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Ilustração: Revista Oeste/IA
Edição 223

Celulares com QI

Já chegou a nova geração de smartphones movidos a inteligência artificial

Dagomir Marquezi
Tauany Cattan
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Até o momento, nosso celular estava capacitado para usar os aplicativos de inteligência artificial. Agora, porém, a IA vai ser a própria alma do smartphone. Estamos iniciando a era da “IA nativa”. É um grande salto, e estamos apenas no seu início.

O Google já anunciou a novidade em seus modelos Pixel. O Gemini já funciona como o aplicativo de inteligência artificial de computadores. Uma nova versão do Gemini, chamada Nano, vai ser o “motor” dos novos smartphones (por enquanto, só nos modelos Google Pixel). 

O Nano poderá (caso você dê autorização) ouvir suas chamadas telefônicas e detectar sinais de fraude. Outro instrumento inovador é o Circle to Search (“Circule para Procurar”). Você ativa a câmera e a direciona para a placa de uma rua. Com o dedo, faz um círculo em torno da placa e recebe todas as informações disponíveis sobre aquela rua. Ou faz o círculo numa pessoa, ou numa fórmula matemática, e assim por diante.

Google lança o Gemini Nano | Foto: Divulgação

Qual vai ser o tamanho desse salto? Será apenas um luxo para nerds ricos? A revista de tecnologia Wired lembrou que, em 2017, os processadores capazes de rodar programas de inteligência artificial estavam presentes em apenas 3% dos smartphones. Em 2020, essa porcentagem havia passado de 33%. Em outras palavras, dos 3 bilhões de smartphones espalhados pelo mundo, 1 bilhão já têm processadores capazes de fazer funcionar um celular com inteligência artificial. 

Conclusão: todo mundo vai ter um celular inteligente, mais cedo ou mais tarde. Recursos de IA permitem os cálculos ultrarrápidos de processadores para que a foto saia sem tremer, com foco e balanço de luz e cores. Permitem também que você faça mudanças depois que a foto foi tirada, como excluir alguém do quadro ou mudar o foco. 

A IA age também em teleconferências e comunicações por vídeo, fazendo com que a voz do usuário se torne mais clara e os ruídos incidentais — um latido, o trânsito, uma reforma do vizinho — sejam automaticamente bloqueados nas transmissões. O que torna o processo do homework mais profissional. 

A queda da torre de Babel

Com essa nova geração de celulares, termina de vez a barreira da linguagem. Você vai poder falar em português com, por exemplo, um alemão. E vai escutar o alemão falando em português. Funciona assim: a sua voz em português é transcrita para um texto. Esse texto é traduzido e transformado na voz que vai falar em alemão do outro lado. Tudo isso ocorre tão rápido que é praticamente simultâneo. O recurso já foi comparado com o Tradutor Universal criado na década de 1960 para a série Star Trek.

Um dos recursos do Gemini Nano é o Call Screen. Você recebe uma ligação por voz de uma pessoa. O próprio celular atende e pergunta o que a pessoa deseja. Essa mensagem é resumida para você por texto. Então você escolhe se vai atender na hora, se vai responder mais tarde — ou se nem mesmo vai responder.

Pixel 8 terá direito ao Gemini Nano IA | Foto: Divulgação
Mais evolução = mais riscos

Essa evolução vai ter um preço. Para que faça esses “milagres” no seu smartphone, a inteligência artificial vai precisar saber mais sobre você: seus desejos, suas necessidades, seus hábitos. 

Um celular tem maior capacidade de capturar nossas informações do que um desktop. Ele nos acompanha, registra nossos deslocamentos, sabe em que lojas e restaurantes entramos, registra nossas fotos, grava nossos vídeos. 

“O maior risco potencial de segurança com essa mudança”, escreveu Brian X. Chen no New York Times, “decorre de uma mudança sutil que acontece na forma como nossos novos dispositivos funcionam, dizem os especialistas. Porque a IA pode automatizar ações complexas, como remover objetos indesejados de uma foto, e às vezes requer mais poder computacional do que nossos telefones podem suportar. Isso significa que mais dados pessoais podem ter que sair de nossos telefones para serem tratados em outro lugar”.

Esse “outro lugar” é uma ou várias das nuvens de dados usadas hoje, como Google e Microsoft. Ainda segundo Brian X. Chen, “assim que as informações chegam à nuvem, elas podem ser vistas por outras pessoas, incluindo funcionários da empresa, malfeitores e agências governamentais. E, embora alguns dos nossos dados tenham sempre sido armazenados na nuvem, os nossos dados mais profundamente pessoais e íntimos que antes estavam apenas à nossa vista — fotos, mensagens e e-mails — agora podem ser conectados e analisados ​​por uma empresa nos seus servidores”.

Paranoia do colunista do NYT? Provavelmente. Toda grande novidade é acompanhada pelo medo. De qualquer jeito, todas as principais empresas prometem medidas inéditas e reforçadas de vigilância e proteção da privacidade. E não podemos esquecer que muitas das falhas de segurança de computadores e celulares são causadas por usuários que usam senhas como “1234”. Nós, humanos, também precisamos fazer nossa parte nessa defesa.

A maçã chega tarde

Quem está bem atrasada nessa área é a Apple, que agora promete compensar o tempo perdido com um sistema chamado Apple Intelligence, a ser lançado nos próximos meses. 

Segundo a Apple, a assistente virtual Siri vai ter um comportamento muito mais natural nos novos celulares à base de IA. Hoje, você tem que fazer um pedido de cada vez:

“Como está a temperatura em Maceió?” — a Siri responde.

“Agende uma reunião com minha equipe em Maceió às 15h30” — a Siri agenda.

Com a nova fase da IA, o usuário vai poder ter um diálogo mais natural. Exemplo:

“Como está a temperatura em Recife? Quer dizer, em Maceió? Aproveite e agende uma reunião com nossa equipe lá às 15h30.”

A resposta provavelmente vai ser: “A temperatura em Maceió neste instante é de 26 graus, e a reunião na cidade está agendada”.

O novo sistema operacional à base de IA só vai funcionar por enquanto em aparelhos de última geração, como o iPhone 15 Pro — com preço ao redor de R$ 9 mil. 

Um dos primeiros anúncios da Apple nessa área foi a capacidade de criar infinitos emojis. Parece uma medida fútil, mas tem vital importância na comunicação das novas gerações. A Apple promete também uma organização mais interativa das fotos tiradas. Outro avanço é o satellite messaging — a capacidade de se comunicar via satélite (como o Starlink) quando não há rede de celular ou wi-fi disponíveis. 

Satélite da Starlink, empresa de Elon Musk | Foto: Mike Mareen/Shutterstock

A Apple garante que todos os dados processados por IA não serão guardados ou acessíveis à Apple. Um bom exemplo para todos os concorrentes. 

Celulares à base de inteligência artificial prometem uma relação ainda mais produtiva e divertida com os usuários num futuro muito próximo. Futuro? Não. Tauany Cattan, repórter de Oeste, já está usando seu “smarterphone” — um celular muito mais esperto que os nossos. Confira.

***
A independência necessária a uma repórter

— por Tauany Cattan

Smartphone Samsung modelo Galaxy S24 | Foto: Divulgação

Sempre fui usuária da marca Samsung para celulares. Minha única experiência com a Apple foi insuficiente, apesar de reconhecer a força da simplicidade da maçã.

Depois de passar seis anos com uma linha mais intermediária da marca coreana, foi a vez de investir em um modelo mais avançado. O trabalho como jornalista pedia algo mais autônomo. A Samsung anunciou o lançamento de seu mais novo smartphone da linha S, o Galaxy S24. Com um design mais completo, o aparelho aperfeiçoou as lentes das câmeras e possibilita até filmagem em 8K, entre outras atualizações. 

A que mais ganhou destaque foi a inteligência artificial nativa no aparelho. A IA do Galaxy possui a autonomia de que eu preciso para me virar como repórter e redatora. Seu poder de transcrição me ajuda a resumir em tópicos qualquer áudio de entrevista gravado. 

Em relação ao material fotográfico, consigo, com apenas um clique, editar objetos e retirar detalhes que poderiam atrapalhar a minha foto. Uma de minhas funções favoritas é a tradução de conversas no WhatsApp e em ligações telefônicas. A IA traduz, em tempo real, as falas e mensagens trocadas com pessoas que falam outra língua.

Além disso, ao circular algum objeto em uma foto, a IA pesquisa automaticamente aquilo que circulei, seja para saber o significado, seja para procurar outros semelhantes diretamente no Google. 

Para reportagens de campo, a qualidade da câmera e a autonomia da IA me deram a independência necessária. Transcrição de entrevistas, tradução de falas, edição de fotos. Tudo isso ficou muito mais fácil com poucos e rápidos cliques.


@dagomir
dagomirmarquezi.com

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