O ‘Gabinete da Ousadia’

Descobriram o “Gabinete da Ousadia”. Dizem que é uma espécie de milícia digital do PT. Funciona assim: o partido e a área de comunicação do governo, segundo os denunciantes, combinam diariamente o lote de notícias que querem espalhar — favoráveis a eles e desfavoráveis aos adversários — e jogam no ventilador dos sites amigos, dos blogs de aluguel, dos influenciadores de estimação. Dizem que vai ter até CPI para investigar o escândalo.

A fábrica de escândalos não vai nada bem. Saudade dos tempos em que as coisas eram chamadas pelos seus nomes. Boato era boato. Mentira era mentira. Notícia falsa era notícia falsa. Propaganda enganosa era propaganda enganosa. Todos os governos, absolutamente todos, tiveram seus espalhadores de propaganda enganosa.

A diferença é que antigamente eram panfletos e boatos. Agora não precisa de gráfica, nem de emissário. Basta apertar um botão e escorre tudo silenciosamente até a palma da mão de todo mundo.

Aí a imprensa achou legal criar o “Gabinete do Ódio” — uma literatura de quinta categoria para acusar o governo anterior de fascista. Não importava que as medidas daquele governo, como a Reforma da Previdência e a Lei da Liberdade Econômica, estivessem sendo discutidas e aprovadas democraticamente com o Parlamento. Era preciso investir a todo custo no pesadelo autoritário. Passaram anos enchendo o saco com essa tese pueril e agora vêm com esse “Gabinete da Ousadia” — a versão petista do “Gabinete do Ódio”.

Até parece que o PT precisa dessa pompa para mentir. Até parece que usina de difamação é escândalo para o PT. Os caras montaram o Mensalão e o Petrolão. O resto é brincadeira de criança de um amigo meu.

“Gabinete da Ousadia” é uma invenção ridícula. A imprensa está realmente falida — não só moralmente, como intelectualmente. Isso parece aquele “diz leitor” da Folha. Faça você mesmo a manchete: “Planalto instruía o Gabinete da Ousadia para atacar adversários, diz leitor”. Que coisa ridícula.

Dizer que o PT “desinforma” é uma piada. Nem Duda Mendonça pensaria num retrato tão doce

Quem foi o infeliz que inventou essa “Ousadia”? Isso consegue ser mais tosco e inverossímil que o tal Gabinete do Ódio. Será que na cabeça de alguém “ousadia” é uma forma branda de ódio? Ou procuraram uma palavra meio parecida para dar ideia de continuidade da novela? Vem aí o Gabinete da Ojeriza?

O próprio presidente da República trata pessoalmente de tentar jogar a população contra o presidente do Banco Central, entre outras insinuações de malvadeza. O ministro da Fazenda tenta dia sim, outro também transformar o legado de Paulo Guedes numa herança pestilenta. Para tratar o governo anterior como a sucursal de belzebu, o PT tem a imprensa quase inteira. A maledicência foi institucionalizada pelas fake news de grife. Quem precisa de “milícia digital”?

Parece que muita gente precisa. Nem tanto da coisa real, que saiu de moda. O imperativo são as palavrinhas pecaminosas. “Milícia”, “gabinete”, “fake news“, “desinformação”, “negacionismo”, “discurso de ódio”, “algoritmo do ódio”, “gabinete do ódio”, “milicianos do ódio” etc. Essa literatura de fundo de quintal virou instrumento de poder, por incrível que pareça. E todos usam: da esquerdalha à direitalha, passando pela centralha e pela isentalha.

Dizer que o PT “desinforma” é uma piada. Nem Duda Mendonça pensaria num retrato tão doce. Mas a consagração dessas palavrinhas pecaminosas como forma de perseguição não será nada doce — e a vítima não será o PT.

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