao governo federal, aos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e aos municípios, e outros R$ 21 bilhões em obrigações a fazer.
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Minerva das arábias
A brasileira Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, quer expandir sua presença no Oriente Médio. A empresa está de olho em uma parceria com a Arábia Saudita para criar um hub de produção no Brasil e outro de logística no país árabe.
Os financiamentos poderiam vir do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF), que mantém um portfólio de cerca de US$ 1 trilhão em investimentos.
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Quem vai levar a sério figuras como Fernando Haddad e Simone Tebet?