O Brasil não tem, há mais de cinco anos, um supremo tribunal de Justiça. O que tem continua sendo uma guarda suprema, mas deixou de ser um tribunal e, obviamente, não passa pela cabeça de ninguém ir até lá em busca de justiça. Em vez do STF que existia até a eleição de Bolsonaro para a Presidência da República, o que existe agora é um Comissariado de Segurança e Defesa do Regime. Sua única função efetiva é garantir, com o apoio da força armada, que as leis em vigor no Brasil nunca vão ser aplicadas em favor de quem discorda do governo, dos próprios ministros e dos interesses de ambos. A segunda parte de sua obra é assegurar que qualquer lei vai ser violada se estiver atrapalhando o regime Lula-STF. A grande inovação de tudo isso para a ciência política é a criação da vacina antidireita. Como a direita, que hoje só é disponível na embalagem “extrema direita”, passou a ameaçar a democracia porque também passou a ganhar eleições, o “Estado Democrático de Direito” só pode ser salvo abolindo-se os direitos dos direitistas.
“A democracia tem lugar para todos, menos para os que são contra a democracia”, determinou o presidente do STF em sua última encíclica, desta vez proclamada na Universidade de Oxford. É a alma soviética que hoje inspira a nossa “suprema corte”, como se costuma dizer. “Os que são contra a democracia” são os que discordam das decisões da junta de governo STF-Lula — não podem, portanto, ter a proteção da lei, pois, na doutrina oficial ora vigente, vão “usar” os seus direitos constitucionais para fazer política, ganhar eleições e acabar com a democracia quando chegarem ao governo. Há diversos casos, nos últimos anos, em que a direita ganhou a eleição e foi para o governo — inclusive aqui mesmo, no Brasil, em 2018. Não há nenhum caso em que tenha criado uma ditadura depois de eleita. Mas é aí que está: esse é um raciocínio de direita e, portanto, antidemocrático. Argumento, numa democracia-modelo como a que o STF inventou para o Brasil, só se for autorizado pelo ministro Barroso e seus pares no Comissariado.
O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, disse que o Brasil viveu uma prova de fogo para manter a democracia diante a ascensão da extrema-direita. A fala de Barroso aconteceu durante um evento na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Veja.
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O modo de operar do STF atual não tem similares em nenhuma democracia do planeta. Não se trata aqui da folha de pagamento com quase 3 mil funcionários (já houve até auxiliares de desenvolvimento infantil nesse mar de gente), nem do custo de R$ 1 bilhão por ano e outros sinais explícitos de subdesenvolvimento. Isso é a senzala geral do Brasil, para a qual não há cura conhecida. O que chama a atenção no Supremo de hoje é sua organização como chefatura nacional de polícia. Há o Centro de Enfrentamento aos Direitos Individuais e às Liberdades Públicas, chefiado pelo ministro Alexandre de Moraes — que acumula o Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia no braço eleitoral do STF, o TSE. Há o Centro de Enfrentamento às Punições por Crimes de Corrupção, a cargo do ministro Dias Toffoli. Há o Centro de Enfrentamento às Leis Aprovadas Pelo Congresso e o Centro de Enfrentamento à Oposição, comandados em sistema de rodízio. Há o Centro de Enfrentamento à Verdade dos Fatos — esse sob a direção do ministro Barroso.
Em sua última operação, desfechada na Universidade de Oxford, Barroso se esforçou em globalizar a ficção de que o STF criou no Brasil um modelo de democracia sem rivais no mundo neste século 21. O ministro, que também é presidente vitalício do Centro de Enfrentamento ao Bolsonarismo, conta nessa missão com a parceria da ignorância invencível do Primeiro Mundo (dos outros mundos, então, nem se fale) em relação ao Brasil. Se alguém lá fora soubesse cinco por cento do que acontece de verdade aqui dentro, o presidente do STF não conseguiria falar de cima de um caixote no Hyde Park Corner. Os fatos mostram que em 1º de janeiro de 2019 o Brasil vivia perfeitamente de acordo com a sua Constituição — ou alguém é capaz de citar algum caso concreto de violação da lei por parte do Estado naquela época? Cinco anos e meio sob a administração do STF, pela primeira vez desde o fim da ditadura militar, o Brasil tem presos políticos. Tem exilados que fogem do país para escapar dos cárceres do ministro Alexandre de Moraes. Tem inquéritos policiais perpétuos.
Ninguém sabe que o ministro Toffoli pagou com dinheiro público um guarda-costas pessoal quando foi assistir à final da Champions, em Londres. O mundo também não tem ideia de uma anomalia tão extravagante que ganhou o apelido de “Gilmarpalooza”
A democracia que o ministro Barroso apresenta na Inglaterra tem censura oficial nas redes sociais, em veículos de imprensa e em produtoras de documentários. O brasileiro pode ser preso, interrogado pela polícia, ter suas contas bancárias bloqueadas, ter seu passaporte confiscado, ter o seu sigilo violado. Todas as provas contra a corrupção, mesmo incluindo confissões e devolução de dinheiro roubado, são anuladas pelo STF — o que faz do Brasil o único país do mundo com impunidade garantida por jurisprudência. Juízes que denunciam situações ou sentenças que consideram erradas são expulsos da magistratura. Num caso de flagrante violação da lei penal e dos direitos civis garantidos pela Constituição, um cidadão está preso há mais de quatro meses sem que o ministro Moraes e a Polícia Federal tenham conseguido até agora nenhuma prova das acusações que fazem a ele — e apesar de ter provado que não fez o que é acusado de ter feito. (Leia a reportagem de capa desta edição.)
O presidente do STF e todos os seus colegas do circuito de palestras que fazem pelos países ricos não mencionam a nenhum dos auditórios que o político mais popular do Brasil não pode se candidatar a eleições até o ano de 2030 — por ter falado mal das urnas eletrônicas numa conferência a embaixadores estrangeiros. Ninguém sabe que o ministro Toffoli pagou com dinheiro público um guarda-costas pessoal quando foi assistir à final da Champions, em Londres. O mundo também não tem ideia de uma anomalia tão extravagante que ganhou o apelido de “Gilmarpalooza” — um festival de altos magistrados, ministros do governo e empresários com causas no alto Judiciário que vão discutir questões brasileiras em Portugal. (O animador é o ministro Gilmar Mendes, que acumula suas funções de ministro do STF com a propriedade de uma faculdade particular de Direito em Brasília.) Em matéria de conflito de interesses, por sinal, a democracia do ministro Barroso não acha nada de errado que mulheres dos ministros trabalhem em escritórios de advocacia com causas em apreciação no Supremo.
Isso tudo, no pensamento oficial, foi que salvou o Brasil do “populismo de direita” — o mal du siècle que no entendimento do presidente Barroso é a pior ameaça que a humanidade tem pela frente nos dias de hoje. Segundo ele, o mundo conseguiu nos últimos cem anos superar o nazismo, fascismo, comunismo, fundamentalismo religioso e outros males; no Brasil, em virtude das decisões do STF, superou o bolsonarismo. Precisaria, agora, exterminar essa extrema direita que ganha eleições livres e pretende, uma vez no governo, executar “agendas” que a maioria do eleitorado quer que sejam executadas — coisa que exigiu abertamente com o seu voto. Eis aí a essência dessa visão do mundo: o principal perigo para a democracia é a democracia. Ela pode levar o povo a escolher governos não autorizados pelo STF, e isso, para os ministros, é inegociável. Para simplificar as coisas, basta responder a uma pergunta: é possível a existência de um Toffoli num regime razoavelmente democrático? É possível ter os inquéritos sem fim do ministro Moraes? É possível haver o “Gilmarpalooza”? Não é — e o STF é o primeiro a saber que não é.
As palestras, os despachos e os comícios em circuito fechado feitos pelos ministros, quando se olha mais de perto, são um veredito político. É o que diz a linguagem que usam. Não pronunciam a palavra “liberdade”, por exemplo — a não ser para insistir que ela tem limites, está sendo abusada e precisa ser reduzida a rações de guerra. Não falam em “império da lei”. Não usam a expressão “direitos humanos”, nem “direito de defesa.” Não chamam de “baderna”, e sim de “golpe armado”, um quebra-quebra onde as armas mais pesadas, segundo a sua própria polícia, foram dois ou três estilingues. Acima de tudo, não dizem nem escrevem a palavra “justiça”.
Leia também “Um regime doente”
STF – Fonte de toda a corrupção!
Perfeita análise do comportamento anômalo de uma alta corte doente.
Perfeita análise do comportamento anômalo de uma alta corte doente.
São arrombados, escória, lixo, estorvo…
Onde estão nossos homens de verdade das Forças Armadas para intervirem e acabar com essa bacalhoada brasileira?
Estamos vivendo uma ditadura da toga.
Eles agradecem ao covarde Pacheco.
Brilhante, como sempre. Nesse artigo o Mestre estava particularmente inspirado. Resumiu, de forma magistral, toda a bizarrice do Comissariado.
O que acontece além da corrupção desenfreada que arrasta PF, generais, almirantes e brigadeiros a cederem à desonra? Por que acatarem ordens de uma ditadura do judiciário? Nunca a palavra “supremo” indicou um diminutivo tão insignificante como hoje em dia.
Canalhas! A justiça divina tarda mas não falha!
Forças povão,o trem tá feio, a gente vai vencer
Toda esperança nas eleições de 2026. Talvez já comece agora em 2024.
Mas temos que exigir o VOTO IMPRESSO como um aperfeiçoamento das urnas eletrônicas para dar transparência e auditoria do voto e pacificar a nação. Afinal no passado em 2015 todos os partidos exigiam o VOTO IMPRESSO, lei foi aprovada e o STF declarou inconstitucional, e recentemente Barroso exigiu na Câmara Federal que a CCJ trocasse suas lideranças para derrubar a PEC DO VOTO IMPRESSO, praticamente aprovada. Por que temer tanto o VOTO IMPRESSO?
Impecável.
Se esses cabras da toga citados em seu artigo (incluindo o “personagem” central) pudessem se reputados “apenas” como DESCEREBRADOS ou INEPTOS para a função que exercem algo de esperança pudesse daí advir, mas eles conseguem ir ALÉM, muito além, dessas fronteiras ou desses adjetivos, por representarem SERÍSSIMO perigo para si mesmos, para suas famílias, para a sociedade e inspiram ou promovem INGENTE ASCO em todos os brasileiros de bem.
Mordaz. Parabéns.
Guzzo como sempre perfeito.
Mas enquanto falamos, reclamamos, nos indignamos, esses crápulas do STF estão mandando e desmandando no Brasil e arruinando a vida de muitos inocentes, vivendo como grandes monarcas, às nossas custas, rindo da cara dos brasileiros assustados, acuados e revoltados.
Até quando essa nação vai se sujeitar a isso? Até quando o congresso vai ser omisso?
Já passou da hora de virar esse jogo. Está faltando líderes de coragem que interrompam esse ciclo de abusos e de desrespeito aos nossos direitos.
Parabéns! O que “salva a democracia” é o estado absolutista. Não há outra conclusão possível sobre essa postura do STF.
Absolutismo “democrático”. Isso que dá seres do diretório assumirem o STF. Se acham sábios mas são tão ignorantes que nem percebem a ignorância.
É triste, triste, muito triste nossa realidade nos aspectos jurídico/executivo/legislativo. Brasil de um triste e desanimado/inculto/desinformado povo, cujos representantes no Congresso Nacional, em sua grande maioria, infelizmente são canalhas, fisiologistas, cada vez mais a partir de quando se apossaram dos partidos políticos que desde sempre são seus donos e com bilhões tirados dos impostos pagos pelo povo, mas os partidos são daqueles que viraram chefes e escolhem aqueles que desejam sejam eleitos, quando deviam ser eleitos os que o povo naturalmente escolhesse, mas não, O povo só vota no partido, o bolo é dos donos dos partidos, os quais distribuem as suas fatias com aqueles que se comprometem com os donos dos partidos, os quais são desde sempre os que mandam e desmandam na política; povo só pra pagar as contas e dizer amém pra tudo que fazem ou deixam de fazer. Matam e morrem pra serem donos de partidos, já temos mais de trinta em vigência e o dobro, cerca de uns 70 na chocadeira. O maior projeto de um político sempre foi ser dono de um partido político e passar a ser dono de bilhões pra gastar como bem entender e sem dar a mínima satisfação pra ninguém. O brasileiro tem que lutar pra acabar com esta sacanagem, roubalheira lesa Pátria dos infernos. REFORMA POLÍTICA COM VOTO DISTRITAL PLENO JÁ. Estes bandidos precisam se eleger com prestação de serviço público de qualidade e comprometido com seus eleitores se quizerem ser eleitos. Todo cidadão para ser alguma coisa, ter uma profissão, estuda, trabalha e se esforça pra chegar lá. Os políticos são a única excessão. Por que o privilágio? Está tudo errado. ACOOORDA MEU POVO.
Por que será que não te convidam para a ABL?
É uma corja suprema baseada na criação e fomento de ”Centros de Enfrentamento” como bem relata J R Guzzo.
Contundente porque narra a realidade dos fatos que acontecem.
Corte cirúrgico!
Não sei como ainda deixam vc escrever Guzzo. Perfeito. Não demora e irão tentar te calar e a grande mídia chama-lo de blogueiro.
Não sei como ainda deixam vc escrever Guzzo. Perfeito. Não demora e irão tentar te calar e a grande mídia chama-lo de blogueiro.
Não sei como ainda deixam vc escrever Guzzo. Perfeito. Não demora e irão tentar te calar e a grande mídia chama-lo de blogueiro.
Não sei como ainda deixam vc escrever Guzzo. Perfeito. Não demora e irão tentar te calar e a grande mídia chama-lo de blogueiro.
Barroso fala publicamente que defende a democracia,mas atualmente não vivemos em uma democracia real.Essa democracia da qual fala tem presos políticos ,muita corrupção, muita censura e leis desvirtuadas. Escolhe quem pode ou não ser candidato para presidente da República. Em fotos parece estar em outro mundo, talvez com seu amigo João de Deus onde encontrou paz e acolhimento indescritíveis. Sua frase marcante para o povo brasileiro é:perdeu mane’.
Até quando isso vai continuar sendo permitido pelo povo brasileiro, o real dono do poder de acordo com o parágrafo único do art. 1º da Constituição da República? Até quando vai se permitir um pulha como o Pacheco na presidência do Senado? Por quê o Congresso não vota imediatamente a anistia para os presos do 8/1?
É o que me pergunto todos os dias.
LEsses sujeitos não vão para o Afeganistão fazer uma palestra. Lá tem bons hotéis, lugares bonitos. Mas só querem falar em Londres, Mariano e Portugal. Tranqueiras
LEsses sujeitos não vão para o Afeganistão fazer uma palestra. Lá tem bons hotéis, lugares bonitos. Mas só querem falar em Londres, Mariano e Portugal. Tranqueiras
Brilhante radiografia do STF. O Brasil precisa enfrentar isso de qualquer maneira. Com fé e ações!
Guzzo, já pedi diversas vezes a Revista Oeste para entrevistar FHC & cavalheiros tucanos, que seguramente foram os arquitetos desse desastre que estão proporcionando em nosso pais no Executivo e Judiciário.
Essas molecagens inconstitucionais das Cortes Supremas, a FARSA do 8 de Janeiro, as humilhações e severas condenações de patriotas democratas, pacíficos e sem antecedentes criminais, a desordem econômica e fiscal, a invasão das estatais por políticos autorizadas pelo STF, as prisões políticas para “pescar” informações pessoais, enfim tudo que você tem nos informado, como esses TUCANOS observam e entendem no nosso atual regime democrático? Estariam indignados especialmente se souberem que muitos PATRIOTAS seguramente foram tucanos como eu até 2018?
Guzzo, creio que seria importante tarefa para você e Augusto Nunes, questiona-los e ouvi-los, para melhor avaliarmos essa gente inútil que fez o “L”.
Vamos olhar pelo lado positivo, se a esquerda conseguir aprovar todos os projetos de perseguição contra a direita, em um futuro não muito distante a direita assumindo o poder vai usar todas as leis criadas contra a própria esquerda. Vai ser uma invertida de sinal que não haverá arrependimento.
Todo mundo sabe da armação feita pelos podres do governo sobre o 8 de janeiro e todo mundo sabe o que esses bandidos do executivo, da justiça, do parlamento, do MP e das FFAA. Resta saber até quando vamos permitir isso
Barroso é estado-de-arte em arrogância!
A que ponto chegamos. Será que meus filhos viverão uma realidade diferente?
Uma hora espero que paguem caro por todos esses crimes.
A onde anda os homens de honra da área jurídica, PF, forças armadas para acabar com estes absurdos deste STF de políticos.
Guzzo, perfeito como sempre
OAB, Senado e até Bolsonaro são responsáveis por isto…
Com um arsenal desses o nosso judiciário criou uma ” democracia” unica no mundo.
Guzzo brilhante texto. Ministros deveriam ler e tomar vergonha na cara, honrar ac Constituição, deixar de ironias,: deboche e crespeitar o cidadão. Não passam de ativistas políticos ( nem todos) .
Maravilhoso artigo sobre um pais que já foi um gigante adormecido. Infelizmente com esse “desgoverno” e essa IN justiça”. Com essa quadrilha gigante está fadado a não acordar.
Vivemos a distopia . Muito triste.
Sempre perfeito. Claro, preciso e incontestável.
Brilhante. Triste realidade do nosso Brasil
Alarmante.
Até quando, 2026, haverá eleicao?