Enquanto o establishment da União Europeia luta para entender a revolta nas eleições europeias da semana passada, uma coisa ficou clara: nosso vocabulário desatualizado não está à altura de descrever o cenário político de hoje.
As vitórias do Reunião Nacional, da França, do Irmãos da Itália, de Giorgia Meloni, e do Alternativa para a Alemanha (AfD) foram descritos como uma “onda de extrema direita” nas matérias de jornal e TV, não apenas na Europa, mas no mundo todo. Antes mesmo dos resultados das eleições serem divulgados, rótulos como “extrema direita” e “direita radical” já estavam na ponta dos dedos dos analistas. É consenso entre todos que a extrema direita está em ascensão e que as pessoas comuns precisam se preocupar. Este é o “momento Trump” da Europa, explicou o site Politico. Alguns vão além. O Reunião Nacional, de Marine Le Pen, é descrito como “neofascista”, enquanto acadêmicos calmamente questionam se o AfD é o novo Partido Nazista. “O fascismo chegou”, declarou a autora francesa Emilia Roig quando os resultados das eleições foram revelados. No entanto, com quase um quarto dos eleitores da Europa apoiando um partido rotulado de “extrema direita”, vale a pena perguntar qual é o grau de exatidão desse rótulo e qual é o seu propósito agora.
“Extrema direita” descreve razoavelmente o predecessor do Reunião Nacional da França. Estabelecido em 1972, o Frente Nacional (como era conhecido até 2018) uniu vários grupos de extrema direita sob a liderança de Jean-Marie Le Pen, que tinha um histórico de negar o Holocausto e de antissemitismo. Em 2011, Marine, sua filha, assumiu a liderança e tentou “desintoxicar” o partido. Ela expulsou extremistas, incluindo o próprio pai em 2015, depois que ele fez comentários que ignoravam o Holocausto. E também denunciou o fascismo e o antissemitismo antes de rebatizar o partido. Giorgia Meloni se juntou ao Movimento Social Italiano, um partido fundado por apoiadores do ex-líder fascista Benito Mussolini, quando tinha 15 anos. Naquela época, ela era uma presença conhecida nos círculos pós-fascistas. Em 1994, o Movimento Social Italiano foi transformado em Aliança Nacional. Vinte anos depois, Meloni se tornou presidente de sua ala jovem. E, depois de uma cisão no partido, em 2012, ela ajudou a lançar o Irmãos da Itália, hoje o maior partido do país.
Tanto Meloni quanto Le Pen colocaram seus partidos em uma direção consideravelmente mais mainstream. Isso significa que o AfD da Alemanha, fundado em 2013 e segundo colocado nas eleições da UE da semana passada, detém a distinção duvidosa de ser “pior que o resto da extrema direita da Europa”. Dada a curta história do partido, os analistas tiveram que se contentar com escândalos políticos no presente. Em maio, Maximilian Krah, o principal candidato do AfD nas eleições da UE, declarou a um jornal italiano que nem todos os membros da SS nazista eram criminosos de guerra. Além disso, Krah é acusado de manter relações questionáveis com a China e a Rússia.
Os três partidos não compartilham uma ideologia coerente. Na verdade, Le Pen se recusou a se sentar com o AfD no Parlamento Europeu depois dos recentes escândalos, e Meloni se tornou uma aliada-chave da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O que eles têm em comum é terem conseguido explorar com sucesso as preocupações populares com a imigração, o fardo da neutralidade climática e a crescente sensação de que as elites políticas estão desconectadas das preocupações dos cidadãos de seus países.
Ainda que tenham nascido de uma tradição de extrema direita mais antiga, o Reunião Nacional e o Irmãos da Itália tiveram que mudar e se tornar bem mais moderados antes de se tornarem eleitoralmente viáveis. Alguns membros do AfD de fato fizeram comentários enigmáticos sobre o passado fascista da Alemanha. Mas descrever todos esses partidos simplesmente como “extrema direita” passa por cima do que torna o momento atual politicamente distinto. Pior ainda, macula as aspirações de milhões de eleitores.
Os rótulos “direita” e “esquerda” não nos ajudam a entender o que motiva a política hoje. No passado, as visões de extrema direita estavam firmemente associadas ao antissemitismo. Mas em uma era de “LGBT pela Palestina”, em que boicotar Israel é uma obsessão da esquerda universitária, e em que ativistas jogam tinta em bancos supostamente ligados ao único Estado judeu do mundo, defender o direito de Israel de existir é considerado ser de direita. Ou vamos falar do net zero. No passado, a esquerda defendia a melhoria nos padrões de vida da classe trabalhadora. Agora, o consenso verde da esquerda exige que as pessoas sejam impedidas de ter carro, aquecer a própria casa e viajar para o exterior. A mesma inversão aconteceu em relação às questões culturais. As pessoas que defendem a proteção dos direitos sexuais das mulheres ou uma abordagem daltônica da igualdade racial logo são consideradas de direita ou até mesmo de extrema direita. Quando toda oposição popular ao status quo é rotulada como “extrema direita”, a frase perde muito do seu significado.
Gritar “extrema direita” diz menos sobre os partidos rotulados dessa forma e mais sobre aqueles que estão enviando os sinais de alerta
O rótulo “extrema direita” pode não ser útil quando se trata de análise política, mas serve a um propósito para a elite política. “Extrema direita”, “direita radical”, “neofascista” — todos esses termos funcionam como grandes sinais de alerta. Eles são um aviso retórico para os eleitores não se aproximarem. E não apenas funcionam como uma expressão de desagrado da elite pelo populismo, mas também insinuam o mito de origem da União Europeia — de que foi graças à sabedoria dos tecnocratas em Bruxelas que evitamos um retorno aos horrores da Alemanha Nazista e da Itália fascista. Votar em partidos pró-União Europeia é considerado heroico, e apoiar os eurocéticos, vergonhoso.
Mas isso é preguiçoso. Evita o trabalho árduo de analisar as causas das frustrações dos eleitores com os partidos tradicionais e a adesão à nova direita política. Gritar “extrema direita” diz menos sobre os partidos rotulados dessa forma e mais sobre aqueles que estão enviando os sinais de alerta. E mostra que o establishment da União Europeia se sente ameaçado por eleitores empenhados em fazer sua voz ser ouvida.
Existe outro perigo em chamar de “extrema direita” tudo aquilo de que as figuras do establishment não gostam. O tiro pode sair pela culatra. Quando o termo “extrema direita” descreve as causas políticas populares de hoje, a verdadeira ameaça de extrema direita do passado da Europa é relativizada. Despida de seu significado histórico, “extrema direita” se torna apenas um insulto vazio.
Precisamos urgentemente de uma nova linguagem para descrever a raiva crescente que a população sente em relação a uma elite política cada vez mais inconsequente, não apenas na Europa, mas no mundo todo.
Joanna Williams é colunista da Spiked e autora de How Woke Won. Ela é pesquisadora visitante do Mathias Corvinus Collegium (MCC), de Budapeste.
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Na última foto podemos fazer um paralelo com o sistema de votação brasileiro. Na Europa, votação em envelope das urnas. Já no Brasil, urnas eletrônicas sendo contabilizados os votos na salinha em Brasília de Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso.
A Europa cansou, não suporta mais a esquerda, o continente tem histórico de muito sofrimento, são duas guerras mundiais o atingindo e dois regimes oprimindo todo povo, e hoje com o avanço tecnológico não suporta mais o apoio dos progressistas/esquerdistas
Pior no Brasil os SUPREMOS entenderem que somos de extrema direita bolsonarista. Lembro que grande parte dos atuais bolsonaristas foram tucanos com eu, surpreendidos por extrema traição das celebridades desse partido em decadência. Como entender o conservador super católico, liberal e democrata conviver com o atual desgoverno e falar insanidades como fez do altar de uma igreja para homenagear o principal articulador da farsa de 8 de Janeiro: “quis o destino que Flavio Dino fosse o Ministro da Justiça e Segurança, na hora certa e no momento certo para ajudar a salvar a democracia e evitar o golpismo”.
Como dorme esse cristão sabendo que muitos brasileiros patriotas, pacíficos, democratas e sem antecedentes criminais, indignados com o processo eleitoral e a pouca transparência sem auditoria das urnas eletrônicas manifestavam-se pacificamente em frente aos quarteis e agora estão sendo humilhados e condenados severamente por essa ARMAÇÃO do 8 de janeiro que Flavio Dino proporcionou? Aonde estão as gravações do Palácio da Justiça que até o ministro Andre Mendonça reclama?
refiro-me a Geraldo Alckimin.
pra mim é muito simples…… deixa chamar…… não temos que ficar ofendidozinhos não….. quer chamar de extrema-direita…. pode chamar.